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Theoretical Essay

The grammar in the body: on embodied resources in meaning construction and negotiation

Raquel Meister Ko. Freitag

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https://orcid.org/0000-0002-4972-4320

Regina Célia Fernandes Cruz

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https://orcid.org/0000-0003-3985-1024

Thiago da Cunha Nascimento

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https://orcid.org/0000-0002-8882-0323


Keywords

Embodied Resources
Grammar
Emblematic gestures
Facial Expressions
Embodiement

Abstract

We claim in this paper that embodied resources have properties which are typical of language grammar such as systematic patterns, variation and social appraisal. We present findings from current studies on Brazilian Portuguese which show the grammatical functioning of embodied resources: the way body information in metacommunicative actions displayed in cultural conceptualisations in an intercultural interaction work in meaning making (NASCIMENTO, 2020), the systematicity and variability of emblematic gestures in Brazilian Portuguese (OLIVEIRA, 2020) and the processing cues of linguistic variation from facial expressions (FREITAG et al., 2020). We emphasise the need of changes in methodological procedures traditionally adopted in descriptive linguistics by taking a conception of language functions close to the one proposed by Bühler (2011 [1934]), which embraces human expressions in the linguistic expression domain. 

 

Introdução

O senso comum diz que o corpo fala. Essa ideia decorre do fato de que muito do que percebemos e construímos de sentidos em uma situação de interação não é resultado da pista linguística, do componente dito verbal, e sim do que é rotulado como não verbal. A tradição linguística privilegia um recorte de análise com uma diferenciação clara entre o verbal/linguístico e o não verbal. No campo do não verbal, está o corpo, ou, mais especificamente, os “recursos corporificados” (MONDADA, 2014, p. 139), que compõem a situação de fala. Neste texto, tecemos considerações para responder às seguintes perguntas: Como precisamos conceber língua e gramática para incorporar os recursos corporificados? Onde entram estes recursos corporificados na gramática? Como estudá-los de maneira integrada na composição dos sentidos?

Essas foram questões norteadoras da mesa-redonda “O corpo na gramática: gestos na construção dos sentidos” que fez parte da programação do evento Abralin Ao Vivo.1 Para respondê-las, iniciamos com uma discussão acerca dos limites da significação na linguística e as funções da linguagem, arrolando estudos que relevam o papel dos recursos corporificados na construção dos sentidos. Em seguida, apresentamos três resultados de estudos que exploram recursos corporificados no português brasileiro contemporâneo e evidenciam seu funcionamento gramatical: como as informações corporais em ações metacomunicativas instanciadas em conceptualizações culturais em uma conversa intercultural atuam na construção dos sentidos (NASCIMENTO, 2020), a sistematicidade e a variabilidade de gestos emblemáticos no português brasileiro (OLIVEIRA, 2020) e as pistas de processamento da variação linguística advindas de expressões, ou gestos faciais2 (FREITAG et al., 2020). As evidências de sistematicidade e regularidade, comum a elementos com estatuto gramatical, sustentam nossa posição em favor da inclusão dos recursos corporificados como componentes gramaticais das línguas.

1. Funções da linguagem e os limites do linguístico

Para entender o papel do corpo na gramática, é importante retomar a contribuição de Karl Bühler (2011[1934]) na construção do signo linguístico, no campo dos símbolos e no campo de dêixis (apontamento, ou indexação), em que se distinguem dois tipos de dêixis (sinalizações): sinalização dêitica, ou dêixis factual, e sinalização anafórica. A dêixis factual não envolve necessariamente apontar para um único elemento gramatical ou lexical na frase, mas envolve também apontar para uma entidade no discurso ou para um texto cujo status não é limitado gramaticalmente. As diferenças na dêixis quanto ao envolvimento do falante e do ouvinte interferem na análise e explicação linguística. E esta é a base para o modelo orgânico de Bühler (Figura 1).

Figure 1. Figura 1: Modelo orgânico da linguagem (BÜHLER, (2011[1934], p. 35, tradução nossa ).

Por partir de uma concepção psíquica, Bühler reconhece que as expressões humanas são muitas e variadas, se manifestando, por exemplo, por meio de gestos faciais e manuais. Assim, a expressão fornece outra chave para a compreensão.

O falante medeia para o ouvinte um sinal simbólico cujas características permitem que o sinal se refira a um objeto ou a um estado de coisas. Mas, no processo de interação, por meio de signos linguísticos, estas características não são transmitidas do falante para o ouvinte (como com um presente que simplesmente muda seu possuidor). O ouvinte desempenha um papel ativo na transmissão das informações transportadas pelos signos: acrescentar à informação percebida com base em seu próprio estado de conhecimento, o que configura a existência de um repertório de conhecimento compartilhado entre os dois participantes na troca comunicativa, ao mesmo tempo em que um contingente de componentes de conhecimento de ambos os lados que não é recoberto pelo conhecimento compartilhado.

Assim, a língua é estruturada em representação, expressão e apelo, e o conjunto das funções semânticas, representadas pelas linhas paralelas, constitui um domínio complexo, que é símbolo, por estar conectado aos objetos e estados de coisas; índice, por sua dependência do ouvinte, cujos estados internos ele expressa, e sinal, por apelar ao ouvinte, cujo comportamento interno ou externo ele dirige, assim como outros sinais comunicativos.

A abordagem de Bühler (2011[1934]) postula claramente que o símbolo como tal não pode ser o objetivo de análise e descrição isolada. Muito mais, Bühler considera o uso da língua como um ato emergente de um falante e dirigido a um ouvinte. No entanto, na língua, há fenômenos de dominância, nos quais uma das três funções aparece em primeiro plano, em geral a representação.

O modelo orgânico dá expressão à ideia prototípica da comunicação linguística, ao mesmo tempo que dá base para a discussão sobre as relações entre Linguística e Semiótica, como a proposta por Jakobson (1975, p. 16), que considera a “língua como uma subclasse de signos, sob o nome de símbolos. É por isso que, quando determinamos o que seja língua, devemos compará-la aos outros sistemas simbólicos, por exemplo, o sistema de gestos.” Optando pelos conceitos de código e mensagem para expressar a dicotomia da língua, Jakobson defende que a identificação e a diferenciação são faces de um problema central da linguística, nos níveis da expressão e do conteúdo. Esta dicotomia se materializa na sua proposta de esquematização das funções da língua (cf. Figura 2), em que o remetente (falante) envia uma mensagem ao destinatário (ouvinte), em um contexto apreensível e passível de verbalização, um código, total ou parcialmente comum entre remetente e o destinatário, e um contato, canal físico e conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacite a entrarem e permanecerem em comunicação.

Figure 2. Figura 2: Funções da linguagem (JAKOBSON, 1975, p. 122).

Do ponto de vista linguístico tal como conhecemos atualmente, Halliday (1970) argumenta que os modelos de Bühler e Jakobson são por demais extrínsecos à língua, que podem se configurar como abordagens de orientação sociológica ou psicológica, mas não podem lançar luz sobre a natureza da estrutura linguística. Considerando estas limitações, modelos posteriores, como o proposto por Halliday (1976) com as suas (meta)funções da linguagem, se propõem como uma abordagem intrínseca à língua, em que cada contraste sistemático em uma gramática é atribuído a alguma rede de escolhas que está relacionada a uma determinada função. Halliday propõem um modelo constituído por três redes relativamente independentes, cada uma correspondendo a uma das seguintes funções:

- função ideacional: a língua expressa conteúdos, ou seja, a experiência do falante da realidade e de sua vida interna;

- função interpessoal: a língua é usada para interferir no processo de interação, para estabelecer e manter relações interpessoais na comunicação;

- função textual: a língua é usada para estabelecer vínculos consigo mesma e com elementos da situação em que ela é usada. A função textual é considerada a função interna de linguagem, e diz-se que ela é instrumental para ambas as outras funções.

Nuyts (1989) explica que a única função pareada entre o modelo proposto por Halliday e o por Bühler é a função ideacional. E mesmo em sua formulação desta função, seu ponto de vista objetivo é aparente, pois ele se refere apenas à realidade extra-subjetiva, não à realidade intra-subjetiva. Assim, até mesmo a referência linguística é separada do usuário da língua. Mesmo do ponto de vista do falante, a diferença entre sua própria posição e a posição do ouvinte (cada uma em termos de interesses, objetivos, direitos, valores, rosto, etc.) é crucial.

O apagamento do componente psicológico e da construção de um contexto compartilhado entre falante e ouvinte, da realidade intra-subjetiva, fica ainda mais evidente quando consideramos o modelo de cadeia da fala de Denes e Pinson (1993[1963]) (Figura 3).

Figure 3. Figura 3: A cadeia da fala (DENES; PINSON, 1993[1963], p. 5, tradução nossa).

Para fins de análise, apagamos o que há entre falante e ouvinte na interação, nos interessa o mente-a-mente, que precisa de uma materialidade linguística. É uma decisão metodológica e é, em grande parte, decorrência dos recursos disponíveis para análise. Na interação, quando há ambiguidade que interfere no processo comunicativo, ocorre algum procedimento para a correção/confirmação do sentido, como um pedido para repetir, ou uma pergunta. E o próprio falante, quando percebe que não foi claro ou que o uso pode dar margem a um outro sentido, realiza procedimentos de reparo (LEVELT, 1983). O pacto da interação não é pela ambiguidade. A ambiguidade é resultado de um recorte de análise.

Na interação, falante e ouvinte partilham e coconstroem o contexto linguístico-conversacional. O analista está de fora deste processo. Ele não é participante, ele não é interactante. Ele é uma terceira pessoa, distanciada. Ele é o analista; e o analista somos nós, os linguistas (ou os decifradores, na terminologia de Bühler, ou criptoanalistas, na terminologia de Jakobson). Com os recursos tecnológicos que a Linguística dispõe regularmente, com a documentação de campo das situações de interação, o analista passa a dispor de tempo para observar a interação, o que o falante e o ouvinte não podem fazer. O analista dispõe de material linguístico para analisar um corte da interação, que é muito mais do que o linguístico. Mas, por restrições metodológicas, embasadas por cortes teóricos, o analista só fica com o que convencionamos chamar de linguístico (Figura 4). Nesse contexto, emergem ambiguidades, mas que só existem do ponto de vista do analista.

Figure 4. Figura 4: Distanciamento do analista (Elaboração própria).

Falante e ouvinte, que compartilham do espaço interacional e coconstroem o conhecimento compartilhado, fazem uso de outras pistas para desambiguizar sentidos. A situação de interação inclui múltiplos sistemas de sinais com propriedades alternativas, que se configuram como estruturas maiores as quais envolvem pistas de orientação do corpo que podem indexar, construir ou tratar como irrelevantes entidades no entorno dos participantes da interação (GOODWIN, 2000). Alguns autores chamam de pistas paralinguísticas, nas quais incluem gestos faciais, que estão bem no campo visual do falante-ouvinte na interação. Em um escopo mais amplo, estão os recursos corporificados, que envolvem não só gestos faciais, mas o riso, os movimentos do tronco e da cabeça, bem como os gestos manuais (e.g.: ilustradores e emblemáticos).

Os recursos corporificados não são objetos de manipulação consciente, no sentido de não comporem o conjunto de regras prescritivas da língua. Recursos corporificados, assim como os recursos prosódicos, contribuem para a construção do sentido na interação. No entanto, ao contrário do que acontece com os recursos prosódicos, a maior parte dos linguistas não consideram os recursos visual-corporais como pertencentes ao conjunto de regras da gramática de uma língua. Recursos corporificados e recursos paralinguísticos, como as risadas (VANSILER; MARQUES; CRUZ, 2019), são potencialmente relevantes para a construção do sentido, são vistos como entrelaçados com a formação da ação social. Bergmann et al. (2012) advogam que estes recursos podem ser incorporados a uma gramática interacional. Outros estudos apontam evidências que sustentam o papel gramatical de recursos corporificados na construção dos sentidos. Para Frith (2009), as expressões que vemos no rosto dos outros envolvem uma série de processos cognitivos diferentes, não são simplesmente reflexivas, mas também têm um componente comunicativo. O papel dos gestos faciais é relevado nas línguas sinalizadas, concorrendo com os gestos e constituem parte da gramática da língua (REILLY, 2006).

Para Bergmann et al. (2012), a prosódia e os recursos corporificados na interação são considerados como ‘pistas de contextualização’ (GUMPERZ, 1989) que interagem umas com as outras e com as estruturas da gramática na construção de sentido na interação.

Na interação, os recursos corporificados constroem sequências, que marcam a alternância de turnos. Assim, recursos corporificados são utilizados para a construção de turnos, e para a construção de unidades maiores, e essas estruturas têm funcionamento gramatical emergente dentro dos fluxos multimodais de interação. Para Keevallik (2018), estas evidências problematizam tanto as estruturas paradigmáticas quanto as estruturas sintagmáticas documentadas na linguística com foco apenas na pista verbal e exigem uma reconceitualização da gramática como um conjunto de métodos de rotina que incorpora aspectos do comportamento corporal dos interactantes. Relevando a interface gramática-corpo, Keevallik (2018) sistematiza resultados de estudos da análise da conversa, linguística interacional em línguas como estoniano, francês, alemão, italiano, japonês e sueco, que evidenciam que a gramática da língua é ajustada a sequências e trajetórias de atividades corporais.

No português, os recursos corporificados, juntamente com as pistas verbais prototípicas, atuam na função de manutenção de turno (RODRIGUES, 2003), assim como se observa a mobilização de recursos linguísticos e semióticos na composição de uma “gramática” produzida no interior do aplicativo de busca por parceiros entre homens Grindr, em seus aspectos, com significação particular de palavras e imagens e direcionamento comercial e midiático (CARDOSO, et al., 2019). Por serem parte da unidade construcional do turno, os gestos são utilizados como estratégia para conectar enunciados, não apenas garantindo coerência, mas também construindo coesão, que são funções de natureza gramatical (LAURSEN, 2005).

As contraevidências à corporificação da gramática também precisam ser consideradas. Bergmann et al. (2012) advertem que o pareamento da prosódia e dos recursos corporificados com o significado na interação não pode ser modelado como um par de forma e função, porque os recursos requerem uma interpretação indexical; não têm um sentido fixo, mas são construídos no contexto de ocorrência, juntamente com outras pistas de contextualização, que apontam para elementos da interação os quais estão fora do limite da sentença. Segundo Ningelgen e Auer (2017), o fato de que a co-expressão das combinações de fala e gesto dos falantes, bem como o fato de que os gestos são recorrentes, mas geralmente não são características obrigatórias de uso, é argumento para que os gestos (e provavelmente mais ainda gestos faciais) não façam parte do sistema linguístico, mas sim aditivos não centralizados de uso linguístico. Por outro lado, ainda são poucos os estudos sistemáticos da relação entre recursos corporificados e usos linguísticos, seja por limitações tecnológicas relativas à obtenção de dados (necessidade de gravação pareada de áudio e vídeo, por exemplo), seja por definição de agenda de pesquisa que é focada no objeto mentalístico da língua. A ampliação da análise pode contribuir para a revisão dos argumentos que, neste momento, são apresentados como contraevidências. Especificamente quanto ao pareamento forma-função (BERGMANN et al., 2012), é importante lembrar que os estudos de mudança linguística, como a gramaticalização, (FIGUEIREDO-BOSCO; SOUZA, 2013) consideram o papel da interação na convencionalização de implicaturas conversacionais, embora em seus procedimentos metodológicos não contemplem os efeitos da interação como uma variável na definição do sentido decorrente do pareamento forma-função.

Visando contribuir para a ampliação dos estudos de gramática no corpo, neste texto consideramos contextos em que é relevado o papel dos recursos corporificados na interação, assim como a coocorrência de gestos emblemáticos e gestos faciais e sentidos, reunindo argumentos em favor da corrente da corporeidade na gramática.

2. Corporeidade: a relação cognição, corpo e linguagem

A noção de “corporeidade” – ou mente corporificada – no paradigma da Linguística Cognitiva é desenvolvida, sobremaneira, em Lakoff e Johnson (1999), que enfatizam os aspectos neurofisiológicos do termo:

Na mente corporificada, concebe-se que o mesmo sistema neural mobilizado na percepção (ou no movimento corporal) tem papel central na concepção. Ou seja, é possível que os mesmos mecanismos responsáveis pela percepção, movimento e manipulação de objetos possam ser responsáveis pela conceptualização e raciocínio (LAKOFF; JOHNSON, 1999, p. 37-38)

Evans (2012, p. 131-132) diferencia a corporeidade em dois aspectos: (i) o da “experiência corporificada”, segundo o qual, em função da natureza de nosso corpo e de sua arquitetura neuroanatômica, temos uma visão de mundo característica da espécie humana; e (ii) o da “cognição ancorada”, segundo o qual tanto os conceitos aos quais temos acesso quanto a natureza da “realidade” sobre o que pensamos e falamos são ancorados nas representações multimodais que emergem de nossa experiência corporificada. Tais representações mentais são padrões recorrentes de atividades corporificadas das quais emergem o pensamento e a linguagem (GIBBS, 2005; JOHNSON, 2007).

A hipótese da corporeidade – ou cognição corporificada – é ilustrada pela noção de “esquemas imagéticos”, elaborada por Johnson (1987; 2007), que demonstra a relação entre o nosso sistema sensório-motor, a organização da estrutura conceptual oriunda dele e a produção e compreensão de linguagem. Um esquema imagético é um padrão dinâmico e recorrente de nossas experiências perceptuais e sensoriais com/no mundo que estruturam e dão coerência a tais experiências (JOHNSON, 1987).

O esquema imagético atrela uma gama de experiências distintas que manifestam a mesma estrutura (conceptual) recorrente. Por exemplo, o esquema contentor é um padrão recorrente em nossas experiências diárias de entrar e sair de casa / locais, colocar um objeto dentro de outro objeto, pôr as mãos nos bolsos, observar animais entrando em tocas, buracos etc. Os esquemas imagéticos são altamente flexíveis tipologicamente, permitindo que eles se transformem de acordo com a particularidade das experiências das quais emergem (OLIVEIRA, 2011).

No entanto, embora o termo “imagético” tenha forte apelo ao aspecto visual da percepção, os esquemas são oriundos da experiência sensório-motora-perceptual. Ou seja, eles emergem da interação e experiência dos sistemas visual, auditivo, vestibular, háptico, o que lhes confere um caráter multimodal. Por exemplo, o esquema escala pode emergir da experiência corporificada de ouvir a organização de notas musicais (sistema auditivo), de sentir o aumento da pressão de um objeto contra a flor da pele (sistema háptico), de observar objetos sendo empilhados (sistema visual), de subir as escadarias de um prédio (sistema vestibular).

O sistema sensório-motor, a percepção, os conceitos, as imagens mentais, a memória, o desenvolvimento cognitivo, a linguagem, a emoção e a consciência, enfim, a cognição em geral está ancorada na noção de corporeidade (GIBBS, 2005). E, no paradigma da Linguística Cognitiva, a língua(gem) é concebida como componente de nossa cognição geral; isto quer dizer que as capacidades envolvidas em outras formas de cognição, a saber, memória, percepção e categorização, por exemplo, são também mobilizadas para a produção e compreensão de linguagem. Consequentemente, a língua, bem como outros modos de produção de sentido, como os gestos manuais e os gestos faciais, pode funcionar como um mecanismo para se inquerir acerca de uma gama de fenômenos mentais, dado que ela é um reflexo de nosso raciocínio geral.

Considerando, portanto, que a estrutura conceptual e o significado linguístico estão abalizados na corporeidade, estudos como os de Müller e Cienki (2009) e Cienki (2013) mostram que os gestos não somente apresentam potencial linguístico e comunicativo ao codificar conceptualizações, como metáforas e metonímias, como também corporificam as estruturas conceptuais que figuram na mente, como os esquemas imagéticos. Nota-se, desse modo, que os gestos se constituem enquanto um canal, um recurso semiótico, expressivo de operações cognitivas que também são mobilizadas pela linguagem, tais como metáforas e metonímias cognitivas, mesclagens conceptuais.

Em uma investigação de sequências narrativas nas quais gestos eram utilizados por indivíduos engajados em uma conversa acerca de experiências pessoais, Müller (2014) demonstra o potencial linguístico dos gestos, uma vez que eles exercem as mesmas funções dominantes da língua(gem): expressão, apelo e representação (BÜHLER, 2011[1934]). Os gestos podem (i) expressar estados mentais e sentimentos, (ii) regular o comportamento dos interlocutores, bem como (iii) representar objetos e eventos no mundo. Os gestos, portanto, constituem enunciados multimodais e corporificam os conteúdos mentais que subjazem à mente.

Assumindo esta perspectiva, consideramos os gestos emblemáticos como manifestação da corporeidade nos processos de compreensão da linguagem3.

2.1. O corpo como expressão da linguagem: gestos emblemáticos

Gestos representam uma evolução da anatomia física, das capacidades cognitivas e da linguagem, são parte importante da comunicação visual-corporal, representam o ato linguístico, a fala, ampliando o significado do enunciado oral; ademais, possibilitam a transmissão de mensagens verbais.

Os gestos emblemáticos são objeto de classificação de duas tipologias bem distantes cronologicamente – porém, próximas em termos de proposta teórica – a de Ekman e Friesen (1972) e a de Lascarides e Stone (2009). Uma rápida retomada dessas duas tipologias ajudará a entender a importância dos gestos emblemáticos na comunicação e por que foram escolhidos como objeto de estudo de Oliveira (2020) cujos dados são aqui analisados.

Ekman e Friesen (1972), tomando como base a origem, a codificação e o uso assumido das configurações de mãos durante a comunicação, descreveram cinco categorias de códigos não verbais, das quais três apresentam maior relevância para distinguir a maioria dos movimentos manuais: gestos emblemáticos, ilustradores e adaptadores. Conforme os autores, emblemas são aqueles gestos não co-ocorrentes à fala que podem ser traduzidos diretamente por um item lexical ou por uma frase, cujo significado atribuído é convencionalmente de conhecimento da maioria dos – se não de todos os – membros de um dado grupo ou comunidade de fala. O uso dos emblemas é intencional, pois eles são, com frequência, utilizados deliberadamente com a intenção consciente de enviar uma mensagem específica a um dado interlocutor que, por sua vez, não somente conhece o seu significado, mas também sabe que lhe foi deliberadamente direcionado.

Ao definir os gestos emblemáticos, Ekman e Friesen (1972) explicam que em sua maioria o uso dos gestos emblemáticos é motivado pela existência de algum obstáculo a realização do discurso verbal em função de alguma circunstância externa (por exemplo, entre o piloto e o balizador no taxiamento da aeronave), pela distância (por exemplo, entre caçadores distantes uns dos outros no campo), por acordo (por exemplo, durante jogos de adivinhação), ou por situação de deficiência corporal. Por último, pode-se dizer que um gesto emblemático pode ser substituído por uma ou duas palavras, ou seja, seu significado pode ser verbalizado, integrando-se naturalmente à situação de interação que motivou sua produção. Gestos emblemáticos são definidos por Ekman e Friesen (1972) como atos comunicativos e interativos.

Diferentemente dos gestos emblemáticos que podem ser codificados arbitrariamente, os gestos ilustradores, na classificação de Ekman e Friesen (1972), estão intimamente relacionados à fala, ao conteúdo verbal na sua totalidade. Os gestos ilustradores geralmente reforçam ou contradizem o significado do conteúdo verbal, ou podem substituir um item lexical. Os gestos ilustradores se aproximam dos emblemáticos no seu uso intencional pelo interlocutor, embora sejam geralmente periféricos, não focais e diferentes entre si em diversos aspectos. Muitos gestos ilustradores não possuem um significado verbal preciso atribuído a eles e para alguns ilustradores, na verdade, não há de fato nem mesmo uma possível tradução verbal. Além disso, os ilustradores não ocorrem independentemente de um co(n)texto linguístico, enquanto os emblemas podem ocorrer independentemente de haver um co(n)texto imediato entre os interlocutores, isto é, uma sequência verbal para fazerem sentido.

Os gestos adaptadores, a última categoria abordada por Ekman e Friesen (1972) , são diferentes tanto dos gestos emblemáticos quanto dos ilustradores, principalmente com relação à intencionalidade, partilhando algumas características de cada. Enquanto gestos emblemáticos e ilustradores quase nunca são realizados quando o indivíduo está sozinho e/ou fora de situação de interação interpessoal, os gestos adaptadores, por sua vez, ocorrerão muitas vezes com alta frequência e em sua forma mais completa, quando o indivíduo está sozinho. Adaptadores são gestos aprendidos pela primeira vez como parte de um esforço para satisfazer necessidades próprias ou necessidades corporais, como cutucar o nariz, coçar a cabeça.

Outra classificação que contempla os gestos emblemáticos é de Lascarides e Stone (2009) que também classificam os gestos utilizados nas interações sociais de dois tipos, os ilustradores e os emblemáticos. Os gestos ilustradores (illustrators) co-ocorrem com a fala e fornecem uma imagem visual para o enunciado verbalmente produzido e são menos conscientes. O trecho do Quadro 1, extraído da obra de Graciliano Ramos, Vidas Secas, apresenta descrições textuais do que se configuram como gestos ilustradores destacados em negrito.

Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinha Vitória achou que sim. Fabiano agradeceu a opinião dela e gabou-lhe as pernas grossas, as nádegas volumosas, os peitos cheios. As bochechas de Sinha Vitória avermelharam-se e Fabiano repetiu com entusiasmo o elogio. Era. Estava boa, estava taluda, poderia andar muito. Sinha Vitória riu e baixou os olhos. Não era tanto como ele dizia não. Dentro de pouco tempo estaria magra, de seios bambos. Mas recuperaria carnes. E talvez esse lugar para onde iam fosse melhor que os outros onde tinham estado. Fabiano estirou o beiço, duvidando. Sinha Vitória combateu a dúvida. Porque não haveriam de ser gente, possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira? Fabiano franziu a testa: lá vinham os despropósitos. Sinha Vitória insistiu e dominou- o. Porque haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver Fabiano respondeu que não podiam.
Table 1. Quadro 1: Excerto de Vidas Secas (RAMOS, 1938, p. 56).

Diferente dos gestos ilustradores, gestos emblemáticos (emblematics), também denominados de gestos simbólicos, podem ocorrer independentemente da fala, veiculam mensagens sem quaisquer representações verbais e apresentam maior nível de consciência. São, portanto, elementos versáteis cujas realizações podem ocorrer com ou sem o uso da fala (LASCARIDE; STONE, 2009). Um exemplo de gesto emblemático que foi muito comentado nacionalmente foi produzido pelo atual Presidente da República, quando interrogado pelos jornalistas sobre seus exames de Covid-19 (Figura 4a). Ainda relacionado ao momento de pandemia enfrentado pelo mundo, temos outro exemplo de gesto emblemático na figura 4b.

Figure 5. Figura 4: a. O presidente da República produzindo um gesto emblemático, mais conhecido como ‘dar uma banana’.4 b. Exemplo de um gesto emblemático utilizado para saudação, o popular ‘V’ de Vitória.5

Os gestos, de fato, não pertencem a categorias tão estanques como a classificação de Lascarides e Stone (2009). Kendon (1981) descreve a convencionalidade e o valor dos gestos na comunicação ou valor comunicativo dos gestos propondo uma sequência numa ordem crescente da esquerda para a direita. Quanto mais avança para a direita, mais aumenta a presença de gestos e diminui a presença da fala. Essa sequência é chamada por McNeill (1992) de continuum de Kendon – gesticulação ® gestos idênticos à língua ® pantomima ® emblemas ® linguagens de sinais –, no qual os gestos emblemáticos se encontram bem próximos dos gestos cuja produção não necessita da co-ocorrência da fala.

Gestos emblemáticos são ilustrativos do papel dos elementos visual-corporais para a produção de sentidos; e assim como a variação é inerente à linguagem humana, os gestos emblemáticos também não estariam isentos de registrar variação.

Recursos corporificados exercem importante contribuição nas situações de interação humana, independente do grupo social. Face ao seu status linguístico, Oliveira (2020) descreve gestos emblemáticos no português brasileiro em um contexto intracultural, a fim de identificar o seu caráter variacional em comunidades de práticas. Baseado em Matsumoto e Hwang (2013), que comprovaram a existência de variação nos gestos emblemáticos interculturalmente, Oliveira (2020) defende que também há variação no uso dos gestos emblemáticos intraculturalmente. Para testar a hipótese, um conjunto de 25 gestos emblemáticos, exemplificados na figura 5, foi gravado e compôs um vídeo utilizado o trabalho de campo, que possibilitou o julgamento de 40 juízes estratificados socialmente em sexo, escolaridade e comunidade de prática (indígenas, quilombolas e de surdos bilíngues libras/português).

Figure 6. Figura 5: Imagens gravadas de 6 gestos emblemáticos no vídeo utilizado no estudo de Oliveira (2020, p. 74, 75, 82, 104).

A utilização do vídeo para a coleta de dados teve duas finalidades: a) obter a avaliação metalinguística do participante sobre o significado e o contexto de uso do gesto visualizado e; b) induzir os participantes a fornecer outros gestos emblemáticos relacionados ao gesto visualizado, quando fosse o caso. Os resultados evidenciam variação nos gestos emblemáticos, seja de forma seja de significado (Tabela 1), sendo os gestos GVZ05 (Figura 6) e GCH07 (Figura 7) os com a maior variância.

6

código do gesto significado alvo ocorrência de variação %
GVZ05 Pedido para sair (vazar) 38/40 95
GCH07 Chamar alguém 37/40 92,5
GMB18 Isso é muito bom, é daqui 33/40 82,5
GVT14 V de Vitória 33/40 82,5
GAM19 Ameaçar matar 31/40 77,5
GMR25 Estar com muita raiva de alguém 30/40 75
GSM15 afirmação / confirmação 28/40 70
GPF23 Pedido para falar 25/40 62,5
GPR24 Preocupação 25/40 62,5
Table 2. Tabela 1: Gestos emblemáticos altamente variáveis. Fonte: Dados emprestados de Oliveira (2020).

Figure 7. Figura 6: Exemplos de Variantes do Gesto GVZ057 Fonte: Adaptado de Oliveira (2020).

Figure 8. Figura 7: Exemplos de Variantes do Gesto GCH07 Fonte: Adaptado de Oliveira (2020).

O julgamento de dois gestos registrou uma particularidade, o gesto para pedido de silêncio e o para negação (Figura 8). Embora ambos apresentem variação como todos os demais, seu uso foi reconhecidos pelos demais juízes como associado apenas ao significado-alvo previsto no corpus.

Figure 9. Figura 8: Gestos GLG01 (pedido de silêncio) e GNO03 (não) que tiveram o mesmo uso e significado identificados por todos os 40 juízes. (OLIVEIRA, 2020, p. 193 e 194).

Diferentemente de Matsumoto e Hwang (2013), cujos resultados registraram a presença de gestos emblemáticos particulares a uma dada cultura e sem registro em outra cultura, o estudo de Oliveira (2020) não identificou nenhum gesto emblemático particular de uma das comunidades de prática investigadas. Estes resultados evidenciam características inerentes às línguas humanas – a heterogeneidade e a diversidade – que, presentes nos gestos emblemáticos, reforçam o comportamento gramatical dos recursos corporificados. Outra característica é o seu papel interacional, apresentado a seguir.

2.2. O corpo na interação: dos recursos corporificados

Na perspectiva da Linguística Interacional e da Análise da Conversa, campos de estudos da língua em uso, a noção de cognição corporificada concentra-se no corpo em sua multimodalidade como fonte de recursos produtores e reguladores de sentidos. Esses recursos, tais como os gestos, o olhar, a postura corporal, os movimentos corporais, os gestos faciais, a prosódia, o léxico e a gramática, são, conforme Mondada (2014, p. 138), recursos corporificados “[...] mobilizados pelos participantes para organizar suas ações”. A noção de recurso, segundo a autora, é profícua por permitir (i) tratar, a princípio, tanto os recursos linguísticos quanto os corporificados no mesmo nível de relevância; (ii) identificar não somente um conjunto convencionalizado de recursos – como a gramática e alguns tipos gestuais, mas também recursos conjugados e que ocorrem situacionalmente; e (iii) estudar como esses recursos são combinados de várias maneiras, dependendo da atividade em curso, sua ecologia e suas restrições materiais e culturais. Portanto, os participantes de uma interação in situ podem utilizar dos recursos corporificados de formas variadas, nas quais um recurso pode ser priorizado em relação ao outro, ou mesmo ocupar o mesmo nível de relevância, a depender do contexto e da natureza da atividade e ação conversacionais em curso.

Posto isso, com o objetivo de ilustrar como a hipótese da corporeidade se aplica à fala-em-interação, bem como operacionalizar a noção de recursos corporificados em dados empíricos, apresentamos uma sequência retirada dos dados analisados em Nascimento (2020), de modo a identificar e descrever quais os recursos corporificados que os participantes de uma conversa usam para realizar ações linguístico-conversacionais, no caso em tela, uma ação metacomunicativa8 e uma crítica.

O quadro 2 apresenta o recorte de uma interação entre quatro indivíduos, três mineiros, MG1, MG2 e MG3, e um paraense, PA1. Na sequência em específico, MG3 fala sobre uma canção emblema da cultura paraense (L11-13), chamada “Belém Pará Brasil”,9 de modo a argumentar acerca do “paraensismo”,10 um fenômeno que lhe causa estranheza.

Figure 10. Quadro 2: Excerto 2018BAMiPa1_não_pisem_no_jacaré (NASCIMENTO, 2020, p. 220).

Ao se referir à canção “Belém Pará Brasil”, MG3 faz uma crítica ao conteúdo geral da obra (L18-21), por ser algo polIticamente incorRE:to e distorCIdo, pois relata uma realidade não verdadeira, a saber, que as pessoas que não são paraenses querem destruir a cultura local. No plano verbal, na linha 16, após uma pausa de (2.0), MG3 realiza uma inserção atenuadora, cês vão me desculPAR;= =<<all> é uma MÚsica bonIta;>, de modo a mitigar o efeito ameaçador de face11 (BROWN; LEVINSON, 1987) que sua declaração causa nas linhas 18 a 21. O participante mineiro não somente pede desculpas antecipadas (cês vão me desculPAR;) pelo que ele declarará adiante em sua fala (HILGERT, 2014), especialmente pelo fato de haver um paraense na conversa, PA1, como também faz um comentário positivo sobre a canção (<<all> é uma MÚsica bonIta;>). Conforme Schröder (2018), a inserção “pré-posta” de MG3 à declaração nas linhas 18-21 realiza uma função antecipatória à guisa de evitar reações negativas de seus interlocutores, em especial de PA1, concernente à crítica presente na declaração mas eu nunca vi um troço TÃO polIticamente incorRE:to tão distorcido quanto aquEla Música;.

Ainda, no plano prosódico, MG3 faz uso de três recursos, a saber: pausas – (2.0), (.), (0.4); fala encaixada – =; e mudança na velocidade fala – <<all>. A fala encaixada e a taxa de elocução acelerada12 caracterizam holisticamente a inserção parentética, pois revelam a necessidade e urgência do falante em preparar seus interlocutores acerca da crítica que ele fará. Ademais, no concernente às (micro)pausas, ou ‘silêncios intraturnos’ (MARCUSCHI, 2015), em especial a pausa da linha 16 - (2.0), que inicia o enunciado de MG3, temos a ocorrência da ‘hesitação’ em nível prosódico. A hesitação “é uma atividade textual-discursiva que atua no plano do processamento” textual (MARCUSCHI, 2015, p. 49). Ela se caracteriza enquanto um mecanismo que promove a introdução do processo de formulação prospectiva no próprio discurso. Dito de outro modo, durante a formulação/linearização dos enunciados, a hesitação fica evidente por seu aspecto prospectivo, uma vez que tenha como escopo o que vem depois (FÁVERO; ANDRADE; AQUINO, 2012). A hesitação, portanto, indicia e sinaliza trechos de fala vindouros, bem como evidencia o automonitoramento do falante acerca de sua fala na interação.

No plano visual-corporal, nas linhas 20, 21 e 25, observamos partículas de (sor)riso: <<sorrindo, balançando levemente as mãos para cima e para baixo> tão distorCIdo;> <<sorrindo,rall>quanto aquEla MÚsi[ca;>]. A ocorrência do (sor)riso (laughter) pode existir em virtude de uma variedade de aspectos na conversa, como confissões e/ou narrativas dolorosas, momentos engraçados ou tolos. O (sor)riso pode emergir como resposta a algo que tenha sido dito na conversa, ou mesmo durante o curso de fala de alguém (COATES, 1997). As partículas de riso presentes na fala de MG3 (L18-21) instauram a presença do “humor”, de modo a reduzir a tensão gerada na conversa (PULLIN, 2018; HAY, 2000). A presença do riso indicia a realização implícita de uma ação metacomunicativa de MG3 que ocorre paralelamente à realização de sua ação de criticar a canção a qual ele se refere.

Os gestos rítmicos (MCNEILL, 1992) ou discursivos (MARICHIOLO et al. 2014) de MG3, que co-ocorrem aos seus enunciados nas linhas 19, 20 e 21, instanciam a ação conversacional de criticar. O movimento dos gestos de MG3 acontecem de maneira ritmada (movimenta as mãos paralelas para cima e para baixo), Figura 9.

Figure 11. Figura 9: Movimento de gestos rítmicos (NASCIMENTO, 2020).

Observamos que o gesto discursivo de MG3 destaca temporalmente as frases polIticamente incorRE:to, tão distorCIdo e quanto aquEla Música, enfatizando-as como pontos focais (MARICHIOLO et. al 2014, p. 1467) em sua fala, o que confere proeminência à crítica realizada pelo participante à canção mencionada. Elementos prosódicos inter-relacionam-se com os gestos discursivos de MG3: os acentos secundário e focal nas construções trOço, TÃO, polIticamente incorRE:to, distorCIdo e aquEla MÚsica. Nessa interação gesto-fala, emerge um ritmo que causa um efeito retórico apelativo aos interlocutores de MG3, destacando a assertividade da crítica realizada.

No que tange à ação metacomunicativa de MG3, isto é, sua inserção parentética, a ação é instanciada num compósito semiótico denominado “Gestalt multimodal complexa”, “uma teia de recursos que dão forma a uma ação” (MONDADA, 2014, p.139) cujo sentido só é apreendido em seu aspecto holístico, simultâneo. Assim, por meio de recursos léxico-gramaticais, de elementos prosódicos e visual-corporais, MG3 deu forma à sua inserção parentética.

A ação conversacional de criticar foi realizada por MG3 mobilizando sorrisos, gestos e acentos entonacionais, que convergiram com o conteúdo comunicado por meio dos recursos léxico-gramaticais, reforçando pontos relevantes de sua ação, isto é, sua crítica. Estes resultados evidenciam mais uma vez o papel gramatical dos recursos corporificado: sentidos produzidos e negociados na fala-em-interação emergem da interrelação dos recursos corporificados, que, em um primeiro momento, não se apresentam de forma hierarquizada aprioristicamente, mas se constituem em sua relevância situacional conforme o contexto, a ecologia, a atividade e a ação em curso; em um segundo nível, estes recursos podem se convencionalizar, como os gestos emblemáticos. Do mesmo modo, os gestos faciais podem expressar respostas emocionais cujos sentidos também podem ser convencionalizados e hierarquizados na interação.

2.3. Gestos faciais, respostas emocionais e variação

A consciência social é uma característica da comunidade de fala, importante para a difusão de uma mudança linguística (LABOV, 1990). O nível de consciência também está presente na escala de avaliação das variantes (indicadores, marcadores e estereótipos). A premissa dos efeitos da consciência social é de que não é necessário ter consciência dos eventos para percebê-los, o que revela a existência de uma cognição implícita (UNDERWOOD; BRIGHT, 1996). Uma variante cognitivamente saliente, ainda que no nível inconsciente, pode vir a carregar indexação social, ou seja, tornar-se um marcador ou um estereótipo. No entanto, por não estar no nível da consciência social, o falante não é capaz de relacionar o juízo de valor ao traço linguístico em si, sendo necessário, para desvelar os seus efeitos, valer-se de técnicas indiretas (FREITAG, 2020a, b).

No campo dos estudos do processamento da variação linguística, a partir do momento em que uma variante chama a atenção, é possível que seja atribuída características positivas ou negativas a ela. Fisiologicamente, processos cognitivos ativados por um gatilho, como um traço linguístico saliente ou estigmatizado, ainda que controlados conscientemente, deixam pistas: a dilatação da pupila ou os gestos faciais também podem ser consideradas como evidências do julgamento social subjacente.

O reconhecimento dos gestos faciais é um campo de estudo da percepção das emoções no contexto da psicologia a biologia e áreas afins. Três componentes são fundamentais ao se referir às emoções: a experiência subjetiva, as mudanças fisiológicas e avaliação (appraisal) cognitiva. O processo do reconhecimento dos gestos faciais é o processo de tomada de decisões baseado na interpretação das mudanças que a experiência subjetiva da emoção provocaria nos gestos faciais das outras pessoas (LENCH, TIBBETT; BENCH, 2016).

Gestos faciais são universais, resultados observáveis da evolução (EKMAN; FRIESEN, 1986). As respostas emocionais na face são reações automáticas e involuntárias decorrentes da percepção do ambiente (cognição social). Os gestos faciais transmitem informações que permitem gerar um conhecimento para a cooperação social e julgamentos morais e sociais. E as mudanças fisiológicas decorrentes de emoções como resposta a um dado estímulo podem constituir parâmetro de observação indireta para aferir a sensibilidade dos falantes aos traços linguísticos variáveis, especialmente os mais salientes e/ou estigmatizados. Freitag et al. (2020) realizaram um estudo piloto com o objetivo de verificar se gestos faciais podem ser pistas do julgamento social de uma variável sociolinguística, especificamente uma variável com comportamento e avaliação de estereótipo já descrito no português brasileiro, o rotacismo (cancelamento da distinção entre lateral e tepe). O estudo consistiu em uma tarefa experimental baseada em priming auditivo com resposta e reação fisiológica dos participantes-juízes. O script de reconhecimento facial gerou dados de probabilidade da expressão demonstrada pelos participantes, tomando como parâmetro as expressões de alegria, asco, medo, neutra e surpresa. Esperava-se que na resposta aos estímulos com realização do rotacismo (alvo) predominassem expressões de asco mais intensas e expressões neutras em relação aos demais (controle). Os resultados obtidos apontam para mais prováveis as expressões neutra e de alegria associadas aos estímulos com rotacismo. As outras emoções apresentaram média de probabilidade muito mais baixa (Figura 10).

Figure 12. Figura 10: Probabilidade das emoções predominantes: A. neutro, B. alegria, C. asco e D. surpresa. (FREITAG et al., 2020, p. 15)

A incorporação de recursos corporficados à analise sociolinguística, em especial ao campo dos estudos de processamento da variação linguística, possibilita a observação mais detalhada do encaixamento social de fenômenos variáveis, pois os falantes não permanecem neutros a uma variável que lhes é saliente.

Este é um campo de investigação ainda incipiente: resultados que sinalizam associação entre respostas emocionais e apreciação social de diminutivos (PINHEIRO, 2021) e valor do modalizador “acho que” (CARDOSO, 2021) permitem expandir o campo para fenômenos além do fonológico e relevar o papel dos recursos corporificados na constituição da gramática da língua, que atuam na produção e negociação de sentidos na relação de interação entre falante e ouvinte.

Estas evidências reforçam a importância de uma análise multidimensional/multimodal do uso da língua. No entanto, a ampliação da análise requer a implementação de procedimentos metodológicos e analíticos que possibilitem a integração entre os níveis semântico, corporal e vocal. (cf. FONTES; MADUREIRA, 2019).

3. Considerações Finais

Assumimos que recursos corporificados não só são relevantes para a construção do sentido, como apresentam propriedades que são características dos demais recursos que compõem a gramática da língua, tais como a regularidade sistemática, a variação e a apreciação social. Nesse sentido, argumentamos em favor de se considerar recursos corporificados no nível da gramática da língua. Os resultados de estudos recentes no português brasileiro que apresentamos na seção 3 sinalizam que, para a inclusão dos recursos corporificados na gramática, é necessário implementar mudanças nos procedimentos metodológicos tradicionalmente adotados na descrição linguística: o material de análise, objeto da descrição linguística precisa conter informação corporalizada do falante e do ouvinte, com documentação em áudio e em vídeo e um sistema de anotação com mais de uma trilha para cada participante, por exemplo. Isso significa assumir uma concepção de funções da língua mais próximas da proposta orgânica de Bühler (2011[1934]), que incorpora as expressões humanas no domínio da expressão linguística. Como destacamos na seção 2, a opção por uma hierarquização de funções e priorização de um nível de análise é consequência de limitações metodológicas, que fazem com que se perca a natureza epifenomenológica da produção linguística. Os recursos corporificados têm regras, não só convencionalizadas indexicalmente no processo interacional entre o falante e o ouvinte, mas que também podem ser captadas na observação pelo analista. Se há regras, comportamento sistemático dotado de variabilidade, estes recursos estão na gramática da língua.

O estudo do comportamento dos recursos corporificados permite refletir sobre o papel da perspectiva assumida para definir o que se entende por compreensão: não podemos dissociar a relação entre a atividade conversacional, o gênero discursivo e os recursos corporificados utilizados em cada um deles; por exemplo, em uma dada situação interacional mais recursos visual-corporais serão utilizados em detrimentos de recursos verbais e prosódicos. Com isso, a construção do objeto analítico gramática precisa ser ampliada para incorporar, por exemplo, o turno conversacional e a sua transição e a avaliação do ouvinte em relação ao falante.

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FREITAG, R. M. K.; CRUZ, R. C. F.; NASCIMENTO, T. da C. The grammar in the body: on embodied resources in meaning construction and negotiation. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 2, n. 1, p. e354, 2021. DOI: 10.25189/2675-4916.2021.v2.n1.id354. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/354. Acesso em: 20 apr. 2024.

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