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Experience Report

Language Policies through Formation Processes of New Words of the Apyãwa People

Waraxowo'i Mauricio Tapirapé

Universidade do Estado de Mato Grosso image/svg+xml


Keywords

Apyãwa Word Formation Process
Linguistic Policy
Strengthening of the Use of New Apyãwa Words

Abstract

In this work I intend to present the result of the formation processes of new words in the mother tongue of the Apyãwa people, who live in the municipality of Confresa, in the extreme northeast of the state of Mato Grosso, with the objective of strengthening the use of our language in orality and in the writings. Another objective is to critically analyze the situations of use of some Portuguese words, which occupy the spaces of the mother tongue in the daily speeches of people in the community. And through the sustainable development of our language policy within the village, together with the community, we, as the Apyãwa/Tapirapé people, are always looking for a means of teaching to fight for the quality of education. The methods we use in the workshops or seminars are: discussing the creation of new words among teachers, socializing the creation of new words with the community; teach knowledge in the classroom, evaluate the situation of language use in relation to the processes of formation of new words, observe; research, encourage the use of new words; contribute and share the responsibility of working on the use of our mother tongue at school and in the community. As a result, we hope to involve all the Apyãwa people in activities, defending the life of our language, as this linguistic policy was accepted by the Apyãwa community with great success in oral and written terms to strengthen the use of our mother tongue, avoiding the Portuguese language in the community.

Resumo para não especialistas

Neste trabalho apresento o resultado de uma experiência visando fortalecer o uso da língua materna do povo Apyãwa, na oralidade e na escrita. Essa experiência envolveu os processos de formação de novas palavras. A experiência foi realizada através de oficinas e seminários, em que se buscava discutir as criações de novas palavras entre os professores, socializar a criação de novas palavras com a comunidade; ensinar os conhecimentos na sala de aula, avaliar a situação de uso da língua em relação aos processos de formação de novas palavras, observar; pesquisar, incentivar o uso das novas palavras; contribuir e compartilhar a responsabilidade de trabalhar o uso da nossa língua materna na escola e na comunidade. Como resultados dos processos aqui descritos, esperamos poder envolver todo o povo Apyãwa nas atividades, defendendo a vida da nossa língua, pois nossa política linguística foi aceita pela comunidade Apyãwa com muito entusiasmo, com o objetivo final de fortalecer o uso da nossa língua materna na oralidade e na escrita, evitando que assim mesmo com a entrada da língua portuguesa ela não ocupe o espaço da língua materna na comunidade.

Introdução

Apyãwa é autodenominação do povo também conhecido por Tapirapé, falante da língua Apyãwa (Tapirapé) da família linguística Tupí-Guaraní, do tronco Tupí. Somos bilíngues em português, sendo que a maioria fala apenas a língua materna, mas entende bem a língua portuguesa. A população chega a aproximadamente 1.200 pessoas, divididas em 08 aldeias (Tapi’itãwa, Tapiparanytãwa, Towajatãwa, Wiriaotãwa I, Wiriaotãwa II, Myryxitãwa, Akara’ytãwa, Inataotãwa), localizadas na Terra Indígena Urubu Branco, situada entre o município de Confresa e Porto Alegre do Norte, no extremo nordeste do Estado de Mato Grosso, e mais uma aldeia (Majtyritãwa), localizada na Área Indígena Tapirapé/Karajá, situada no município de Santa Terezinha, Mato Grosso.

Este texto apresenta um breve estudo sociolinguístico, focalizando de modo especial para demonstrar e apresentar a política linguística do povo Apyãwa por meio da análise dos processos de criação das novas palavras na língua falada pelo nosso povo, com a nomeação dos objetos que estão entrando na nossa comunidade, na qual os Apyãwa vêm refletindo bastante e repercutindo politicamente a sua importância, seus valores e significados, no uso de sua língua materna. Neste sentido, este tema nos conduziu a problematizar situações que realmente eram preocupantes na comunidade, porque vemos como um problema a entrada excessiva de termos da língua portuguesa que vem aumentando cada vez mais, ou seja, a língua materna Apyãwa está perdendo o seu potencial por estar sendo menos usada no dia a dia. Por isso foi fundamental trabalhar o valor e o significado do uso da língua materna junto com a comunidade para discutirmos sobre ela, para nós continuarmos fortalecendo o uso dela tradicionalmente, conforme tem de ser usada, adequadamente.

1. Objetivos e metodologias aplicadas na experiência

Objetivo que nós temos por meio desse trabalho é contribuir e construir uma nova proposta pedagógica para a nossa Escola Indígena Estadual “Tapi’itãwa” junto com a participação da comunidade, para atender a necessidade do nosso povo Apyãwa e que, por sua vez, a escola seja uma escola específica e diferenciada de acordo com o desejo da comunidade. De uma maneira geral, as crianças começam ter contato com a língua português a partir de 2° ciclo, 3° fase do ensino fundamental. Mas, mesmo assim a maior parte de ensinamento continua sendo na língua materna Apyãwa nas escolas.

Compartilhar as experiências com a comunidade por meio de seminário, nos debates sobre os assuntos abordados, fez com o que a nossa política linguística alcançasse um novo modo de trabalhar na comunidade, para que os conhecimentos sejam ativados e oferecendo cada vez mais novas oportunidades de conscientizar e orientar a população em relação ao uso diário das línguas maternas Apyãwa. E também refletir e discutir bastante a importância, os valores e de seus significados tradicionais, identificando os aspectos principais que causam os danos no uso diário da língua tradicional do povo Apyãwa, abordando principalmente por qual motivo a maioria das pessoas está sendo agressivo com a língua materna, misturando em língua portuguesa, desvalorizando algumas palavras tradicionais Apyãwa, e ocupando o espaço da nossa língua materna inadequadamente, por ela não ser da nossa tradição.

Figure 1. Imagem 01 – Seminário de Política linguística “Tapi’itãwa” (Foto: Waraxowo’i Maurício Tapirapé) - 2015

Figure 2. Imagem 02 – Seminário de Política linguística “Tapi’itãwa” (Foto: Waraxowo’i Maurício Tapirapé) – 2015

A motivação para a realização dessa pesquisa é a valorização da língua materna Apyãwa, fortalecendo, especialmente, a oralidade. Percebendo que a invasão da língua portuguesa estava sendo acelerada na nossa comunidade, ocupando o espaço da língua materna, nos preocupamos em fortalecer o uso da nossa língua. Isso, então, nos levou a trabalhar de forma sustentável, ou seja, uma coisa depende da outra, tendo o conhecimento que precisamos sobre os objetos, mas nomeando-os em nossa língua Apyãwa. Para isso, nós envolvemos a comunidade para que juntos refletíssemos sobre a situação da nossa língua e, no final, pensamos em criar novas palavras em Apyãwa para os produtos que vêm entrando da cidade para a aldeia, ao invés de usar os nomes dos produtos na língua portuguesa. Estes foram os recursos que utilizamos na execução da nossa política linguística.

Entendemos que a cultura e tradição se fortalecem quando ela está sendo ativada e atualizada de acordo com o movimento da comunidade Apyãwa, que são realizadores de conhecimentos nas práticas, isso nós percebemos claramente. Mas, antes, pelo contrário, nós enxergávamos que algumas palavras tradicionais do nosso povo Apyãwa estavam em risco de desaparecer, sendo substituídas pelas outras palavras não indígenas, vindas do português. Vendo essa situação acontecer dentro da aldeia Apyãwa “Tapirapé”, os professores Apyãwa tiveram uma iniciativa de criar política linguística dentro da aldeia, onde nós tivemos a liberdade de articular a nossa situação na comunidade, voltada ao uso da nossa língua materna. E todo mundo junto, fizemos uma proposta para trabalhar o tema em coletivo, levando o assunto principal na discussão, que são os processos de formação de novas palavras, na discussão maior, no seminário junto com a comunidade. Por meio da execução de trabalho, nós estamos percebendo bem que a nossa política linguística está sendo bem aceita na nossa comunidade Apyãwa, porque eles estão levando em consideração a realização de seminário, onde nós percebemos que a nossa realidade pode estar mais segura. As informações colocadas, ou até mesmo adquiridas junto a pessoas mais experientes da comunidade Apyãwa vêm a contribuir com a nossa pesquisa, onde construímos uma visão representativa de toda a população.

O trabalho está sendo direcionado mais na motivação das gerações mais novas que precisam ter o domínio do uso das palavras Apyãwa, práticas e regras culturais que geralmente exigem o respeito do uso das palavras sagradas. Por isso os processos de criação de novas palavras também foram criados, para que por meio deles nós excluíssemos as palavras de língua portuguesa e usássemos ainda mais a língua materna. Então, por meio do Projeto, nós estamos atendendo especialmente a necessidade da nossa comunidade, que é muito importante socializar a preparação tradicional. Para que novas palavras ganhem o seu espaço na língua materna Apyãwa, é muito importante que os adolescentes, crianças e de outras fases, participem do seminário, para poder acompanhar a nomeação de objetos, ondes os atores das novas palavras Apyãwa colocam os seus pontos de vistas, explicando os nomes dos produtos pela aparência, ou pela sua semelhança. A partir daí que a comunidade começa a usar novas palavras, nomeando objeto pelo nome que é colocado nela.

As pessoas da comunidade no início acompanhavam a execução do trabalho sem perceber bem a importância da política linguística, mas no decorrer da realização de trabalho nas práticas, ou seja, nos seminários, nas discussões, os estudantes, os professores transmitiam claramente a importância da política linguística para a comunidade, explicando com detalhe o conceito do Projeto, como o tema se relaciona no contexto Interculturalidade, entendido também como sustentabilidade. Muita gente da comunidade Apyãwa só entendia o Projeto como uma fonte de estudo, mas através da Educação Intercultural nós fomos buscando mais informações profundas para entender melhor qual era a finalidade desse Projeto para nós, e depois repassar as informações atualizadas para a comunidade também.

2. Políticas linguísticas por meio dos processos de formação das novas palavras do povo Apyãwa

As pesquisas e os trabalhos, que são voltados ao conhecimento tradicional, são aplicados por meio de temas contextuais, ou seja, um conhecimento específico que faz parte da cultura Apyãwa e as práticas associadas a esse conhecimento é escolhido para ser trabalhado junto com a comunidade, como a Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), vem trabalhando com os seus acadêmicos indígenas, os estudantes realizando o trabalho por meio de Projeto Extraescolares na comunidade e trabalhando por meio de Estágio na escola, na sala de aula. Assim os temas contextuais são contextualizados de acordo com as práticas da comunidade, como também é feito a contextualização em escrita. Os acadêmicos promovem a realização das atividades culturais e quem são responsáveis de ensinar, são os sábios, que sabem dos conhecimentos tradicionais, de acordo com as práticas culturais da comunidade, como nós da turma 2011, os acadêmicos Apyãwa trabalhávamos da caçada tradicional do povo Apyãwa, no Projeto Extraescolar. A partir do tema definido, as atividades culturais são realizadas por meio de Projeto Extraescolar. Ressaltamos que essas experiências estão sendo de um grande aproveitamento para o povo Apyãwa, além de estar sendo superprodutivas para a atualização da cultura, tradição e de outros conhecimentos tradicionais. Esse trabalho com a língua materna Apyãwa, por meio da Politica Linguística foi trabalhado na Terra Indígena Urubu Branco, onde há 8 aldeias existentes, como: Tapi’itãwa, Tapiparanytãwa, Towajaatãwa, Wiriaotãwa I, Wiriaotãwa II, Inataotãwa, Myryxitãwa e Akara’ytãwa e que os eventos promovidos acontecia na aldeia central, Tapi’itãwa, e repercutiu positivamente em outras comunidades, de outras aldeias, por meio de relações baseadas na interculturalidade, no intercâmbio, que permitiu conhecer o valor e a importância do desenvolvimento das atividades realizadas nos seminários do povo Apyãwa. Hoje, o projeto se tornou realidade, é bem conhecido graças à discussão feita em seminários com a participação da comunidade.

Essa política linguística tem sido feita pelo grupo de estudo Apyãwa, ou seja, pelos acadêmicos e acadêmicas. A Educação Intercultural da UFG “Universidade Federal de Goiás” e da UNEMAT “Universidade do Estado de Mato Grosso” se tornaram parceiras que contribuíram e continuam contribuindo de acordo com o interesse da comunidade, criando uma oportunidade para se fazer uma política sustentável, na qual Universidade Federal de Goiás e a Universidade do Estado de Mato Grosso têm “outra cara”, ou seja, uma história nova diferenciada, pelo que sabemos. Essa rede de relação entre a comunidade Apyãwa e os cursos da Educação Intercultural, ofertados pela Universidade Federal de Goiás e Universidade do Estado de Mato Grosso, está facilitando muito o aprendizado dos estudantes ao acompanhá-los nos estudos, colocando-os no caminho certo de conhecer diversas formas de conhecimentos contextualizados, num âmbito transdisciplinar, referente aos saberes tradicionais do povo Apyãwa. Todos esses conhecimentos estão ligados à manutenção de língua materna do nosso povo, que nós usamos para nos comunicarmos entre nós na aldeia, ou em qualquer espaço onde estivermos, e também para nomear determinadas coisas, como carro “takwerereyãra”, bicicleta “yãkopy”, ônibus “amoewa’iyãra”. Para isso continuar acontecendo na comunidade, sempre tivemos de realizar as nossas atividades tradicionais, porque só assim os conhecimentos se movimentam no povo, se tornando ainda mais ativos, presentes no seu devido lugar e espaço. Assim, nós temos de manter respeito em nossos conhecimentos, cada um fazendo a sua contribuição em relação às práticas comunitárias na sociedade Apyãwa, para que continuemos praticando as nossas tradições, em reconhecimento de ser um povo originário do nosso país Brasil. É muito importante ressaltar que os conhecimentos estão acompanhando os movimentos dos seus realizadores, no caso aqui, é o povo Apyãwa que faz a produção de conhecimentos acontecer nas vivências cotidianas.

E se os conhecimentos ainda são usados nas comunidades Apyãwa, é porque houve a preocupação de se valorizar essas atividades milenares, para que nos dias atuais nós continuemos mantendo a movimentação de saberes no povo, dentro das nossas comunidades. É porque teve pessoas se especializando em determinado conhecimento tradicional, para que hoje essas pessoas sejam uma das colaboradoras de ensino em conhecimento na aldeia. Há conhecimentos que só podem ser praticados nas festas tradicionais, nos rituais, na Takãra (casa cerimonial, casa dos homens), de acordo com a nossa tradição, realizada no seu tempo e no seu espaço. Então, sabemos tanto dos muitos saberes que não são praticados de qualquer jeito, ou por qualquer pessoa, em qualquer lugar, como das outras atividades que acontecem no dia a dia. Todos os conhecimentos têm o seu modo de ser usado, o tempo que pratica; as práticas acontecem nos seus devidos espaços e somente pelas pessoas autorizadas, que são aquelas pessoas que dominam bem suas realizações. Todos os conhecimentos merecem ser respeitados, do modo que nós Apyãwa sabemos ser a realização de cada um, porque assim o seu uso é mais valorizado e fortalecido, mas sabemos que mesmo sendo realizados, alguns conhecimentos têm perdido as suas características, como na construção da casa, devido à falta de sua movimentação por seus realizadores. Alguns estão perdendo a sua função nas práticas e seus espaços de realização, devido à substituição por outros saberes ocupando o seu espaço, ou por falta de ter uma pessoa que saiba a prática de conhecimento, como na maioria das vezes acontecem com sociedades minoritárias que estão em contato assimétricos com outras sociedades.

Figure 3. Imagem 03 – Takãra/Tapi’itãwa (Foto: Waraxowo’i Maurício Tapirapé, 2015)

Pelo que sabemos, muitas das coisas nós aprendemos na Takãra, principalmente os homens, através dos ensinamentos dos sábios, nos tempos das festas tradicionais, nos rituais, ou de outras atividades culturais da comunidade Apyãwa. Já as mulheres começam a aprender as suas atividades femininas em casa como na confecção tecelagem “rede de dormir, tamakora, paapy e myxo’y”, com as mães, com as mais sábias da família. Mas também, ambas partes são responsáveis pelos ensinamentos dos filhos (as), tanto os pais de família, quanto as sábias e os sábios, que são os professores tradicionais da família. E tudo que se passa naquele momento de ensinamento, todas as atividades são feitas nas práticas, as explicações são feitas na oralidade, para que os aprendizes acompanhem observando tudo o que acontece, naquele exato momento de ensinamento. Nessas ocasiões, não se usa escrita para transcrever os conhecimentos, por isso é muito importante a participação ativa, para poder acompanhar e observar, bem, aquilo que é ensinado.

Considerando esta situação, está sendo feita a nossa política linguística dentro da nossa aldeia, na comunidade, para tratar dos assuntos linguísticos do povo Apyãwa, em especial, as mudanças que estão sendo notificadas no uso da língua materna, com algumas palavras totalmente substituídas em português, e outros saberes tradicionais que vão cedendo espaço para saberes da sociedade não indígena.

E para trabalhar isso na comunidade Apyãwa, o professor Ieremy’i (Xawapare’ymi Josimar Tapirapé), teve a iniciativa de trabalhar por meio de atividades escolares com os seus alunos/as na sala de aula. Por ele ter percebido as mudanças ocorridas na aldeia, deram o passo de iniciar o trabalho com a nomeação de alguns produtos de maira ‘não indígena’, para substituir as palavras maira por palavras da língua materna Apyãwa. Aos poucos, isso foi ganhando o seu espaço e as palavras criadas sendo reconhecidas e usadas por algumas pessoas da comunidade.

Na tabela abaixo seguem alguns exemplos das novas palavras que foram registradas a partir da discussão e que foram decididas coletivamente para serem usadas na comunidade Apyãwa.

Palavras novas criadas para objetos, instrumentos, móveis, transportes e alimentação etc.

Palavras em Apyãwa Palavras em Português Estrutura Morfológica
Xe’egãwa Microfone Xe’eg-ãwa = falar - nominalizador.raiz + sufixo
Xakopepayma Mochila Xako-pepa-yma = saco-asa-alça.raiz + raiz + raiz
Anoxa’i Mouse Anoxa-’i = rato-diminutivo raiz + sufixo
Ywyrapeapiãwa Notebook Ywyrape-api-ãwa = papel-bater- nominalizador.raiz + raiz + sufixo
Itaxoweã Óculos Itaxow-eã = vidro-olho.raiz + raiz
Awyramyxãwa Quarto Awyra-myxãw-a = casa-divisa- nominalizador.raiz + raiz + sufixo
Tataeny Lâmpada Tata-eny = fogo-luz raiz + raiz
Xeakymamykãwa Creme Xe-aky-mamyk-ãwa =1ª pessoa singular-testa-passar- nominalizador.Prefixo + raiz + raiz + sufixo
Porakerynoo Energia Porake-ryn-oo = peixe elétrico- parece-aumentativo.raiz + raiz + sufixo
Tapawã Fio Tapawã = fio Raiz
Yhaj’i Cerveja y-haj-i = água-azeda-diminutivo .raiz + raiz + sufixo
Koroxo Bolo Koroxo = bolo Raiz
Yroperynoo Antena Parabólica Yrope-ryn-oo = peneira-parece- Aumentativo.raiz + raiz + sufixo
Arapatoxiga Açúcar Arapato-xig-a = rapadura-branca- nominalizador.raiz + raiz + sufixo
Table 1.

No início, o trabalho não foi fácil, porque muitas pessoas ainda não entendiam bem o porquê, e para que serviriam essas palavras criadas, mas com o tempo, esse modo de trabalho foi se fortalecendo pela ação dos professores, e mais pessoas foram entrando nessa corrente de trabalho, até chegar na realização de oficinas e seminários de política linguística, onde ganhou mais a sua potencialidade, tendo mais colaboradores dispostos a discutir a questão linguística e sócio cultural da comunidade. E com a realização deste trabalho, o professor Ieremy’i foi premiado, pela Fundação Victor Civita, como Educador Nota 10, por estar mostrando o potencial do seu trabalho, não só para o seu povo, mas para outras sociedades. Dessa forma, essas mudanças culturais acontecem e o trabalho dos professores Apyãwa continua sendo feito pelas políticas linguísticas, onde todos participam discutindo os assuntos mais importantes da comunidade.

Figure 4. Imagem04 – Seminário de Política linguística “Tapi’itãwa” (Foto: Waraxowo’i Maurício Tapirapé) - 2015

As mudanças vêm adentrando aos poucos nos conhecimentos, ou seja, na comunidade Apyãwa, devido também à ocorrência de casamentos interétnicos, casal formado com Apyãwa, Iny (Karajá), Bakairi, Kayabi, Avá Canoeiro, e também com os Maira (não indígena). Esse é um fator que levou alguns conhecimentos a se modificarem na sua realidade, dos devidos usos, principalmente no uso da língua materna, com a mistura linguística que já vem ocorrendo há muito tempo.

Quando os casais são formados assim, entre povos diferentes, praticamente os filhos vão aprender as línguas faladas pelos pais, além do português, que serão usadas pelos casais no dia a dia para se comunicarem na presença da criança. A criança aprende a língua dos pais no convívio deles entre a família, através do uso da língua materna para se comunicar com os filhos, e o português é aprendido ouvindo os pais falando. Todos os casais que são formados com a outra etnia, que são Tapirapé com outro povo, dominam e entendem muito bem as línguas maternas faladas na oralidade, mas isso acontece, desde que os pais ensinem os seus filhos no uso das suas línguas maternas também. Para todos os que moram na Terra Indígena Urubu Branco, a língua materna dominante é a do povo Apyãwa, falada frequentemente pela população, independente de outras línguas faladas. E os casais que são formados com os maira (não indígena), tem essas situações que ocorrem nos dias atuais na comunidade, sendo que a maioria dos pais só ensina os seus filhos a falarem o português, como se fosse a única língua falada, e como se o pai, ou mãe, não soubesse falar na língua materna para ensiná-la aos seus filhos. Todos esses processos de aprendizagem passam pela responsabilidade dos pais, de não poder ensinar aos seus filhos nos conhecimentos do seu povo, e apenas ensinam em um conhecimento. Então, muitas das vezes, o responsável de mudar as estruturas das línguas, até mesmo do conhecimento de outras atividades comunitárias, começa a partir do encontro de um conhecimento a mais dentro da comunidade, e desde que um só vai aceitando não manter o seu conhecimento se submetendo às substituições de saberes do seu povo.

Quando os conhecimentos dos casais se movimentam de forma equilibrada na família, ou seja, o conhecimento do pai sendo ensinado para os filhos da mesma forma que o conhecimento da mãe, já é uma outra história, pois a partir do que as crianças aprendem através dos ensinamentos dos pais, dois conhecimentos diferentes sendo administrados a elas, ou até mesmo mais de um, até porque ter o português é uma grande responsabilidade para saber conduzir, saber usar no seu momento, para não submeter na mudança de estrutura do outro saber. O léxico da língua é o que mais sofre nessa questão, por ela ser substituída por outras palavras que não sejam da própria língua materna, muitas vezes. E assim os próprios falantes acabam colaborando com a extinção da sua língua materna, por não saberem valorizar a sua própria identidade, da forma como deveria ser respeitado o seu uso na comunidade.

Por mais falantes da língua materna que tenha na comunidade, se não souber administrar o uso, ou então, não souber valorizar os conhecimentos que temos na nossa cultura Apyãwa e não movimentá-los na comunidade, praticamente, o conhecimento corre grande risco de desaparecimento. E sabemos muito bem que ao longo do tempo os conhecimentos estão em constante mudança, nas estruturas fonológicas, e outros apontamentos que linguisticamente são apresentados, de acordo com estudos linguísticos pelos próprios falantes, pelos professores Apyãwa.

E por meio do desenvolvimento sustentável da nossa política linguística dentro da aldeia, junto com a comunidade, nós, como o povo Apyãwa/Tapirapé, sempre buscamos um meio de lutar pela qualidade da educação. Essa iniciativa com relação aos neologismos desenvolvida através dos métodos que utilizamos nas oficinas e nos seminários têm seu começo ligado à formação do grupo de trabalho que foi projetado a partir dos trabalhos acadêmicos dos professores Apyãwa. Esse grupo de trabalho foi pensado para discutir as criações de novas palavras entre os professores, socializar a criação de novas palavras com a comunidade; ensinar os conhecimentos na sala de aula, avaliar a situação de uso da língua em relação aos processos de formação de novas palavras, observar; pesquisar, incentivar o uso das novas palavras; contribuir e compartilhar a responsabilidade de trabalhar o uso da nossa língua materna na escola e na comunidade.

Como resultados, esperamos envolver todo o povo Apyãwa nas atividades, defendendo a vida da nossa língua, pois essa política linguística foi aceita pela comunidade Apyãwa com muito entusiasmo na oralidade e na escrita para fortalecer o uso da nossa língua materna, evitando a entrada da língua portuguesa na comunidade.

Todos os assuntos abordados pelas discussões nas oficinas e nos seminários, foram feitas para valorizar o uso dos conhecimentos Apyãwa na comunidade, para que essas práticas continuem sendo movimentadas pelas pessoas na aldeia. Por isso, a importância de realização dos seminários sempre vem ganhando a sua potencialidade, no intuito de fortalecimento cultural Apyãwa. O evento realizado na aldeia sempre tratou da realidade da nossa comunidade Apyãwa: os rituais, festas, danças, língua materna, músicas, como todas as atividades comunitárias. E sempre é fundamental discutir sobre as nossas realidades, para podemos continuar usando os nossos saberes, de acordo com a prática.

3. Considerações finais

Entendendo melhor o conceito da política linguística, nós fomos informando a nossa comunidade a respeito deste Projeto que depende de ação da comunidade. Por meio disso, a nossa política linguística veio ganhando a sua força e conquistando o seu potencial, a confiança do próprio Apyãwa, até torna-se realidade. Consideramos que o nosso trabalho no contexto Interculturalidade é dialogar com a comunidade diferentes temas no sentido de promover o fortalecimento e de repassar os conhecimentos de forma contextualizada aos demais, sendo assim trocamos os conhecimentos sem uma pessoa interferir na decisão da outra, muito pelo contrário, cada pessoa tendo o maior respeito pelas experiências das outras, para o fortalecimento da nossa cultura e da nossa tradição em geração.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

O autor não tem conflitos de interesse a declarar.

Declaração de Disponibilidade de Dados

O compartilhamento de dados não é aplicável a este artigo, pois nenhum dado novo foi criado ou analisado neste estudo.

Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N1.ID699.R

Decisão Editorial

EDITOR 1: Ana Vilacy Moreira Galucio

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0168-1904

FILIAÇÃO: Museu Paraense Emílio Goeldi, Pará, Brasil.

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EDITOR 2: Ângela Fabíola Alves Chagas

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4925-1711

FILIAÇÃO: Universidade Federal do Pará, Pará, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: Este trabalho é um relato de experiência feito por um pesquisador Apyãwa (Tapirapé), sobre a situação multilíngue vivenciada pelos Apyãwa (Tapirapé) especificamente com relação à entrada de empréstimos da língua portuguesa na sociedade Apyãwa (Tapirapé). O autor relata a experiencia e os resultados alcançados com o desenvolvimento de uma iniciativa centrada em atividades de pesquisa, ensino escolar e discussão comunitária sobre a percepção de seu povo em relação ao uso de palavras emprestadas do português do Brasil pela comunidade Apyãwa (Tapirapé) e como essa situação estaria ou poderia afetar a aprendizagem e uso da língua Apyãwa. O trabalho relata as políticas e práticas que o povo Apyãwa/Tapirapé adotou para resolver essa questão, de modo que possam falar sobre tecnologias recentes e/ou itens culturais novos, sem precisar usar palavras emprestadas do português. Essa política envolve a criação de neologismos na língua Apyãwa para se referir a itens culturais novos que têm sido adotados pela sociedade Apyãwa (Tapirapé) e atividades no ambiente escolar e outros ambientes comunitários par reforçar o uso dos neologimos, em vez de usar empréstimos do português. Mesmo que os resultados descritos sejam ainda parciais e não seja possível ainda avaliar os impactos dessas políticas a longo prazo, o trabalho tem grande relevância social e científica especificamente para o povo Apyãwa e para outros povos indígenas do Brasil e do mundo que enfrentam problemas semelhantes e é também um artigo de interesse para todas as pessoas que trabalham com línguas indígenas ou minoritárias, especialmente para aqueles interessados nos processos de criação de neologismos, e questões relacionadas ao multilinguismo e ao contato linguístico.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Thiago Costa Chacon

FILIAÇÃO: Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.

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AVALIADOR 2: Thomas Daniel Finbow

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4803-6603

FILIAÇÃO: Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2023-09-25 | 12:33 PM

O manuscrito intitulado “POLÍTICAS LINGUÍSTICAS POR MEIO DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DAS NOVAS PALAVRAS DO POVO APYÃWA”, submetido para o Caderno de Linguística como um artigo do gênero Relato de Experiência, e escrito pelo professor Waraxowo’i Mauricio Tapirapé (Mestre em Ensino em Contexto Indígena Intercultural pela Universidade do Estado de Mato Grosso). O artigo faz parte de um volume especial, relacionado ao evento Viva Língua Viva, em sua segunda edição, organizado pela Abralin, Universidade Federal do Pará e Museu Goeldi entre 22/11/2022 a 25/11/2022 em Belém (PA).A experiência relatada tem como foco as atividades de pesquisa, ensino escolar e discussão comunitária sobre neologismos referentes a itens culturais novos que têm sido adotados pela sociedade Apyãwa (Tapirapé). O problema central que o artigo lida tem a ver com o uso julgado excessivo de palavras de origem na língua portuguesa para nomear esses novos itens culturais. O Relato de Experiência descreve essa problemática e as ações de política linguística intercultural e comunitária organizadas pelo autor e outros Apyãwa para lidar com esse problema. A solução encontrada foi a criação de neologismos usando morfemas e semântica Apyãwa, antes de realizar empréstimos diretos do português.O texto possui “resumos” em três línguas: português, inglês e Apyãwa; e está organizado em 4 seções: “Introdução”, “1. Políticas linguísticas por meio dos processos de formação das novas palavras do povo Apyãwa”, “2. Objetivos e metodologias aplicadas na experiência”, “3. Considerações finais”.- Os resumos e a introdução apresentam de modo muito coerente o conteúdo do texto. - As considerações finais trazem um breve comentário sobre a relevância da política linguística para o povoa Apyãwa. Acredito que essa seção poderia delinear os passos futuros dessa experiência em andamento.-A seção “1. Políticas linguísticas...” apresenta o contexto e os agentes da política linguística Apyãwa, reforçando uma perspectiva intercultural. Acredito que essa seção poderia ser melhorada, tornando-a mais rica e mais ancorada na realidade, se o autor explicasse seu próprio lugar e trajetória nesse contexto intercultural de política linguística. - A seção “2. Objetivos e metodologias...” descreve em linhas gerais a experiência. Acredito que as informações dessa seção são muito importantes, mas faltam informações e dados mais específicos, trazendo um relato de experiência mais concreto. Nesse sentido, senti falta de exemplos concretos de palavras emprestadas diretamente do português que caracterizariam o problema de modo mais claro, quais são os neologismos com base em elementos da língua Apyãwa que estão sendo criados, o que representaria os resultados ainda que parciais da experiência; e uma breve descrição etnográfica de como têm sido as dinâmicas e conversas entre os Apyãwa durante os seminários em que se discutiam empréstimos e neologismos. O artigo se beneficiaria bastante de uma revisão textual para além das que indiquei no texto e que envio como sugestões para o autor.O relato apresentado tem grande relevância social e científica, ainda que apresente resultados parciais, tanto para os Apyãwa quanto para outros povos indígenas do Brasil e do mundo que enfrentam problemas semelhantes. Recomendo a publicação pelo Caderno de Linguística tão logo revisões sejam tomadas.

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AVALIADOR 2

2023-08-29 | 04:12 PM

O autor relata o desenvolvimento de políticas linguísticas desenhadas pela comunidade indígena para combater o uso crescente de empréstimos lexicais da língua portuguesa por falantes de apyãwa.O principal ponto forte desse trabalho é o fato de ele ser um relato escrito por um membro da comunidade apyãwa que participou diretamente no processo. O maior problema com o tratamento é a falta de detalhes, que limita a utilidade prática do texto para que outros grupos possam aprender com a experiência dos apyãwa.O autor alcança o objetivo de explicar as preocupações da comunidade no que diz respeito do uso crescente de empréstimos e as medidas adotadas para combater essa prática que foi considerada nociva e potencialmente ameaçadora.

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RODADA 2

AVALIADOR 1

2023-10-30 | 10:42 PM

Reitero minhas impressões positivas da versão anterior, e informo que o autor sanou os principais problemas que apontei. O texto ainda pode ser revisado e sugeri algumas mudanças para estrutura melhor as informações e redação, conforme o arquivo em anexo.

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AVALIADOR 2

2023-11-10 | 06:12 PM

One part of the paper that is particularly interesting and valuable are the insights that the author offers on the way indigenous multilingualism with and without Portuguese is conceived and how it functions amongst the Apyãwa in their daily life, as well as how decisions about matters relating to language are handled in the community. These topics will make this paper be of interest to academic anthropologists and linguists, translators, and to other indigenous peoples in Brazil and beyond seeking inspiration for ways to deal with aspects of multilingualism in their community that may potentially be causing them concern.

Resposta dos Autores

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N1.ID699.A

RODADA 1

2024-02-19

Agradeço à leitura atenta feito pelos pareceristas e informo que todos os comentários e sugestões de revisões ou complementações de informações feitas pelos pareceristas foram atendidas. De modo específico, comento aqui sobre os maiores comentários e sugestões:

- será o caso de a comunidade querer evitar o português totalmente u somente em certos contextos em que o português coloca a língua Apyãwa em ameaça?

Resposta: foi incluída informação no texto explicando melhor que se trata do uso de palavras do português misturadas a fala Apyãwa.

- Fale um pouco mais a respeito desse tema ou temas.

R: Incluida informaçao no texto

- Qual tema?

R: Incluida informação no texto

- Dizer em qual aldeia essa prática ou política foi desenvolvida inicialmente.

R: Respondido no texto

- Dizer que tipo de coisas são nomeadas dessa maneira.

R: Respondido no texto

- Pode dar alguma exemplificação desses saberes e práticas, para ilustrar?

R: Incluída informação no texto

- Por dar algum exemplo?

R: Incluída informação no texto

-Por que estas palavras são separadas das palavras que estão nas duas tabelas acima, que acompanham as fotos?

R: Resolvido esse problema. As tabelas foram movidas para se adequar melhor ao texto

- Pode ser interessante dos leitores saberem quando foi que a iniciativa começou e quais etapas teve antes de chegar a decidir usar os seminários e nas oficinas.

R: Informação incluída no texto

- Creio que poderia ajudar a organizar a estrutura deste artigo se os objetivos e a metodologia foram separadas em duas seções distintas que estão colocadas antes do relato da pesquisa, para que os leitores possam saber como o trabalho foi pensado e planejado, antes de ler o que aconteceu e foi feito.

R: Sugestão atendida parcialmente. A seção objetivos e metodologias foi apresentada no inicio (seção 1), mas não achamos necessário separar em duas seções.

How to Cite

TAPIRAPÉ, W. M. Language Policies through Formation Processes of New Words of the Apyãwa People. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 1, p. e699, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n1.id699. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/699. Acesso em: 2 may. 2024.

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