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Theoretical Essay

From Theology to Philosophy: Latin as a Tool of La Raison in the Work of Du Marsais

Melyssa Cardozo Silva dos Santos

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https://orcid.org/0000-0003-0279-1611

Leonardo Ferreira Kaltner

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https://orcid.org/0000-0003-3690-3132


Keywords

History of linguistic ideas
Du Marsais
Latin

Abstract

The present work, which is a segment of an ongoing doctoral research, consists of a brief analysis of the work titled Exposition d’une méthode raisonnée pour apprendre la langue latine (Exposition of a reasoned method for learning the Latin language) (1722), authored by the French grammarian and philosopher César Chesneau Du Marsais (1676-1756). Du Marsais, who authored works such as Méthode raisonnée (1722), Traité des Tropes (1730), Principes de Grammaire (1769), among others, was also a contributor to the Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers (D’ALEMBERT; DIDEROT, 1751-1772), responsible for the grammar articles within the publication. As a result, the philosopher became a highly regarded grammarian in France, also influencing the linguistic thought of grammarians in other countries. One of Du Marsais' major works, which constitutes the focus of the doctoral research, "méthode raisonnée," is a method for learning the Latin language within a secular context, thereby breaking away from Jesuit educational standards. The circulation of this method had positive repercussions due to its organization, structure, methodology, and its 'innovative' characteristic. However, it also faced negative repercussions due to its secular approach to education.

Resumo para não especialistas

A língua latina, ou o latim, era uma língua falada na época do Império romano, a maior civilização ocidental da Antiguidade. Com o fim do Império romano, o latim deixou de ser falado com o passar das gerações nas comunidades linguísticas da Idade Média ocidental. Porém, a língua latina se tornou um instrumento importante para a teologia da época e houve uma continuidade em seu estudo. No século XVIII, no contexto da Idade Moderna ocidental, quando surgiu o Iluminismo, a teologia deixou de ser uma disciplina tão importante no mundo ocidental, e como consequência disso, o latim não era mais tão central na educação. O latim ainda continuaria a ser estudado, mas vinculado à filosofia racionalista, o modelo de pensamento da época. A filosofia racionalista e o latim passariam a influenciar novas áreas de saber, como o Direito moderno, por exemplo. No artigo, debatemos como o latim se tornou uma disciplina instrumental da Filosofia moderna, e como seu estudo foi contínuo nessa tradição que influencia os currículos de Letras e Linguística até os dias de hoje.

Introdução: o latim como disciplina instrumental da Filosofia moderna

César Chesnau Du Marsais (1676-1756) foi um importante filósofo, linguista e gramático do contexto da França do século XVIII, um iluminista em seu “clima de opinião” (Koerner, 2014), tendo sido o responsável por trazer o debate sobre a gramática para a Filosofia moderna, desvinculando-a da Teologia, no contexto ocidental. As suas reflexões permitiram que houvesse a continuidade de reflexões gramaticais em um contexto já secular na França, o que impactou o mundo ocidental como um todo posteriormente com um novo modelo de gramática vernácula que sucedeu a gramática humanística de base latina, a gramática racionalista (Cavaliere, 2022).

Du Marsais ficou reconhecido na posteridade por suas contribuições no campo da linguística e da filosofia da linguagem, tendo o valor histórico de suas obras sido reconhecido nas investigações de diversos pesquisadores internacionais do campo de História das Ideias Linguísticas e de Historiografia Linguística, como Colombat (1999), por exemplo. Como um filósofo iluminista, Du Marsais era um defensor influente da linguagem clara e precisa, isto é, de uma linguagem que expressasse o pensamento racional e as abstrações metafísicas.

Sua obra de 1769, a Logique et principes de grammaire (Lógica e princípios da gramática) (Du Marsais, 1769) pode ser considerada uma das principais sistematizações da gramática racionalista que perdurou como “paradigma” (Swiggers, 2019; Batista, 2019) do pensamento linguístico entre os séculos XVIII e XIX, tendo aproximado a língua dos estudos de lógica no contexto da Idade Moderna (Colombat, 1999). Esse debate vinculava-se ao conceito filosófico de método, que teve origem no pensamento racionalista cartesiano, tendo sido a gramática racionalista considerada um método de desenvolvimento do uso da razão, até o século XIX, quando o método histórico-comparativo a sucedeu.

Como enciclopedista, Du Marsais influiu na concepção e definição de muitos conceitos gramaticais em língua francesa, o que formou, de certo modo, o repertório conceitual da gramática ocidental no século XVIII. A perspectiva de Du Marsais sobre a natureza da linguagem, que vinculava a linguagem ao uso da razão, tornou a linguagem um objeto de estudos da Filosofia moderna, na relação entre pensamento e linguagem, além de buscar pela lógica compreender as funções dos elementos linguísticos para a compreensão do pensamento racional. Houve no contexto iluminista uma busca pela aproximação dos estudos de linguagem com os estudos matemáticos, pelo viés da lógica cartesiana, e Du Marsais foi o iluminista que se debruçou sob essa temática.

Pelo fato de ter se dedicado à temática de uma Filosofia da Linguagem racionalista, Du Marsais não teve o mesmo reconhecimento que outros filósofos iluministas, que trataram de temas como a política, por exemplo. Todavia, desempenhou um papel significativo na história das ideias linguísticas por demonstrar como a reflexão filosófica, intermediada pela gramática racionalista, poderia promover uma renovação da tradição gramatical, antes vinculada apenas ao modelo latino, conforme o modelo gramatical humanístico.

1. A Filosofia racionalista e a secularização do ensino de latim

A obra de Du Marsais Exposition d’une méthode raisonnée pour apprendre la langue latine (Exposição de um método racional para aprender a língua latina) (1722) apresenta um método para o ensino de latim já pautado em alguns ideais da Filosofia racionalista que caracterizou o Iluminismo francês. Para compreendermos o que significa uma secularização do ensino de latim no século XVIII, devemos antes refletir sobre o papel do ensino de latim, e da gramática latina, no contexto do Ocidente, após a queda de Roma, o que tem início na Idade Média europeia.

O linguista Eustaquio Sánchez Salor comentou essa obra de Du Marsais, escrita como uma reação ao método de ensino de latim dos jesuítas, pela Ratio Studiorum:

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En 1722 [Du Marsais] publicó una Méthode latine, donde propone la enseñanza del latín y de cualquier lengua extranjera siguiendo los principios desde los que los ilustrados explican la generación del lenguaje. Ese nuevo método, que rompía con los métodos jesuitas que venían imperando en Europa desde hacía casi dos siglos, provocó críticas y rechazo por parte sobre todo de los colegios públicos y también de los jesuitas. Ello generó una polémica entre el propio Du Marsais y sus seguidores, por una parte, y los contarios al nuevo método, por otra (Sánchez Salor, 2019, p. 196).

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O latim era aprendido como uma língua natural até a queda do Império romano, no século V d.C., quando se torna uma língua instrumental da teologia cristã no mundo ocidental. Sua transmissão nos séculos subsequentes estava vinculada aos estudos teológicos e o latim aos poucos se constituiu como uma língua instrumental da prática teológica. A gramática latina era a primeira disciplina do trivium agostiniano e a língua latina se tornou um instrumento especulativo com o desenvolvimento do tomismo, até fins da Idade Média (Auroux, 1992).

Um modelo de gramática latina emergiu desse contexto intelectual, a gramática especulativa ou gramática dos modistas, que tinha como intuito descrever os modos de significar, com um embasamento pela lógica aristotélica e pela teologia especulativa tomista. Esse sistema de pensamento foi hegemônico no contexto ocidental europeu até o Renascimento, e uma de suas características era o estudo da língua latina como instrumento da Teologia, como disciplina superior.

No Renascimento, os humanistas romperam com o modelo gramatical dos modistas e mesmo com o estudo da língua latina como instrumento da teologia tomista. As gramáticas humanísticas ainda que tivessem como modelo a gramática latina antiga tinham por finalidade tornar o estudo de gramática um instrumento das chamadas “humanidades”, que na época consistiam sobretudo no estudo da obra de Cícero e dos poetas latinos, como Virgílio, Horácio e Ovídio.

O sistema de ensino jesuítico se desenvolveu nessa época, tendo buscado um equilíbrio entre o ensino de humanidades e a teologia, enquanto disciplina superior. No sistema de ensino da Ratio Studiorum, a gramática latina de Manuel Álvares era o primeiro elemento a ser estudado, enquanto a teologia especulativa era apenas estudada ao final de anos de educação humanística. O latim ainda era uma disciplina instrumental da teologia, considerado um estudo superior desse sistema de ensino na Ratio Studiorum, o que ainda o vinculava tanto à Teologia quanto à Filosofia. Assim, a gramática latina era considerada em certa medida uma disciplina já autônoma, ou a Ciência Básica da época renascentista.

Pode-se notar também que muitas das ideias debatidas por Du Marsais sobre a posição da língua latina em relação às línguas naturais foram antecipadas por outros gramáticos europeus, ainda no século XVII, de que podemos destacar as obras o Methodo grammatical para todas as lingvas (1619) e a Porta de linguas ou modo muito acommodado para as entender (1623), do humanista português Amaro de Roboredo (~1580‒165?). Estas por sua vez foram influentes na obra Ianua linguarum reserata (1631), de Jan Amós Comenius (1592‒1670), citada por Du Marsais (Leite, Siqueira, 2021). Dessa forma, podemos perceber que as inovações de Du Marsais são desenvolvidas após um período em que o método de ensino da Ratio Studiorum já estava em discussão e outras tendências de pensamento antes desenvolvidas de forma incipiente passaram a ganhar maior notoriedade.

Por outro lado, Du Marsais pressupunha o ensino de latim como um exercício filosófico, sem a prática religiosa, o que também diferenciou seu método dos anteriores:

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Para aprender latín, Du Marsais propone un método que se basa en sus principios sobre la formación de los juicios humanos y la generación del lenguaje y del conocimiento. Esos principios son los siguientes: los objetos entran en nuestra mente a través de los sentidos; tras ello, se crean ideas en la mente que son la representación de los objetos; la propia mente puede generar ideas por sí misma; con dos ideas, comparadas entre sí, se puede formar un juicio; el juicio consta siempre y necesariamente de dos elementos: la cosa y lo que se dice de la cosa (Sánchez Salor, 2019, p. 197).

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A Filosofia racionalista tinha por escopo o desenvolvimento do uso da razão, isto é, do pensamento abstrato, o que levava ao conhecimento científico, que poderia ser apreendido pela experiência de mundo, o empirismo, ou pelo exercício do pensamento na busca da verdade, o racionalismo. De qualquer forma, a Filosofia racionalista buscava uma independência da Teologia na formulação de teorias e conceitos para a compreensão do mundo natural e das sociedades humanas (Colombat; Fournier; Peuch, 2017).

A ênfase na razão consistia no fato que ela era considerada uma ferramenta fundamental para a compreensão do mundo, inclusive no questionamento de crenças tradicionais confrontadas com a lógica e o pensamento crítico. Os iluministas passaram a ser céticos quanto às autoridades tradicionais, como as instituições religiosas e monárquicas, confrontando sua visão de mundo embasada na liberdade individual, na garantia de direitos universais ao ser humano e na separação entre as instituições do Estado e a religião, e entre o público e o privado.

Os filósofos iluministas tinham a crença de que o progresso da sociedade, e mesmo da humanidade, era dependente do progresso do conhecimento, o que era vinculado à educação e à ciência pautados por uma lógica racional. Nessa perspectiva, a percepção de instituições pública e independentes das religiões e mesmo da monarquia faziam com que a Teologia perdesse a sua centralidade, como ocorrera na Idade Média e no Renascimento. Sem a centralidade da Teologia ocidental, a língua latina também perde a sua centralidade no pensamento linguístico (Auroux, 1992).

Se a gramática latina humanística e o ensino de latim ainda estavam tão vinculados ao Ancien Régime, uma pergunta que se abre é como houve a continuidade do ensino de latim para os filósofos iluministas, que adotavam o racionalismo como método. Du Marsais propõe em sua Exposition o emprego da língua latina como instrumento da Filosofia, tanto para a compreensão do mundo natural quanto das sociedades humanas (Du Marsais, 1722). Pelo fato de a língua latina ter sido apenas um instrumento da especulação teológica, na Idade Média e no Renascimento europeus, para os iluministas o latim também poderia ser um instrumento de especulação filosófica, contanto que o conteúdo teológico fosse retirado de seu ensino, isto é, fosse secularizado.

2. Culturas da Antiguidade Clássicas e os ideais do Iluminismo francês

De um modo geral, os filósofos iluministas apresentavam grande interesse pelas civilizações da Grécia e da Roma antigas, tanto por sua história e cultura, quanto por sua filosofia e literatura. As civilizações ocidentais da Antiguidade clássica serviram de modelo para um pensamento neoclássico no contexto francês o que também influiu em questões políticas e sociais, como os debates e reflexões sobre sistemas políticos, por exemplo.

A Antiguidade Clássica passou a ser percebida como um período de grande desenvolvimento intelectual, filosófico e cultural em oposição à Idade Média, descrita, de modo geral, como a Idade das Trevas. Em relação à cultura grega da Antiguidade, os iluministas destacavam a racionalidade, a liberdade de pensamento e os padrões estéticos e artísticos desse modelo cultural, que inspiravam e fundamentavam os ideais iluministas. Essa era uma visão também instrumentalizada do passado clássico, que se constituiu no que Swiggers conceituou como uma “retomada” (Swiggers, 2019), o que ocorreu em perspectivas culturais e filosóficas no trato com a linguagem. O racionalismo grego teve nítida influência no racionalismo francês, de acordo com a interpretação iluminista (Colomabt; Fournier; Peuch, 2017).

Politicamente, a República Romana e suas instituições administrativas foram tema de intensas discussões nos séculos que se seguiram à Revolução Francesa em 1789, com a recepção de autores como Cícero, por exemplo, assim como reflexões e estudos sobre a democracia ateniense. A questão do sistema de governo republicano, da administração pública, a separação dos poderes e da cidadania teve uma influência das sociedades da Antiguidade Clássica, o que fomentou entre os iluministas os estudos dessas civilizações e de suas línguas, para a tradução dos textos e a sua interpretação (Auroux, 1992).

O estudo da história das civilizações da antiga Grécia e Roma, de suas línguas, e a tradução dos textos antigos tornou-se uma prática linguística comum para formar as analogias e referências necessárias no pensamento dos iluministas, que criticavam o absolutismo monárquico e defendiam a liberdade individual, vinculada a noções de progresso social.

Muitos escritos iluministas faziam referências explícitas à Roma Antiga, destacando a importância da educação, da história e da cultura clássica como base para o desenvolvimento de uma sociedade mais esclarecida e livre. Autores como Montesquieu, Voltaire e Rousseau frequentemente citavam exemplos e figuras históricas de Roma e da Grécia para ilustrar seus argumentos sobre política, direitos humanos, democracia e justiça social. Para os iluministas a educação pública seria o principal meio para o progresso social e o desenvolvimento da razão individual. No século XVIII, o ensino de latim e de grego estava instrumentalizado por esse sistema de pensamento filosófico, que se opunha à visão centrada na teologia, que o antecedeu.

Os filósofos iluministas eram conhecedores de teologia e tinham uma postura crítica quanto à relação entre o Estado e a Igreja, o que se refletiu na secularização do ensino:

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Para Descartes, a educação contentava-se até então com a repetição de ensinamentos, principalmente àqueles pregados durante a toda a Idade Média. Em seu pensamento, a ciência e a filosofia estavam esclerosadas e estabeleciam à época como ponto de partida a filosofia escolástica de cunho tomista-aristotélico onde as coisas estavam ligadas à tentativa de conciliar o aristotelismo com o cristianismo, uma verdadeira adequação aos textos bíblicos, gerando uma filosofia do Ser, inspirada na fé com a teologia científica. O pensamento até então, era visto como platônico agostiniano em nome do racionalismo aristotélico (Fernandes, 2015, p. 411).

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A Filosofia Racionalista Francesa do século XVIII teve um papel crucial na promoção de ideias que mais tarde influenciaram eventos históricos, como a Revolução Francesa, ao desafiar as estruturas tradicionais de poder e defender valores como liberdade, igualdade e fraternidade. De certo modo, a tríade de valores iluministas da Revolução Francesa foi derivada da observação das culturas da Antiguidade Clássica.

3. A Exposition d’une méthode raisonnée pour apprendre la langue latine (1722)

A Exposition d’une méthode raisonnée pour apprendre la langue latine (Exposição de um método racional para aprender a língua latina) (Du Marsais, 1722) é um texto que versa sobre um método para o ensino-aprendizado de língua latina, escrito pelo iluminista Du Marsais e publicado em 1722, muitas décadas antes da Revolução Francesa. O método buscava uma ruptura com modelos de ensino de latim anteriores, que eram pautados pelo estudo da gramática latina como instrumento principal de aprendizado.

O método que se propunha como “raisonnée” (racional) era uma abordagem sistemática que iniciava o ensino de latim sem emprego de uma gramática latina. O método era organizado por princípios lógicos, ou racionais, e partia de um exercício do pensamento dividido em etapas de aprendizado da língua latina. Sua maior inovação foi em criar uma prática de ensino de latim sistematizada que antecedia a leitura da gramática latina propriamente dita.

Esse método foi rotulado pelo filósofo iluminista como “la routine”, a rotina, e consistia em uma série de atividades para o aprendizado de latim que substituíam a imersão na doutrina cristã que era promovida pelo ensino de latim antes instrumentalizado pela Teologia. A prática da língua latina, a rotina, era uma atividade reflexiva de natureza filosófica, de cunho empirista, que poderia ser empregada sobretudo com crianças, como demonstra na exposição do método.

A rotina nada mais era do que um plano de estudos secularizado para o aprendizado da língua latina, não era, portanto, um método escolar, desenvolvido para uma classe de estudantes, antes era um método individual, que poderia ser aplicado pelo preceptor com alunos individuais, que foi o modo pelo qual Du Marsais o desenvolveu. A rotina consistia em quatro etapas para o aprendizado do latim:

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EXPOSITION D’UNE MÉTHODE RAISONNÉE POUR APPRENDRE LA LANGUE LATINE.

Première Partie. De la routine.

§ I. De la signification des mots.

§ II. De l’inversion.

§ III. Des ellipses.

§ IV. Des façons de parler, ou des latinismes[1] (Du Marsais, 1722).

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A rotina se caracterizava por tomar o francês, ou qualquer outra língua natural e vernácula, como a língua central do aprendizado, enquanto o latim seria uma língua instrumental para ser empregada em analogia com a língua natural. Essa era uma mudança de pensamento linguístico que havia entre Du Marsais e os gramáticos humanistas da Renascença, por exemplo. Para os humanistas o latim ocupava a centralidade do pensamento linguístico, sendo a gramática latina considerada o centro do estudo e as linguae vulgares deveriam ser adaptadas à gramática latina (Sánchez Salor, 2019).

O autor inverte essa centralidade, já não é mais a língua francesa considerada uma língua que degenerou do latim e deveria se aproximar do latim como propunham os humanistas, mas antes o latim era considerado uma língua invertida, com elipses e modos de falar distantes do francês. O vernáculo ganhava centralidade, e a partir da própria língua francesa o latim deveria ser estudado, por analogia. O latim tornava-se assim um instrumento para se conhecer melhor a língua vernacular.

A primeira etapa sobre “la signification des mots” (a significação das palavras) consistia em estudar uma lista vocabular para o aprendizado de palavras em língua latina. Essa lista deveria ser memorizada, com termos relacionados ao mundo natural sobretudo e alguns conceitos abstratos mais simples. Du Marsais (1722) comenta sobre a memorização de grupos de palavras com o mesmo radical, sobretudo substantivos e verbos latinos, mas não oferece uma lista vocabular, limitando-se a citar obras como a Ianua linguarum de Comenius. A obra de Comenius, que teve como influência o humanista português Amado de Roboredo, apresentava uma abordagem semelhante, ao propor o ensino de latim apoiado em uma língua natural, como nos explicam Marli Leite e Cìnthia Siqueira (2021) ao comentar o Methodo grammatical para todas as lingvas:

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The Methodo grammatical para todas as linguas, as indicated by its title, is a proposed technique for the teaching of foreign languages in general and not just the grammar of Latin or Portuguese. The achievement of this purpose comes about through the use of Portuguese metalanguage by which the student might gradually understand the rules of Latin, although as Roboredo explains, this method may be used for any language (Leite; Siqueira, 2021, p. 380).

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A obra de Roboredo, por sua vez, teve por base uma outra obra intitulada também Ianua Linguarum, escrita por jesuítas irlandeses que foram para Salamanca (Leite; Siqueira, 2021). Dessa obra o humanista português retirou cerca de mil e duzentas frases em latim para análise e memorização, em contraste com a versão em língua portuguesa, essas frases, porém, apresentavam conteúdos teológicos. Esse método de criar uma lista vocabular e de frases curtas para o aprendizado da língua latina teve nesses autores o primeiro registro, sendo no século XVII apenas um método alternativo de estudo, diferentemente do que propunha Du Marsais, no século XVIII.

No método de Du Marsais, as palavras deveriam ser memorizadas com a respectiva tradução francesa e sem a declinação, apenas os verbos deveriam apresentar os radicais latinos que variavam (infectum, perfectum, infinitivo e supino). Para a memorização da lista vocabular, era recomendado o uso de dicionários bilíngues latim-francês. Nessa primeira etapa, o filósofo iluminista acreditava que a criança internalizava os significados das palavras em latim.

Em sistemas de ensino de latim que antecederam Du Marsais, a memorização da língua latina, antes da secularização, estava relacionada à prática religiosa . Memorizar as orações cristãs, trechos da liturgia e textos bíblicos eram comuns na educação humanística, e faziam parte da rotina de aprendizado do latim entre os humanistas, que também viam na prática religiosa um apoio para o aprendizado de línguas (Colombat, 1999).

Du Marsais sistematiza um método, que mesmo que não seja original, pode ser considerado filosófico para criar uma rotina de contato com a língua latina, o exercício de memorização de vocabulário, sobretudo aquele que não possuía relação com a teologia, mas sim com as ciências naturais e mesmo com o Direito moderno (Sánchez Salor, 2019). Em seu método, o segundo passo para criar uma rotina intelectual de contato com a língua latina era estudar a “inversion”, isto é, comparar a ordem de palavras em latim e em francês.

Novamente, a centralidade do pensamento estava na língua francesa e a sintaxe do latim era considerada “invertida”, basicamente estudar a inversão era alterar a ordem das palavras em latim, por analogia com o francês, para a ordem das palavras em francês. Esse exercício era analítico e determinava a ordem de palavras em francês como a ordem natural da língua, e o latim como uma ordem artificial.

Após a inversão, o processo seguinte do método era o estudo das “ellipses” (elipses) do latim, isto é, novamente por analogia com a língua francesa alguns termos que eram considerados elípticos em latim deveriam ser acrescentados ao texto já na ordem natural da língua francesa. Assim, havia o acréscimo de artigos, pronomes e outros termos oracionais para tornar o latim próximo à língua francesa.

Esses exercícios consistiam em uma prática rotineira, em um processo pelo qual o preceptor deveria analisar todos os textos latinos, com o objetivo de apresentar uma tradução interlinear e bilíngue das obras latinas estudadas. Por fim, na rotina, eram estudadas as expressões idiomáticas, os “latinismes”, isto é, expressões que não poderiam ser traduzidas literalmente do latim para o francês (DU MARSAIS, 1722).

4. Conclusão

Uma de nossas perguntas de pesquisa é sobre a continuidade do ensino de latim na Idade Moderna ocidental. Afinal, com o advento do Iluminismo e da secularização europeia, sobretudo na França do século XVIII, como permaneceu o interesse no latim e no grego clássicos no contexto ocidental? Para responder a essa indagação, buscamos analisar as fontes iluministas sobre o ensino de latim, que tiveram uma reverberação inclusive no Brasil dos séculos XVIII e XIX.

Em uma descrição e análise do pensamento linguístico e das histórias das ideias linguísticas, percebemos que durante o Iluminismo na França, o ensino de latim era uma parte essencial da educação, especialmente para a elite intelectual e para aqueles que buscavam uma formação acadêmica mais tradicional, o grupo mais conservador do espectro social. O latim era considerado ainda de forma prestigiada como uma língua da erudição e da ciência. Assim, a literatura clássica ainda era um tema com grande circulação nos meios letrados, e seu estudo era fundamental para diversas áreas do conhecimento, tendo em vista que as ciências estavam em uma fase inicial de desenvolvimento.

O sistema educacional no Iluminismo seguia uma estrutura que enfatizava o estudo das línguas clássicas, como o latim e o grego, pois a proximidade com a educação ainda sob orientação religiosa influía na formação dos primeiros iluministas, dessa forma, o modelo jesuítico ainda que fosse confrontado era um padrão que inspirava as primeiras reformas educacionais. As escolas, incluindo os colégios jesuítas e outras instituições educacionais, detinham-se na gramática latina, na literatura clássica e era comum ainda a escrita em latim.

O método de ensino do latim era frequentemente baseado em textos clássicos, como herança da educação humanística, dessa forma foram reeditadas continuamente obras como as de Cícero, Virgílio, Ovídio e outros autores latinos renomados. Os estudantes liam e estudavam esses textos para compreender a estrutura da língua, ampliar o vocabulário e apreciar a riqueza da literatura clássica, que inspirava o neoclassicismo.

Além disso, houve um esforço considerável no Iluminismo francês para reformar os métodos de ensino, visando tornar o estudo do latim mais acessível e compreensível até mesmo na educação pública. Algumas obras, como a Exposition d’une méthode raisonnée pour apprendre la langue latine de Du Marsais, procuraram oferecer abordagens mais lógicas e sistemáticas para facilitar o aprendizado da língua.

No entanto, é importante ressaltar que o ensino do latim durante o Iluminismo não estava isento de críticas. Alguns pensadores iluministas questionavam a relevância contínua do latim, argumentando que o estudo excessivo das línguas clássicas poderia limitar o progresso intelectual ao manter o foco apenas no conhecimento do passado, em detrimento das novas ideias e descobertas.

Apesar das críticas, o latim permaneceu como uma parte importante do currículo educacional durante o Iluminismo na França, mas o debate sobre o papel e a relevância das línguas clássicas continuou a ser discutido entre os intelectuais da época, o que acarretou a continuidade de seu ensino da Idade Moderna até os dias de hoje. Pelo método de Du Marsais, vemos as primeiras experiências para se criar uma rotina didática para o aprendizado de latim sem ter um vínculo com práticas religiosas ou com a teologia, no contexto do Ocidente.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio oferecido pela CAPES/PROEX/ PosLing UFF, para a realização do presente estudo.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os autores declaram que todos os dados relativos ao artigo estão disponíveis no mesmo.

Fonte de Financiamento

Fontes de financiamento: bolsa CAPES/PROEX/ PosLing UFF e auxílio para participação em congresso (XIII Interab).

Referências

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Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID722.R

Decisão Editorial

EDITOR: Ronaldo de Oliveira Batista

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7216-9142

FILIAÇÃO: Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pernambuco, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: Por meio do uso de conceitos teóricos e de instrumental metodológico da Historiografia Linguística, o artigo explora a chamada tradição gramatical ocidental. Reconhecidamente, essa tradição foi erigida em torno de gramáticas de origem grega e latina. Sendo assim, observações sobre obras gramaticais latinas são importantes. Elas não apenas recuperam traços históricos da gramatização (como assim se define a produção de gramáticas nos estudos de história da gramática), como permitem revisões historiográficas ao possibilitar a construção de novos argumentos. Uma história nunca é única e definitiva; mas se reconstrói a cada novo olhar lançado sobre um objeto de análise.

Partindo desse ponto de vista, considera-se justificada a publicação do artigo já avaliado por dois pareceristas com experiência no tratamento historiográfico de gramáticas. Como se pode notar pelos pareceres, os autores do artigo trazem à luz considerações originais do entrelaçamento língua e reflexões filosóficas. O argumento central do artigo é elaborado em torno da consideração de que a racionalidade se assenta também nas possibilidades estruturais e semânticas de uma língua. Assim, o pensamento de Du Marsais é revisto em relação constante língua e pensamento.

Considero, portanto, a publicação relevante. Além da clareza e objetividade da reconstrução historiográfica (apoiada em teóricos importantes), o ensaio teórico segue com rigor normas de referência e de construção textual apropriada para o gênero em questão.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Jorge Viana de Moraes

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9096-7079

FILIAÇÃO: Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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AVALIADOR 2: Ricardo Stavola Cavaliere

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7039-5034

FILIAÇÃO: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2023-12-24 | 04:12 AM

Considero o artigo, ora sob minha avaliação, de alta relevância para os estudos e pesquisas na área da Historiografia da Linguística e da História das Ideias Linguísticas. As afirmações principais do artigo são apoiadas pelos dados, que são analisados criteriosamente sob a perspectiva historiográfica.

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AVALIADOR 2

2023-12-19 | 12:37 PM

O trabalho propõe-se a analisar a Exposition..., de Du Marsais e verificar em que medida transformou-se em um modelo de descrição linguística fundado nas ideias racionalistas do século XVIII. Trata-se de trabalho que, embora sintético, consegue traçar boa referência à obra, segundo princípios historiográficos bem estabelecidos. O artigo ressalta a relevância da obra de Du Marsais como modelo de manual didático da língua latina que se aplicou igualmente na elaboração de gramáticas de língua vernácula dos Setecentos.  O artigo ganha interesse, ademais, em face da influência de Du Marsais na gramaticografia brasileira de língua portuguesa a partir do século XIX, cujos autores tomaram a obra do filósofo francês como fonte inspiradora. A bibliografia é adequada à proposta do texto e revela boa investigação por parte dos autores.

Resposta dos Autores

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID722.A

RODADA 1

2024-01-05

Prezados pareceristas,

Agradecemos a leitura atenta do artigo e as sugestões para aprimorar sua redação e argumentação. Todas as sugestões indicadas foram incorporadas ao texto, bem como a referência solicitada. Citamos as obras de Amado de Roboredo que exerceram influência indireta sobre o pensamento linguístico de Du Marsais, destacando como a mudança no pensamento linguístico na França do século XVIII seguiu uma tendência já discutida em contexto anterior em Portugal no século XVII.

Com os melhores cumprimentos,

Os autores.


References

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  2. BATISTA, Ronaldo de Oliveira. “Historiografia da Linguística e um quadro sociorretórico de análise”. In: BATISTA, Ronaldo et al. Historiografia da Linguística. São Paulo: Contexto, 2019, p. 81-114.
  3. CAVALIERE, Ricardo Stavola. História da Gramática no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2022.
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How to Cite

SANTOS, M. C. S. dos; FERREIRA KALTNER, L. From Theology to Philosophy: Latin as a Tool of La Raison in the Work of Du Marsais. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, p. e722, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id722. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/722. Acesso em: 2 may. 2024.

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