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Research Report

The prosody of metadiscourse: an analysis based on data from NURC Digital Recife

Arthur Ronald Brasil Terto

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https://orcid.org/0000-0003-4806-4946

Miguel Oliveira, Jr.

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Keywords

Prosody
Discourse
Orality

Abstract

This work has investigated the prosody of metadiscursivity. The aim was to analyze the prosodic characteristics of metadiscursive utterances when coming between two non-metadiscursive ones. The hypothesis which led to this work was that there would be f0 and durational patterns in the prosodic realization of metadiscursive statements in the speech context mentioned above. With that in mind, this study analyzed pitch range, pitch reset, intonational distribution, boundary tones, speech rate, and occurrence of pauses and their duration. Those analyses had as support the prosodic phonology and metric and self-segmentation of intonation theories. Seven surveys were selected from the NURC Digital Project portal, from which it took excerpts with three utterances (the pre-metadiscursive one, the metadiscursive one, and the pos-metadiscursive one). Statistical analyzes used the mixed linear model and the binomial logistic regression. The findings evidence that the metadiscourse is produced as an independent structure of those adjacent to it. That independence is evidenced by a higher speech rate and by non-low border tones in their limits. Beyond this, it was found, in about half of the analyzed contexts, a co-occurrence of silent pauses and non-low border tones within the terms of the metadiscursive statements. Pitch range and intonational distribution patterns were not observed though. Although pitch reset has been observed among utterances, its performance was not significant. These results contribute to the description of metadiscursivity's prosody of Brazilian Portuguese, as well as to the teaching of the constitution and functioning of discourse genres of orality.

Introdução1

Ao entrarmos no jogo da interação com outro indivíduo que partilha da mesma língua que nós, temos em vista um propósito comunicacional. Para alcançá-lo, articulamos nossos enunciados de modo a estabelecer entre eles uma lógica semântico-pragmática, que é responsável pela coerência da nossa mensagem. Tal coerência entre os enunciados os agrupa em uma unidade linguística maior que a sentença: o discurso.

Os enunciados metadiscursivos são um dos mecanismos responsáveis por garantir essas relações semântico-pragmáticas entre os enunciados, “criando”, assim, o discurso. Eles são formas linguísticas usadas pelo falante para organizar e monitorar o seu próprio dizer. Ao monitorar seu próprio dizer, o falante procura assegurar que seu parceiro de comunicação compreenda o máximo possível da mensagem da comunicação. A função de um enunciado metadiscursivo é, portanto, estabelecer um intercâmbio linguístico eficiente entre os sujeitos participantes da interação (HYLLAND, 2005a; RISSO; JUBRAN, 1998).

Além do metadiscurso, um outro mecanismo responsável pela organização do discurso é a prosódia. Já é consenso na literatura a importância do papel desse elemento suprassegmental na estruturação do discurso falado. Estudos têm demonstrado que componentes como variação de F0, reinício de F0, taxa de elocução e pausas funcionam como propriedades suprassegmentais usadas para estruturar o discurso oral em diferentes gêneros textuais, incluindo aí a fala espontânea (OLIVEIRA JR.; CRUZ; SILVA, 2012; PIJPER; SANDERMAN, 1994; SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1996).

A despeito desse número de estudos sobre o papel da prosódia na estruturação do discurso falado, é escassa a quantidade daqueles que descrevem a estruturação prosódica do metadiscurso no português brasileiro. A maioria dos estudos que investigam as implicações dos enunciados metadiscursivos no português do Brasil centra-se em análises segmentais ancoradas em perspectivas da linguística textual e da análise do discurso (CAVALCANTE, 1998; MORATO, 2012; RISSO; JUBRAN, 1998; SILVA, A.; 2017, entre outros).

Por esses motivos, o objetivo deste estudo é descrever as características prosódicas de enunciados metadiscursivos produzidos por falantes recifenses em contextos nos quais o metadiscurso seja ladeado por enunciados não-metadiscursivos, quer dizer, quando ele intercala enunciados “pertencentes” ao fluxo informacional.

A hipótese geral que norteia a investigação proposta é a de que existem padrões de F0 (distribuição do contorno melódico2 do enunciado, variação de F0, reinício de F0 e tons de fronteira), de duração (taxa de elocução) e de pausas que permitem caracterizar os enunciados metadiscursivos quando estes são produzidos entre dois enunciados pertencentes ao fluxo informacional na variedade linguística analisada.

1. O discurso e o metadiscurso

O termo “discurso” tem sido abordado nos estudos linguísticos sob diversas perspectivas teóricas. Wichmann (2014) as sintetiza em três principais: (i) “discurso” como um dos níveis da gramática da língua; (ii) “discurso” como língua em uso; e (iii) “discurso” como construção/reflexo da realidade social. Neste estudo, adotamos a primeira concepção, ou seja, aquela que compreende o discurso de um ponto de vista estrutural como sendo um dos níveis da gramática da língua.

Conceber o discurso como um dos níveis da estrutura da língua significa dizer que ele compõe um dos sistemas de unidades linguísticas da língua. Ele estaria no último “degrau” das classes de unidades linguísticas, figurando acima dos fonemas, das palavras, dos sintagmas e, por fim, dos enunciados (WICHMANN, 2014, p. 2-8). A unidade imediatamente inferior ao discurso seria, nesse sentido, os enunciados, que, conectados entre si por relações semântico-pragmáticas, formariam o todo maior, isto é, o discurso (OLIVEIRA JR., 2000; OLIVEIRA JR.; CRUZ; SILVA, 2012; SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1996).

É nessa “integração” dos enunciados que compõem o discurso que o metadiscurso ganha relevância. Para além das questões de organização discursiva e de monitoramento, por parte do falante, sobre o próprio dizer, o metadiscurso é o elemento responsável por garantir que a estrutura informacional esteja adequada ao contexto em que esta se dá (HYLLAND, 2005a). Em outros termos, o metadiscurso realiza uma espécie de fiscalização que visa assegurar que as demandas sociais da comunicação estejam sendo atendidas.

A primeira abordagem sistemática sobre “metadiscurso” se deu com Meyer, Brandt e Bluth (1980) e com Williams (1981). A partir do que propuseram esses autores, surgiram várias discussões e modelos teóricos na tentativa de explicá-lo e categorizá-lo (ÄDEL, 2005a, 2010; RISSO; JUBRAN, 1998, entre outros).

O metadiscurso é passível de análise por ser materializado linguisticamente, pois o falante, ao monitorar a ação verbal na qual ele e outrem estão inseridos, se inscreve dentro do próprio ato de dizer, deixando marcas na enunciação que podem se referir à organização da fala, a correções linguísticas, a previsões do que o seu interlocutor pode estar compreendendo, etc. Vejamos um exemplo de enunciado metadiscursivo (em negrito) retirado de entrevista feita com um falante recifense, a qual está disponível no portal NURC Digital3:

Ex. 1) Inf: “o ônibus... descrever primeiro o ônibus elétrico... o ônibus elétrico...” (NURC/RE DID 037).

Nesse exemplo, após introduzir o tópico, o informante usa o enunciado metadiscursivo com vistas a deixar claro para o seu interlocutor (neste caso, o documentador) que ele pretende dividir o tópico “ônibus” em subtópicos. Assim, ele, por meio do metadiscurso, suspende temporariamente o fluxo informacional para tecer algum comentário sobre a própria fala, retornando ao mesmo fluxo a posteriori.

Dada essa cadeia lógica de enunciação do metadiscurso (fluxo informacional –> suspensão do fluxo e enunciação do metadiscurso –> volta para o fluxo informacional) (HYLLAND, 2005a), chamamos, neste trabalho, o enunciado que antecede o metadiscursivo de “anterior ao metadiscursivo”, e o que o procede, de “pós-metadiscursivo”. As noções de “anterior ao metadiscursivo” e “pós-metadiscursivo”, portanto, estão associadas à ordem de produção dos três enunciados na cadeia da fala.

Adotamos aqui a compreensão de metadiscurso proposta por Hylland (2005a). A partir desse modelo, definimos o metadiscurso como a enunciação de elementos linguísticos voltados para o gerenciamento das relações que se dão entre (i) o locutor e o seu interlocutário e (ii) entre o discurso e os participantes da comunicação. Hylland (2005a) divide o metadiscurso em duas grandes categorias:

a) Interativa: os recursos linguísticos usados demonstram como o locutor organiza e estrutura o seu texto de modo a contemplar as expectativas geradas por seu interlocutário;

b) Interacional: o locutor deixa ecoar sua voz, faz avaliações, prevê comportamentos de seu interlocutário, convidando-o a engajar-se no discurso.

Investigar o metadiscurso é extremamente importante, pois permite compreender de que forma o falante usa os recursos linguísticos com vistas a envolver seu interlocutor na interação. Ele tem sido objeto de estudo em várias subáreas do conhecimento dentro da linguística. No entanto, é escassa a abordagem desse fenômeno na perspectiva dos estudos prosódicos. O presente estudo apresenta-se como uma contribuição para essa área de investigação.

2. A prosódia como mecanismo estruturador do discurso falado

Muitos estudos experimentais têm investigado a influência da prosódia na organização do discurso falado. Isso porque ela é um fenômeno linguístico-estrutural que molda nosso dizer através de elementos acústicos que incidem sobre nossa fala (BARBOSA, 2012).

Ao usar um corpus de fala lida como input em um experimento que visava investigar se os elementos prosódicos eram percebidos pelos ouvintes como pistas para delimitar as estruturas discursivas, Collier (1993) observou que os trechos de fala percebidos como mais prováveis a “finalizar” uma unidade discursiva sofriam a influência de um maior número de elementos prosódicos em suas fronteiras.

Ao montar um experimento similar ao de Collier (1993), mas que tinha, agora, como input um corpus de fala espontânea, Swerts, Collier e Terken (1994) observaram que os ouvintes também se baseavam na prosódia para prever se ainda haveria algo a ser dito pelo falante ou se um determinado trecho de fala finalizava o discurso.

No mesmo ano, Swerts e Geluykens (1994), com vistas a verificar o “peso”, portanto, da prosódia na configuração do discurso, filtraram os picos espectrais dos dados de fala, de modo a obter uma fala deslexicalizada, isto é, uma fala que preserva a informação prosódica, mas que “mascara” a informação segmental. O objetivo era saber se a prosódia era, por si só, um elemento favorável à percepção das estruturas do discurso. A hipótese dos autores foi confirmada. Os elementos prosódicos que tinham maior relevância nessa percepção eram a pausa silenciosa e a diferença de tom.

Em outro estudo, Swerts (1996), ao dividir os participantes de seu experimento em dois grupos (um que tinha acesso apenas a um texto oral transcrito; e outro que, além de ter acesso ao texto oral transcrito, tinha acesso ao arquivo de áudio da fala correspondente à transcrição), notou que o grupo que teve acesso ao arquivo de áudio concordava significativamente na tarefa de segmentar o discurso em unidades menores. Ao investigar que elementos prosódicos tinham maior peso nessa tarefa, Swerts verificou que a pausa tinha maior peso na percepção do ouvinte, seguida da diferença de tom, assim como foi observado em Swerts e Geluykens (1994).

Embora esses estudos tenham partido de experimentos de percepção, eles confirmam a hipótese de que a prosódia é um recurso importante no processo comunicacional, dando credibilidade às análises acústicas feitas pelos autores, pois os resultados validam a relevância dos elementos prosódicos na demarcação da estrutura discursiva do ponto de vista do ouvinte (OLIVEIRA JR.; CRUZ; SILVA, 2012).

Ao analisar dados de fala espontânea, Oliveira Jr. (2000) observou que elementos prosódicos como variação de F0, amplitude, taxa de elocução e duração de pausa funcionam como mecanismos estruturantes que permitem ao ouvinte segmentar o discurso em unidades menores. Confirma-se, dessa forma, o pressuposto de que o falante, consciente ou inconscientemente, lança mão da prosódia para estruturar sua fala, dando pistas ao seu interlocutor acerca da mensagem comunicada, do assunto tratado, da organização de tópicos na fala etc.

Sabendo que o falante usa a prosódia para estruturar seu discurso (PIJPER; SANDERMAN, 1994; OLIVEIRA JR., CRUZ; SILVA, 2012) e sabendo que o metadiscurso é uma estratégia linguística usada por esse mesmo falante com vistas a tornar a sua mensagem compreensível para o seu interlocutor (HYLLAND, 2005a; SILVA, A. 2017; RISSO; JUBRAN, 1998) cabe a pergunta: de que forma os elementos prosódicos atuam na marcação/estruturação do metadiscurso na fala espontânea? Há algum padrão prosódico que o diferencia, na cadeia da fala, dos enunciados que o ladeiam, haja vista que, do ponto de vista discursivo, o metadiscurso tem uma função que o separa daqueles enunciados que compõem o fluxo informacional (HYLLAND, 2005a)? Este trabalho procura responder a essas questões.

3. Metodologia

Baseados no modelo teórico proposto por Hylland (2005a) para explicar o metadiscurso, investigamos contextos de fala constituídos por três enunciados: o anterior ao metadiscursivo (Antmeta), o metadiscursivo (Meta) em si e o pós-metadiscursivo (Posmeta).

Para tanto, foram selecionados 7 inquéritos provenientes do portal NURC Digital, sendo 3 com informantes do sexo masculino e 4 com informantes do sexo feminino. Os informantes estavam no grupo da primeira faixa etária do NURC (25 a 35 anos de idade). Além disso, todos tinham o ensino superior completo, conforme critérios traçados na conceptualização do Projeto NURC, exercendo as seguintes profissões: advogado, médica, funcionária pública estadual, psicóloga, bibliotecária, dentista e engenheiro eletricista. Todos eram naturais de Recife. Por fim, cabe destacar que os 7 inquéritos foram gravados na segunda metade da década de 1970.

A escolha dos dados do acervo NURC Digital para este estudo foi motivada pelo seguinte: (i) todos os arquivos de áudio e transcrições disponíveis no referido banco de dados foram digitalizados de acordo com recomendações internacionais protocolares para a construção de corpora eletrônicos; (ii) todos os dados estão disponíveis, virtualmente, para consultas e análises da comunidade acadêmica; e (iii) os dados do Projeto NURC já são consagrados nos estudos linguísticos, seja na literatura que trata de questões segmentais, seja na que trata de questões suprassegmentais, o que possibilita comparações de resultados mais adequadas.

Para a seleção dos inquéritos de onde extraímos o material de análise para o presente estudo, utilizamos os seguintes critérios: (i) inquéritos do tipo DID (diálogo entre informante e documentador), pois estes possuíam uma menor sobreposição de vozes, o que garantiria uma análise acústica mais acurada dos dados; (ii) inquéritos que não possuíssem cortes de pico, isto é, que tiveram conservadas, durante o processo de digitalização dos áudios, suas amplitudes máximas; (iii) inquéritos que possuíssem anotação ortográfica alinhada adequadamente com o segmento de áudio correspondente; (iv) inquéritos cujos julgamentos de aceitabilidade e inteligibilidade apontavam, respectivamente, para uma otimização da gravação e para uma significativa compreensão dos arquivos de som; e (v) inquéritos que tivessem como informantes sujeitos situados numa faixa etária de 25 a 35 anos de idade.

De cada um dos 7 inquéritos selecionados, foram coletados 8 trechos de áudio contendo os três enunciados em análise. O critério para a seleção desses trechos foi o de que o arquivo de áudio, contendo os três enunciados em questão, não ultrapassasse 11 segundos. Isso permitiria uma análise mais precisa das características prosódicas de cada enunciado. Um total de 56 trechos foram selecionados para análise.

Uma vez coletados, esses trechos foram segmentados conforme a identificação de enunciados entonacionais (BARBOSA, 2012). A delimitação dos enunciados metadiscursivos também se deu a partir de critérios prosódicos entonacionais. Para segmentar a cadeia de fala a partir de critérios entonacionais, levamos em consideração o tipo de contorno de F0, que pode finalizar uma unidade prosódica em um formato ascendente ou descendente, características que possibilitam a percepção de fronteira não terminal e terminal, respectivamente (BARBOSA, 2012). As anotações e análises acústicas foram feitas no ambiente do software de análise acústica da fala Praat (BOERSMA; WEENINK, 2001). Durante essas análises e anotações, foram utilizados quatro scripts: “BeatExtractor”, “Momel/Intsint”, “Analyse Tier” e “ProsodyPro”.

O “BeatExtractor” é um script adaptado por Barbosa (2006) para identificar automaticamente sílabas fonéticas no fluxo da fala. Ele segmenta esse fluxo em unidades VV, que compreendem o espaço entre uma vogal e o ataque vocálico da sílaba posterior. Esse tipo de segmentação permite ao pesquisador observar o que é produzido foneticamente (o que atende aos objetivos deste estudo) e não o que seria, em termos fonológicos, uma sílaba ideal.

O “Momel/Intsint” é um script desenvolvido e divulgado por Hirst (2007) para descrever, foneticamente, a curva melódica de enunciados. O Momel estima pontos-alvo de frequência fundamental ao longo do enunciado e suaviza os valores de F0 estimados. O Intsint, por sua vez, a partir dos valores detectados pelo Momel, descreve o percurso entonacional dos enunciados, representando-o por meio de um conjunto de símbolos.

Os símbolos usados na rotulagem do Intsint para descrever a curva de F0 são T (Topo); M (Médio); B (Base); H (Mais alto que o tom anterior); S (Igual ao tom anterior); L (Mais baixo que o tom anterior); U (Subida suave); e D (Descida suave). Seguindo Almeida (2017), para descrever o percurso melódico dos enunciados, foram considerados apenas cinco símbolos: T, M, B, U e D. Já que S significa que um dado ponto da curva entonacional demonstra a mesma altura que o ponto anterior, esse símbolo foi descartado. Valores mais altos, diferentes de T (Topo), foram classificados como U (Subida leve), e valores mais baixos, diferentes de B (Base), foram classificados como D (Descida leve). Assim, apenas os símbolos H e L foram substituídos, respectivamente, por U e D, enquanto M, T e B foram mantidos.

Esses símbolos também foram importantes na análise dos tons de fronteira4. Tendo em vista que U, T e M representam movimentos melódicos ascendentes, e que D e B representam movimentos melódicos descendentes, caracterizamos os tons de fronteira assim: U, M e T foram categorizados como NL (significando tom não-baixo), e D e B foram caracterizados como L (significando tom baixo). Para computar o tom de fronteira, observamos o símbolo que fosse mais próximo à última sílaba tônica de cada um dos enunciados.

O “Analyse Tier” também é um script desenvolvido por Hirst (2012) para coletar informações dos correlatos acústicos dos enunciados. Essa coleta tem como ponto de partida as segmentações e anotações feitas nas camadas do Praat.

O “ProsodyPro”, por fim, é um script desenvolvido por Xu (2013) para a realização de análises prosódicas semiautomáticas. Além de permitir a confecção de gráficos a partir de medidas contínuas coletadas ao longo do sinal de fala, esse script fornece dados discretos que podem ser usados em análises estatísticas. No entanto, apenas o utilizamos para gerar curvas representacionais dos contornos de F0 a partir das informações de frequência fundamental coletadas por ele. A razão disso é que tal procedimento permitiria a comprovação da descrição fonética feita pelo “Momel/Intsint”.

Cada trecho de áudio foi anotado com 9 camadas: “Momel” (com os pontos de frequência fundamental estimados pelo Momel); “Intsint” (com as anotações da descrição entonacional); “Momel/Intsint” (com os valores da curva de F0 suavizada); “VowelOnsets” (com a segmentação de cada enunciado em sílabas fonéticas/unidades VV); CategEnun (com a identificação de cada enunciado – Antmeta, Meta e Posmeta); Trans (com a transcrição ortográfica dos enunciados); “TomFronteira” (com a sinalização dos tons de fronteira em L ou NL, baseada nos dois agrupamentos formados a partir dos símbolos do Intsint) (BARBOSA, 2012); e Pausas (com os registros dos períodos de silêncio nos trechos). A figura 1, abaixo, mostra um exemplo de anotação com todas as camadas mencionadas acima.

Figure 1. Figura 1: Exemplo de anotação dos trechos de áudio contendo os três enunciados em análise. Fonte: Autores (2021)

Os elementos prosódicos analisados neste estudo estão relacionados a dois principais parâmetros acústicos: a frequência fundamental (no caso de variação de F0, de reinício de F0, da distribuição de contorno melódico dos enunciados e dos tons de fronteira) e a duração (no caso da taxa de elocução e das pausas). Todos os valores referentes a esses dois parâmetros foram extraídos, respectivamente, da curva de F0 gerada automaticamente pelo Praat e de informações da extensão temporal dos segmentos e dos períodos de silêncio que constituíam os trechos anotados no ambiente do software. Por meio desses recursos, os scripts supracitados coletaram informações que foram armazenadas em tabelas do Excel para posteriores análises estatísticas.

As medidas discretas de frequência fundamental referente à variação de F0 e as medidas de duração referentes às pausas silenciosas foram coletadas, de forma automática, pelo script Analyse Tier” (HIRST, 2012). Durante a coleta dos dados de variação de F0, esse script coletou os valores mínimo, médio e máximo de F0 para cada unidade prosódica. No entanto, não há consenso na literatura acerca dos procedimentos necessários para medir a variação de F0. Há trabalhos que investigam essa propriedade prosódica considerando a diferença entre a F0 máxima e a F0 mínima de uma determinada unidade prosódica como o método mais adequado (t’HART; COLLIER; COHEN, 1990). Por outro lado, há aqueles que consideram o registro do pico de F0 da unidade prosódica como o procedimento mais adequado (SWERTS, 1996; OLIVEIRA JR., 2000). Diante dessa falta de consenso, optamos por levar em consideração apenas o pico de F0 de cada enunciado. Conforme mencionado anteriormente, a representação da curva melódica dos enunciados foi feita pelo “Momel/Intsint”.

Para confirmar a descrição entonacional feita pelo “Momel/Intsint”, foram plotadas representações “médias” de todas as curvas melódicas produzidas por todos os falantes para cada categoria de enunciado. A plotagem dessas representações se deu a partir das medidas contínuas de F0 coletadas e normalizadas pelo script “ProsodyPro”. Foram estimados dez pontos de coleta em cada categoria de enunciado. Isso garantiu maior minuciosidade na análise do comportamento entonacional dos enunciados.

A análise de reinício de F0 na passagem entre os enunciados foi feita a partir da comparação entre a F0 máxima vista na última sílaba tônica do enunciado ora finalizado e a F0 máxima encontrada na primeira sílaba tônica do novo enunciado. A decisão de investigar o reinício de F0 entre os enunciados se deu devido aos achados da literatura que relatam esse elemento prosódico como um importante mecanismo de segmentação do discurso (OLIVEIRA JR., 2000; SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1997; entre outros).

As sílabas em posição final e inicial dos enunciados foram etiquetadas, na tabela de dados, desta forma: tônica final do enunciado anterior ao metadiscursivo (TF_Antimeta); tônica inicial do enunciado metadiscursivo (TI_Meta); tônica final do enunciado metadiscursivo (TF_Meta); tônica inicial do enunciado pós-metadiscursivo (TI_Posmeta).

Conforme dito antes, na análise dos tons de fronteira, também observamos a descrição fonético-entonacional feita pelo Intsint. Os movimentos representados pelos símbolos U, M e T foram categorizados como NL (significando tom não-baixo), e os movimentos representados pelos símbolos D e B foram caracterizados como L (significando tom baixo).

As análises da taxa de elocução, por sua vez, também foram baseadas no conceito de sílabas fonéticas/unidades VVs (BARBOSA, 2006). Uma vez feita a anotação semiautomática das sílabas fonéticas (unidades VVs) pelo “BeatExtractor”, o valor da taxa de elocução de cada enunciado se deu pela razão entre a quantidade de unidades VVs produzidas e o tempo levado para produzi-las. A unidade de medida utilizada foi a de sílabas por segundo.

Por fim, o parâmetro escolhido para o apontamento de pausas foi o período de silêncio igual ou superior a 150 ms. Ao realizarem uma comparação entre os padrões rítmicos presentes na fala de diversas línguas por meio de experimentos com narrativas espontâneas, Kowal, Wiese e O’Connel (1983) observaram que não havia na literatura, à época, um consenso acerca do tempo mínimo para que um instante de silêncio fosse considerado pausa. Os pesquisadores observaram que havia estudos que adotavam um limiar de 0,3 s; outros adotavam um limiar de 1 s ou 0.6 s, e assim por diante.

Estabelecer um limiar mínimo para o que vai ser considerado como pausa tem grande relevância para as pesquisas que investigam os aspectos rítmicos da fala, pois a duração da pausa afeta diretamente a taxa de elocução e a taxa de articulação da fala. Quando Kowal, Wiese e O’Connel (1983) compararam os instantes de silêncio do inglês, com os do alemão, do italiano, do francês, do português e do espanhol, notaram que as pausas, nessas línguas, tinham em média 0.150 s. A partir de então, estudos que investigam características prosódicas do português brasileiro tem estabelecido esse limiar de 0,150 s para o que será considerado como pausa (ALMEIDA; 2017; OLIVEIRA JR.; 2000).

Houve 4 etiquetas de anotação em relação às pausas: NP (quando não havia pausa); P (quando havia uma pausa interna ao enunciado – essas não foram objeto de estudo deste trabalho); PEE1 (quando havia pausa na fronteira entre o enunciado anterior ao metadiscursivo e o metadiscursivo); e PEE2 (quando havia pausa na fronteira entre os enunciados metadiscursivo e pós-metadiscursivo).

Após as anotações dos trechos e o armazenamento dos dados coletados pelos scripts em planilhas eletrônicas, as análises estatísticas foram feitas no software R (R CORE TEAM, 2019). O tratamento dos dados no R foi conduzido por meio de alguns pacotes operacionais, dentre os principais, estes: readr, readxl, dplyr, ggplot2, lme4 e lmerTest. Os dois testes utilizados em nossas análises foram o modelo linear misto e a regressão logística binomial. O que foi analisado em cada um desses testes será descrito na seção seguinte.

4. Resultados

4.1. Variação de F0

Em relação à variação de F0, trabalhamos com a hipótese de que o enunciado metadiscursivo teria um pico de F0 significativamente diferente, para mais ou para menos, daqueles encontrados no enunciado anterior ao metadiscursivo e no pós-metadiscursivo. Para tanto, ajustamos um modelo linear misto com variação de F0 (f0max) como variável resposta e categoria de enunciado como efeito fixo. O modelo também continha interceptos aleatórios por inquérito. O gráfico abaixo mostra a variação de F0 observada nos três enunciados (da esquerda para a direita: Antmeta: anterior ao metadiscursivo; Meta: metadiscursivo; e Posmeta: pós-metadiscursivo). As médias de F0 para os três enunciados foram, respectivamente: 173Hz, 182 Hz e 185Hz.

Figure 2. Gráfico 1: Variação de F0 (f0max) por categoria de enunciado. Fonte: Autores (2021)

Nele observamos uma grande dispersão dos dados em relação à média de variação de F0 encontrada em cada categoria de enunciado. O modelo ajustado mostrou que as diferenças de variação entre o enunciado anterior ao metadiscursivo e o metadiscursivo (p = 0.45) e entre os enunciados metadiscursivo e pós-metadiscursivo (p = 0.63) não foram significativas. Nossa hipótese, portanto, não foi confirmada.

4.2. Distribuição dos contornos melódicos

Em relação à distribuição do contorno entonacional dos enunciados (formatos da curva de F0), verificamos uma grande variabilidade de movimentos melódicos. A nossa hipótese era a de que haveria uma padronização entonacional na prosodização do enunciado metadiscursivo. Ainda que as distribuições entonacionais encontradas em cada uma das categorias de enunciado fossem relativamente semelhantes entre si, nossa hipótese não foi confirmada. Quer dizer, não se observou um padrão entonacional característico para o metadiscurso. Nossa hipótese, portanto, não foi confirmada. Por isso, decidimos representar uma configuração melódica média a partir de todas as realizações melódicas dos falantes para cada um dos três enunciados.

Levando-se em conta as diversas funções desempenhadas pelo metadiscurso na organização da fala, as curvas melódicas médias calculadas para cada tipo de enunciado podem ser um índice do comportamento entonacional característico do contexto de fala investigado por este estudo, qual seja, o de um enunciado metadiscursivo ladeado por dois outros associados ao fluxo informacional. O gráfico abaixo mostra curvas representacionais médias dos dados entonacionais de todos os falantes para cada uma das três categorias de enunciado. Essas representações foram calculadas a partir da coleta de dados discretos de F0 pelo ProsodyPro (da esquerda para a direita: média de todos os enunciados anteriores ao metadiscursivo; média de todos os enunciados metadiscursivos; e média de todos os enunciados pós-metadiscursivo).

Figure 3. Gráfico 2: Curvas representacionais do contorno melódico médio de todos os falantes para cada categoria de enunciado com os 10 pontos de coleta, feitos pelo ProsodyPro ao longo dos enunciados, representados no eixo das abcissas. Fonte: Autores (2021)

É possível observar que, com exceção do enunciado anterior ao metadiscursivo – que se inicia em um tom considerado o topo melódico, o movimento entonacional dos dois outros enunciados é iniciado por um tom médio (M). A despeito disso, as três categorias enunciativas aparentam constituir-se de movimentos melódicos ora descendentes ora ascendentes no fluxo da fala, sendo este finalizado, na maior parte das vezes, em um tom não-baixo.

Essas representações melódicas da curva de F0 poderiam ser os contornos-médio típicos dos três enunciados que constituem o contexto discursivo analisado. O fato de os últimos tons serem não-baixos vai ao encontro, inclusive, dos achados da alta taxa de tons não-baixos finalizando as três categorias enunciativas (ver a seção de resultados de tons de fronteira).

Não podemos ignorar, entretanto, a variabilidade de configurações melódicas encontrada nesses enunciados. Para ilustrar essa variabilidade, vejamos o gráfico abaixo, que mostra modelizações entonacionais diversas dentro de cada categoria enunciativa produzidas por um mesmo falante:

Figure 4. Gráfico 3: Exemplos da variabilidade de contorno melódico nos três enunciados, com os 10 pontos de coleta de F0, feitos pelo ProsodyPro ao longo dos enunciados, produzidos por um único falante. Fonte: Autores (2021)

Podemos observar, no gráfico, exemplos da alta taxa de variabilidade melódica. Como dito antes, a despeito de as configurações melódicas, para cada enunciado, serem muito semelhantes entre si, não é possível concluir haver uma padronização para o contexto investigado. Isso talvez reflita exatamente o propósito comunicativo do falante em usar o metadiscurso para organizar sua fala e torná-la compreensível para o parceiro de comunicação. Dessa forma, a depender da função do metadiscurso na comunicação, podem existir configurações melódicas diversas para veiculá-lo.

É necessário notar também que, uma vez mudando a configuração melódica do enunciado metadiscursivo na fala, os enunciados adjacentes a ele parecem ter suas configurações melódicas também alteradas. Daí a variabilidade entonacional tanto no anterior ao metadiscursivo, quanto no pós-metadiscursivo.

4.3. Reinício de F0

Seguindo o que já foi encontrado na literatura, investigamos o papel desempenhado pelo reinício de F0 na prosodização dos três enunciados. Nossa hipótese era a de que (i) a diferença de semitons entre a última sílaba tônica do enunciado anterior ao metadiscursivo e a primeira sílaba tônica do enunciado metadiscursivo seria estatisticamente significativa; e (ii) a diferença de semitons entre a última sílaba tônica do enunciado metadiscursivo e a primeira sílaba tônica do enunciado pós-metadiscursivo seria estatisticamente significativa. Sendo estatisticamente significativas essas diferenças, confirmaríamos que o reinício de F0 seria um elemento prosódico de relevância na marcação da passagem de um enunciado para o outro. Para tanto, ajustamos um modelo linear misto com semitons de referência a 100Hz como variável resposta, e com posição de sílaba no enunciado como variável preditora. O modelo também continha interceptos aleatórios por inquérito. O gráfico abaixo mostra o reinício de F0 na passagem entre os enunciados (TF_Antmeta: tônica final do enunciado anterior ao metadiscursivo; TI_Meta: tônica inicial do enunciado metadiscursivo; TF_Meta: tônica final do enunciado metadiscursivo; e TI_Posmeta: tônica inicial do enunciado pós-metadiscursivo):

Figure 5. Gráfico 4: reinícios de F0 (diferença de semitons) nas duas fronteiras do contexto de fala investigado. Fonte: Autores (2021)

No gráfico acima, verificamos que, na passagem do enunciado anterior ao metadiscursivo para o metadiscursivo, a diferença de semitons não parece ser significativa (média da última sílaba tônica do enunciado anterior ao metadiscursivo = 12.5 semitons; média da primeira sílaba tônica do enunciado metadiscursivo = 13.5 semitons). Da mesma forma, a diferença de semitons não parece ser significativa na passagem do enunciado metadiscursivo para o pós-metadiscursivo (média da última sílaba tônica do enunciado metadiscursivo = 12.4 semitons; média da primeira sílaba tônica do enunciado pós-metadiscursivo = 13.4 semitons).

Observamos, portanto, que, embora haja uma descontinuidade melódica à medida que um enunciado é encerrado e outro inicia, a diferença de semitons é extremamente pequena. Isso foi confirmado pelos dados estatísticos inferenciais. O modelo ajustado mostrou que a diferença de semitons na primeira fronteira não foi estatisticamente significativa (p = 0.14). O mesmo aconteceu na segunda fronteira, cuja diferença de semitons também não se mostrou estatisticamente significativa (p = 0.08). A nossa hipótese referente à atuação do reinício de F0 na delimitação do enunciado metadiscursivo também não foi confirmada.

4.4. Taxa de elocução (sílabas por segundo)

Sobre a medida de taxa de elocução, nossa hipótese era a de que o enunciado metadiscursivo seria produzido ou com uma taxa de elocução menor ou maior que aquelas observadas nos enunciados que lhe eram adjacentes. Propúnhamos que tal diferença, para mais ou para menos, seria estatisticamente significativa. Com isso em vista, ajustamos um modelo linear misto com taxa de elocução como variável resposta e categoria de enunciado como efeito fixo. O modelo também continha interceptos aleatórios por inquérito. O gráfico abaixo mostra a taxa de elocução (sílabas fonéticas por segundo) nos três enunciados (da esquerda para a direita: Antmeta: anterior ao metadiscursivo; Meta: metadiscursivo; e Posmeta: pós-metadiscursivo):

Figure 6. Gráfico 5: Média de taxa de elocução (sílabas fonéticas por segundo) por categoria de enunciado. Fonte: Autores (2021)

Em um teste anova que comparou o modelo ajustado com outro sem efeitos fixos, aquele se revelou muito significativo para explicar a variância dos dados (χ² = 11.98, p < 0.01). Além disso, o modelo também mostrou que, de fato, havia um padrão na realização do enunciado metadiscursivo: a taxa de elocução encontrada nesse enunciado foi maior que aquela encontrada nos enunciados adjacentes. A diferença das taxas de elocução entre o enunciado anterior ao metadiscursivo (4.68 sílabas/segundo) e o metadiscursivo (5.58 sílabas/segundo) foi significativa (p < 0.001). O mesmo aconteceu com a diferença entre as taxas de elocução dos enunciados metadiscursivo (5.58 sílabas/segundo) e pós-metadiscursivo (4.99 sílabas/segundo) sendo também significativa (p < 0.05). Nossa hipótese sobre a atuação da taxa de elocução, portanto, foi confirmada.

4.5. Pausas

Em relação à ocorrência e duração de pausas, nossa hipótese era a de que a ocorrência de pausas silenciosas nas duas fronteiras seria estatisticamente significativa. Por isso, investigamos a frequência com que o enunciado metadiscursivo era separado dos demais por pausas. Calculamos, ainda, a média de duração dessas pausas tanto na primeira fronteira (entre o enunciado anterior ao metadiscursivo e o metadiscursivo), quanto na segunda (entre os enunciados metadiscursivo e o pós-metadiscursivo). A tabela 1 abaixo sintetiza essas informações, além de mostrar o p-valor referente à diferença entre a ocorrência e a não ocorrência de pausas em cada uma das fronteiras.

Posição da pausa % Ocor. Pausas Dur. Pausas p-valor
Pausa entre enunciados na primeira fronteira (pee1) 54.2% 0.386 s 0.564
Pausa entre enunciados na segunda fronteira (pee2) 62.5% 0.464 s 0.086
Table 1. Tabela 1: Percentual de ocorrência, média de duração e p-valor referentes à ocorrência de pausas nas duas fronteiras do enunciado metadiscursivo. Fonte: Autores (2021)

Os resultados acima revelam que há um certo equilíbrio na ocorrência de pausas nas duas fronteiras do enunciado metadiscursivo, ainda que a ocorrência na segunda fronteira seja maior que na primeira. Além disso, as pausas da segunda fronteira também são mais longas que as da primeira. Já as informações relatadas pelo p-valor mostram que a diferença entre a ocorrência e a não-ocorrência de pausas não é significativa em nenhuma das duas fronteiras. Vemos, assim, que nossa hipótese sobre a presença de pausas silenciosas nas fronteiras do enunciado metadiscursivo não foi confirmada.

A despeito disso, decidimos verificar também se as chances de ocorrência de pausa na segunda fronteira eram determinadas pela ocorrência na primeira fronteira do enunciado metadiscursivo. A tabela 2 abaixo mostra essa relação de ocorrências, tanto em números absolutos quanto relativos:

Presença de pausa entre enunciados na primeira fronteira (pee1) Presença de pausa entre enunciados na segunda fronteira (pee2) Quantidade absoluta (48 trechos de fala) Quantidade relativa
Não Não 12 54,5%
Não Sim 10 45,5%
Sim Não 6 23,1%
Sim Sim 20 76,9%
Table 2. Tabela 2: Relação entre a ocorrência de pausa na primeira (pee1) e na segunda (pee2) fronteiras. Fonte: Autores (2021)

A tabela acima mostra que, de fato, quando há pausas silenciosas na primeira fronteira, há uma frequência considerável de pausas também na segunda fronteira (76,9%). No entanto, quando não há pausas silenciosas na primeira fronteira, as chances de haver pausa na segunda fronteira são reduzidas (45,5%).

A regressão logística é um modelo estatístico que produz, a partir de um conjunto de dados, uma predição de valores representáveis por uma variável categórica, isto é, nominal, frequentemente binária. Sendo, portanto, um modelo geralmente usado para variáveis dependentes ou de respostas binomialmente distribuídas (GODOY, 2019), decidimos rodar uma regressão logística binomial para checar a probabilidade de ocorrência de pausa na segunda fronteira em função da ocorrência de pausa na primeira fronteira.

Ajustamos uma regressão logística binomial com pee2 (pausa em segunda fronteira) como variável resposta e pee1 (pausa em primeira fronteira) como efeito fixo. Como tínhamos apenas um efeito fixo – pee1 – e esse efeito tem apenas dois níveis (“não” e “sim”), usamos o contraste dummy coding. O uso desse tipo de contraste na variável de efeito fixo permite uma comparação direta entre os níveis binomiais do efeito que estamos analisando. Nesse caso, a não-ocorrência de pausa silenciosa na segunda fronteira foi usada como nível de referência da variável resposta.

A regressão mostrou que a presença de uma pausa na primeira fronteira aumenta significativamente (p < 0.05) as chances de ocorrência de pausa na segunda. Já quando não há pausa na primeira fronteira, a diferença entre a ocorrência e a não-ocorrência na segunda não foi significativa (p = 0.67). Assim, a presença de uma pausa na primeira fronteira parece influenciar a ocorrência de pausa na segunda.

4.6. Tons de fronteira

Por fim, em relação aos tons de fronteira que delimitavam o enunciado metadiscursivo, nossa hipótese era a de que a diferença entre a ocorrência de tons baixo e não-baixo seria estatisticamente significativa nas delimitações do metadiscurso, o que estaria também de acordo com o encadeamento lógico-semântico do metadiscurso na fala, qual seja, a suspensão temporal do fluxo informacional e o posterior retorno a ele.

Com isso em vista, também ajustamos uma regressão logística binomial com tom de fronteira como variável resposta e categoria de enunciado como efeito fixo. Os contrastes ajustados aqui também foram do tipo dumming coding, com “L” (tons baixos: agregação dos movimentos melódicos descendentes descritos como D e B pelo Intsint) como nível de referência da variável resposta. A tabela 3 abaixo mostra as quantidades absoluta e relativa de ocorrência de cada tipo de tom nas três categorias de enunciado (Antmeta: anterior ao metadiscursivo; Meta: metadiscursivo; e Posmeta: pós-metadiscursivo):

Categoria de enunciado Tom de fronteira Quantidade absoluta (144 enunciados) Quantidade relativa
Antmeta L 11 22,9%
Antmeta NL 37 77,1%
Meta L 15 31,2%
Meta NL 33 68,8%
Posmeta L 25 52,1%
Posmeta NL 23 47,9%
Table 3. Tabela 3: Frequência de ocorrências de cada tipo de tom de fronteira nas três categorias de enunciado. Fonte: Autores (2021)

A regressão mostrou que a diferença de ocorrência entre tom de fronteira baixo e não-baixo foi extremamente significativa no enunciado anterior ao metadiscursivo (p < 0.001), com o predomínio de tom não-baixo (77,1%). Nos enunciados metadiscursivos, também houve uma diferença significativa (p < 0.05), com predomínio do tom de fronteira não-baixo (68,8%), confirmando, assim, nossa hipótese. Já em relação aos enunciados pós-metadiscursivos, não houve diferença significativa entre baixo e não-baixo (p = 0.77).

Por fim, com vistas a observar a atuação conjunta de pausa silenciosa e tons de fronteira nos limites do enunciado metadiscursivo, dada a relevância desses dois elementos acústicos na sinalização de fronteiras prosódicas (OLIVEIRA JR., 2000; SWERTS, 1996, entre outros), analisamos as combinações entre os níveis das variáveis pausa (ocorrência/ausência nas duas fronteiras) e tom de fronteira (baixo = L, não-baixo = NL). A tabela 4 abaixo sintetiza essas informações:

Posição da pausa Ocorrência de pausa % Tom baixo % Tom não-baixo
Pee1 (entre Antmeta e Meta) Sim 30.8% 69.2%
Não 13.6% 86.4%
Pee2 (entre Meta e Posmeta) Sim 40% 60%
Não 16.7% 83.3%
Table 4. Tabela 4: Relação entre a ocorrência de pausas nas fronteiras e o tipo de tom de finalização (baixo e não-baixo) dessa fronteira. Fonte: Autores (2021)

Para tanto, usamos, mais uma vez, a regressão logística binomial. Ajustamos duas regressões logísticas binárias. A primeira tinha tom de fronteira como variável resposta e pee1 (pausa na primeira fronteira) como efeito fixo. Os contrastes ajustados foram do tipo dumming coding, com “não” (significando não-ocorrência) como nível de referência da variável resposta. A regressão mostrou que, quando não ocorre pausa na primeira fronteira (entre o enunciado anterior ao metadiscursivo e o metadiscursivo), a taxa de ocorrência de tom de fronteira não-baixo (86,4%) no enunciado anterior ao metadiscursivo é significativa (p < 0.01). Do mesmo modo, quando há pausa na primeira fronteira, embora não seja estatisticamente significativa (p = 0.056), há também uma maior ocorrência de tom não-baixo nesse mesmo enunciado (69,2%).

Já a segunda regressão tinha tom de fronteira como variável resposta e pee2 (pausa na segunda fronteira) como efeito fixo. Os contrastes ajustados também foram do tipo dumming coding, com “N” (significando não-ocorrência) como nível de referência da variável resposta. A regressão mostrou que, quando não ocorre pausa na segunda fronteira (entre o enunciado metadiscursivo e o pós-metadiscursivo), a taxa de ocorrência de tom de fronteira não-baixo (83,3%) no enunciado metadiscursivo também é significativa (p < 0.05). Na condição em que há pausa silenciosa na segunda fronteira, existe também uma maior ocorrência de tom não-baixo na finalização do enunciado metadiscursivo (60%), embora essa ocorrência não seja significativa (p = 0.27). Esses dados mostram que, independentemente de haver pausa nas duas fronteiras, tanto o enunciado anterior ao metadiscursivo quanto o metadiscursivo em si tendem a ser finalizados com tom de fronteira não-baixo.

5. Discussão

A hipótese geral que conduziu este estudo foi a de que existiriam padrões de frequência fundamental (variação de F0, reinício de F0, distribuição dos contornos melódicos e tons de fronteira), de duração (taxa de elocução) e de pausas que permitiriam dizer se os enunciados metadiscursivos ladeados por não-metadiscursivos possuem uma prosodização definida.

Observamos que a variação de F0 não consegue discriminar as categorias de enunciado. Ao tomarmos o pico de F0 como parâmetro de comparação entre os três enunciados analisados, verificamos que o enunciado metadiscursivo não possuía nem um pico (altura máxima) nem um vale (altura mínima) de F0 mais significativos do que aqueles verificados nos enunciados que lhe eram adjacentes. Houve, na verdade, uma grande variabilidade de picos de F0 nas três categorias de enunciado, o que pode significar que não há uma faixa de variação de F0 que particularize o metadiscurso.

A literatura que analisa o papel da prosódia na marcação da estrutura do discurso tem reportado que tal marcação não se dá pela atuação de um único elemento. Na verdade, somados aos padrões de variação de graves e agudos ao longo dos enunciados, outros elementos, como os tons de fronteira, os acentos de pitch e o ritmo da fala, se conjugam para evidenciar atitudes, distinções ilocucionárias, unidades do discurso etc. (BARBOSA, 2012; COLLIER, 1993; SWERTS; COLLIER; GELUYKENS, 1994; SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1996). Portanto, embora a variação de F0 por si só não dê conta de distinguir o enunciado metadiscursivo daqueles que o ladeiam, outros elementos, juntamente a ela, o fazem.

Sabe-se, ainda, que inúmeros fatores de ordem linguística, paralinguística e extralinguística incidem conjuntamente na realização prosódica da fala, inclusive no parâmetro entonacional. Barbosa (2012) argumenta que fatores socioculturais e biológicos, como as atitudes proposicionais e sociais (“confiante”, “duvidoso”; “hostil”, “solidário” etc.), as emoções, o gênero do falante, sua faixa etária, classe social, grupo cultural do qual faz parte etc. podem trazer consequências para a prosódia como um todo, incluindo aí os aspectos entonacionais.

Embora os efeitos micromelódicos presentes na enunciação de alguns segmentos não tenham sido objeto de investigação deste estudo, é necessário considerar também sua influência no contorno de F0. A produção de consoantes surdas exerce mais influência na curva entonacional, por exemplo, que as sonoras por empregar maior pressão no trato vocal, característica comum às consoantes sonoras, o que acarreta uma maior vibração das pregas vocais (BARBOSA, 2019).

O enunciado metadiscursivo não foge a isso. Todos esses fatores, em simultaneidade, podem ter influenciado a produção dos enunciados aqui analisados, evidenciando, portanto, que a variação de F0, ao menos nos dados linguísticos analisados (dialeto de Recife e estilo de fala espontânea), aparentemente não funciona sozinha como marca de caracterização do metadiscurso dentro do contexto enunciativo analisado. Além disso, fatores de cunho informacional, tais como focalização, topicalização e ênfase, também têm grande relevância no que diz respeito às influências sobre a curva de F0. Esses fatores, entretanto, não foram objetos de investigação deste trabalho.

O reinício de F0, denominado em outros estudos de diferença de tom (ALMEIDA, 2017; SWERTS, 1996; SWERTS; GELUYKENS, 1994), não se mostrou significativo no que se refere a uma performance de segmentação dos três enunciados. No entanto, ao pensarmos em “reinício de F0”, é importante levarmos em consideração, além das questões acústicas, as de natureza fisiológica. Como lembra Barbosa (2019), eventos entonacionais como os tons de fronteira e os acentos de pitch são eventos que, do ponto de vista temporal, acontecem em curto prazo, pois geralmente estão associados a um dado local durante a produção do enunciado. Há, no entanto, os eventos que acontecem ao longo de toda a cadeia de produção da fala, sendo um deles o declínio de F0 (ALMEIDA, 2017; BARBOSA, 2019; OLIVEIRA JR., 2000).

Estudos anteriores (PIJPER; SANDERMAN, 1994, por exemplo) observaram que a frequência fundamental tende a declinar no curso de produção do enunciado, sendo reiniciada nas fronteiras do fluxo informacional, isto é, na passagem entre enunciados ou unidades discursivas maiores que o enunciado. Esse declínio, que permite o reinício de F0, se deve, em grande parte, a uma diminuição da pressão subglotal durante a produção da fala, o que, por sua vez, está associado à diminuição do fluxo de ar proveniente dos pulmões na emissão sonora. Tal fato fisiológico traz consequências acústicas, como a redução da intensidade da fala (amplitude) e da taxa de vibração das pregas vocais (diminuição de F0) (BARBOSA, 2012; 2019). Portanto, ao longo da fala, é natural haver reinícios constantes de F0, já que tal elemento acústico está relacionado às dinâmicas respiratórias da fala.

Oliveira Jr. (2000), ao investigar o papel do reinício de F0 como índice segmentador de narrativas orais espontâneas em unidades menores, observou dois comportamentos de descontinuidade melódica: quando a fronteira prosódica entre unidades entonacionais adjacentes coincidia com fronteiras de seções discursivas, o reinício de F0 (a diferença, neste estudo, entre semitons de uma unidade prosódica para a outra) era maior. Já quando a fronteira prosódica não coincidia com uma fronteira de seção discursiva, quer dizer, quando não havia mudança significativa no tópico discursivo ou, ainda, quando não havia a percepção de mudança de eventos no texto narrativo, o reinício de F0 tinha padrões menores.

Nessa perspectiva, acreditamos que a não significância do reinício de F0 na segmentação dos três enunciados aqui investigados se dá pelo fato de esse contexto discursivo ser relativamente pequeno, em termos temporais (os três enunciados eram produzidos, em média, dentro de 8 ou 9 segundos), e por não haver mudanças significativas no tópico que o falante enuncia, ainda que haja a inserção do metadiscurso no fluxo informacional. Isso porque o metadiscurso não altera o tópico discursivo, mas, sim, dá suporte e robustez semântica a ele (HYLLAND, 2005a; RISSO; JUBRAN, 1998).

A variabilidade de distribuição dos movimentos melódicos encontrada nos enunciados metadiscursivos acentua a ideia de que não há um padrão único na curva de F0 do metadiscurso. Ao analisar as configurações entonacionais da fala recifense, Cunha (2000) observou que uma característica marcante da fala espontânea pernambucana era que todas as sílabas tônicas proeminentes do enunciado eram produzidas com uma F0 menor que aquela verificada nas pretônicas (CUNHA, 2000, p. 100). Essa queda melódica variava de 60 Hz a 140 Hz. Ao expor um conjunto de dados de grupos entonacionais a julgadores com o objetivo de verificar se estes reconheciam esse determinado padrão melódico como característico da fala recifense, a pesquisadora teve sua hipótese confirmada.

Ainda sobre a fala recifense, dados do ALiB (Projeto do Atlas Linguístico do Brasil) sobre as características entonacionais da capital de Pernambuco (CARDOSO et al., 2014, p. 130) revelam que, em enunciados assertivos, os acentos de pitch pré-nucleares são mais proeminentes que o acento nuclear (MOTA, 2016). Cunha (2000), por sua vez, ao analisar variedades prosódicas de algumas cidades do Brasil (dentre elas Recife), constatou que, nos dados de fala espontânea de todas essas cidades, ora os enunciados eram finalizados com tons de fronteira não-baixos ora com tons de fronteira baixos. Isso significa que outros estudos têm apontado padrões melódicos para a fala espontânea recifense.

É certo que não houve padrão melódico para o enunciado metadiscursivo nos dados linguísticos analisados. Tomando por comparação os achados de Cunha (2000) e os dados de Cardoso et al. (2014), cabe a pergunta: a que se deve, no entanto, essa não padronização nos enunciados metadiscursivos? Uma resposta possível é que, além dos fatores que incidem sobre os padrões entonacionais na produção da fala já mencionados acima, há de se levar em conta que o metadiscurso exerce variadas funções no contexto comunicativo. Daí a ideia de haver categorias e subcategorias metadiscursivas, como argumenta Hylland (2005a).

O propósito comunicacional do falante pode influenciar, portanto, o contorno melódico do metadiscurso. Ademais, por se tratar de um fluxo informacional, a configuração de F0 do enunciado metadiscursivo parece determinar o comportamento entonacional predecessor e posterior a ele, daí o motivo de haver alta taxa de variabilidade também no enunciado anterior ao metadiscursivo e no pós-metadiscursivo. Hipotetizamos, assim, que pode haver contornos entonacionais próprios para cada uma das várias funções metadiscursivas possíveis.

A taxa de elocução também é um elemento prosódico que sofre influência de aspectos como o estilo de elocução (fala espontânea, leitura, entrevista etc.); o grau de formalidade da produção (aula, conversa, palestra etc.); o gênero do falante, entre outros. Todos esses aspectos determinam, conjuntamente, o número de sílabas fonéticas que serão produzidas pelo falante em um dado espaço de tempo (BARBOSA, 2012; 2019). Isso implica que, diferentemente das sílabas fonológicas, que partem de uma estrutura silábica ideal, o número de sílabas fonéticas a serem produzidas pelo falante dependerá de características próprias a ele. Por exemplo, um falante pode elidir uma sílaba, e outro, não. Um falante pode introduzir na cadeia da fala um segmento epentético, e outro, não, e assim por diante. A despeito desse favorecimento, por parte das sílabas fonéticas, para uma não padronização da taxa de elocução, os enunciados analisados demonstram ter uma padronização quanto à taxa de elocução.

Observamos que, de todos os elementos prosódicos analisados, ela parece ser o que mais se destaca no que se refere à atribuição de um padrão ao enunciado metadiscursivo no contexto analisado. Esse padrão é traduzido por uma taxa baixa no enunciado anterior ao metadiscursivo, seguida de um pico no metadiscursivo e, finalmente, uma nova queda, que configura o fim deste enunciado e a entrada no pós-metadiscursivo.

O fato de o anterior ao metadiscursivo possuir uma taxa menor que a encontrada nos outros enunciados indica uma lentificação da fala. Tomando como aporte uma interface com os estudos sobre o metadiscurso, poderíamos dizer que tal fato dá indícios de que a propriedade autorreflexiva, isto é, o monitoramento sobre o próprio discurso, que foi discutido por Risso e Jubran (1998) e Morato (2012), não é ativada no momento da enunciação do metadiscurso em si. O enunciado metadiscursivo parece ser o produto linguístico desse automonitoramento, quer dizer, é nele que a propriedade autorreflexiva deixa marcas na enunciação. Esse processamento se manifesta, portanto, acusticamente, numa diminuição da taxa de produção de sílabas fonéticas por segundo.

Já o fato de o enunciado metadiscursivo ter a maior taxa de elocução pode estar associado à circunstância de ele não estar diretamente vinculado à estrutura informacional. Ele parece funcionar como um fator de incremento do discurso, desempenhando uma atividade de organização nos “bastidores” da informação, ora deixando transparecer sua propriedade de automonitoramento na enunciação, ora ocultando-a. Pode estar associado também à própria essência do metadiscurso, que se sustenta numa funcionalidade e estilo discursivos próprios. Esse é um fator que determinada a taxa de elocução (BARBOSA, 2012). O que podemos sugerir, assim, é que a taxa de elocução funciona como um elemento prosódico de segmentação da fala, evidenciando níveis de discurso (aqui, evidenciando o que seria pertencente ao fluxo informacional e o que não seria) representados e concretizados, na fala, acusticamente (SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1996).

Em relação à ocorrência de pausas silenciosas nas duas fronteiras do enunciado metadiscursivo, constatamos que, embora a pausa seja um dos elementos prosódicos mais salientes para a percepção de fronteiras entre unidades prosódicas (SWERTS; GELUYKENS 1994; SWERTS, 1996), sua presença não é obrigatória na segmentação dos enunciados. Essa não obrigatoriedade já foi observada por Cruttenden (1997 [1986]) e Oliveira Jr. (2000), por exemplo.

Um ponto a se destacar em relação às pausas é o fato de que a ocorrência de uma delas na primeira fronteira determina a ocorrência na segunda. A pausa parece ser, portanto, um mecanismo suplementar que põe em evidência/destaque a estrutura metadiscursiva durante a comunicação. Essa estrutura fica bem delimitada, inclusive, pelo tempo de duração dessas pausas: a média de duração, na primeira fronteira, foi de 0.386 s, enquanto que, na segunda, foi de 0.484 s. Mas, por não ser um mecanismo obrigatório, também são usados outros recursos para marcar a segmentação do metadiscurso, sendo um deles o tom de fronteira.

Os tons de fronteira encontrados no enunciado anterior ao metadiscursivo (primeira fronteira) e no metadiscursivo (segunda fronteira) foram, em sua maioria, não-baixos, o que daria pistas a um ouvinte de que o falante ainda teria algo a falar. Esses resultados partilham do que já foi discutido na literatura acerca do contorno melódico nuclear de aspecto continuativo no português brasileiro (CUNHA, 2000; SERRA, 2009; TENANI, 2002, entre outros). Além disso, tais resultados corroboram o fato de que, no que se refere mais uma vez à interação prosódia/discurso, os tons de fronteira são recursos prosódicos usados para indicar terminalidade ou não terminalidade de uma seção discursiva (COLLIER, 1993; SWERTS, 1996).

Já no enunciado pós-metadiscursivo, houve um equilíbrio entre a ocorrência de tons baixos e não-baixos. Isso pode ser explicado ao se analisar a posição que esse enunciado ocupa dentro de uma unidade discursiva: ora conclui uma seção discursiva, ora está inserido dentro de uma dessas seções, não constituindo, portanto, fronteiras terminais (SWERTS; GELUYKENS, 1994; OLIVEIRA JR., 2000).

A relação vista entre a ocorrência de pausa e o tom de fronteira não-baixo sugere que esses elementos prosódicos concorrem como mecanismos de segmentação do enunciado metadiscursivo. É interessante notar que, havendo ou não pausa nas duas fronteiras, os tons finais tendem a ser não-baixos. Swerts e Geluykens (1994) chamam essa atuação conjunta de elementos prosódicos de “peso” de fronteira. Assim, os autores argumentam que, quanto maior for o número de elementos acústicos sinalizando uma fronteira discursiva/prosódica, mais “robusta” é essa fronteira. Assim, as ações conjuntas de pausa e tons de fronteira, juntamente à taxa de elocução, reforçam o pressuposto de que o enunciado metadiscursivo é uma estrutura independente das demais que o ladeiam não só do ponto de vista discursivo (HYLLAND, 2005a; RISSO; JUBRAN, 1998), mas também do ponto de vista prosódico.

6. Considerações finais

Constatamos que o enunciado metadiscursivo é realizado, prosodicamente, de maneira independente dos seus adjacentes, por uma taxa de elocução maior e por tons de fronteira não-baixos tanto no enunciado que o antecede, quanto nele próprio. Além disso, a presença de pausa silenciosa, com uma média de 0.386 s e 0.464 s, na primeira e na segunda fronteiras, respectivamente, associada à ocorrência de tons de fronteira não-baixos funciona como um marcador de destaque do metadiscurso durante a comunicação. Não foram encontrados, porém, nem padrões de variação de F0 nem um movimento melódico específico para o metadiscurso.

Esses achados contribuem para a descrição prosódica do português brasileiro e permitem compreender de que modo a prosódia rege a organização do metadiscurso na fala, bem como ressaltam que um texto possui níveis de hierarquia em sua estrutura informacional, e que, em um discurso oral, a prosódia serve para demonstrar que informações são importantes para a compreensão do que se fala.

Há de se levar em conta, no entanto, a necessidade de uma expansão de estudos que abordem esse tema. Os dados de fala tomados como corpus de análise deste trabalho não são todos de fala espontânea, uma vez que algumas falas dos informantes eram respostas dadas aos questionamentos feitos pelos documentadores durante a condução das entrevistas. Outro ponto a se destacar é o número relativamente pequeno de enunciados coletados para a investigação. Dessa forma, propomos, para estudos posteriores, um maior número de itens de análise. Propomos também a análise de outros parâmetros prosódicos, como a intensidade, por exemplo.

Por fim, sugerimos, para pesquisas futuras, a análise prosódica dos enunciados metadiscursivos dentro de um quadro que permita categorizar as funções metadiscursivas desempenhadas por eles no contexto em que se inserem. Para esse fim, é preciso uma interface cada vez maior entre as teorias prosódicas e as do discurso, além da filiação a um modelo teórico que explique as funções metadiscursivas. Trata-se, portanto, de uma linha de estudos que ainda precisa desvendar inúmeras questões sobre a prosódia da metadiscursividade no português brasileiro.

Referências

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Avaliação

Flaviane Romani Fernandes Svartman

Avaliadora 1, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

Marcus Vinícius Moreira Martins

Avaliador 2; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

RODADA 1

Avaliadora 1

2021-08-25 | 05:32

O manuscrito “A prosódia do metadiscurso: uma análise a partir dos dados do NURC Digital” se enquadra na modalidade “relato de pesquisa” e tem como objetivo o estudo das características prosódicas, nomeadamente, variações melódicas, taxa de elocução e ocorrência e duração de pausas, de enunciados metadiscursivos extraídos de sete inquéritos do portal do Projeto NURC Digital. Tal objetivo é apresentado logo no resumo e é atingido ao longo do desenvolvimento do texto. Com relação às partes constitutivas do manuscrito e seguindo as diretrizes de avaliação para artigos submetidos ao periódico "Cadernos de Linguística", acrescento, primeiramente, que o título se relaciona ao assunto tratado e reflete adequadamente a proposta do trabalho. O resumo é sucinto, compreensível e apresenta com clareza o objetivo do trabalho e os tópicos que vão ser tratados no trabalho. A introdução apresenta de forma clara a questão a ser tratada pelo manuscrito, entretanto, apresenta imprecisões quanto ao uso da expressão “sintagma e enunciado entoacionais” (ver comentário no arquivo anexo) e à concepção de discurso assumida no trabalho (qual é a visão e perspectiva teórica de discurso abordadas no trabalho?). A seção sobre pressupostos teóricos apresenta problemas no que diz respeito à ausência de: (i) referências fundamentais sobre as teorias Fonologia Prosódica (além de NESPOR; VOGEL, 1986, 2007, citar SELKIRK, 1984, 1986, 2000; HAYES, 1989; TRUCKENBRODT, 1995; entre outros) e Fonologia Autossegmental e Métrica da Entoação (além de PIERREHUMBERT, 1980, citar Beckman; Pierrehumbert, 1986; Ladd, 1996, 2008; entre outros); (ii) menção a trabalhos desenvolvidos sobre o português brasileiro no âmbito dessas duas teorias (FROTA; VIGÁRIO, 2000; CUNHA, 2000; TENANI, 2002; FERNANDES, 2007; SERRA, 2009; TRUCKENBRODT; SANDALO; ABAURRE, 2009; VIGÁRIO; FERNANDES-SVARTMAN, 2010; TONELI, 2014; FROTA et al. 2015; entre outros); e (iii) pressupostos teóricos e noções das duas teorias que seriam importantes para o desenvolvimento do trabalho (ver comentário no arquivo anexo). Por sua vez, a seção de metodologia apresenta claramente os procedimentos utilizados na análise de dados. Todavia, esses procedimentos não se relacionam com as teorias fonológicas de análise prosódica anunciadas como quadro teórico em que se ancora o trabalho. Os procedimentos metodológicos são baseados em pressupostos fonéticos e não fonológicos. Além disso, no trabalho, são assumidos os domínios prosódicos “sintagma entoacional” e “enunciado fonológico” como relevantes para a análise dos dados, mas não são apresentados os algoritmos de formação desses constituintes, nem os dados mapeados nesses constituintes. A análise do contorno melódico também não segue os pressupostos teóricos e a notação de tons conforme a teoria Autossegmental e Métrica de análise da entoação. Os resultados alcançados pelo trabalho são extremamente relevantes para a caracterização prosódica, no que diz respeito à descrição fonética, de enunciados metadiscursivos de inquéritos do corpus NURC (variedade recifense). Porém, esses resultados não são contextualizados quanto à variedade dialetal a que pertencem, não são comparados com o que há na literatura sobre características prosódicas da fala, pelo menos, da região a que pertence a variedade em questão (ver CUNHA, 2000; CARDOSO et al. 2014; entre outros) e não são relacionados com as teorias fonológicas de análise prosódica apresentadas como quadro teórico. São aplicados testes estatísticos aos resultados, o que garante confiabilidade a eles, mas seria importante que os autores apresentassem claramente a hipótese que direcionou à aplicação de cada teste. Todos os dados, gráficos e tabelas apresentados são importantes para a discussão desenvolvida e também exemplificam o que é exposto nos trechos aos quais se referem. Quanto à forma e à modalidade escrita, trata-se de um texto bem escrito, claro e estruturado e que segue as normas da ABNT na referenciação das citações. Dada a relevância dos resultados inéditos para os estudos prosódicos de enunciados metadiscursivos no dialeto recifense, recomendo que o artigo seja reescrito, levando em conta as considerações apresentadas neste parecer, e submetido novamente à análise para publicação na revista “Cadernos de Linguística”. Na reescrita do manuscrito, sugiro fortemente que o foco seja dado apenas à descrição e à análise das características fonéticas suprassegmentais dos enunciados metadiscursivos, o que já é uma contribuição muito significativa para os estudos em prosódia do português brasileiro. Ainda informo que, além deste parecer, segue o arquivo submetido pelos autores, acrescido de comentários e sugestões.

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Avaliador 2

2021-08-30 | 04:20

Muito obrigado pela oportunidade de ler seu texto e pela sua contribuição para o desenvolvimento da Ciência. Espero poder contribuir com o seu texto.

O manuscrito “A prosódia do metadiscurso: uma análise a partir dos dados do NURC digital” se enquadra na modalidade relato de pesquisa e tem por objetivo analisar as características prosódicas dos enunciados metadiscursivos, especificamente os parâmetros associados à frequência fundamental e à duração, sendo eles o pitch range, o pitch reset, a distribuição entoacional, os tons de fronteira, a taxa de elocução e a ocorrência e duração de pausas. O estudo foi conduzido a partir da análise de sete inquéritos obtidos no portal NURC Digital. O objetivo é apresentado ainda no resumo de forma bastante adequada. Destaca-se que, no geral, o texto é claro e bem escrito, com boa apresentação dos argumentos e dados.

Com relação às partes constitutivas do texto. O título é adequado e reflete a proposta do trabalho, além de estar relacionado ao assunto, o mesmo vale para o resumo, que é sucinto e apresenta adequadamente as partes do texto e os resultados obtidos. Sugiro retirar a última frase do resumo “para o ensino da constituição e do funcionamento dos gêneros discursivos da oralidade”, dado que o objetivo do trabalho não é o ensino, mas, sim, a descrição fonético-fonológica.

A seção 1 “Introdução” está bem escrita, mas é bastante longa e pouco estruturada. Inicia-se com a apresentação de definições sobre o uso da língua, parte para exemplos dos enunciados metadiscursivos, estabelece um conjunto de definições sobre a prosódia e retorna aos enunciados metadiscursivos e sua relação com a prosódia. Sugiro que as definições sobre a prosódia (que começam em “A prosódia é o mecanismo...” e terminam em “...tal como o metadiscurso.”) sejam guardadas para outra seção ou retiradas do texto, uma vez que elas não fazem parte da apresentação do problema ou das hipóteses.

A Seção 2 “Alguns Pressupostos Teóricos” apresenta problemas. De início, sugiro retirar o “alguns” do título, uma vez que faz parecer que não serão apresentados todos os pressupostos. A seção sobre metadiscurso é adequada, embora diga-se em seção imediatamente anterior que há alguns poucos estudos que tratam desse tema pela perspectiva fonética. Nesse caso, seria fundamental que essas referências fossem comentadas nessa seção. Na seção 2.1, sobre prosódia, nota-se que faltam diversas referências sobre as teorias citadas, sobre a Fonologia Prosódica, para além de Nespor e Vogel (1986, 2007), sugiro Selkirk (1986, 2000). Sobre a Fonologia Autossegmental e Métrica, sugiro Ladd (1996) e Beckman e Pierrehumbert (1986), além disso faltam referências sobre análises feitas para Português, a partir destas teorias, como Frota e Vigário (2000), Tenani (2002), Vigário e Svartsman (2009) e Toneli (2014). Entendo que seja necessária a justificativa do porquê da adoção destas teorias neste trabalho, visto que não é citado anteriormente que o trabalho será feito partindo das teorias fonológicas citadas, mas, sim, de uma análise fonética.

A seção “Metodologia” é adequada e apresenta de forma clara as ferramentas utilizadas e os recortes adotados. Sugiro apenas indicar a origem dos participantes, se possível. A descrição do instrumental, bem como a descrição dos parâmetros, é adequada e ajuda a compreender a próxima seção de resultados. Destaca-se, contudo, dois pontos: (i) não fica clara a definição de pitch range (se é a diferença entre mínimo e máximo ou apenas o valor máximo) (ii) não fica claro porque foram adotados apenas os picos de f0 para análise de pitch range. Além disso, são introduzidos mais dois modelos, o de Barbosa (2019) e o Momel/Instint (HIRST, 2012), sem que se estabeleça uma relação com os modelos propostos na seção anterior. De certo modo, a metodologia não parece estar conectada com a teoria proposta em seção anterior.

Na seção “Resultados” os resultados são apresentados de forma adequada e, de modo geral, contribuem para responder à pergunta inicial dos autores. Sugiro que se faça uma definição mais clara do que se entende por distribuição entoacional, o qual não é definida em momento nenhum do texto. Os gráficos apresentam problemas de leitura, em alguns casos a fonte é pequena e de difícil leitura (Gráficos 1, 4 e 5), outros não indicam as variáveis avaliadas nos eixos das abcissas, embora se vejam valores de 1 a 10 nesse eixo (Gráficos 2 e 3). No gráfico 3 também não é possível dizer o que cada uma das linhas representa: se são sujeitos, grupos de sujeitos, o mesmo sujeito, por isso é preciso inserir uma legenda. A partir do gráfico 4 não é possível observar a afirmação posta sobre a “diferença de tom ser extremamente pequena”, uma vez que não sabemos qual é a unidade de medida adotada e qual é a média de diferença. O gráfico 6 traz como legenda “N” e “S”, sugiro substituir por Sim e Não, além disso o gráfico de barras não é adequado para a correlação que se pretende mostrar, idealmente se usaria um gráfico de dispersão. No gráfico 7, não há a indicação dos n para se chegar as porcentagens apresentadas, essa informação precisa constar no corpo do texto ou no gráfico. Na sub-seção “taxa de elocução” não se apresenta a quais unidades de medida se refere a taxa (sílabas/segundo) é preciso apresentar essa informação. No geral, é preciso melhor explicar para o público do que se trata termos como “dumming coding” e o porquê da opção por análises de regressão.

Na penúltima seção, a discussão proposta não é adequada ao que foi apresentado na seção “Alguns Pressupostos Metodológicos”, que trata do modelo da fonologia prosódica e da fonologia entoacional e retomada na Metodologia para o seccionamento dos dados. Observa-se também que não há uma explicação fonética para os resultados encontrados, embora a pesquisa se proponha como uma interface com a fonética. Na realidade, na discussão, nota-se que outras concepções, muito mais discursivas, são retomadas para explicar os resultados encontrados. Dessa forma, nossa sugestão é que a seção seja revista, retomando os conceitos apresentados em seções anteriores. Por fim, a conclusão não retoma as teorias apresentadas, embora trate das características fonéticas do metadiscurso.

Dada a relevância dos resultados e da importância de estudos que congreguem dados fonéticos para uma análise discursiva, recomendo que o artigo seja revisto e reenviado para uma nova avaliação, principalmente pelas questões teóricas acima citadas. Sugiro fortemente uma revisão teórica que se enquadre nas questões fonéticas levantadas ou na adequação dos resultados à teoria apresentada. Informo que envio o arquivo submetido pelos autores acrescido de comentários e sugestões.

RODADA 2

Avaliadora 1

2021-11-12 | 10:56

O manuscrito “A prosódia do metadiscurso: uma análise a partir dos dados do NURC Digital” se enquadra na modalidade “relato de pesquisa” e tem como objetivo o estudo das características prosódicas, nomeadamente, variações melódicas, taxa de elocução e ocorrência e duração de pausas, de enunciados metadiscursivos extraídos de sete inquéritos do portal do Projeto NURC Digital. Tal objetivo é apresentado logo no resumo e é atingido ao longo do desenvolvimento do texto. Com relação às partes constitutivas do manuscrito e seguindo as diretrizes de avaliação para artigos submetidos ao periódico "Cadernos de Linguística", acrescento, primeiramente, que o título se relaciona ao assunto tratado e reflete adequadamente a proposta do trabalho. O resumo é sucinto, compreensível e apresenta com clareza o objetivo do trabalho e os tópicos que vão ser tratados no texto. Antes de passar a comentar as demais seções, informo que a versão revisada do manuscrito, a que se refere este parecer, teve um salto qualitativo considerável e levou em conta todas as recomendações feitas no primeiro parecer emitido por esta parecerista. A introdução continua apresentando de forma clara a questão a ser tratada pelo manuscrito e todas as imprecisões constantes na primeira versão do manuscrito não constam mais na versão revisada.  A seção sobre pressupostos teóricos foi totalmente reescrita e a nova seção enfoca a prosódia como mecanismo estruturador do discurso falado, o que ficou muito mais condizente com toda a discussão apresentada no artigo. Por sua vez, a seção de metodologia também foi melhorada no sentido de detalhar os procedimentos metodológicos com foco exclusivo na descrição fonética apresentada. Quanto à essa seção, só chamo atenção para algumas imprecisões relativas à notação de tons e o que é apresentado na seção de resultados para a descrição de tons de fronteira (ver arquivo da versão revisada do manuscrito com os comentários desta parecerista). Isso deve ser revisto de maneira que o texto fique coerente. Ainda quanto aos tons de fronteira, é necessário que os autores definam o que consideram tons de fronteira, conforme os pressupostos teóricos que utilizam em sua análise. Na seção sobre metodologia, os autores afirmam que os enunciados foram segmentados conforme a identificação de duas unidades prosódicas entonacionais: o sintagma entonacional e o enunciado entonacional (Barbosa, 2012). Entretanto, a diferenciação entre essas duas unidades prosódicas não é retomada na discussão dos resultados. Seria interessante relacionar os resultados encontrados com a identificação dessas duas unidades. Por exemplo: presença de tons baixos associados ao final de enunciados pós-metadiscursivos compondo o limite de enunciados entonacionais e presença de tons não-baixos ou baixos associados ao final de enunciados pré-metadiscursivos e metadiscursivos, sendo esses dois últimos tipos de enunciados fraseados em sintagmas entonacionais, conforme a concepção de Barbosa (2012). Os resultados alcançados pelo trabalho são extremamente relevantes para a caracterização prosódica, no que diz respeito à descrição fonética, de enunciados metadiscursivos de inquéritos do corpus NURC (variedade recifense). Entretanto, a discussão sobre os resultados concernentes à relação entre pausa e tipo de tom de fronteira ainda precisa ser revista e aprofundada. Ainda sobre os resultados, são aplicados testes estatísticos que garantem confiabilidade a tais resultados e, na versão revisada do manuscrito, são apresentadas as hipóteses que direcionaram à aplicação de cada teste. Todos os dados, gráficos e tabelas apresentados são importantes para a discussão desenvolvida e também exemplificam o que é exposto nos trechos aos quais se referem. Ressalto que a versão revisada do manuscrito ainda considera a literatura prosódica precedente sobre a variedade dialetal abordada e discute os resultados obtidos em comparação com essa literatura. Quanto à forma e à modalidade escrita, trata-se de um texto bem escrito, claro e estruturado e que segue as normas da ABNT na referenciação das citações. A versão revisada também sofreu substancial melhoria quanto à redação. Dada a relevância dos resultados inéditos para os estudos prosódicos de enunciados metadiscursivos no dialeto recifense e a melhoria significativa do texto, recomendo que o artigo seja publicado, após revisão que leve em conta as considerações apresentadas neste parecer e os comentários acrescentados por esta parecerista no arquivo da versão revisada do manuscrito submetida pelos autores.

Avaliador 2

2021-11-12 | 05:33

Ótimo manuscrito. Obrigado pela oportunidade de reler seu trabalho e pelas observações consideradas em sua revisão.Noto que alterações significativas foram feitas, as quais julgo importante para uma adequação do trabalho proposto.

Sobre as partes constitutivas. O título é adequado e reflete os objetivos e a análise conduzida, no entanto, considero importante destacar que a variedade em análise é a de Recife, como pontuado no resumo. O resumo também é adequado tem as informações necessárias, sugiro a inserção dos valores das variáveis destacadas(taxa de elocução, pausas silenciosas e tons de fronteira não-baixos) e da retirada da nota 4 no resumo, visto que não é um procedimento recorrente.O conjunto textual das seções 1, 2 e 3 é adequado e apresenta de forma contínua os temas e objetos a serem tratados pelos autores. Destaco que ainda considero a seção 1 de Introdução ainda muito longa, sendo que diversas informações poderiam estar pulverizadas e alocadas nas demais seções, vide o exemplo na seção 1 que poderia aparecer na seção 1. Sugiro que, se possível, reveja a organização dessas seções.As seções associados ao trabalho científico estão adequadas, com excelente apresentação dos dados e metodologia. Na seção 5.6. é necessário definir o que se tomou em consideração para definir os níveis tonais, em específico o (L): foi um parâmetro acústico, um parâmetro de comparação, etc. Observo que os gráficos foram atualizados e muitas informações foram adicionadas. No entanto, ainda falta especificar se os gráficos 2 são uma modelização de todos os dados de todos os falantes ou um modelo obtido a partir de um falante. Essa informação é fundamental para a compreensão da exposição. Cabe dizer novamente que o gráfico de barras apresentado em 6 não é ideal para a apresentação dos dados como se pretende, um gráfico de dispersão ou de linhas, seria mais adequado. O mesmo vale para o gráfico 7. Além disso, o referido gráfico expõe os valores da tabela 2, a qual está em números absolutos, dessa forma é preciso ajustar a tabela para apresentar os valores relativos, bem como o valor n total para se chegar aos valores relativos. Julgo fundamental fazer esses ajustes para que os dados sejam expostos de forma maisclara.

Por fim, as seções Discussão e Considerações finais estão claras e de acordo com o que fora proposto ao longo do trabalho. Nota-se que foram feitas mudanças consideráveis nessa nova versão, as quais tornamaa discussão mais adequada aos dados apresentados.

Dada a relevância dos resultados e da importância de estudos que congreguem dados fonéticos para uma análise discursiva, recomendo que o artigo seja aceito com revisões, em especial da apresentação dos dados.

RODADA 3

Avaliadora 1

2021-12-20 | 12:49

O manuscrito “A prosódia do metadiscurso: uma análise a partir dos dados do NURC Digital Recife” se enquadra na modalidade “relato de pesquisa” e tem como objetivo o estudo das características prosódicas, nomeadamente, variações melódicas, taxa de elocução e ocorrência e duração de pausas, de enunciados metadiscursivos extraídos de sete inquéritos do portal do Projeto NURC Digital. Tal objetivo é apresentado logo no resumo e é atingido ao longo do desenvolvimento do texto. Com relação às partes constitutivas do manuscrito e seguindo as diretrizes de avaliação para artigos submetidos ao periódico "Cadernos de Linguística", acrescento, primeiramente, que o título da última versão revisada foi modificado e já deixa claro, logo de início, qual variedade de português brasileiro será abordada no estudo. O resumo é sucinto, compreensível e apresenta com clareza o objetivo do trabalho e os tópicos que vão ser tratados. Antes de passar a comentar as demais seções do texto, informo que a última versão revisada do manuscrito, a que se refere este parecer, levou em conta todas as recomendações feitas em todos os pareceres emitidos por esta parecerista. A introdução continua apresentando de forma clara a questão a ser tratada pelo manuscrito e todas as imprecisões constantes da primeira versão do manuscrito não constam na última versão revisada.  A seção sobre pressupostos teóricos já estava adequada na primeira versão revisada e também continua adequada na última versão. Por sua vez, a seção de metodologia contemplou as sugestões feitas por esta parecerista no último parecer: a notação e a descrição dos tons de fronteira foram revistas e o texto ficou mais coerente. Ainda quanto aos tons de fronteira, os autores definiram o que consideram tons de fronteira, conforme os pressupostos teóricos que utilizam em sua análise. Quanto ao domínio prosódico de segmentação, os autores se restringiram à descrição do sintagma entonacional (conforme a concepção de BARBOSA, 2012), o que ficou mais adequado, levando em conta a discussão apresentada. Os resultados alcançados pelo trabalho são extremamente relevantes para a caracterização prosódica, no que diz respeito à descrição fonética, de enunciados metadiscursivos de inquéritos do corpus NURC (variedade recifense). Na última versão do manuscrito, foi excluída a discussão sobre os resultados concernentes à relação entre pausa e tipo de tom de fronteira. Essa exclusão foi adequada, uma vez que tal discussão não se mostrava produtiva, considerando-se os objetivos do trabalho. Ainda sobre os resultados, são aplicados testes estatísticos que garantem confiabilidade a eles. Todos os dados, gráficos e tabelas apresentados são importantes para a discussão desenvolvida e também exemplificam o que é exposto nos trechos aos quais se referem. Quanto à forma e à modalidade escrita, trata-se de um texto bem escrito, claro e estruturado e que segue as normas da ABNT na referenciação das citações. Dada a relevância dos resultados inéditos para os estudos prosódicos de enunciados metadiscursivos no dialeto recifense e a melhoria significativa do texto, recomendo que o artigo seja publicado. Acrescento comentários de revisão textual pequena no arquivo da última versão revisada do manuscrito submetida pelos autores.

Avaliador 2

2021-12-08 | 12:46

Caros autores, muito obrigado, novamente, pela oportunidade de ler o trabalho de vocês.

O estudo proposto é de grande interesse para a fonética e fonologia de um modo geral e creio que apresenta com bastante qualidade os resultados.Penso que as alterações feitas até aqui, tornaram o texto mais claro e ajudarão o leitor a compreender a proposta teórica, a metodologia aplicada e as análises desenvoldidas. Deste modo, recomendo que o manuscrito seja publicado. Envio novamente o arquivo com algumas pequenas observações textuais, espero que seja de ajuda para a finalização e publicação do trabalho.

Resposta dos Autores

RODADA 1

2021-10-21

Prezados, saudações

Antes de tudo, gostaríamos de agradecer pela revisão minuciosa que foi feita em relação ao nosso manuscrito. Tal revisão reitera o compromisso científico desta revista com o desenvolvimento da Linguística brasileira. Já agradecemos de antemão, portanto, todas as considerações feitas ao trabalho, as quais julgamos extremamente pertinentes, visto que nosso objetivo maior é, certamente, contribuir para um fazer científico aberto e sujeito a críticas fundamentadas sistematicamente.

Passamos, agora, a uma discussão dos pontos concernentes ao nosso trabalho.

O ponto inicial que gostaríamos de abordar é aquele que consideramos o mais pertinente e que reverbera em todas as demais considerações feitas pelos avaliadores. De fato, o nosso trabalho é baseado em princípios metodológicos próprios dos estudos fonéticos. Isso porque nosso objetivo principal foi fazer apenas uma descrição das características prosódicas dos enunciados metadiscursivos na variedade linguística analisada. Após algumas discussões, entretanto, veio à tona a ideia de trazer os pressupostos das teorias fonológicas Fonologia Prosódica e Fonologia Autossegmental e Métrica da Entoação para explicar os dados observados. No entanto, após as considerações feitas pelos avaliadores deste processo de submissão, chegamos à conclusão de que ainda necessitamos amadurecer nossas reflexões sobre de que forma tais pressupostos explicam nossos dados. Assim, conforme sugerido veementemente pelos avaliadores, decidimos que nosso manuscrito focaria apenas na descrição fonética da categoria de enunciados analisados, quais sejam, os metadiscursivos.

Tal decisão se refletiu nas reformulações feitas ao longo do texto. De início, levamos em conta critérios unicamente prosódicos (padrões entonacionais) para delimitar o que seria na literatura fonética o sintagma entonacional e o enunciado entonacional (BARBOSA, 2012; 2019), deixando de lado, portanto, os conceitos de sintagma e enunciado fonológicos.

No que diz respeito à fundamentação teórica do nosso trabalho, tomamos como base estudos que investigam a interface prosódia e discurso, mais especificamente, aqueles que investigam o papel da prosódia como mecanismo de organização e estruturação do discurso (PIJPER; SANDERMAN, 1994; SWERTS; COLLIER; TERKEN, 1994; OLIVEIRA JR., 2000, entre outros). Aproveitando o ensejo de estarmos mencionando, neste momento, o termo "discurso", também levamos em conta as considerações feitas pelos avaliadores no que concerne à concepção de discurso adotada por nós. Neste estudo, adotamos a concepção de discurso como a unidade gramatical imediatamente superior ao nível das sentenças. Nessa perspectiva, o discurso seria o resultado de um conjunto de enunciados coerentes entre si (SWERTS; 1996; SWERTS; GELUYKENS, 1994; WICHMANN, 2014).

Na seção de metodologia, acrescentemos, conforme proposto, informações resumidas sobre os participantes dos quais foram coletados os dados acústicos presentes nos inquéritos. Substituímos, ainda, as expressões pitch range e pitch reset por variação de F0 e reinício de F0, respectivamente. Ao longo do texto, também justificamos o porquê de considerarmos apenas o pico de F0 dos enunciados para investigar a variação de F0. Ainda sobre as questões metodológicas, devemos dizer que mantivemos praticamente toda a descrição já feita, uma vez que, como os próprios avaliadores salientaram, os procedimentos descritos atendem a um estudo que se pretende fonético.

No que concerne, por sua vez, aos resultados do nosso trabalho, também mantivemos grande parte da descrição feita, atentando, entretanto, para ajustes solicitados pelos avaliadores, tais como a evidenciação da unidade de medida da taxa de elocução; o acréscimo de informações de estatística descritiva (média) referentes aos elementos prosódicos analisados; definição do termo "distribuição de contorno entonacional", compreendido por nós como o formato da curva de F0 nos enunciados etc.

Ainda sobre os resultados, conforme proposto pelo avaliador 2, refizemos todos os gráficos, de modo a torná-los mais acessível a uma leitura confortável, especialmente no que diz respeito ao tamanho da fonte utilizada nos gráficos. Para uma melhor estética dos gráficos, decidimos dar novos labels para cada uma das três categorias de enunciado. Antes, considerávamos os seguintes labels: (enprem: enunciado pré-metadiscursivo; enmet: enunciado metadiscursivo; e enpom: enunciado pós-metadiscursivo). Decidimos, contudo, dar aos três enunciados novos labels, sendo todos sinalizados nas legendas dos gráficos (Antmeta: enunciado anterior ao metadiscursivo; Meta: enunciado metadiscursivo; e Posmeta: enunciado pós-metadiscursivo)

Também acrescentamos, de acordo com a solicitação feita, uma tabela com os valores n usados para o cálculo da porcentagem de ocorrência de tons de fronteira baixo e não baixo nas três categorias de enunciado. Procuramos, ainda, evidenciar, mesmo que de forma sucinta, o porquê de decidirmos usar o modelo estatístico de regressão logística para analisar alguns dos elementos prosódicos trazidos no nosso estudo, acresecentando algumas informações sobre os contrastes do tipo dummy coding para os efeitos fixos.

No entanto, em relação ao gráfico 6, que foi feito com uma geometria de barras, após algumas discussões, decidimos mantê-lo com essa geometria. O gráfico 6 representa a taxa de ocorrência de pausas na segunda fronteira (entre o enunciado metadiscursivo e pós-metadiscursivo) em função da ocorrência de pausas na primeira fronteira (entre o enunciado anterior ao metadiscursivo e o metadiscursivo). Como, nos nossos dados, essas variáveis foram categóricas binomiais (do tipo "sim" e "nao"), decidimos rodar uma regressão logística binomial para checar essa probabilidade de ocorrência de pausas nas duas fronteiras. Para tanto, alguns autores consideram o gráfico de barras como suficiente para representar relações binomiais entre variáveis categóricas analisadas em uma regressão logística binomial (GODOY, 2019).

Por fim, atendendo às sugestões feitas pela avaliadora 1, procuramos contextualizar nossos resultados quanto à variedade dialetal a que pertencem, comparando-os com o que há na literatura sobre características prosódicas da fala variedade em questão (CUNHA, 2000; CARDOSO et al. 2014). Além disso, na discussão acerca dos resultados alcançados, procuramos fundamentar nossos argumentos em explicações fonéticas já apontadas na literatura para explicar fenômenos pros´ódicos. No entanto, não podemos fugir a alguns pressupostos discursivos para explicar nossos dados, visto que partimos de modelos teóricos já existentes (modelos pertencentes a teorias textual-discursivas) para analisar as implicações do metadiscurso na prosódia da fala. Em outras palavras, nosso objetivo era levar em conta também explicações discursivas para os dados, pois acreditamos que a prosódia é um mecanismo manipulado pelo falante na tarefa de organizar o seu próprio dizer.

Com todos esses pontos mencionados acima, reiteramos que julgamos todas as considerações feitas pelos avaliadores como extremamente consistentes e necessárias para o aprimoramento do nosso trabalho. Tentamos atender a todas as solicitações feitas, desde correções ortográficas a reformulações dos gráficos.

Agradecemos imensamente pelo trabalho de avaliação. Abaixo colocamos as referências citadas ao longo dessa resposta ao parecer dos avaliadores.

Referências

BARBOSA, P. A. Incursões em torno do ritmo da fala. Campinas, SP: Pontes ed.: FAPESP. 40 p.

BARBOSA, P. A. Conhecendo melhor a prosódia: aspectos teóricos e metodológicos daquilo que molda nossa enunciação. Revista de Estudos da Linguagem, v. 20, n. 1, p. 11-27, 2012. DOI: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.20.1.11-27 . Acesso em: 17 de fevereiro 2020.

BARBOSA, P. A. Prosódia. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2019.

CARDOSO, S. A. M. S., et al. Atlas linguístico do Brasil: cartas linguísticas 1. Londrina: EDUEL; 2014.

CUNHA C. S. Entoação regional no português do Brasil. 2000. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.

GODOY, M. C. (2019) Introdução aos modelos lineares mistos. Disponível em: < https//doi.org/10.17605/OSF_IO/9T8UR >.  Acesso em: 19 de dezembro de 2019.

OLIVEIRA JR., M. Prosodic Features in Spontaneous Narratives. 2000. 286f. Thesis (Doctor of Philosophy). Department of Linguistics, Simon Fraser University, Vancouver, 2000.

SWERTS, M. Prosodic features at discourse boundaries of different strength. The Journal of the Acoustical Society of America, v. 101, n. 1, p. 514–521, 1996. DOI: 10.1121/1.418114. Acesso em: 02 de outubro de 2021.

SWERTS, M.; COLLIER, R.; TERKEN, J. Prosodic predictors of discourse finality in spontaneous monologues. Speech Communication, v. 15, n. 1-2, p. 79–90, 1994.

SWERTS, M.; GELUYKENS, R. Prosody as a marker of information flow in spoken discourse. Language and Speech, v. 37, n. 1, p. 21–43, 1994. DOI: https://doi.org/10.1177/002383099403700102. Acesso em: 02 de outubro de 2021.

RODADA 2

2021-12-01

Prezados, Avaliadores

Mais uma vez, gostaríamos de iniciar essa conversa agradecendo pelo tempo despendido no processo de avaliação do nosso trabalho. Além disso, agradecemos também pelas valiosas críticas e sugestões formuladas com vistas ao aprimoramento deste relato de pesquisa.

Antes de passarmos a uma breve discussão sobre os pontos levantados por vocês, gostaríamos de destacar, ainda, que procuramos atender cuidadosamente a todos os comentários feitos sobre o texto. Nesse sentido, queremos dizer do nosso contentamento em saber que as alterações e os ajustes já feitos em outro momento repercutiram positivamente. Isso mostra que estamos no caminho certo. Dito isso, passemos, então, à discussão. Esta discussão abordará pontos que apareceram em algumas seções do texto.

Em relação ao título e ao resumo do relato, fizemos algumas alterações. Conforme proposto, acrescentamos, no título, a palavra Recife para indicar, desde o início, que os dados de fala analisados por nós são provenientes de informantes recifenses. Assim, nosso novo título ficou A Prosódia do Metadiscurso: uma análise a partir dos dados do NURC Digital Recife. Já no resumo, acrescentamos os valores numéricos daquelas variáveis que constatamos serem as mais significativas na tarefa de delimitar o enunciado metadiscursivo no fluxo da fala (taxa de elocução, pausas silenciosas e tons de fronteira não-baixos). Portanto, a partir de agora, o resumo contém algumas informações numéricas, acompanhadas das unidades de medida que foram usadas nas análises desses elementos prosódicos.

No que se refere à introdução, fizemos um novo arranjo entre os parágrafos. No processo de revisão anterior, foi nos solicitado que refletíssemos acerca de algumas imprecisões quanto à concepção de discurso que adotávamos neste trabalho. Ainda naquele processo, procuramos deixar claro a concepção de discurso enquanto um dos níveis do sistema linguístico, sendo aquele que está acima dos enunciados. No entanto, essa discussão sobre concepções do discurso, definições e exemplificações acerca do que seria o enunciado metadiscursivo etc. fez com que a introdução, como bem apontou o Professor Marcus Martins, se tornasse um tanto longa.

Procuramos, assim, fazer a nova introdução de forma mais sucinta, indicando, grosso modo, apenas os temas que seriam abordados no relato de pesquisa, quais sejam, a prosódia e o metadiscurso; nosso objetivo principal com a investigação; e nossa hipótese geral, aquela relacionado à busca por padrões de F0 e de duração na prosodização do enunciado metadiscursivo no contexto de fala investigado.

Procuramos manter, entretanto, a discussão sobre os conceitos de discursos, sugerida pela Professora Flaviane Svartman, na seção subsequente, intitulada O discurso e o metadiscurso. Nessa seção (2), abordamos as diferentes perspectivas teóricas do discurso (destacando qual estamos adotando); definimos o metadiscurso e trazemos o exemplo que antes estava na seção 1; relatamos um breve percurso da literatura acerca do metadiscurso; e, por fim, evidenciamos o modelo de Hylland (2005a) como o modelo adotado por nós no que se refere à compreensão do metadiscurso.

Nesse novo processo de revisão, não alteramos o conteúdo presente na seção 3, aquela em que fazemos um breve relato de estudos que têm pensado a prosódia como um dos elementos estruturadores do discurso falado.

Quanto à seção de descrição dos procedimentos metodológicos, acatamos inteiramente a avaliação da Professora Svartman. De fato, ao fazer uma leitura mais cuidadosa acerca dos símbolos provenientes do uso do script Momel/Intsint (HIRST, 2007) usados para descrever o percurso melódico dos enunciados parecem não se coadunar com as siglas L e NL, usadas, na pesquisa, para investigar os dois tipos de tons de fronteira, baixos e não-baixos, respectivamente.

Explicamos: nesta pesquisa, compreendemos “tom de fronteira” como o movimento de F0 (ascendente/descendente) observado na última sílaba tônica de um enunciado entonacional (OLIVEIRA JR., 2000). No texto, explicamos o porquê de descartarmos alguns símbolos tonais do Intsint, de modo a ficar apenas com estes: U, M, T, D e B. A essa altura, cabe lembrar que esses símbolos dados pelo Intsint “codificam” o movimento melódico de F0 ao longo do fluxo da fala. Os três primeiros símbolos citados acima são usados para indicar que há um movimento de “subida” de F0 em um determinado ponto. Já os dois últimos símbolos são usados para indicar que há um movimento de “descida” em um dado ponto.

À luz dessa compreensão, julgamos que, para fins de facilitação metodológica, especialmente no que se refere à análise dos tons de fronteira dos enunciados, nós poderíamos agrupar esses movimentos de “subida” e de “descida” observados nas últimas sílabas tônicas de cada enunciado em dois grupos: U, T e M foram computados como NL (Now-Low = tons de fronteira não-baixos); e B e D foram computados como L (Low = tons de fronteira baixo).

Assim, se o movimento de F0 observado na última sílaba tônica do enunciado fosse descendente, o tom de fronteira era computado como baixo (L). Por outro lado, se fosse ascendente, o tom de fronteira era computado como não-baixo (NL) (BARBOSA, 2012). Neste processo de revisão, procuramos deixar essa distinção mais clara no corpo do texto.

Ainda dentro da seção de metodologia, também acatamos a avaliação da professora Svartman no que concerne ao uso de duas unidades prosódicas entonacionais usadas no processo de segmentação dos enunciados: o sintagma entonacional e o enunciado entonacional. Ao analisarmos essa questão, chegamos à conclusão de que, para os fins deste estudo, manter a citação dos sintagmas entonacionais no relato de nossa pesquisa era irrelevante, visto que nosso objetivo principal era fazer análises acústicas no nível do enunciado e não do sintagma. Assim, pensamos que essa era uma aresta que podia ser cortada do nosso artigo, de modo que procuramos dar foco apenas à unidade prosódica alvo de todas as nossas análises, isto é, o enunciado entonacional.

No que se refere aos nossos resultados, também fizemos algumas alterações, a começar pelos gráficos 6 e 7. Conforme enfatizado pelo Professor Marcus Martins, os gráficos que estávamos usando para plotar a relação entre a ocorrência de pausas nas duas fronteiras (gráfico 6) e a frequência dos dois tipos de tons de fronteira nas delimitações do enunciado metadiscursivo (gráfico 7) não eram adequados para tal fim. Portanto, decidimos excluí-los e representar suas informações em formato de tabela.

Essa decisão de representar, sucintamente, as informações desses dois gráficos em tabelas se deu devido à quantidade limite de páginas permitida por esta revista. Tentamos insistentemente incluir os dois gráficos de dispersão no lugar dos gráficos 6 e 7. No entanto, o tamanho dos gráficos que permitia concluir o relato de pesquisa dentro das 30 páginas tornava difícil a leitura das informações contidas neles. Procuramos, no entanto, conforme sugerido pelo Professor Marcus Martins, adicionar as informações mais essenciais nas novas tabelas, tais como quantidade absoluta de itens analisados, quantidade relativa em relação ao todo etc.

Por fim, no que se refere à discussão trazida acerca da relação entre a ocorrência de pausa e a realização de um tom de fronteira baixo, também fizemos adaptações. Ao analisarmos novamente os dados, vimos, de fato, que essa correlação não faz sentido, visto que a pausa e o tom de fronteira são elementos prosódicos que, embora atuem simultaneamente, não estabelecem caráter de causa e efeito entre si. Tendo isso em vista, procuramos, nesse ponto do texto (seção 5.6), abordar ainda a combinação desses dois elementos prosódicos, mas agora sob uma perspectiva de atuação simultânea dos elementos prosódicos para a demarcação de fronteiras, perspectiva já utilizada na literatura (SWERTS; GELUYKENS, 1994; SWERTS, 1996; OLIVEIRA JR., 2000, entre outros).

Esperamos ter contemplado, com todos os pontos mencionados acima, ao menos sucintamente, todas as sugestões e críticas levantadas pelos avaliadores neste novo processo de revisão. Reiteramos, mais uma vez, nossos agradecimentos pelo trabalho de avaliação. Abaixo colocamos as referências citadas ao longo dessa resposta ao parecer dos avaliadores.

Referências

BARBOSA, P. A. Conhecendo melhor a prosódia: aspectos teóricos e metodológicos daquilo que molda nossa enunciação. Revista de Estudos da Linguagem, v. 20, n. 1, p. 11-27, 2012.

HIRST, D. A Praat plugin for MOMEL and INTSINT with improved algorithms for modelling and coding intonation. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF PHONETIC SCIENCES (ICHPhS), 16., 2007, Saarbrücken, Germany. Proceedings […]. Saarbrücken, p. 1233-1236.

HYLLAND, K. Metadiscourse: exploring interaction in writing. Londres: Continuum, 2005a.

OLIVEIRA JR., M. Prosodic Features in Spontaneous Narratives. 2000. 286f. Thesis (Doctor of Philosophy). Department of Linguistics, Simon Fraser University, Vancouver, 2000.

SWERTS, M.; GELUYKENS, R. Prosody as a marker of information flow in spoken discourse. Language and Speech, v. 37, n. 1, p. 21–43, 1994. DOI: https://doi.org/10.1177/002383099403700102. Acesso em: 02 de outubro de 2021.

SWERTS, M. Prosodic features at discourse boundaries of different strength. The Journal of the Acoustical Society of America, v. 101, n. 1, p. 514–521, 1996. DOI: 10.1121/1.418114. Acesso em: 02 de outubro de 2021.

How to Cite

TERTO, A. R. B.; OLIVEIRA JR, M. The prosody of metadiscourse: an analysis based on data from NURC Digital Recife. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 2, n. 4, p. e477, 2021. DOI: 10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id477. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/477. Acesso em: 19 apr. 2024.

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