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Literature Review

The Study of Audio Description in Brazilian Scientific Production: Mapping Theses and Dissertations in Theoretical Linguistics and Applied Linguistics

Maria Cláudia Gastal de Castro Ramos

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https://orcid.org/0000-0003-3618-4174

Mariana Baierle

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https://orcid.org/0000-0003-3618-4174


Keywords

audio description
linguistic studies
mapping
theses and dissertations

Abstract

This work consists of a systematic review of theses and dissertations on audio description within linguistic studies published in Brazil from 2018 until 2022. We aim to map the researches about audio description in Brazil in the fields of Theoretical Linguistics and Applied Linguistics. Using the search filters in the Capes Catalog of Theses and Dissertations, we listed twenty-one works (nine theses and twelve dissertations). Among the results, it is possible to highlight the following areas as the most prominent, totalizing 17 of the 21 works: the theoretical lines of audiovisual translation and accessible audiovisual translation, the systemic-functional linguistics, the line of intersemiotic translation and discursive semiotics. Regarding the methodologies, most works proposed the development of audio description scripts for a certain cultural artifact or event or opted for qualitative research. Regarding the distribution of research into the regions of the country, the Northeast region stands out, with 13 studies, while, the North region has no publications. Regarding the gender of the scholars, most are female researchers. Finally, when it comes to the discursive genres of audio description studied, the most common are “film/series”, followed by those involving the categories “theatre” and “manuals, booklets or research on AD”.

Resumo para não especialistas

Este artigo retrata a forma como a audiodescrição vem sendo estudada e explorada na produção científica brasileira nos campos da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada. A audiodescrição é um tema caro para nós autoras: além de foco de nossos estudos é através dela que nos inserimos em diferentes contextos, tanto pessoais, quanto profissionais e acadêmicos. Enquanto pesquisadoras da área da linguagem com deficiência visual, os achados desta revisão sistemática em teses e dissertações revelam-nos dados importantes acerca dos estudos realizados entre 2018 e 2022. Foram localizados 21 trabalhos. Chama atenção que as linhas teóricas da tradução audiovisual e tradução audiovisual acessível, bem como a linguística sistêmico-funcional, seguidos pela linha da tradução intersemiótica e semiótica discursiva, concentram a maior parte das pesquisas – somando 17 dos 21 trabalhos. Embora as pesquisas sobre audiodescrição possam ser consideradas escassas no universo da linguística, situar o tema da audiodescrição dentro dos estudos da tradução dialoga fortemente com os postulados de Benveniste, que enfatiza a constituição do sujeito a partir da linguagem. Constatamos que no caso das pessoas com deficiência visual, que compreendem o mundo através das descrições feitas por aqueles que as cercam, esta relação fica ainda mais evidente.

Introdução

A deficiência, assim como as questões de raça e gênero, antes de tudo, é uma atribuição de sentido a partir de questões materiais perceptíveis. No caso do gênero, os corpos biologicamente masculino e feminino vivem dentro da cultura, sendo enquadrados nos papéis de homem e de mulher e em todas as expectativas a seu respeito. Contudo, tais papéis não emergem da natureza dos corpos, mas da concepção linguística e, portanto, cultural que as sociedades historicamente constroem. Por ventura, algumas pessoas podem a vir a questionar esses papeis tradicionais e reivindicar, sempre dentro da cultura, equidade, tratamento igualitário e direitos.

No caso da raça, algo bastante semelhante acontece: se a cor da pele não implica diferenças biológicas e fisiológicas, ou seja, raças diferentes, a atribuição preconceituosa de sentido que foi construída historicamente a partir de narrativas de superioridade racial e que justificaram atrocidades como a escravidão de pessoas negras, classifica os seres humanos em hierarquias sociais distintas. Por ventura, algumas pessoas podem se interessar em desconstruir não só a percepção de raça como também de estrutura social que se beneficia do racismo.

No caso das deficiências, alguns padrões intelectuais, sensoriais e motores da natureza dos corpos ganham, dentro de algumas sociedades, estatuto de insuficientes ou deficientes em relação a um ideal de corpo de capacidades física e/ou intelectual aparentemente plenas. Da insuficiência que determinadas pessoas apresentam em relação a esse ideal, surge a noção da deficiência e da desqualificação dos indivíduos que as apresentam.

Para fins de delineamento deste artigo, é importante salientar que abordaremos a questão da deficiência visual que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, pode ser definida como a perda total ou parcial da visão, congênita ou adquirida, podendo ser variável o nível de acuidade, determinando dois grupos de deficiência: a cegueira e a baixa visão. A pessoa cega apresenta a perda total da visão, o que a impede de enxergar imagens, letras e outros elementos que exigem a visão, fazendo com que desenvolva o processo de aprendizagem da escrita, por exemplo, por meio de outros sentidos como o tato, através do uso do Sistema Braille. Já a pessoa com baixa visão, embora apresentando comprometimento no funcionamento visual, pode ler textos impressos, visualizar imagens, desde que faça uso de instrumentos especiais como tipos ampliados, planos inclinados e lupas manuais (Brasil, 2007; Instituto Benjamin Constant, 2002 apud Bezerra et al, 2018, p.62). Baierle (2018) afirma que o primeiro passo para entender e se aproximar do universo da baixa visão é compreender que ninguém no mundo enxerga de forma igual a outra pessoa, independentemente do nível clínico de visão de cada uma.  “A baixa visão é o entrelugar entre o ver e o não ver. É o entrelugar entre a cegueira e a visão dita “normal”. É também o ver e o não ver de forma simultânea” (Baierle, 2018, p. 4).  De forma genérica, o termo baixa visão designa acuidade visual inferior a trinta por cento.

Tanto pessoas cegas quanto com baixa visão beneficiam-se e utilizam-se dos recursos de audiodescrição e descrição de imagens em diferentes âmbitos de suas vidas. A língua, nosso algoz e nossa libertadora, é o único meio que encontramos para estar no mundo como seres humanos. E, por ela ser o único meio possível é nela que disputamos significados e sentidos, desvelando e diminuindo os signos que nos oprimem, esgarçando os que nos aprisionam, criando novos que nos libertem – e que podem vir a nos prender novamente.

A língua é, assim, território de disputas ideológicas e políticas. Pessoas com deficiência tanto lutam pela mudança terminológica que melhor nomeie aqueles e aquelas que escapam ao ideal de corpo e inteligência, reclamando, por exemplo, o uso do termo pessoa com deficiência em vez de portador(a) de deficiência ou de necessidades especiais (Baierle & Karnopp, 2023), visto que diferentes significantes geram novos significados, quanto lutam por um esgarçamento dos significados, incluindo uma diversidade de diferenças dentro das noções estereotípicas de pessoa com deficiência, como também lutam pela complexificação desses signos linguísticos, expandindo as imagens reduzidas e capacitistas do que é ter uma deficiência e de como é viver com ela.

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A construção de uma sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem, já que nela se expressa o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiências. A terminologia recomendada atualmente tem sido pessoas com deficiência, a qual coloca em evidência algo que deveria ser óbvio, mas infelizmente não é: pessoas com deficiência são pessoas, antes de serem resumidas à deficiência que possuem. Estamos diante de uma conquista ao apresentarmos estes sujeitos não mais como portadores de deficiência, portadores de necessidades especiais ou portadores de anomalias, entre uma série de outros vocábulos que denotam práticas sociais excludentes. (Baierle & Karnopp, 2023, p. 171, grifos do original).

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A atitude, portanto, é de alguma forma basilarmente linguística. Ao mesmo tempo que a língua não dá conta da experiência humana, visto que a primeira é sempre insuficiente para abranger a infinita incompletude da segunda, é a língua que nomeia e que joga luz a existências até então apagadas ou despercebidas.

Nesse sentido, escancara-se a indispensabilidade da audiodescrição. Um dos entendimentos mais usuais de audiodescrição a compreende como ferramenta de acessibilidade que torna o conteúdo visual acessível, prioritariamente a pessoas cegas e com baixa visão, na medida em que transforma imagens em palavras (Franco, Silva, 2010). Há também autores que compreendem audiodescrição como recurso pedagógico e educacional (Mianes, 2016a); como marca cultural de identidade (Mianes, 2016b); ou como tradução visual (Carvalho, Leão, Palmeira, 2017). Ou ainda, conforme apuramos neste trabalho, há pesquisas que compreendem a audiodescrição como tradução audiovisual ou tradução audiovisual acessível, no caso de Palmeira (2021), Barbosa (2022), Gritti (2021), Franco (2018), Stefanini (2020) e Teixeira (2020); tradução intersemiótica, no caso de Carneiro (2020), Garcia (2019), Sena da Silva (2018), Caparica (2019) e Oliveira (2018), entre outras abordagens que serão expostas mais adiante.

De qualquer forma, sendo uma ferramenta essencialmente linguística, ainda temos notado pouco interesse da área das Letras de abordar a questão ou se debruçar sobre ela. As deficiências, a inclusão, as tecnologias assistivas têm sido relegadas e corajosamente abraçadas, nos parece, principalmente na Educação, área que tem se dedicado a um estudo social.

Entendemos que a Letras, também responsável pela formação de docentes e pelo estudo avançado das dinâmicas da língua, tem papel importante no estudo da inclusão e da audiodescrição, podendo contribuir ricamente para o debate. Como estudantes da pós-graduação em Letras, nas áreas de Estudos da Linguagem e Estudos de Literatura, e pessoas com deficiência visual, nos interessa saber se e como nossa área tem se voltado especificamente para a audiodescrição, levando em conta os pressupostos da língua mencionados anteriormente.

A partir das noções da linguagem enquanto constitutiva humana e do discurso enquanto forma de agir no mundo, estamos convencidas, portanto, que a audiodescrição é objeto de estudo primordial da Linguística – seja na Linguística Teórica seja na Linguística Aplicada. O que temos suspeitado, no entanto, é que a audiodescrição tem sido tomada mais como uma questão de inclusão, sendo relegada e abraçada pela área da Educação. No intuito de investigar se e como ela tem sido objeto da Linguística, nos dispusemos a construir um panorama das produções científicas brasileiras dentro da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada que venham estudando a audiodescrição. Centrando-nos em teses e dissertações, fizemos uma busca no Catálogo da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) e encontramos uma produção de vinte e um trabalhos no período de 2018 a 2022. O olhar mais minucioso desses resultados se dará na seção Resultados e Discussão. A soma de vinte e um trabalhos, ao considerarmos que se trata de um mapeamento de toda produção científica dos últimos cinco anos em instituições de ensino superior do país, no entanto, já é um possível indício de como nossa área ainda tem muito a adentrar neste assunto, a fim de humanizar ainda mais a vida das pessoas com deficiência visual.

Por conta do nosso interesse nesse campo se estender para além das nossas áreas de pesquisa mas também na colocação dos nossos corpos no mundo, achamos importante relatar nossas experiências como pessoas com deficiência e acadêmicas, introduzindo breves relatos pessoais durante o artigo. Por maior que seja a resistência de conectar subjetividade e ciência, entendemos que a nossa pesquisa não tem como prescindir de nossas vivências, portanto as trazemos aqui para reforçar nossa atenção à audiodescrição. O primeiro relato, da Maria Cláudia, encontra-se logo após a Introdução, e o segundo relato, da Mariana, encontra-se em seção anterior às Consideraçãoes Finais.

Maria Cláudia

Quando completei dois meses de idade, minha mãe percebeu que meus olhos não focavam no rosto dela. Já mãe de outra criança, ela sabia o que esperar nos estágios de crescimento de um bebê, e a minha inaptidão para encontrar seu rosto a preocupou. Foi desde cedo então que convivi com a consciência de que eu tinha algo diferente nos olhos. De criança pré-escolar, eram evidentes minha baixa acuidade visual e minha hipersensibilidade à luz, o que tornava impossível eu fazer atividades ao ar livre.

Quando na escola, na idade em que aprendemos a relacionar as cores a seus nomes, ficou clara a terceira característica que tornaria completa a descrição eterna que eu usaria para minha visão e para a minha identidade: não enxergo cores, não enxergo longe e não enxergo no sol, como eu dizia. Foi no início da vida adulta, depois de ter convivido por tanto tempo com o mistério dos meus olhos, que descobri que o nome que unia essas três características era uma condição genética chamada acromatopsia. Quando finalmente recebi o diagnóstico, muitas coisas começaram a mudar na minha vida, incluindo me entender como uma pessoa com deficiência e encontrar outras pessoas que enxergassem como eu. A língua me definiu e me libertou.

Minha deficiência, no entanto, é bastante imperceptível para os demais. Minha marca de identidade, óculos escuros principalmente, tem grande passabilidade entre as pessoas sem deficiência, o que torna minha existência uma constante num limite entre as supostas normalidade e anormalidade. Se por um lado ter uma deficiência invisível me isenta de olhares preconceituosos ou comentários capacitistas, por outro, me coloca em situações difíceis em muitos momentos, como perder ônibus, tropeçar, não identificar os pratos em um buffet, bater em portas de vidro, não conseguir fazer atividades ao ar livre, confundir sinais coloridos (pegar a senha vermelha, pressionar o botão verde etc.). Ter uma deficiência invisível também faz com que eu tenha dificuldades de exigir direitos, como fila preferencial, assistência em sala de aula, entre outros. É comum que as pessoas me olhem com descrédito ou mesmo minimizem minhas dificuldades, uma vez que aparentemente dou conta de todas as minhas demandas.

Recentemente, ainda no ano de 2023, foi aprovada a Lei 14.624 (BRASIL, 2023) no Brasil que permite o uso de um crachá preso a um cordão com estampa de girassol. O intuito é tornar visível as pessoas com deficiências ocultas. Tenho utilizado meu cordão em espaços públicos quando estou sozinha, mas o que percebo é que há um longuíssimo caminho até que o símbolo se torne comum e as pessoas o reconheçam imediatamente.

A questão da invisibilidade da minha condição é tão pungente que em 2020 entrei para o mestrado em Escrita Criativa no Programa de Pós-graduação em Letras da UFRGS com um projeto sobre personagens acromatas na literatura brasileira do século XXI, a fim de mapear a existência de tais personagens e se a questão da invisibilidade era, de alguma forma, levantada, o que se provou verdade (Ramos, 2022). Além disso, também escrevi um romance, como parte da dissertação, que tem como protagonista uma personagem acromata na sua jornada de autodescoberta. Para a composição do todo da dissertação, parto do princípio humanizador da literatura, que nos ajuda a organizar a nossa própria existência e pode nos sensibilizar para as existências alheias.

Para que eu pudesse transitar ou ter um mínimo de autonomia nesse mundo no qual eu queria me inserir, tive de aprender as cores pela descrição dos outros. Minha mãe teve um papel importantíssimo em me descrever o mundo e suas cores, em classificar as cores dos meus lápis, canetas, tintas, paletas de sombras de maquiagens, batons etc, bem como em me descrever as características das cores. E essas características se dão pelos sentidos atribuídos socialmente a elas. De que adianta dizer para alguém que enxerga em preto e branco que vermelho é uma cor escura, por exemplo? É preciso mais, é preciso dizer que é uma cor vibrante, é a cor da sedução, da paixão, do perigo, do pare, dos avisos, do McDonalds, do comunismo, do Internacional etc.

É claro que preciso de descrição também de paisagens, imagens que estejam longe, algumas cenas de filmes, por exemplo. Mas as cores são os elementos que cotidianamente organizam nossas vidas e que na arte e na cultura provocam e significam. É com a descrição das cores que fui, ao longo do tempo, construindo uma enciclopédia de cores internamente. Minha relação com elas é quase completamente linguística, escancarando como o mundo humano é feito, antes de tudo, de signos linguísticos, na sua natureza (im)permanente.

1. Fundamentação teórica

Como mencionado acima, a audiodescrição pode ser entendida de diversas formas. Sua definição mais ampla e da qual partem as diversas concepções teóricas que a estudam é a de transformar imagens em palavras. “Nesse contexto, nasce a audiodescrição. Ela surge como uma tecnologia assistiva que busca suprir a lacuna deixada pela comunicação visual, para aqueles que dela não conseguem tirar proveito.” (Sant’Anna, p. 154). Como pessoas com deficiência visual, sabemos da suma importância da audiodescrição, e, como estudantes de Letras, entendemos que essa importância se deve para além de ser ela uma ferramenta assistiva, ou uma questão de identidade, mas por ser fruto da linguagem, o que nos constitui como seres humanos.

É comum que quando pensemos na audiodescrição, pensemos em comunicação. Sant’Anna (2010), ao falar da audiodescrição, diz que:

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Como já citado, a comunicação é uma necessidade básica do ser humano. Se considerarmos a audiodescrição um recurso que, dada a evolução das tecnologias, torna-se imprescindível, é impossível imaginar a vida diária sem ela, sob pena de gerarmos, guardando as devidas proporções [...] grande ansiedade, além do próprio prejuízo causado pela falta de compreensão do que nos cerca, provocado pela sua ausência. (p. 154).

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No entanto, logo no início de seu texto, ele mesmo compara a língua às necessidades básicas do ser humano, tais como comer e dormir:

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Deste modo, podemos facilmente concluir que, tão importante quanto alimentar-se, dormir e tomar banho é comunicar-se. Na verdade, é impossível viver em sociedade sem se comunicar. Imagine-se em um lugar fechado, com uma pessoa desconhecida, com quem estivesse proibido de se comunicar, e com ordem de se ignorarem mutuamente... Não demoraria muito para concluir que seria impossível ignorar a presença do outro. Os menores gestos passariam a ser observados atentamente. Cada qual procuraria interpretar o comportamento do outro e atribuir-lhe um sentido. Não demoraria muito para que cada um começasse a orientar suas atitudes em função das do outro. (p. 152).

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O que Sant’Anna descreve acima é mais do que comunicar, é atribuir sentido e espelhar-se no outro para a composição da intersubjetividade. O argumento de Sant’Anna, no entanto, é o que sustenta seu artigo sobre a indispensabilidade da audiodescrição. Nossa compreensão dessa indispensabilidade vai além, visto que a compreendemos como constitutiva da natureza humana, como discorremos abaixo.

Em “Da subjetividade na linguagem”, Benveniste (1991) nos mostra como a linguagem, antes da sua atualização em língua, é constitutiva de quem somos. Ela não é fruto da invenção humana, ela é fruto da natureza humana, que nos torna discerníveis das outras espécies: “A linguagem está na natureza do homem, que não a fabricou” (Benveniste, 1991, p. 285). O ser humano concebe o mundo e transita por ele por meio da linguagem. E é também por meio da linguagem que o ser humano se concebe como ser unificado “[...] a unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas que reúne, e que assegura a permanência da consciência” (Benveniste, 1991, p. 286), que se manifesta pelo eu e o diferencia do outro.

Nesse sentido, compreendemos que a língua não é mero meio de comunicação, mas aquilo mesmo que nos constitui como seres humanos, sendo impossível separar a língua da nossa concepção de nós mesmos e do nosso entendimento do mundo: “É na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito; porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua realidade que é a do ser, o conceito de ‘ego’.” (Benveniste, 1991, p. 286, grifos no original). A partir disso, podemos pensar que a audiodescrição, técnica que se utiliza da língua para fins de comunicação, é, antes, a forma pela qual as pessoas com deficiência visual vêm a conceber e a experimentar o mundo e vêm a se tornar sujeitos no mundo.

Como complementação a essa visão da linguagem como natureza humana, é possível mobilizarmos Bakhtin (2011) e a sua noção dialógica do discurso. O discurso, realização concreta da língua enquanto sistema, diz respeito à língua em uso: quem fala, para quem, em que situação e com que motivos. Ou seja, conforme Bakhtin (2011), se “Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem” (p. 261), “cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso.” (p. 262, grifos no original).

Os enunciados têm seu começo e seu fim marcados pela alternância dialógica (BAKHTIN, 2011). Essa alternância pode se dar de forma mais óbvia, como em uma conversa cotidiana, ou de forma mais complexa, como na leitura de um romance. Enquanto o romance é enunciado do seu autor, o leitor lê a obra de forma ativa, responsiva, mobilizando em si conhecimento de mundo, ou absorção do que está sendo enunciado ou rejeição ao que está sendo enunciado entre outras formas de respostas. Importa dizer que é a partir do enunciado captado pelo leitor que este agirá no mundo, propondo novos enunciados.

Bakhtin (2011) afirma que os enunciados não têm só a ver com o objeto-referencial que está no mundo, mas o que é feito desse objeto pelo enunciado, visto que o enunciado está sempre atrelado a uma pessoa e ao seu ponto de vista, à sua experiência existencial. Se uma oração ou uma palavra não tem peso enquanto parte de um sistema linguístico abstrato, ela passa a ter sentido atribuído no momento em que é articulada em um enunciado, ou seja, no momento em que passa a ser usada por alguém para agir no mundo.

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[...] os enunciados dos outros podem ser recontados com um variado grau de reassimilação; podemos simplesmente nos basear neles como em um interlocutor bem conhecido, podemos pressupô-lo em silêncio, a atitude responsiva pode refletir-se na expressão do próprio discurso – na seleção de recursos linguísticos e entonações, determinada não pelo objeto do próprio discurso mas pelo enunciado do outro sobre o mesmo objeto. (Bakthin, 2011, p. 297).

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Na dinâmica dialógica do discurso, o interlocutor deste enunciado pode também se apropriar deste enunciado reivindicando o mesmo significado (ou o mais parecido possível) ou atribuindo outros. Conforme Bakhtin, é impossível apontar o início dessa dinâmica dialógica, bem como o seu fim.

Mais ou menos nesse sentido, Benveniste (1991), em “Natureza do signo linguístico”, fala da arbitrariedade do signo, não entre seu significado e significante, como havia suposto Saussure, mas em relação ao referente no mundo: “O arbitrário só existe aqui em relação com o fenômeno ou o objeto material e não intervém na constituição própria do signo” (p. 57, grifo no original). Portanto, é arbitrário o signo em relação ao seu referente no mundo, o qual se torna menos importante para a dinâmica da língua, visto que o mundo passa a existir enquanto discurso, enquanto o que dizemos e pensamos sobre ele, mais do que ele mesmo.

Estamos cientes das problemáticas que podemos levantar ao colocar Bakthin e Benveniste lado a lado, visto que diferentes linhas teóricas se depreendem das concepções de língua desses autores. No entanto, pensamos que ambos têm a contribuir para a nossa concepção de audiodescrição: mais que uma ferramenta, ou uma descrição em palavras de imagens, a audiodescrição é essencial para a constituição da nossa natureza humana.

A pessoa que audiodescreve imagens está construindo, a partir, não só do objeto que observa (filme, série, pintura, escultura etc.), mas da sua compreensão linguística do mundo, um enunciado que passará a ser a verdade para a pessoa que ouve. A audiodescrição evidencia como o discurso atribui sentido, podendo mesmo fazer com que algumas pessoas (como as com deficiência visual) prescindam do objeto-referencial. A partir do enunciado do outro, aquele que ouve, de forma responsiva, passa a conceber imagens internas que são compreendidas como a imagem externa, passam a enxergar o que materialmente nunca verão. E, a partir disso, passarão a enunciar o mundo, transitando por ele, estabelecendo relações com outras pessoas e construindo a realidade. Essa lógica também reforça a noção de Benveniste (1991) de que o signo linguístico é arbitrário em relação ao seu referente no mundo. Pessoas com deficiência visual são tão capazes de atribuir sentido aos referentes do mundo quanto as videntes, já que a realidade humana, por mais que parta do mundo, se dá pela língua.

A partir disso, o objetivo deste trabalho foi investigar os últimos cinco anos, de 2018 a 2022, da produção científica brasileira materializada em dissertações e teses na área da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada. Interessou-nos saber quem, onde, sob quais aportes teóricos, têm se debruçado sobre a audiodescrição, construindo um estado da arte que nos dê notícia de sua importância no atual cenário acadêmico e nas pesquisas desenvolvidas no país. Tomamos a audiodescrição não simplesmente como transformação de imagens em palavras, mas como ferramenta de transformação social e direito linguístico que, como pessoas com deficiência, temos para fazer parte do mundo.

2. Procedimentos metodológicos

Neste trabalho, realizamos uma revisão sistemática de teses e dissertações acerca da audiodescrição dentro do campo da Linguística e da Linguística Aplicada. Para tanto, utilizamos o banco de dados do Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. Nosso período de análise abrange os últimos cinco anos, ou seja, trabalhos publicados entre 2018 e 2022.

Primeiramente, em um navegador de Internet, digitamos o endereço https://catalogodeteses.capes.gov.br/ para acessar o Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. No espaço de busca na primeira página do site, digitamos a palavra “audiodescrição”, que gerou um resultado de 170 trabalhos, conforme pode ser observado na imagem abaixo. Optamos por fazer a busca somente de trabalhos escritos em português por ser nossa língua materna e a língua em que a maioria dos trabalhos acadêmicos são produzidos no Brasil.

Figure 1. Imagem 1 – busca de trabalhos sobre audiodescrição. Fonte: elaborada pelas autoras.

Em seguida, a fim de fazer a busca pelo recorte que optamos, utilizamos os filtros na coluna da esquerda, logo abaixo do espaço de busca. No filtro “Ano”, selecionamos os anos de 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022. No filtro “Grande Área Conhecimento”, restringimos à “Linguística, Letras e Artes”, e no filtro “Área Conhecimento”, selecionamos “Letras”, “Linguística”, “Linguística Aplicada” e “Psicolinguística”. Optamos por deixar de fora filtros como “Literatura”, “Educação”, “Teatro” e “Artes”, tendo em vista que nosso objetivo era localizar especificamente trabalhos nas áreas da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada. Os filtros selecionados podem ser vistos nas imagens abaixo:

Figure 2. Imagem 2 – filtro “Ano”. Fonte: elaborada pelas autoras.

Figure 3. Imagem 3 – filtros “Grande Área Conhecimento” e “Área Conhecimento”. Fonte: elaborada pelas autoras.

A partir dessa filtragem, chegamos ao resultado de 23 trabalhos sobre audiodescrição, como se pode observar abaixo:

Figure 4. Imagem 4 – resultados preliminares de busca. Fonte: elaborada pelas autoras.

Dos 23 trabalhos que apareceram como resultado, eliminamos dois. A dissertação A influência da tradução dos efeitos sonoros durante a recepção de legendas para surdos e ensurdecidos (LSE) por espectadores surdos em um filme de ação (2022), de Samuel Levi Silva de Oliveira, e a dissertação A tradução audiovisual em língua de sinais dos efeitos sonoros do filme Corisco e Dadá: um estudo baseado em corpus (2021), de Raquece Mota Honorio Cruz, foram excluídas por tratarem da área de tradução audiovisual acessível, mas na área de libras/legendagem para surdos e ensurdecidos e não de audiodescrição para pessoas com deficiência visual.

Posteriormente, após mapearmos os 21 trabalhos, estabelecemos quais seriam nossos parâmetros de análise. São eles: a) fundamentação teórica utilizada; b) metodologia das pesquisas; c) região brasileira onde as pesquisas foram produzidas e instituição dos pesquisadores; d) gênero dos autores dos trabalhos; e) gênero discursivo da audiodescrição abordado nas pesquisas. Na próxima seção, esmiuçamos os trabalhos encontrados na tentativa de construir um retrato da pesquisa sobre audiodescrição no campo da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada no Brasil.

3. Resultados e discussão

No período entre 2018 e 2022, a partir dos filtros pré-estabelecidos no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, foram mapeados 21 trabalhos, sendo 9 teses e 12 dissertações. As teses mapeadas no período foram: Santos (2018), Leão (2018), Caparica (2019), Barros (2020), Carneiro (2020), Teixeira (2020), Palmeira (2021), Arraes (2022) e Martins (2022). Com relação às dissertações, foram: Abud (2018), Franco (2018), Oliveira (2018), Sena da Silva (2018), Silva (2018), Garcia (2019), Claudino (2019), Lima (2019), Stefanini (2020), Silva (2020), Gritti (2021) e Barbosa (2022).

A distribuição destas publicações durante os cinco anos de análise pode ser verificada de forma esquematizada na tabela a seguir:

Figure 5. TABELA 1 – MAPEAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES SOBRE AUDIODESCRIÇÃO NAS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E LINGUÍSTICA APLICADA PUBLICADAS ANUALMENTE. Fonte: elaborada pelas autoras.

Verificamos que o número de trabalhos publicados anualmente oscilou nos últimos cinco anos. Em 2018, foram 7 trabalhos, sendo 2 teses e 5 dissertações. Em 2019, foram 4 trabalhos, sendo 1 tese e 3 dissertações. Em 2020, foram 5 trabalhos, sendo 3 teses e 2 dissertações. Em 2021, contabilizamos apenas 2 trabalhos, sendo 1 tese e 1 dissertação. Por fim, em 2022, foram 3 trabalhos, sendo 2 teses e 1 dissertação.

Observamos em 2018 o maior número de trabalhos e depois há uma queda. Vale considerar que os anos de 2020, 2021 e 2022 foram anos atípicos em função da pandemia. É possível que tenha havido uma diminuição nas defesas de teses e dissertações nesse período. Entretanto, esta é apenas uma hipótese. Precisaríamos fazer uma análise em um período de tempo mais longo para fazermos qualquer afirmação contundente nesse sentido. No momento, nosso objetivo é apenas mapear e identificar as características dos trabalhos publicados no período em análise. Percebe-se um maior número de dissertações do que de teses a respeito de audiodescrição, o que podemos atribuir (1) ao fato de que mais pessoas fazem mestrado do que doutorado e (2) à possibilidade de que existam doutorandos e doutorandas com teses em audiodescrição em andamento e que, portanto, ainda não puderam ser contabilizadas na presente revisão sistemática.

Esclarecemos que a escolha de um período não maior de cinco anos se deve em boa parte por conta das dificuldades de acessibilidade a portais como o da Capes e outros. Nosso tempo de trabalho de pesquisa, construção de tabelas e produção de artigo é mais demorado que o de pessoas videntes, devido à nossa dependência de leitores de tela, fontes ampliadas e recursos humanos. Além disso, a escolha dos últimos cinco anos se deve ao fato de que nos interessa os estudos mais atualizados sobre audiodescrição dentro das áreas que recortamos. Também justificamos o uso do Portal da Capes como plataforma de busca devido ao fato de que essa é uma plataforma de amplo uso das universidades brasileiras, sendo um lugar que compila parte significativa da produção acadêmica e científica do país.

Ao encontro da nossa temática em análise, a audiodescrição, pretendemos fazer uma espécie de descrição do cenário atual acerca da produção científica brasileira a partir de teses e dissertações encontradas a partir do Catálogo da Capes. Fizemos primeiramente busca e mapeamento dos trabalhos, retirando uma fotografia do que foi produzido no período. Neste momento, procederemos à descrição do que foi encontrado. Fica evidente que apenas com o mapeamento inicial não é possível apreender todas as informações a respeito do nosso objeto, que é composto por 21 trabalhos.

É necessário um olhar atento, minucioso e cuidadoso para entendermos o que foi encontrado no retrato inicial. A descrição se torna essencial. Embora em nossa metodologia tenhamos literalmente fotografado imagens do Catálogo da Capes e das buscas que realizamos, precisamos nos debruçar sobre os resultados a fim de interpretá-los, pois apenas as imagens não nos dizem muito. E, neste caso, não dizem muito por si só tanto para videntes quanto para pessoas com deficiência visual. Por isso, a partir de nossa revisão sistemática das teses e dissertações, poderemos compreender melhor o sentido das fotografias e imagens retiradas a partir dos filtros de busca.

Embora já tenham sido apresentados em nossa metodologia, retomamos aqui os parâmetros que estabelecemos para análise dos trabalhos: a) fundamentação teórica utilizada; b) metodologia das pesquisas; c) região brasileira onde as pesquisas foram produzidas e instituição dos pesquisadores; d) gênero dos autores dos trabalhos; e) gênero da audiodescrição abordado nas pesquisas.

a) Fundamentação teórica utilizada nos trabalhos

A respeito da fundamentação teórica utilizada nos trabalhos, identificamos sete eixos. São eles: 1) Tradução Audiovisual e Tradução Audiovisual Acessível, em que foram localizados 6 trabalhos; 2) Linguística Sistêmico-funcional, 6 trabalhos; 3) Tradução Intersemiótica e Semiótica Discursiva, 5 trabalhos; 4) Perspectiva Enunciativa e Dialógica, 1 trabalho; 5) Estudos Decoloniais, 1 trabalho; 6) Audiodescrição sinalizada (ADSin), 1 trabalho; 7) Análise do discurso crítica (1 trabalho).

A seguir, a tabela que sintetiza essas informações:

Figure 6. TABELA 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA UTILIZADA NAS DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE AUDIODESCRIÇÃO NAS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E LINGUÍSTICA APLICADA Fonte: elaborada pelas autoras

Os campos da tradução audiovisual e tradução audiovisual acessível, bem como a linguística sistêmico-funcional, seguidos pelo campo da tradução intersemiótica e semiótica discursiva, concentram a maior parte das pesquisas – somando 17 dos 21 trabalhos. Entendemos que a grande abrangência das áreas de tradução audiovisual e tradução intersemiótica para o estudo e compreensão da audiodescrição se deva ao fato imediato de que a audiodescrição pode ser, antes de qualquer coisa, transformar imagens em palavras, ou seja, transformar uma linguagem em outra, sendo muito difícil de dissociá-la de uma forte noção de tradução.

Além disso, ao analisarmos as tabelas 1 e 2, percebemos que o aporte teórico da Linguística Sistêmico-funcional é uma linha teórica relevante na UECE, universidade onde verificou-se a maior parte dos pesquisadores e das pesquisadoras em audiodescrição. Portanto, não espanta notar que essa linha teórica tenha se destacado no nosso mapeamento. As outras quatro abordagens – perspectiva Enunciativa e Dialógica, estudos decoloniais, audiodescrição sinalizada (ADSin) e análise do discurso crítica – são trazidas, cada uma delas, em apenas um trabalho, revelando pouca incidência ou concentração de estudos sobre audiodescrição dentro destas perspectivas teóricas.

b) Metodologia das pesquisas

Sobre a metodologia das pesquisas, sistematizamos as informações na tabela a seguir:

Figure 7. TABELA 3 – METODOLOGIA DAS PESQUISAS Fonte: elaborada pelas autoras

Sendo assim, foram elencados 8 eixos metodológicos. São eles: 1) Proposta de elaboração de roteiro de AD, 5 trabalhos; 2) Pesquisa qualitativa, 5 trabalhos; 3) Pesquisa descritiva-exploratória, 3 trabalhos; 4) Linguística de corpus, 3 trabalhos; 5) Abordagem quantitativa, 2 trabalhos; 6) Pesquisa-ação, 1 trabalho; 7) Análise documental, 1 trabalho; 8) Pesquisa de recepção, 1 trabalho.

Entre os vinte e um trabalhos analisados, tivemos a ocorrência de oito metodologias de pesquisa distintas. Há um predomínio de trabalhos que propõem a elaboração de roteiros de audiodescrição de determinado artefato cultural ou evento e de pesquisas qualitativas. Supomos que a elaboração de roteiros de audiodescrição se destaca devido à acessibilidade prevista em lei. Por conta disso, a legislação brasileira exige que uma parcela dos programas televisivos, bem como espetáculos artísticos, sessões de cinema e editais de fomento à cultura contemplem a audiodescrição.

As demais metodologias são bastante variadas. Notamos que os parâmetros a) Fundamentação teórica das pesquisas e b) Metodologia utilizada são complementares no momento de interpretarmos essa fotografia do estado da arte em que se encontra a produção científica brasileira. Os procedimentos teóricos e metodológicos andam juntos nas ciências humanas.

c) Região brasileira onde as pesquisas foram realizadas e instituição dos pesquisadores

No que se refere à região brasileira e às instituições onde as pesquisas foram produzidas, esquematizamos as informações a seguir:

Figure 8. TABELA 4 – REGIÃO BRASILEIRA E INSTITUIÇÃO DOS PESQUISADORES. Fonte: elaborada pelas autoras.

Desse modo, temos a seguinte distribuição de trabalhos por região brasileira: Nordeste, 13 trabalhos; Sudeste, 3 trabalhos; Centro-oeste, 3 trabalhos; Sul, 2 trabalhos; e nenhum na região Norte. Chama a atenção o predomínio da região Nordeste, com 13 trabalhos. As demais regiões estão mais ou menos homogêneas, com uma pequena variação entre 2 e 3 trabalhos por região.

A partir da instituição dos pesquisadores podemos compreender como ocorre essa distribuição de forma ainda mais específica. Na região Nordeste, temos dois trabalhos na Universidade Federal da Bahia e mais um trabalho na Universidade Católica de Pernambuco. Chama a atenção a concentração de trabalhos na Universidade Estadual do Ceará (UECE), com 9 trabalhos, o que nos leva a vê-la como um polo de produção de trabalhos sobre audiodescrição dentro das áreas da Linguística e Linguística Aplicada. Na tentativa de compreender o motivo de tal concentração, fomos atrás do website do Programa de Pós-graduação em Letras da UECE e dos nomes dos e das docentes que orientaram as dissertações e teses elencadas aqui. O PPG da UECE se chama PosLA (Pós-graduação em Linguística Aplicada) e, dentre as suas três linhas de pesquisa, vale destacar a linha 2: Multilinguagem, Cognição e Interação (UECE, 2024), responsável pela oferta de disciplinas como Tradução Audiovisual e Tópicos em Multilinguagem, Cognição e Interação, abrangendo desta forma a audiodescrição no currículo do curso. Nessa linha 2, encontram-se ainda o professor Wilson Junior de Araujo Carvalho e a professora Vera Lucia Santiago Araújo, cujos currículos se voltam para a pesquisa da audiodescrição enquanto fenômeno da linguagem. Além disso, quatro dos 9 trabalhos vinculados à UECE foram orientados pelo professor Pedro Henrique Lima Praxedes Filho, que, conforme currículo Lattes, tem vasta formação em tradução e voltou seu pós-doutorado para a tradução audiovisual. Esses achados reforçam a UECE como pólo de pesquisa e produção acadêmica na área da audiodescrição sob a perspectiva linguística.

A região sudeste aparece representada pelas seguintes instituições: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Araraquara), Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Estadual de Campinas, cada uma delas com 1 trabalho. Chama atenção que, na região sudeste, não há trabalhos no estado do Rio de Janeiro, apenas em São Paulo e Minas Gerais.

Na região centro-oeste, temos a Universidade de Brasília, com 3 trabalhos. Não há nenhum trabalho nos demais estados da região centro-oeste. Na região sul, temos a Universidade Estadual de Maringá e a Universidade Federal do Paraná, cada uma delas com 1 trabalho. Chama atenção também que a região sul é representada apenas por universidades no Paraná, não havendo trabalhos mapeados nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Por fim, na região Norte, fica evidente uma lacuna de produção, visto que não foi mapeado nenhum trabalho.

d) Gênero dos pesquisadores

Outro parâmetro que estabelecemos como análise foi o gênero dos pesquisadores. Embora tenhamos ciência de que as pessoas se reconhecem de diferentes formas e de que a classificação em gênero feminino e masculino é bastante ortodoxa, consideramos aqui o gênero pelo qual os pesquisadores apresentam-se e assinam seus trabalhos. Assim, foi possível identificar o seguinte:

Figure 9. TABELA 5 – GÊNERO DOS PESQUISADORES Fonte: elaborada pelas autoras.

Assim, foram 8 trabalhos desenvolvidos por pesquisadores do gênero masculino: Palmeira (2021), Garcia (2019), Barros (2020), Caparica (2019), Silva (2018), Arraes (2022), Teixeira (2020) e Sena da Silva (2018). Foram 13 trabalhos desenvolvidos por pesquisadoras do gênero feminino: Gritti (2021), Carneiro (2020), Barbosa (2022), Oliveira (2018), Stefanini (2020), Silva (2020), Claudino (2019), Lima (2019), Leao (2018), Franco (2018), Santos (2018), Abud (2018) e Martins (2022).

Há um predomínio de trabalhos realizados por pesquisadoras do gênero feminino. Embora não seja o objetivo central de nossa pesquisa, levantamos como hipótese o fato de que, em função das diferenças históricas entre homens e mulheres e do menor prestígio das áreas humanas em relação às exatas, possamos explicar o fato de mais mulheres se interessarem e se debruçarem sobre a temática da audiodescrição. Pesquisadores do gênero masculino acabam tendo mais oportunidades em áreas das exatas, da saúde e da terra, onde recebem maiores salários e via de regra são mais valorizados, enquanto as mulheres – seja por vocação, preferência ou provavelmente por menos oportunidades – dedicam-se às áreas humanas onde são tradicionalmente mais aceitas. Como dissemos, trata-se de uma hipótese que deve ser investigada em futuras pesquisas, não se constituindo de nosso objetivo com este trabalho, mas acreditamos que possa, em partes, explicar esse predomínio do gênero feminino em pesquisas a esse respeito.

e) Gênero discursivo da audiodescrição abordado nas pesquisas

O último parâmetro que consideramos para análise foi o gênero discursivo da audiodescrição abordado nas dissertações e teses. As informações foram organizadas na tabela a seguir:

Figure 10. TABELA 6 – GÊNERO DA AUDIODESCRIÇÃO ABORDADO NAS DISSERTAÇÕES E TESES Fonte: elaborada pelas autoras

Dessa forma, foram identificados 9 eixos de produtos ou artefatos culturais audiodescritos que foram analisados e estudados nas dissertações e teses em questão. São eles: 1) Filme/seriado, 6 trabalhos; 2) Teatro, 3 trabalhos; 3) Manuais, cartilhas e pesquisas sobre AD, 3 trabalhos; 4) Histórias em quadrinhos, 2 trabalhos; 5) Livros, 2 trabalhos; 6) AD no contexto da produção textual e letramento, 2 trabalhos; 7) Pintura, 1 trabalho; 8) Escultura, 1 trabalho; 9) Objetos de aprendizagem em plataforma EAD, 1 trabalho.

Desse modo, as pesquisas que investigam a audiodescrição em “Filme/seriado”, seguidas pelas que envolvem as categorias “Teatro” e “Manuais, cartilhas ou pesquisas sobre AD”, destacam-se em relação aos demais gêneros discursivos da audiodescrição. Esses achados reforçam nossa hipótese de que o fato de a legislação brasileira exigir acessibilidade por meio da audiodescrição para programas televisivos, espetáculos, sessões de cinema e editais de fomento à cultura incentiva trabalhos que pensem na aplicação prática da audiodescrição, o que se verifica no maior número de trabalhos envolvendo filmes e seriados.

Dito isso, encerramos esta seção em que pudemos apresentar os cinco parâmetros que estabelecemos para análise das dissertações e teses sobre audiodescrição nas áreas da Linguística Teórica e Linguística Aplicada. Entendemos que foi possível, nesta seção, descortinar dados encontrados a partir do Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, de forma a podermos olhá-los de perto, interpretando-os e atribuindo-lhes sentido. A partir de uma imagem, em um primeiro momento distante e sem sentido, a partir das descrições e interpretações aqui realizadas, foi possível, ao menos em partes, nos aproximarmos e montarmos a imagem mental acerca do estado da arte em que se encontra nossa produção científica atual sobre audiodescrição no país.

Mariana

Quando comecei a engatinhar, batendo nos móveis e me machucando certas vezes, meus pais tiveram certeza de que algo estava fora do comum. Começou então uma bateria de exames, intervenções e investigações por diversos oftalmologistas, hospitais e clínicas. As idas aos médicos eram constantes, cansativas e exaustivas para uma criança. Meus pais nutriam a esperança de uma solução para o meu caso, algo que me fizesse enxergar perfeitamente.

Cresci denominando minha condição visual como “problema de visão” ou por vezes “probleminha de visão”. Era a forma como meus pais denominavam e se referiam à minha condição visual. Como criança, eu reproduzia aquela narrativa que aprendi em casa. Criava estratégias intuitivas para facilitar minha rotina. Circulava sempre pelos mesmos lugares, decorava degraus, escadas e obstáculos na escola e no prédio em que morava. Não precisava andar de noite, quando a visão piorava muito. Ao chegar em um ambiente novo, arrastava os pés pelo chão e caminhava devagar, pois poderia haver algum degrau ou buraco. Esses comportamentos faziam com que eu fosse confundida com uma pessoa tímida, introvertida, retraída e até com dificuldade social.

Foi a partir do vestibular e da época da faculdade, quando decidi pelo curso de Jornalismo, que passei a ter maior consciência acerca da minha própria condição. Comecei a entender que, na verdade, eu era uma pessoa com deficiência visual. Mesmo que não me apresentasse assim ou não tivesse essa identidade de forma clara, precisava pedir adaptações em provas, entregar laudos médicos para seleções ou concursos. No momento de me candidatar para vagas de estágios, percebia que não estava nas mesmas condições de colegas que enxergavam plenamente.

Descobrir o conceito de baixa visão e conhecer outras pessoas com aquela condição, entre elas a Maria Claudia – amiga querida e colega de autoria deste texto –, era encantador, libertador e entusiasmante. Não estava mais sozinha neste mundo, naquela incompreensão, naquela busca por uma resposta sobre algo que eu sequer sabia bem o que era.

Posso dizer que a audiodescrição sempre foi uma ferramenta presente na minha vida, embora apenas na fase adulta viesse a nomeá-la e conhecê-la aprofundadamente. Passei a estudar a temática, fiz muitos cursos na área da acessibilidade cultural e passei a atuar como consultora em audiodescrição. Essa atividade é desempenhada pela pessoa com deficiência visual que faz parte da equipe de audiodescrição de determinado produto cultural ou ambiente, fazendo uma espécie de validação das descrições, indicando o que pode ser compreendido a partir da sua forma de ver o mundo e o que não pode ser compreendido. O consultor ou consultora em audiodescrição, em diálogo com o roteirista, esclarece sobre sua forma de ver e perceber o mundo sem a visão. Algo que é evidente para quem enxerga pode não ser para quem não enxerga. A forma de descrever determinada imagem faz toda a diferença na compreensão da pessoa com deficiência visual e o consultor está lá para prestar essa assessoria linguística. Eis um ofício que corroborou meu encanto pelas palavras e pela língua, tornando ainda mais evidente minha paixão pelo português, pela literatura e pelas riquezas que uma boa descrição pode proporcionar em termos de fruição estética e artística.

Assim, posso dizer que a língua, a forma de nomeação e a descoberta de que o tal “probleminha de visão” tinha uma grande dimensão em minha vida, me constituindo como uma pessoa com deficiência visual, foram essenciais no processo de constituição da minha identidade. Saber denominar e entender, por exemplo, que o universo das pessoas com deficiência visual era formado por pessoas cegas e pessoas com baixa visão foi um marco importante. Tornar-me uma pessoa com deficiência, embora biologicamente a deficiência sempre estivesse presente, trouxe-me autonomia, segurança e consciência crítica acerca dos processos de in/exclusão pelos quais eu vinha passando ao longo da vida. Enfim, eu não tinha apenas um “probleminha” de visão, tinha sim uma deficiência, o que tornava o quadro clinicamente cada vez mais grave. Paradoxalmente, saber o que eu tinha, entender tudo isso, ajudou a me reconhecer, a me aceitar e contribuiu na compreensão do meu próprio mundo.

4. Considerações finais: a visão que compartilhamos

A deficiência visual de nós duas, embora sejam causadas por patologias distintas, tem em comum o fato de terem origem genética. Para além de ser algo que possa (ou não) ser percebido pelas demais pessoas – referenciando aqui a utilização da bengala ou do cordão de girassol como marcas identitárias –, a deficiência está impressa em nosso DNA, o que nos coloca em uma condição de termos uma anomalia no código genético que nos constitui.

Este contexto enseja debates envolvendo questões sensíveis acerca da ética nas tecnologias de reprodução humana, tendo em vista que hoje já é possível escolher e selecionar embriões pelas características genéticas mais ou menos desejadas. Baierle (2021) compartilha, na obra “Maternidade e deficiência visual: do sonho ao nascimento de Natália”, detalhes sobre sua experiência quando ela e o marido, ambos com deficiência visual, decidem engravidar e o que a ciência, a medicina e os médicos tiveram para lhes dizer ou aconselhar.

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Podia parecer um tanto antiquada, mas eu sentia aquela possibilidade de inseminação como a de transformar a gestação em uma grande compra no supermercado, onde as pessoas pagariam muito dinheiro para selecionar os melhores embriões. Era como se, em última instância, eu pensasse que eu mesma poderia ser aquele embrião rejeitado que seria jogado fora caso os meus pais tivessem feito inseminação. Não considerava justo e humano rejeitarmos uma criança antes mesmo de ela ser gerada em função de sua possível deficiência visual (Baierle, 2021, p. 42)

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Em última instância, estamos em um contexto em que a medicina fala claramente sobre possibilidades de escolha de genes mais ou menos desejados para nossos filhos e as futuras gerações. Já é possível, sim, que pessoas com ou sem deficiência decidam ter filhos com determinadas características genéticas se sua condição financeira viabilizar que possam pagar por isso. Embriões indesejados são simplesmente descartados por não servirem aos ideais procurados ou por não se encaixarem nos padrões da dita “normalidade”, beleza ou outros critérios que possam ser estabelecidos. Diante disso, somos unânimes ao afirmar contundentemente que os avanços na medicina e no mapeamento genético precisam ser feitos com responsabilidade e cautela, pois em um mundo em que cada vez mais nossas escolhas são mercantilizadas não sabemos os rumos dessas possibilidades.

Mais do que isso, se nossa deficiência tem origem genética é porque, de forma ainda mais nítida, faz parte de nossa natureza humana. Assim como a linguagem faz parte de nossa condição humana, e assim como a língua nos constitui enquanto sujeitos, em nosso caso, a deficiência também faz parte de nossa constituição. É por isso que, de forma muito natural, a audiodescrição é realizada de forma intuitiva por outros seres humanos que cercam a pessoa com deficiência visual, passando a lhe descrever o mundo ao seu redor. Cores, paisagens, rostos, imagens, gravuras, filmes passam a ser narrados por quem enxerga, mesmo que este por vezes desconheça a conceituação de audiodescrição.

Nossas experiências endossam a noção de que o mundo, para o ser humano, é um mundo linguístico. Para suprir um dos sentidos mais valorizados na atualidade, a visão, é a língua que vem em nosso socorro. Assim como as línguas de sinais se tornam um direito linguístico, mais do que um direito de acessibilidade, entendemos que a audiodescrição também pode ser vista como um direito linguístico. Ela não só nos dá acesso ao mundo, ela nos faz pertencer ao mundo, na concepção tipicamente benvenistiana de humanidade e língua como indistinguíveis. A descrição que as pessoas fazem daquilo que não é visível para as pessoas com deficiência visual viabiliza nossa existência, mas também cria imagens mentais que para nós passam a ser o mundo.

Nesse sentido, quisemos investigar se as Letras, especificamente o campo da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada, tem se debruçado sobre a audiodescrição e como. Além disso, quisemos entender quem são as pessoas que a pesquisam, que aportes teóricos elas têm buscado, que concepções e estatuto elas têm dado à audiodescrição e de que forma esses pesquisadores e essas pesquisadoras têm projetado a audiodescrição futuramente, enquanto objeto de estudo, enquanto ferramenta assistiva e enquanto constitutiva da subjetividade das pessoas com deficiência visual. Percebemos uma escassez de dissertações e teses a respeito da audiodescrição, reforçando nossa hipótese de que a área das Letras, principalmente da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada, ainda tem espaço para amadurecer suas reflexões e pesquisas sobre o tema, podendo inclusive encampá-lo. Embora o mapeamento que fizemos não permita um aprofundamento de análise, pode apontar para a necessidade de mais pesquisas relacionadas à natureza linguística da audiodescrição no Brasil.

Dito isso, realizar uma revisão sistemática de dissertações e teses sobre audiodescrição neste campo do conhecimento é também nos reconhecer enquanto sujeitos e pesquisadoras na academia. O encontro de trabalhos a esse respeito também nos constitui e nos mobiliza para seguirmos em frente, na nossa condição, adversa e que foge à norma, de pesquisadoras com deficiência visual. Identificar e mapear as pesquisas realizadas nos últimos cinco anos nos auxiliam na busca por esse caminho de conhecimento e que afirma nossa própria existência.

Pessoas com deficiência na academia ainda enfrentam dificuldades e desafios para estarem de fato incluídas. Localizar 21 trabalhos em cinco anos (de 2018 a 2022) de análise pode parecer pouco, mas indica um campo em expansão e traz esperanças nos processos inclusivos no Brasil. Como dito anteriormente, nossa pesquisa teve como objetivo um olhar panorâmico sobre a produção científica e acadêmica a respeito da audiodescrição, servindo como centelha para que mais pesquisadores e pesquisadoras se debrucem sobre o tema, cuja importância para o acesso de pessoas com deficiência a novas oportunidades é imensurável.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

As autoras declaram que não têm interesses financeiros concorrentes conhecidos ou relações pessoais que possam ter influenciado o trabalho relatado neste artigo.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os dados que apoiam as conclusões deste estudo estão disponíveis abertamente no site da Social Science Research Network (SSRN) em http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.4665957.

Fonte de Financiamento

Agradecemos à CAPES pelo apoio financeira na forma de bolsa de estudos de doutorado concedida a Maria Cláudia Gastal de Castro Ramos.

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Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID735.R

Decisão Editorial

EDITOR: Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7532-1210

FILIAÇÃO: Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: O artigo O ESTUDO DA AUDIODESCRIÇÃO NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA: MAPEAMENTO DE TESES E DISSERTAÇÕES NA LINGUÍSTICA TEÓRICA E NA LINGUÍSTICA APLICADA apresenta uma revisão sistemática em teses e dissertações publicadas no Brasil no período de 2018 e 2022 sobre audiodescrição dentro dos estudos linguísticos. As autoras mostram as linhas teóricas da área mais evidenciadas, através de dados quantitativos, com destaque às metodologias utilizadas, considerando as regiões, gêneros dos pesquisadores e espaço de atuação da investigação. Esse tipo de pesquisa pode contribuir para o avanço da Linguística Aplicada, uma vez que ele nos revela a atuação dessa área da Linguística nos diversos espaços sociais e aponta alternativas para as quais  precisamos de um investimento maior. Por essa razão, a nossa recomendação é de aceitar a submissão.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Victoria Wilson da Costa Coelho

ORCID: ttps://orcid.org/0000-0002-5237-8860

FILIAÇÃO: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

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AVALIADOR 2: Ricardo Tavares Martins

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5276-2678

FILIAÇÃO: Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Pernambuco, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2024-02-06 | 08:32 PM

O artigo "O estudo da audiodescrição na produção científica brasileira: mapeamento de teses e dissertações na linguística teórica e na linguística aplicada" trata, como o título sugere, da importância de pesquisas científicas direcionadas para a audiodescrição como fonte teórica e investigativa no campo das Letras, especialmente, da Linguística Teórica e Aplicada. O artigo está muito bem elaborado e é escrito em linguagem clara em que se faz um levantamento de dissertações e teses no campo referido. Porém, o ineditismo não se limita ao tema, ainda tão pouco abordado na área, mas à forma original como foi tratado pelas autoras, na articulação teórica e prática e em associação a dois relatos autobiográficos em que são descritas e narradas as próprias experiências das autoras como pessoas com deficiência. As autoras chamam a atenção para si, mas o fazem inseridas no contexto do artigo em que problematizam nomenclaturas, estereótipos e preconceitos em torno do tema. Trata-se de um artigo instigante e de muita relevância científica e social. Além disso, o texto é um convite aos que se interessam ou possam se interessar pelo tema, sejam acadêmicos da área ou áreas afins ou mesmo não acadêmicos.

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AVALIADOR 2

2024-03-23 | 09:42 PM

O manuscrito faz uma pesquisa documental na base de dados da CAPES sobre teses e dissertações que abordam a temática da audiodescrição. Com metodologia científica pontual, é possível visualizar bem aspectos do gênero artigo científico, tais como objetivos, hipóteses, corpus da pesquisa, resultados e análises, etc. apresentando contribuição para os estudos teóricos e aplicados da Linguística. As contribuições do trabalho podem interessar não apenas a pesquisadores em formação, mas também a pesquisadores que já atuam na área, pois apresenta um recorte das pesquisas em audiodescrição ao longo do território nacional nos últimos anos.

De uma forma geral, o manuscrito está bem escrito, mas apresenta a necessidade de alguns ajustes que serão apontados a seguir, bem como no arquivo que foi corrigido e será enviado. Em suma:a) reflexões sobre questões apontadas no texto (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);b) questões de formatação que envolvem o código linguístico e normas oficiais de formatação dos escritos científicos (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);c) necessidade de ajustes na referenciação teórica com a inclusão de obras e autores/as (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);d) exclusão de trechos que fogem ao gênero artigo científico (indicados na seção "comentários" no arquivo enviado);e) sugestões de encaixe de informações ao longo do texto (indicadas na seção "comentários" no arquivo enviado);f) análise mais exaustiva dos dados (apontadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

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RODADA 2

AVALIADOR 1

2024-04-06 | 07:27 AM

A revisão atendeu satsifatoriamente o solicitado, tanto do ponto de vista linguístico (problemas pontuais), tanto do teórico/metodológico, inclusive deixando mais claras as informações que julg´ávamos pertinentes para maior coesão ao texto como o esclarecimento da indentificação das vozes autoras em duas seções distintas do artigo. Maiores detlahes metodológicos enriqueceram ainda mais o excelente e relevante texto.

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AVALIADOR 2

2024-04-15 | 12:01 PM

O manuscrito revisado teve as modificações realizadas de forma satisfatória. Há apenas mais alguns detalhes de ajustes que estão descritos na seção "comentários" no arquivo que vai enviado nos anexos.

Resposta dos Autores

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID735.A

RODADA 1

2024-04-05

· Abaixo está a mensagem da parecerista Vitória Wilson da Costa em destaque amarelo. Nossas respostas estão em itálico ou em fonte Times New Roman.

Há alguns problemas pontuais de ordem linguística como: (i) usar a ênclise em interessa-nos (p.4);

Ø Esse ponto foi corrigido. Reescrevemos como “interessou-nos” (p. 4), seguindo também sugestão do parecerista Ricardo Martins de que o verbo fosse para o passado.

(ii) a fim de interpretá-los e não afim de interpretá-los (p. 13); empregar a preposição em: no prédio [em] que morava (p. 20).

Ø Esses dois pontos linguísticos também foram corrigidos, acatando as sugestões da parecerista.

Além disso, sugiro que na introdução seja explicitada a inserção das duas narrativas - uma logo após a introdução e a outra que antecede as considerações finais - para efeito de coesão textual e de adequação ao gênero textual (artigo). A voz das autoras traz uma contribuição inédita e importante no contexto do artigo, mas o leitor é surpreendido nesse sentido, inclusive porque cada "seção" é identificada com o nome das próprias autoras. Para evitar estranhamento e para melhor adequação ao gênero, indicar e contextualizar as narrativas se faz necessário no meu entender.

Ø Seguimos a orientação da parecerista e explicitamos na introdução que o leitor encontrará os relatos pessoais das autoras ao longo do artigo. A explicitação se encontra na página 5 do artigo e diz:

Por conta do nosso interesse nesse campo se estender para além das nossas áreas de pesquisa mas também na colocação dos nossos corpos no mundo, achamos importante relatar nossas experiências como pessoas com deficiência e acadêmicas, introduzindo breves relatos pessoais durante o artigo. Por maior que seja a resistência de conectar subjetividade e ciência, entendemos que a nossa pesquisa não tem como prescindir de nossas vivências, portanto as trazemos aqui para reforçar nossa atenção à audiodescrição. O primeiro relato, da Maria Cláudia, encontra-se logo após a Introdução, e o segundo relato, da Mariana, encontra-se em seção anterior às Consideraçãoes Finais.

No mais, o texto está bem desenvolvido, bem fundamentado e apresenta uma metodologia adequada como também uma boa discussão dos resultados. Meu parecer, portanto, é favorável à publicação.

· Abaixo está a mensagem do parecerista Ricardo Martins em destaque amarelo. Nossas respostas estão em itálico ou fonte Times New Roman.

De uma forma geral, o manuscrito está bem escrito, mas apresenta a necessidade de alguns ajustes que serão apontados a seguir, bem como no arquivo que foi corrigido e será enviado. Em suma:

a) reflexões sobre questões apontadas no texto (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Refizemos o trecho que fala sobre racismo e preconceito, que ficou como segue, na página 2:

No caso da raça, algo bastante semelhante acontece: se a cor da pele não implica diferenças biológicas e fisiológicas, ou seja, raças diferentes, a atribuição preconceituosa de sentido que foi construída historicamente a partir de narrativas de superioridade racial e que justificaram atrocidades como a escravidão de pessoas negras, classifica os seres humanos em hierarquias sociais distintas. Por ventura, algumas pessoas podem se interessar em desconstruir não só a percepção de raça como também de estrutura social que se beneficia do racismo.

Ø Refizemos o trecho a respeito da questão da imagem interna e da externa, na página 10:

A partir do enunciado do outro, aquele que ouve, de forma responsiva, passa a conceber imagens internas que são compreendidas como a imagem externa, passam a enxergar o que materialmente nunca verão.

b) questões de formatação que envolvem o código linguístico e normas oficiais de formatação dos escritos científicos (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Todas as sugestões de ajuste linguístico foram acatadas.

Ø Revisamos os nomes de autores entre parênteses, como sugerido, reescrevendo-os somente com a inicial dos nomes e sobrenomes em maiúsculo, conforme nova norma da ABNT.

Ø Revisamos os as referências bibliográficas, retirando o destaque dos subtítulos das obras referenciadas, conforme solicitado.

Ø Acrescentamos o motivo para a delimitação de anos (2018 a 2022) e o motivo de nossa pesquisa ter se limitado ao português brasileiro. Pode-se encontrar tais ajustes nas páginas 11 e 15. Os textos ficaram como abaixo:

Optamos por fazer a busca somente de trabalhos escritos em português por ser nossa língua materna e a língua em que a maioria dos trabalhos acadêmicos são produzidos no Brasil. (página 11).

Esclarecemos que a escolha de um período não maior de cinco anos se deve em boa parte por conta das dificuldades de acessibilidade a portais como o da Capes e outros. Nosso tempo de trabalho de pesquisa, construção de tabelas e produção de artigo é mais demorado que o de pessoas videntes, devido à nossa dependência de leitores de tela, fontes ampliadas e recursos humanos. Além disso, a escolha dos últimos cinco anos se deve ao fato de que nos interessa os estudos mais atualizados sobre audiodescrição dentro das áreas que recortamos. Também justificamos o uso do Portal da Capes como plataforma de busca devido ao fato de que essa é uma plataforma de amplo uso das universidades brasileiras, sendo um lugar que compila parte significativa da produção acadêmica e científica do país. (página 15).

c) necessidade de ajustes na referenciação teórica com a inclusão de obras e autores/as (detalhadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Foi sugerido que aprofundássemos questões sobre deficiência e audiodescrição, dois tópicos centrais para o texto. Acatamos a sugestão e definimos deficiência visual nas páginas 2 e 3, conforme segue abaixo:

Para fins de delineamento deste artigo, é importante salientar que abordaremos a questão da deficiência visual que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, pode ser definida como a perda total ou parcial da visão, congênita ou adquirida, podendo ser variável o nível de acuidade, determinando dois grupos de deficiência: a cegueira e a baixa visão. A pessoa cega apresenta a perda total da visão, o que a impede de enxergar imagens, letras e outros elementos que exigem a visão, fazendo com que desenvolva o processo de aprendizagem da escrita, por exemplo, por meio de outros sentidos como o tato, através do uso do Sistema Braille. Já a pessoa com baixa visão, embora apresentando comprometimento no funcionamento visual, pode ler textos impressos, visualizar imagens, desde que faça uso de instrumentos especiais como tipos ampliados, planos inclinados e lupas manuais (Brasil, 2007; Instituto Benjamin Constant, 2002 apud Bezerra et al, 2018, p.62). Baierle (2018) afirma que o primeiro passo para entender e se aproximar do universo da baixa visão é compreender que ninguém no mundo enxerga de forma igual a outra pessoa, independentemente do nível clínico de visão de cada uma.  “A baixa visão é o entrelugar entre o ver e o não ver. É o entrelugar entre a cegueira e a visão dita “normal”. É também o ver e o não ver de forma simultânea” (Baierle, 2018, p. 4).  De forma genérica, o termo baixa visão designa acuidade visual inferior a trinta por cento.

Tanto pessoas cegas quanto com baixa visão beneficiam-se e utilizam-se dos recursos de audiodescrição e descrição de imagens em diferentes âmbitos de suas vidas.

Ø Desdobramos audiodescrição nas páginas 7 e 8, adicionando referencial teórico, conforme texto abaixo:

Como mencionado acima, a audiodescrição pode ser entendida de diversas formas. Sua definição mais ampla e da qual partem as diversas concepções teóricas que a estudam é a de transformar imagens em palavras. “Nesse contexto, nasce a audiodescrição. Ela surge como uma tecnologia assistiva que busca suprir a lacuna deixada pela comunicação visual, para aqueles que dela não conseguem tirar proveito.” (Sant’Anna, p. 154). Como pessoas com deficiência visual, sabemos da suma importância da audiodescrição, e, como estudantes de Letras, entendemos que essa importância se deve para além de ser ela uma ferramenta assistiva, ou uma questão de identidade, mas por ser fruto da linguagem, o que nos constitui como seres humanos.

É comum que quando pensemos na audiodescrição, pensemos em comunicação. Sant’Anna (2010), ao falar da audiodescrição, diz que:

Como já citado, a comunicação é uma necessidade básica do ser humano. Se considerarmos a audiodescrição um recurso que, dada a evolução das tecnologias, torna-se imprescindível, é impossível imaginar a vida diária sem ela, sob pena de gerarmos, guardando as devidas proporções [...] grande ansiedade, além do próprio prejuízo causado pela falta de compreensão do que nos cerca, provocado pela sua ausência. (p. 154).

No entanto, logo no início de seu texto, ele mesmo compara a língua às necessidades básicas do ser humano, tais como comer e dormir:

Deste modo, podemos facilmente concluir que, tão importante quanto alimentar-se, dormir e tomar banho é comunicar-se. Na verdade, é impossível viver em sociedade sem se comunicar. Imagine-se em um lugar fechado, com uma pessoa desconhecida, com quem estivesse proibido de se comunicar, e com ordem de se ignorarem mutuamente... Não demoraria muito para concluir que seria impossível ignorar a presença do outro. Os menores gestos passariam a ser observados atentamente. Cada qual procuraria interpretar o comportamento do outro e atribuir-lhe um sentido. Não demoraria muito para que cada um começasse a orientar suas atitudes em função das do outro. (p. 152).

O que Sant’Anna descreve acima é mais do que comunicar, é atribuir sentido e espelhar-se no outro para a composição da intersubjetividade. O argumento de Sant’Anna, no entanto, é o que sustenta seu artigo sobre a indispensabilidade da audiodescrição. Nossa compreensão dessa indispensabilidade vai além, visto que a compreendemos como constitutiva da natureza humana, como discorremos abaixo.

d) exclusão de trechos que fogem ao gênero artigo científico (indicados na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Não acatamos a essa sugestão. Entendemos que os relatos pessoais que incluímos no texto não desfiguram ou desvalidam nossa pesquisa e o gênero textual artigo acadêmico. Também entendemos que esses trechos estão a serviço de nosso artigo, encorpando nossa argumentação a respeito da audiodescrição enquanto fenômeno linguístico indispensável para a vida das pessoas com deficiência visual.

e) sugestões de encaixe de informações ao longo do texto (indicadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Foi sugerido que rearranjássemos a apresentação do nosso artigo, tirando-a da seção Fundamentação Teórica e colocando-a na seção Introdução. Acatamos a sugestão com o texto que se encontra nas páginas 4 e 5:

A partir das noções da linguagem enquanto constitutiva humana e do discurso enquanto forma de agir no mundo, estamos convencidas, portanto, que a audiodescrição é objeto de estudo primordial da Linguística – seja na Linguística Teórica seja na Linguística Aplicada. O que temos suspeitado, no entanto, é que a audiodescrição tem sido tomada mais como uma questão de inclusão, sendo relegada e abraçada pela área da Educação. No intuito de investigar se e como ela tem sido objeto da Linguística, nos dispusemos a construir um panorama das produções científicas brasileiras dentro da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada que venham estudando a audiodescrição. Centrando-nos em teses e dissertações, fizemos uma busca no Catálogo da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) e encontramos uma produção de vinte e um trabalhos no período de 2018 a 2022. O olhar mais minucioso desses resultados se dará na seção Resultados e Discussão. A soma de vinte e um trabalhos, ao considerarmos que se trata de um mapeamento de toda produção científica dos últimos cinco anos em instituições de ensino superior do país, no entanto, já é um possível indício de como nossa área ainda tem muito a adentrar neste assunto, a fim de humanizar ainda mais a vida das pessoas com deficiência visual.

Ø Foi sugerido que (1) deslocássemos um pequeno trecho para as Considerações Finais que afirmava que a pesquisa é panorâmica e pode continuar sendo melhorada. Também foi sugerido que acrescentássemos na seção das Considerações Finais (2) as limitações da pesquisa, (3) uma retomada dos nossos objetivos e (4) um convite para que outros pesquisadores se interessem pelo tema. Nossa nova composição, acatando as sugestões, ficou como segue (página 26):

Nesse sentido, quisemos investigar se as Letras, especificamente o campo da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada, tem se debruçado sobre a audiodescrição e como. Além disso, quisemos entender quem são as pessoas que a pesquisam, que aportes teóricos elas têm buscado, que concepções e estatuto elas têm dado à audiodescrição e de que forma esses pesquisadores e essas pesquisadoras têm projetado a audiodescrição futuramente, enquanto objeto de estudo, enquanto ferramenta assistiva e enquanto constitutiva da subjetividade das pessoas com deficiência visual. Percebemos uma escassez de dissertações e teses a respeito da audiodescrição, reforçando nossa hipótese de que a área das Letras, principalmente da Linguística Teórica e da Linguística Aplicada, ainda tem espaço para amadurecer suas reflexões e pesquisas sobre o tema, podendo inclusive encampá-lo. Embora o mapeamento que fizemos não permita um aprofundamento de análise, pode apontar para a necessidade de mais pesquisas relacionadas à natureza linguística da audiodescrição no Brasil.

Dito isso, realizar uma revisão sistemática de dissertações e teses sobre audiodescrição neste campo do conhecimento é também nos reconhecer enquanto sujeitos e pesquisadoras na academia. O encontro de trabalhos a esse respeito também nos constitui e nos mobiliza para seguirmos em frente, na nossa condição, adversa e que foge à norma, de pesquisadoras com deficiência visual. Identificar e mapear as pesquisas realizadas nos últimos cinco anos nos auxiliam na busca por esse caminho de conhecimento e que afirma nossa própria existência.

Pessoas com deficiência na academia ainda enfrentam dificuldades e desafios para estarem de fato incluídas. Localizar 21 trabalhos em cinco anos (de 2018 a 2022) de análise pode parecer pouco, mas indica um campo em expansão e traz esperanças nos processos inclusivos no Brasil. Como dito anteriormente, nossa pesquisa teve como objetivo um olhar panorâmico sobre a produção científica e acadêmica a respeito da audiodescrição, servindo como centelha para que mais pesquisadores e pesquisadoras se debrucem sobre o tema, cuja importância para o acesso de pessoas com deficiência a novas oportunidades é imensurável.

f) análise mais exaustiva dos dados (apontadas na seção "comentários" no arquivo enviado);

Ø Foi sugerida ampliação das tabelas 1 e 2. A primeira com acréscimo da instituição de origem de cada pesquisador, e a segunda com distinção entre teses e dissertações. As tabelas foram modificadas e se encontram nas páginas 14 e 16.

Ø Foi sugerido que aprofundássemos nossas análises, principalmente procurando explicar:

(1) a metodologia predominante nos trabalhos. Acatamos a sugestão e escrevemos o trecho que se encontra na página 18:

Supomos que a elaboração de roteiros de audiodescrição se destaca devido à acessibilidade prevista em lei. Por conta disso, a legislação brasileira exige que uma parcela dos programas televisivos, bem como espetáculos artísticos, sessões de cinema e editais de fomento à cultura contemplem a audiodescrição.

(2) por que mais trabalhos foram encontrados na Universidade Estadual do Ceará. Acrescentamos tal trecho na página 20:

A partir da instituição dos pesquisadores podemos compreender como ocorre essa distribuição de forma ainda mais específica. Na região Nordeste, temos dois trabalhos na Universidade Federal da Bahia e mais um trabalho na Universidade Católica de Pernambuco. Chama a atenção a concentração de trabalhos na Universidade Estadual do Ceará (UECE), com 9 trabalhos, o que nos leva a vê-la como um polo de produção de trabalhos sobre audiodescrição dentro das áreas da Linguística e Linguística Aplicada. Na tentativa de compreender o motivo de tal concentração, fomos atrás do website do Programa de Pós-graduação em Letras da UECE e dos nomes dos e das docentes que orientaram as dissertações e teses elencadas aqui. O PPG da UECE se chama PosLA (Pós-graduação em Linguística Aplicada) e, dentre as suas três linhas de pesquisa, vale destacar a linha 2: Multilinguagem, Cognição e Interação (UECE, 2024), responsável pela oferta de disciplinas como Tradução Audiovisual e Tópicos em Multilinguagem, Cognição e Interação, abrangendo desta forma a audiodescrição no currículo do curso. Nessa linha 2, encontram-se ainda o professor Wilson Junior de Araujo Carvalho e a professora Vera Lucia Santiago Araújo, cujos currículos se voltam para a pesquisa da audiodescrição enquanto fenômeno da linguagem. Além disso, quatro dos 9 trabalhos vinculados à UECE foram orientados pelo professor Pedro Henrique Lima Praxedes Filho, que, conforme currículo Lattes, tem vasta formação em tradução e voltou seu pós-doutorado para a tradução audiovisual. Esses achados reforçam a UECE como pólo de pesquisa e produção acadêmica na área da audiodescrição sob a perspectiva linguística.

(3) por que determinados gêneros discursivos aparecem mais como gêneros que são audiodescritos do que outros. Escrevemos o seguinte na página 22:

Desse modo, as pesquisas que investigam a audiodescrição em “Filme/ seriados”, seguidas pelas que envolvem as categorias “Teatro” e “Manuais, cartilhas ou pesquisas sobre AD”, destacam-se em relação aos demais gêneros discursivos da audiodescrição. Esses achados reforçam nossa hipótese de que o fato de a legislação brasileira exigir acessibilidade por meio da audiodescrição para programas televisivos, espetáculos, sessões de cinema e editais de fomento à cultura incentiva trabalhos que pensem na aplicação prática da audiodescrição, que se verifica no maior número de trabalhos envolvendo filmes e seriados.

How to Cite

RAMOS, M. C. G. de C.; BAIERLE, M. The Study of Audio Description in Brazilian Scientific Production: Mapping Theses and Dissertations in Theoretical Linguistics and Applied Linguistics. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, p. e735, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id735. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/735. Acesso em: 2 jul. 2024.

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