O padrão oracional ilustrado por [cortei o cabelo] configura-se como a forma mais convencional em Português Brasileiro (PB) para se dizer que se foi ao salão cortar o cabelo com o cabeleireiro. Esse padrão pode ser entendido como uma construção de estrutura argumental de ação causada – uma forma transitiva [SN V SN] associada ao significado de uma atividade indiretamente causada, segundo Ciríaco (2014a) e Santos, Ciríaco e Souza (2019). Com base nos pressupostos teóricos da Linguística Baseada no Uso (BARLOW, KEMMER, 2000), da Linguística de Corpus (SARDINHA, 2004) e da Gramática de Construções de Goldberg (1995, 2006, 2019), e partindo da hipótese de Ciríaco (2014a), este trabalho teve como objetivos verificar, por meio de busca em
The pattern instantiated by [I cut the hair] is the most conventional form in Brazilian Portuguese (BP) for when someone says they went to the salon and had their hair cut with a hairdresser. This pattern can be understood as an argument structure construction, called here as caused-action, in which the transitive form [NP V NP] is associated with the meaning of an indirectly caused activity (CIRÍACO, 2014a; SANTOS, CIRÍACO & SOUZA, 2019). Based on Usage-Based Linguistics (BARLOW, KEMMER, 2000), Corpus Linguistics (SARDINHA, 2004), Goldberg’s Construction Grammar (1995, 2006, 2019), and on the hypothesis of Ciríaco (2014a), this study aimed at verifying whether the caused-action construction is restricted to the functional context of provision of services through a search in
Para descrever o evento de quando se vai ao salão e se corta o cabelo com o cabeleireiro, comumente se diz: [cortei o cabelo]. Contudo, essa construção pode parecer ambígua, já que não foi a própria pessoa que cortou o cabelo. Isso acontece por se tratar de uma convenção da língua portuguesa, um fenômeno chamado de construção de ação causada. Assim, é comum utilizar essa construção para falar de certas atividades em que há um prestador de serviços que pode fazê-las a pedido, ou seja, quando se é o principal responsável pelo evento descrito, mas não foi você quem realmente o realizou. Este trabalho verificou a hipótese de que essa construção é restrita ao contexto funcional de prestação de serviços, por meio de uma investigação em dados de uso real (em
Este trabalho tem como objeto de estudo a construção de ação causada em Português Brasileiro (PB), que pode ser ilustrada pelas sentenças a seguir:
(1) “(...) agora também sou diretor e coreógrafo”, revela. E fisicamente? “Bem, perdi aquele penteado 'Príncipe Valente',
(2) Jorge de Lima, que nasceu na cidade. Sebastião Alves Ferreira, 45, é um dos poucos comerciantes negros de União.
(3) a minha barriga inteirinha estava cabeluda entendeu?... e eu levei um susto quando vi aquilo... mas
Esse fenômeno foi descrito em Ciríaco (2014a) e posteriormente em Santos, Ciríaco e Souza (2019) como uma construção de estrutura argumental. Trata-se de um padrão oracional cuja forma sintática [SN V SN]
Fonte: Elaboração própria com base em Ciríaco (2014b) e Santos et al (2019).
Santos, Ciríaco e Souza (2019) também analisaram a construção de ação causada em um estudo experimental, com o objetivo de detectar as influências da língua materna (PB) em falantes bilíngues de inglês como segunda língua. Quanto à relação da construção em português com sua contraparte semântica em inglês (
Neste trabalho, tomamos a hipótese de Ciríaco (2014a) sobre o contexto funcional de prestação de serviços como restrição para a construção de ação causada e a verificamos em dados de uso real – mais especificamente no
Este artigo se organiza da seguinte forma: a próxima seção descreve o referencial teórico e metodológico adotado na coleta de dados. Em seguida, a seção 2 apresenta os resultados e sua discussão. Por fim, são tecidas algumas considerações finais na seção 3.
Este trabalho se insere nos estudos da Linguística Baseada no Uso (BARLOW, KEMMER, 2000; BYBEE, 2010; LANGACKER, 2013), segundo a qual todo conhecimento gramatical emerge do uso que os falantes fazem da língua. Também se localiza na abordagem teórica da Gramática de Construções de Goldberg (1995, 2006, 2019), segundo a qual todas as unidades linguísticas podem ser descritas uniformemente por meio do conceito de construção, qual seja, um pareamento entre forma e significado. Mais especificamente, faz-se uso da noção de construção de estrutura argumental, que se refere aos tipos oracionais presentes nas línguas que refletem cenas básicas da experiência humana, restringindo a interpretação de “quem fez o que para quem” (GOLDBERG, 2006, p. 104) e contribuindo para a interpretação dos enunciados. A análise também se apoia nos pressupostos da Linguística de
A fim de verificar o uso da construção de ação causada, os contextos funcionais em que ela ocorre e seus aspectos (semântico-pragmáticos), realizou-se uma pesquisa a partir de dados de uso real. Para isso, foram delimitadas as fontes para a coleta de ocorrências do fenômeno. Foram coletados dados no
Foram pesquisados um total de 20 verbos (Quadro 1), selecionados após a aplicação de dois critérios consecutivos: inicialmente, foram selecionados vários verbos com base nos contextos funcionais delimitados por Ciríaco (2014a), com exceção do segmento de serviços cirúrgicos, que foi uma contribuição deste trabalho. Posteriormente, os verbos passaram por nova triagem com base na frequência absoluta apresentada por eles em
Fonte: Elaboração própria.
|
|
---|---|
Estéticos | cortar, arrumar, tingir |
Mecânicos ou relativos a automóveis | consertar, abastecer, alinhar, lavar |
Reforma e construção | pintar, construir, reformar, instalar |
Imobiliários/de corretagem | vender, alugar |
Copiadora/gráfica/papelaria | imprimir, xerocar |
Aviamentos/reparos | apertar |
Molduraria | emoldurar |
Relativos a cuidados corporais | fazer |
Cirúrgicos | colocar, tirar |
A busca por ocorrências da construção se deu, majoritariamente, a partir de sequências linguísticas como [cortei o cabelo], [pintou sua casa] etc. Para fins de comparação, também foram buscadas sequências linguísticas do tipo [construí minha casa com], em que a semântica de prestação de serviços pode aparecer de forma transparente, como é o caso de instâncias como ‘construí minha casa com o pedreiro’. Nessas sequências, o participante responsável pelo serviço aparece codificado em um sintagma preposicionado (no exemplo mencionado, ‘com o pedreiro’). Assim, a busca foi realizada seguindo os esquemas [V SN] e [V SN SP]. Todos os verbos foram flexionados no pretérito perfeito e usados na primeira ou terceira pessoas do singular. Essa escolha se deu a fim de se manter a maior neutralidade possível em termos de pessoa gramatical e de tempo/aspecto verbal, visto que o pretérito perfeito tem uso amplo na língua e apresenta menores restrições de uso se comparado a outros tempos verbais (como futuro do pretérito ou pretérito mais que perfeito, dentre outros). Além disso, é sabido que tempo e aspecto contribuem para a semântica veiculada. A perfectividade, especificamente, implica semanticamente que a eventualidade é transmitida como acabada e completada (WACHOWICZ, FOLTRAN, 2006), configurando a maioria dos dados encontrados como
Faz-se importante salientar o fato de não ter sido possível encontrar um grande número de dados no
A
Fonte: Elaborada pelas autoras com base nos dados coletados do
|
|
|
|
|
---|---|---|---|---|
Estético | cortar | 10 | 2 | 12 |
arrumar | 2 | 1 | 3 | |
tingir | 4 | - | 4 | |
Mecânico ou relativo a automóveis | consertar | - | - | - |
abastecer | 2 | 3 | 5 | |
alinhar | 1 | - | 1 | |
lavar | - | - | - | |
Reforma e construção | pintar | 5 | - | 5 |
construir | 25 | - | 25 | |
reformar | 27 | - | 27 | |
instalar | 4 | 1 | 5 | |
Imobiliários/de corretagem | vender | 16 | - | 16 |
alugar (...) | 2 | - | 2 | |
Copiadora/gráfica/papelaria | imprimir | 12 | - | 12 |
xerocar | 7 | - | 7 | |
Aviamentos/reparos | apertar | - | - | - |
Molduraria | emoldurar | 3 | - | 3 |
Relativos a cuidados corporais | fazer | 5 | 1 | 6 |
Médico/cirúrgicos | colocar | 9 | - | 9 |
tirar | 2 | - | 2 | |
|
136 | 8 | 144 |
Primeiramente, é possível observar que os verbos que mais frequentemente instanciam a construção de ação causada são: ‘reformar’ (27 instâncias de ação causada no total)
O maior número de ocorrências, 136, refere-se à forma construcional [SN V SN], contra apenas 8 ocorrências da forma construcional [SN V SN [com/em SN]] para os verbos pesquisados. Esses resultados confirmam que a expressão mais convencionalizada para o significado de {ação causada} é aquela em que esse significado encontra-se associado à forma transitiva [SN V SN].
Embora a forma [SN V SN] seja potencialmente ambígua, podendo estar associada ao significado transitivo prototípico
(4) Por isso, fui muito mal interpretado. Chamaram você de careta. Disseram que eu
(5) (...) lógico que iam reparar, eu tinha o cabelo de trancinha e eles falaram assim: “Nossa, você está diferente hoje,
(6) Mies van der Rohe ou Frank Lloyd Wright não me parecem tão originais e criadores. Eu diria que Lloyd Wright
(7) Lourdes comprou geladeira, televisão, antena parabólica, cama (antes, o casal dormia numa rede) e
(8) As famílias de classe média alta se isolam como forma de prevenção à criminalidade. “Nunca fui assaltada, mas
(9) A senhorita vê, para pagar o que eu devia tive de fazer um pequeno sacrifício:
(10) Sou assalariado e, por motivos profissionais, tive que mudar de Belo Horizonte para Porto Alegre.
(11) Alda Marco Antonio tem cerca de mil pessoas colaborando na divulgação de sua campanha. Ela
(12) Quem sabe essa juventude acorde e se organize por causas mais justas do que escolher a cor do vestido da formatura.
(13) Rogério
(14) (...) para a sessão de fotos, marcada para hoje e amanhã em uma praia do litoral norte de São Paulo, Débora
(15) (...) gasolina adulterada. Ele afirma que no dia 12 de fevereiro foi ao
(16) Em um deles, chegaram a confundi-lo com o senador José Serra (PSDB), hoje ministro. Suplicy até
(17) Comprei um Corsa Super MPFi. O manual do proprietário diz que o tanque de combustível comporta 46 litros de gasolina.
(18) “Tenho um Fusca 85, a gasolina. Nos últimos dois anos, sempre
Alternativamente, poder-se-ia levantar a hipótese de que instâncias como (4)-(18) são na verdade vagas, não ambíguas, e que não importa para os usuários se o participante codificado em posição de sujeito é um agente direto ou indireto, mas apenas o resultado da atividade em questão. Essa posição é corroborada pela abordagem Good Enough, em que tanto compreensão (Ferreira et al, 2002; Ferreira e Patson, 2007) quanto produção (Ferreira e Goldberg, 2022) se assentam sobre representações semânticas que são meramente ‘boas o suficiente’ e não extensamente detalhadas. Obviamente, essa hipótese coloca em xeque a ideia de uma interpretação preferencial. No entanto, como será mostrado adiante, a análise dos dados parece sustentar a ideia de uma interpretação convencional de ação causada, motivo pelo qual optamos por adotar a hipótese da
Em alguns casos, o contexto lógico desfavorece uma potencial ambiguidade. Por exemplo, em (19) e (20), entende-se que é muito pouco provável que alguém tenha tirado os pontos de sutura feitos em seu próprio corpo ou que tenha feito uma cirurgia em si mesmo para diminuir o nariz, aumentar o queixo e colocar silicone no seio:
(19) Fiquei vinte e três dias sem caminhar porque eu tava com os pontos, daí
(20) (...) é a maior alegria fazer plástica”, diz a advogada Susi Contucci Freitas, 38, que
Em muitos outros casos, o contexto discursivo (sublinhado nos exemplos) oferece informações inequívocas sobre a interpretação veiculada, como é o caso das instâncias a seguir:
(21) No sábado, Suzana esteve
(22) A namorada de PC esteve
(23) Seu companheiro de equipe, Olivier Panis, fez dois pits e terminou dois postos a sua frente. Diniz só
(24) Henriques calcula que deve gastar cerca de R$ 500.
(25) pensando aqui que a última vez q eu
Em (21)-(23), informações prévias indicando os locais onde as atividades foram prestadas (‘na cabeleireira em Maceió’, ‘no salão sábado passado’, ‘na largada por manobra nos bastidores’) direcionam a interpretação para o sentido de ação causada: por meio de uma inferência, entende-se que, se alguém corta o cabelo na cabeleireira, então é muito provável que a cabeleireira tenha cortado o cabelo e não a própria pessoa, e assim sucessivamente. Em (24), a exigência do recibo do serviço indica que o sentido da construção negritada é de ação causada. Em (25), por sua vez, há o uso do advérbio ‘profissionalmente’, indicando que o corte de cabelo foi feito por um profissional, e não pela própria pessoa.
Em outros exemplos, o agente direto aparece expresso em um sintagma preposicionado, reforçando a interpretação de ação causada, conforme sublinhado em (26):
(26) “Estou doido para voltar ao Brasil e contar que
Nesses casos, o significado de {ação causada} está associado a uma forma mais transparente, a saber [SN V SN [com/em SN]]. Essa forma foi bem menos encontrada no contexto de prestação de serviços: foram apenas 8 ocorrências, com os verbos ‘cortar’, ‘arrumar’, ‘abastecer’, ‘instalar’ e ‘fazer’. Isso representa apenas 5,5% do total de ocorrências encontradas, indicando que a forma transitiva [SN V SN] parece estar mais convencionalmente associada ao significado de ação causada, para esses verbos e no contexto de prestação de serviços, do que a forma competidora [SN V SN [com/em SN]]. Além de (26), outros exemplos são:
(27) “(...) aceitei cortar com o José porque sou o rei da bossa nova.” Telefona para o quarto do dr. Campos. “Campinhos, venha cá.
(28) O restaurante Spot, nos Jardins (zona oeste),
A constatação de que a interpretação de ação causada parece ser
(29) Meu remo quebrou durante a viagem para os EUA. Não sei o que aconteceu.
(30) “A marcenaria foi apenas um estímulo para que começássemos a fazer outras coisas”, afirma. É que
(31) “Um sindicato nos ajudou a conseguir essa casa com o governo e não estamos pagando nada.
Outros elementos que marcam a interpretação transitiva podem aparecer no contexto discursivo: em (32), ’sozinho’ sinaliza que a ação de ‘construir’ foi realizada pela própria pessoa; em (33) e em (34), as expressões ‘cheguei aqui sem nada’ e ‘em casa’ sinalizam que a impressão não foi realizada por um prestador de serviços, mas sim pela própria pessoa interessada.
(32) “Eu aprendi
(33) “Quem não invadiu na primeira leva, teve de comprar.
(34) Quando precisou de documento da Sabesp para fazer uma reforma, entrou no site da empresa, solicitou uma segunda via e
Outro recurso é a expressão do instrumento utilizado no evento descrito pelo verbo, como pode ser constatado no dado a seguir, conforme sublinhado:
(35) O empresário Augusto Peres não sai sem o canivete suíço. Numa viagem à Bahia,
Por fim, outro recurso observado foi o uso de ênfase, seja no sujeito ou na construção como um todo. No exemplo em (36), há ainda o uso da reformulação e, tratando-se de dado escrito, o uso de caixa alta como recurso enfático para marcar a agentividade direta e, portanto, a interpretação transitiva:
(36)
Curiosamente, entre os 20 verbos pesquisados, apenas 4 foram encontrados na construção transitiva dentro do contexto funcional de prestação de serviços. Ainda assim, o número de ocorrências foi baixo: ‘consertar’, ‘pintar’ e ‘construir’ tiveram apenas duas ocorrências cada, e ‘imprimir’
Em termos gerais, apenas 4,9% do total de dados coletados para o contexto funcional de prestação de serviços equivalem a ocorrências da construção transitiva, o que também parece indicar a preferência pela construção de ação causada nesse contexto específico. Essa observação se ampara nos resultados apresentados por Goldberg (2019), segundo os quais construções competem por determinado nicho funcional e esse aspecto pode ser responsável por explicar a ocorrência de uma em detrimento de outra. Além disso, todas as 144 ocorrências confirmam o contexto funcional de prestação de serviços.
Outras observações semântico-funcionais também foram realizadas. Por exemplo, constatou-se que nem sempre, em uma construção de ação causada, o serviço em questão é contratado para benefício próprio, mas também em benefício de outra pessoa:
(37) “(...) Santa Catarina, Rio etc.”, diz ela. A relação tempestuosa que Renata tinha com o pai foi abrandada pelo dinheiro. “
(38) Foi com essa idéia que um grupo de 72 arquitetos
Nesses casos, a posição de sujeito também está associada a uma semântica de agentividade indireta, em que o participante em posição de sujeito foi o responsável pela contratação e possivelmente pelo financiamento do serviço a ser prestado para outra pessoa. Essa semântica de agentividade indireta é expressa pelas noções de responsabilidade e consentimento na execução de uma ação, mas também pela noção de cuidado, revelando que o participante em posição de sujeito é alguém que se importa (vide 37).
Outra observação interessante é o fato de a pandemia ter alterado temporariamente o significado
(39)
(40)
Em resumo, as observações feitas permitem circunscrever o contexto funcional da construção de ação causada em PB.
Este trabalho confirma, por meio de uma análise de dados de
A análise dos dados também permitiu observar que, dado o contexto funcional de prestação de serviços, o significado de {ação causada} pode estar associado a duas formas: a forma transitiva [SN V SN] e a forma competidora [SN V SN [com/em SN]]. A forma transitiva
Essa hipótese foi corroborada pelas seguintes observações constatadas nesta pesquisa: i) o uso da forma competidora [SN V SN [com/em SN]] com um SP explicitando o agente direto quando o significado é o transitivo prototípico, e não o de ação causada; ii) o uso de palavras como ‘mesmo’ e ‘sozinho’ para marcar a interpretação de agente direto para o participante em posição de sujeito da forma [SN V SN]; iii) a expressão de um instrumento utilizado, em combinação com a forma oracional [SN V SN], destacando, assim, a função de agente direto; e iv) o uso de recursos pragmáticos e discursivos, como ênfase e paráfrase. Todos esses recursos mostram que, quando a interpretação não é de ação causada, o usuário a marca de alguma forma, indicando, assim, o estatuto não marcado para o significado de ação causada nesse nicho funcional. Ademais, esta pesquisa também atesta o dinamismo no uso da língua, mostrando a possibilidade de alteração do significado preferencial para uma construção de estrutura argumental diante da alteração do contexto sócio-histórico, haja vista os dados elencados por ocasião do cenário pandêmico.
Para trabalhos futuros, espera-se analisar os padrões estatísticos da construção de ação causada em PB, a fim de verificar a hipótese sobre a existência de um nicho funcional para sua ocorrência na língua. Complementarmente, espera-se atestar experimentalmente a aceitabilidade da construção de ação causada na língua, além de quantificar a relevância do contexto funcional para sua aceitação.
As autoras agradecem a Maria Angélica Furtado da Cunha e Ivo da Costa do Rosário pelos comentários e sugestões em uma versão anterior deste trabalho, que enriqueceram muito a análise. Agradecemos também aos pareceristas pelas recomendações precisas. Erros remanescentes são de nossa inteira responsabilidade.
Nenhum conflito de interesses foi declarado.
Os dados que amparam os resultados deste estudo foram majoritariamente expostos ao longo do texto, mas também podem ser disponibilizados integralmente pela autora correspondente (IAM), mediante solicitação.
Este trabalho usufruiu do apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Bolsa de IC (para IAM) por meio do Projeto 425683/2018-4 - Chamada Universal MCTIC/CNPq Nº 28/2018 (obtido por LSC).
BYBEE, J.
CIRÍACO, L. S. A construção transitiva de sujeito agente-beneficiário no português brasileiro.
CIRÍACO, L. S. A construção transitiva em PB: Associando a gramática de construções à decomposição semântica de predicados.
COSTA, L.; SANTOS, D.; CARDOSO, N.
FERREIRA, F., V. FERRARO, AND K. G. D. BAILEY. Good-enough representations in language comprehension.
FERREIRA, F.; PATSON, N. D. The ‘Good Enough’ Approach to Language Comprehension.
GIVÓN, T.
GOLDBERG, A. E.
GOLDBERG, A. E.
GOLDBERG, A. E.
GOLDBERG, A. E.; FERREIRA, F. Good-enough language production.
KEMMER, S.; BARLOW, M. Introduction: A usage-based conception of language. In: BARLOW, M.; KEMMER, S., editors.
LANGACKER, R. W.
RASO, Tommaso; MELLO, H.
SANTOS, C.; CIRÍACO, L.; SOUZA, R.. 2019. The caused-action construction in Brazilian Portuguese (Brp) and its effects on the comprehension and production of Brp-english Bilingual Speakers.
SANTOS, C. F.
SARDINHA, Berber Tony.
SKETCH Engine.
TWITTER.
WACHOWICZ, T. C.; FOLTRAN, M. J. Sobre a noção de aspecto.
EDITORA: Janayna Maria da Rocha Carvalho
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2353-1336
FILIAÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil.
.
O trabalho é relevante por verificar empiricamente as condições que favorecem o uso da construção de ação causada. Como resultado, as autoras observam que o contexto de prestação de serviços favorece essas construções, além de verificar os verbos mais usados na construção, bem como estratégias desambiguadoras, já que há uma construção competidora [SN V SN [com/em SN]], que é menos usada, como notado na análise.
AVALIADOR 1: Bruno Araujo de Oliveira
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4729-4558
FILIAÇÃO: Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
.
AVALIADOR 2: Thaís Pedretti Lofeudo Marinho Fernandes
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6642-7347
FILIAÇÃO: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.
.
AVALIADOR 1
2022-10-27 | 04:06
Neste trabalho, investiga-se a “construção de ação causada” no português brasileiro à luz de uma abordagem baseada no uso. As conclusões do estudo são apoiadas pelos dados extraídos de corpora on-line. Trata-se de uma contribuição aos estudos sobre construções de estrutura argumental no português.
O artigo identifica o problema de estudo, a hipótese e os objetivos. O título do trabalho está adequado, e o resumo reflete bem o conteúdo da pesquisa. A introdução está clara e concisa, permitindo ao leitor apreender o problema e o objeto de estudo. Os procedimentos adotados na obtenção dos dados do estudo estão descritos de forma clara e objetiva, porém o referencial teórico que fundamenta a análise – a Linguística de Corpus, a Linguística Baseada no Uso e a Gramática de Construções – é apresentado de modo superficial. Os resultados estão apresentados com clareza e objetividade e são suficientes para cumprir os objetivos do trabalho e respaldar as conclusões. Na discussão, os resultados são interpretados à luz da abordagem baseada no uso, todavia foi feita pouca aplicação da teoria da GC. Nas considerações finais, as autoras sistematizam os resultados obtidos, retomam a hipótese norteadora e explicam de forma clara e sucinta como ela foi corroborada, deixando evidente a contribuição da investigação sobre a "construção de ação causada" aos estudos sobre construções de estrutura argumental no português brasileiro. As referências estão adequadas em número e na forma de apresentação.
Seria interessante a apresentação de um esquema (uma figura) para ilustrar a integração da "construção de ação causada" à rede linguística, explicitando as relações entre as construções.
Se possível, fazer uma comparação com as estruturas do inglês "I cut my hair" e "I had my hair cut".
Também sugiro que a citação de Givón em nota de rodapé seja traduzida para o português.
.
AVALIADOR 2
2022-10-31 | 07:55
O manuscrito se volta a um objeto de estudos relevante, apoiando-se em pressupostos teóricos bem definidos e embasados. Os resultados da análise, fundamentados quantitativa e qualitativamente, corroboram a hipótese de Ciríaco (2014a) sobre a restrição da construção de ação causada em contexto funcional de prestação de serviços. Dessa forma, as conclusões são apoiadas na análise de dados e os resultados são de interesse de pesquisadores que compartilham o mesmo referencial teórico e/ou se interessam pela construção de estrutura argumental de ação causada.
Constituem os dois principais objetivos do trabalho: (a) verificação da hipótese de Ciríaco em dados de corpus; (b) descrição dos aspectos funcionais (semânticos e pragmáticos) adicionais da construção que foram encontrados com base na análise de corpus. Isto posto, considera-se que a análise dos dados evidenciou que a forma transitiva é mais frequentemente utilizada do que a forma competidora, o que aponta que o contexto de prestação de serviços é um nicho funcional da construção de ação causada. O manuscrito tem como pontos fortes a delimitação temática bem definida, o embasamento teórico - que fundamenta a análise -, a exposição frequente de dados exemplificadores, bem como de resultados nas abordagens qualitativa e quantitativa. Vale ressaltar que o presente trabalho, apesar de se voltar à hipótese de Ciríaco (2014a), se distingue do trabalho da autora por se pautar em dados de uso real, o que compõe um diferencial do trabalho citado. Como uma possível orientação - que não consiste em ponto fraco -, seria interessante incorporar algumas notas de rodapé ao corpo do texto, tornando a leitura mais fluida, visto que trazem explanações que são pertinentes ao texto em si e seriam mais acessadas nesse formato.
Serão utilizados colchetes para descrever a forma, e chaves para descrever o significado das construções.
Do original: “the participant, typically animate, who acts deliberately to initiate the event, and thus bears the responsibility for it”.
O Twitter possui uma ferramenta, o Twitter API (
‘Fazer’ também é um verbo muito frequente na língua, encontrando-se entre as 2.000 palavras mais frequentes de acordo com o
Para uma análise da construção transitiva em PB, consulte-se Ciríaco (2014b).
O verbo abastecer apresenta certa peculiaridade, devido ao fato de que abastecer o carro no posto pode não implicar, necessariamente, que o abastecimento seja feito por um terceiro, podendo ser realizado pelo próprio motorista do carro, assim como acontece em outros países, como nos EUA. No entanto, no Brasil, quando se vai ao posto de gasolina, só existe a possibilidade de abastecer o carro por meio de um serviço prestado por outrem. Esse exemplo mostra precisamente como o contexto funcional de prestação de serviço é afetado pela cultura da comunidade de fala, inviabilizando a interpretação de que o próprio cliente teria abastecido o carro.