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Pilot Study

Pretonic Vowels of Príncipe Kabuverdianu

Shirley Freitas

University for International Integration of the Afro-Brazilian Lusophony image/svg+xml

https://orcid.org/0000-0001-6124-8067


Keywords

Príncipe Kabuverdianu
Oral and nasalized vowels
Pretonic position
Acoustic analysis
Phonological clues

Abstract

This work focuses on Príncipe Kabuverdianu and describes its pretonic vowels, comparing them with the tonic ones. As a corpus for this study, data collected in Príncipe in 2018 were used and the theoretical assumptions are Acoustic Phonetics and previous descriptions of the kabuverdianu of Santiago, the island where most of the migrants come from (Carreira, 1983). Pretonic vowels were divided into oral and nasal. Oral pretonic segments were [i, e, ɛ, ə, ɐ, a, ɔ, o, u], which, compared to stressed vowels, last less (with the difference being on average 30 milliseconds) and are more centralized. As for vowels with a nasal feature, the application of heterosyllabic nasality (with the consonants [m] and [n] in the following syllable) was not recorded, with the realizations [i, e, ə, ɐ, a, o, u]. Considering the tautosyllabic nasality, the realizations [ĩ, ẽ, ɛ̃, ə̃, ɐ̃, õ] were found. Of the 20 occurrences of nasalized pretonics, in 17, the murmur was present both in front of fricatives and stops consonants. The nasalized pretonic vowels had a longer duration than their oral counterparts, which, together with the presence of the nasal murmur, can be pointed out as indicative of the biphonemic nature of the nasal vowel (/VN/). In short, the data analyzed bring new information regarding the descriptions of Santiago (such as the presence of 3 central vowels), which reveals the importance of studying different varieties and contributes to a greater understanding of the linguistic reality of Príncipe.

Resumo para não especialistas

São Tomé e Príncipe, país da África Ocidente, constitui uma comunidade multilíngue. Dentre as diversas línguas usadas, este artigo enfoca o kabuverdianu do Príncipe (variedade ainda pouco estudada), descrevendo as vogais pretônicas e comparando-as com as tônicas. O kabuverdianu passa a compor o cenário linguístico do país, a partir do início do século XX, quando se inicia uma massiva imigração caboverdiana para o arquipélago para trabalhar nas roças de café e cacau. Utilizando um corpus coletado em 2018, são apresentadas as realizações fonéticas das vogais pretônicas orais e nasais. Foram encontradas 9 vogais pretônicas orais, ampliando as descrições prévias de Santiago, que trazem apenas 8. Em palavras em que a consoante nasal está na sílaba seguinte (como em to-ma-ti ‘tomate’), a realização da vogal pretônica é sempre oral; ao passo que em casos em que a consoante nasal está na mesma sílaba (como kon-fia ‘confiar’), a realização é nasalizada. Os resultados encontrados lançam algumas pistas para a interpretação fonológica dessas vogais, contribuindo não somente para um maior entendimento da realidade linguística do Príncipe, mas também para mostrar que tal variedade é diversa do kabuverdianu falado em outros lugares, como em Santiago.

Introdução

São Tomé e Príncipe (doravante STP) é um país situado na costa ocidental africana, no Golfo da Guiné, formado por duas ilhas: São Tomé e Príncipe. São Tomé, cuja capital é a cidade de São Tomé, é a maior das ilhas, sendo formada por seis distritos (Água-Grande, Cantagalo, Caué, Lembá, Lobata e Mé-Zóchi), e é onde está situado o centro administrativo do país. Já o Príncipe é uma região autônoma, tendo como capital regional (do distrito de Pagué) a cidade de Santo António. De acordo com o censo de 2012, aproximadamente 171.856 pessoas vivem em São Tomé e 7.344, no Príncipe, totalizando 179.200 habitantes no arquipélago (INE, 2012).

STP possui uma realidade multilíngue, reunindo línguas como santome, lung’Ie, angolar – línguas crioulas autóctones, oriundas de uma mesma língua ancestral, o protocrioulo do Golfo da Guiné, conforme Bandeira (2017) –, kabuverdianu (língua crioula transplantada no início do século XX) e variedades do português, como a santomense e a principense. Diante das diversas línguas faladas, esta pesquisa se debruça sobre o kabuverdianu do Príncipe, buscando descrever as vogais pretônicas (orais e nasalizadas), comparando-as com as tônicas. A variedade de kabuverdianu falada no Príncipe não tem sido foco de muitos estudos sistemáticos – com exceção de Freitas, Bandeira e Agostinho (2021) –, o que mostra a relevância da pesquisa, na medida em que permitirá não só conhecer uma variedade (que poderá ser cotejada com estudos prévios sobre o kabuverdianu falado em outros locais), mas também ampliar os conhecimentos acerca da realidade linguística do Príncipe.

O texto deste artigo organiza-se da seguinte forma: a seção 1 apresenta alguns aspectos sociohistóricos gerais da migração caboverdiana para STP a partir de 1902. Na seção 2, é discutido o cenário linguístico vigente em STP, com ênfase para a situação do Príncipe. A seção 3, por seu turno, se destina ao referencial teórico e à metodologia, trazendo a caracterização do corpus e os instrumentos de análise. A seção 4 tem como foco a discussão dos resultados, divididos entre as vogais pretônicas orais (subseção 4.1) e nasalizadas (seção 4.2). Por fim, na seção 5, aparecem as considerações finais.

1. A migração caboverdiana para São Tomé e Príncipe: aspectos gerais

Essa seção consiste em um breve panorama do cenário sócio-histórico da migração caboverdiana para STP, sendo relevante para a descrição a ser realizada na seção 4 por permitir um melhor entendimento não só da importância da comunidade caboverdiana para o cenário linguístico de STP, mas também do motivo de se comparar os resultados encontrados com a variedade falada em Santiago.

A colonização portuguesa de STP tem início no final do século XV e, a partir da ocupação portuguesa das ilhas, o arquipélago passa a funcionar inicialmente como importante entreposto de escravizados e posteriormente como um centro monocultor açucareiro (cf. Bandeira, 2017 para uma discussão mais aprofundada acerca da colonização portuguesa). Alguns anos depois do declínio da cultura do açúcar, em meados de 1800, ocorre uma recolonização do arquipélago. Nesse período, as atividades econômicas se concentram na monocultura de café e depois de cacau, e passam a compor a paisagem do arquipélago as chamadas roças (propriedades monocultoras de pequeno, médio e grande porte), termo que ainda é usado em STP mesmo nos dias de hoje. De acordo com Seibert (2015), essa fase de recolonização iniciada em 1852 foi caracterizada por um maior aporte de colonos portugueses em direção ao arquipélago, pela marginalização dos forros e pela entrada de um novo segmento social, os trabalhadadores contratados, também chamados de serviçais em alguns estudos.

O advento do trabalho contratado no arquipélago se deu em virtude da abolição da escravatura oficialmente em 1875 – de fato em 1878, de acordo com Nascimento (2010) – acompanhada da recusa da população nativa (forros, angolares e principenses) de trabalhar nas roças para os colonos, em virtude das extenuantes condições de trabalho bastante semelhantes à escravidão e da própria posição de inferioridade ocupada pelos trabalhadores serviçais na pirâmide social. Dentre os contratados que chegam a STP, Carreira (1983) menciona que, entre o começo de 1900 e 1922, predominavam trabalhadores angolanos e moçambicanos, realidade que começa a se alterar a partir da década de 1920, quando passa a ser numericamente expressiva a chegada de trabalhadores caboverdianos ao arquipélago.

A migração caboverdiana para STP tem início no começo do século XX, mais precisamente em 1902/1903 (os estudos variam entre esses dois anos) e perdura, em maior ou menor grau, no decorrer desse século. Os anos de 1930, 1940 e 1950 marcam a chegada dos maiores contingentes segundo Nascimento (2003 apud Feio, 2016) e a partir de 1940/1950, de acordo com Eyzaguirre (1986) e Nascimento (2008), os caboverdianos passam a compor a maior parte dos contratados.

Um aspecto que diferencia a migração caboverdiana da angolana e moçambicana é que, no caso de Cabo Verde, migraram não somente homens, mas também casais e famílias, ou seja, mulheres e crianças. De acordo com Berthet (2011), essa diferença reflete o desejo do governo colonial de formar em STP uma classe social agrícola até então inexistente, uma vez que muitos contratados já partiam para STP com seu núcleo familiar formado (Carreira, 1983).

Nascimento (2008) afirma que a ilha de Santiago foi a principal fornecedora de mão-de-obra. Em um de seus trabalhos, o autor entrevistou antigos contratados da ilha de São Vicente, chegando à conclusão de que nessa ilha a migração para STP não constitui um aspecto marcante e comum, tendo se iniciado somente em 1952, reunindo números menores do que aqueles de Santiago. O autor menciona ainda que alguns caboverdianos que saíam de São Vicente eram oriundos das ilhas vizinhas de Santo Antão e São Nicolau. Essa afirmação de Nascimento (2008) ilustra o fato de que o porto de saída dos trabalhadores contratados não necessariamente indica a procedência dos imigrantes, podendo haver uma movimentação dos caboverdianos entre as ilhas (ainda que tal trânsito não fosse tão massivo), o que aponta a necessidade de atenção ao olhar para os dados sobre os portos de saída. Além disso, segundo o autor, as diferentes procedências não necessariamente apontam a sobrevivência de traços identitários tão específicos, já que as condições de vida similares nas diversas roças santomenses acabaram por homogeneizar as particularidades das diferentes ilhas caboverdianas, as quais, apesar de existentes, terminaram suplantadas pela identificação dos caboverdianos em geral como um grupo.

Considerando o número de caboverdianos que migraram para STP, segundo Carreira (1983), os dados encontrados nos estudos são bastante diversos, seja porque os números de contratados são menores do que a realidade, seja porque os estudos seguem diretrizes diferentes. Os dados mencionados pelo autor são compilados nas tabelas 1 e 2:

Figure 1. Tabela 1. Migração caboverdiana espontânea para STP (dados de Carreira, 1983).

Figure 2. Tabela 2. Migração caboverdiana forçada para STP (dados de Carreira, 1983).

A partir das tabelas 1 e 2, observa-se que a migração de caboverdianos para STP foi sobretudo forçada, com os números dessa migração sendo bastante superiores àqueles da migração espontânea, o que sugere que de fato muitos caboverdianos não tiveram escolha senão migrar para STP em busca de melhores condições de vida. Além disso, os números mostram que tal decisão não foi totalmente desejada.

Ainda com relação às cifras, Carreira (1983) menciona que a maior parte dos caboverdianos migrou para o Príncipe, enquanto em São Tomé predominaram trabalhadores angolanos e moçambicanos. O autor apresenta dados do Anuário de Lisboa de 1917, que aponta alguns números da migração caboverdiana para STP: (i) em 1915, 58 caboverdianos foram para São Tomé e 907 para o Príncipe; (ii) em 1916, 86 caboverdianos chegaram em São Tomé e 677 no Príncipe; (iii) em 1917, o número de migrantes caboverdianos que migrou para São Tomé foi de 43 e para o Príncipe 190. Esses números certamente se referem somente à migração espontânea, cujas cifras entre os anos de 1915 a 1917 são mais próximas daquelas apresentadas na tabela 1.

Quanto à percepção dos próprios caboverdianos sobre a migração para STP, Nascimento (2007) e Semedo (2016) apontam que é comum rotular essa como a pior migração caboverdiana em virtude das duras condições de trabalho (que na verdade replicavam a escravidão) e das poucas chances de repatriação, que era muito mais um sonho distante do que uma realidade.

Nos dias atuais, existe uma comunidade caboverdiana (formada por antigos contratados e seus descendentes) numericamente expressiva em STP. Assim sendo, nota-se que, mesmo após o fim dos contratos, muitos caboverdianos e seus descendentes optaram por permanecer em STP. As condições de vida da comunidade caboverdiana em STP são bastante difíceis: aqueles que moram nas cidades possuem empregos desvalorizados, com baixos salários, já aqueles do interior/campo (grande parte, pelo menos no Príncipe) vivem em casas humildes, muitas vezes sem água encanada e luz elétrica.

2. Aspectos linguísticos de São Tomé e Príncipe

No que se refere a questões linguísticas, de acordo com Bandeira (2017), a partir das interações entre diferentes segmentos sociais (sobretudo portugueses e escravizados de diferentes etnias), já no início da colonização, surge o protocrioulo do Golfo da Guiné, que mais tarde daria origem a quatro línguas diferentes: santome (falado na ilha de São Tomé), lung’Ie (falado no Príncipe), angolar (falado também em São Tomé, na comunidade de São João dos Angolares, distrito de Caué) e fa d’ambô (falado na ilha de Ano Bom). As três primeiras línguas, juntamente com o português, fazem parte do cenário linguístico de STP. Com relação especificamente ao português, é importante salientar que a variedade falada no arquipélago não é a norma lisboeta (ainda que essa seja um modelo para alfabetização e goze de prestígio entre a população), mas sim uma variedade própria: o português de São Tomé e Príncipe, que apresenta aspectos tanto partilhados quanto específicos com relação a outras variedades como a brasileira e a portuguesa, como discutido, entre outros autores, por Agostinho (2015), Bouchard (2017), Nascimento (2018), Balduino (2018, 2022).

Com relação à língua falada pela comunidade caboverdiana, diversos autores apontam o uso do kabuverdianu. Berthet (2011) afirma que falar kabuverdianu é um dos requisitos da caboverdianidade, isto é, o reconhecimento enquanto caboverdiano. Já Feio (2016) menciona que os descendentes de caboverdianos têm o costume de cantar músicas em kabuverdianu, sendo essa uma das formas de reafirmar a identidade. Semedo (2016), por seu turno, aponta que, independentemente da ilha de origem, os antigos contratados e seus descendentes são unidos por um sentimento de pertencimento a Cabo Verde e se esforçam em cultivar os costumes e tradições de seu país, sendo o uso da língua nativa uma das formas de manter viva a cultura caboverdiana.

De forma geral, a comunidade caboverdiana é bilíngue, o que faz sentido dado que, conforme os dados do Censo de 2012, 98,4% da população de STP é falante de português. Essa situação é diferente daquela vivenciada em Cabo Verde, onde, ainda que o português seja a língua oficial, não é amplamente falado pela população. Tal cenário sociolinguístico terá impactos diretos no desenvolvimento do kabuverdianu, que certamente em STP está mais sujeito a interferências do português do que em Cabo Verde.

3. Referencial teórico e metodologia

Esta seção caracteriza inicialmente o corpus utilizado e, em seguida, apresenta o arcabouço teórico-metodológico e os instrumentos de análise da pesquisa.

3.1. O corpus da pesquisa

O corpus da pesquisa é formado por dados coletados em trabalho de campo preliminar de curta duração realizado no Príncipe em 2018, juntamente com a pesquisadora Manuele Bandeira. Trata-se de entrevistas com duração entre 20 e 30 minutos coletadas com a finalidade de documentação linguística, que podem ser divididas em duas partes (após perguntas gerais como nome, idade, local de nascimento, línguas faladas): (i) a primeira parte constitui uma conversa informal sobre temas diversos, como a rotina de trabalho, a migração para STP, a infância, entre outros; (ii) a segunda parte é formada por perguntas sobre como dizer uma determinada palavra em kabuverdianu, por exemplo, ‘mão’. A escolha das palavras buscou privilegiar itens do vocabulário básico com base na lista Swadesh (Graham & Graham, 2014). Há diferentes versões dessa lista com mais ou menos itens lexicais com registros para diversas línguas do mundo, incluindo línguas crioulas, como kabuverdianu (em diferentes variedades), santome, lung’Ie, angolar, entre outras. O princípio que rege a lista é o de congregar palavras consideradas universais, como pronomes pessoais, partes do corpo, fenômenos da natureza, verbos que se referem a necessidades básicas, entre outros. Assim sendo, considerando que há poucos estudos do kabuverdianu do Príncipe, partir de uma lista que contém um vocabulário básico é um bom ponto de partida para fins de registro e documentação linguística.

O corpus possui ainda uma limitação quantitativa e de perfil sociolinguístico: só foi possível coletar dados com quatro indivíduos do sexo masculino, uma vez que, nos poucos dias de estadia no Príncipe, as mulheres estavam trabalhando e não puderam estar disponíveis para as gravações. A coleta considerou, assim, a disponibilidade e o desejo em participar da pesquisa. A expectativa inicial era construir uma amostra representativa com entrevistados de diferentes faixas etárias e sexos, o que, apesar de não ser condição imprescindível para um estudo acústico, seria relevante para a análise em outras instâncias, como quanto a condicionamentos sociais em processos fonológicos, por exemplo.

Antes de iniciar as gravações, apresentou-se um termo de consentimento livre e esclarecido em que era explicada a natureza e as características da pesquisa e todos os participantes indicaram sua concordância. Em São Tomé e Príncipe, não há Comitê de Ética que defina diretrizes para as pesquisas com seres humanos (como é o caso do Brasil), contudo, do ponto de vista legal, a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais e Capital Humano do governo do Príncipe estava ciente da realização da pesquisa e oficialmente autorizou o uso dos dados gravados para estudos científicos.

Quanto ao perfil, os quatro entrevistados eram adultos, com idades entre 48 e 62 anos, filhos de caboverdianos que migraram para o Príncipe, dois deles nascidos em Cabo Verde e dois já naturais do Príncipe. Os quatro são bilíngues em português-kabuverdianu e afirmaram usar mais kabuverdianu do que português. Quanto à escolaridade, os quatro afirmam ter frequentado a escola, local em que aprenderam o português. Os entrevistados 02 e 03 mencionam ter estudado até a 4ª classe (final do primeiro ciclo do ensino primário, composto por 9 classes). Já os entrevistados 01 e 04 não afirmam claramente quantos anos frequentaram a escola, mas possivelmente deve ter sido também até a 4ª classe já que, na época no Príncipe, só havia escolas até esse nível e eles mencionam dificuldades em viajar para São Tomé.

A caracterização dos entrevistados pode ser vista no quadro 1:

Figure 3. Quadro 1. Perfil sociolinguístico dos entrevistados (Elaboração própria)

A partir dos dados das quatro entrevistas, foi elaborada a base de dados das vogais pretônicas orais e nasalizadas, composta por 170 ocorrências (tendo sido consideradas todas as realizações da mesma palavra), divididas como mostra a tabela 3:

Figure 4. Tabela 3. Distribuição dos dados (Elaboração própria)

Como se observa na tabela 3, a distribuição dos dados entre cada uma das vogais não é equilibrada, o que pode se dever à própria limitação dos dados, aspecto que não diminui a importância da pesquisa, tampouco sua validade. Como já mencionado, buscava-se coletar uma amostra maior do ponto de vista do número de entrevistados e mais diversa quanto ao perfil dos entrevistados. Ademais, esperava-se obter um número mais equilibrado de ocorrências para cada uma das vogais. Nos dados coletados, também não foram realizados experimentos que permitissem controlar o contexto dos dados elicitados, tampouco o propósito inicial dos dados era servir a uma análise acústica. Mesmo não tendo sido possível ter essa amostra mais representativa, a pesquisa é relevante por ser a primeira descrição acústica das vogais pretônicas do kabuverdianu do Príncipe. Para dirimir as limitações, teve-se o cuidado de focar sobretudo na descrição dos resultados encontrados e buscar lançar algumas pistas sobre suas possíveis explicações, tomando sempre cuidado para não trazer afirmações muito taxativas e generalizantes dado o pequeno número de dados.

3.2. Instrumentos de análise

Este artigo realizou uma análise fonética (acústica) – com base em Ladefoged (1975), Barbosa e Madureira (2015) e Cristófaro Silva et al. (2019) –, com pontos de contato com a fonologia. Mediante análises espectrais, descrevemos aspectos como duração e formantes de vogais, identificando os segmentos fonéticos presentes na posição pretônica do kabuverdianu do Príncipe, e alguns fenômenos, como a nasalidade tautossilábica e heterossilábica e a harmonia vocálica. Ademais, estabelecemos o espaço acústico das vogais fonéticas, analisando a relação das vogais entre si. Assim, buscou-se mostrar como os achados fonéticos podem lançar pistas acerca do comportamento fonológico (enquanto sistema) dessas vogais. Essa perspectiva se alinha com os estudos que mostram que as fronteiras entre fonética e fonologia não são tão estanques, devendo estar em um diálogo constante, a exemplo de Albano (2001) e Kingston (2007). Além disso, a análise também recorreu a descrições prévias do kabuverdianu de Santiago (Quint, 2000; Lang, 2002; Rodrigues, 2008) e estudos de variedades do português, como Balduino (2022), para fins de comparação. A variedade de kabuverdianu santiaguense foi escolhida pelo fato de, segundo registros históricos (como Carreira, 1983), grande parte dos migrantes que foram para STP ser proveniente dessa ilha. Já o estudo de Balduino (2022) foi considerado por tratar do português de São Tomé e Príncipe, variedade com a qual o kabuverdianu está em contato.

Conforme mencionado na seção anterior, os dados não foram coletados com o objetivo de realizar uma análise acústica. Algumas gravações inclusive foram realizadas em ambiente aberto e, ainda que houvesse um cuidado com barulhos externos, por vezes, a natureza da gravação se refletiu na qualidade dos dados. Nos casos em que havia um ruído de fundo, como outras pessoas conversando, animais, barulhos de carro, entre outros, a ocorrência foi excluída, dado que a análise acústica estava prejudicada. A escolha de usar esses dados para uma análise acústica foi tomada posteriormente, em virtude da pandemia de Covid-19, da impossiblidade de coleta de novos dados e do desejo de analisar o kabuverdianu do Príncipe, variedade escassamente estudada. Assim sendo, apesar das limitações, o corpus coletado e a análise empreendida tornam-se essenciais dentro dos estudos fonéticos e fonológicos que visem analisar o kabuverdianu pelo seu caráter pioneiro e por abrir caminhos para estudos futuros.

Após a transcrição dos vocábulos das entrevistas de áudio, foi realizada a análise acústica dos dados com auxílio do Programa Praat (Boersma & Weenick, 2022). Os vocábulos a serem analisados foram separados e tiveram seus segmentos identificados. Para realização dessa atividade, foi considerado o que estava sendo ouvido (a percepção do segmento) juntamente com o que estava sendo mostrado na análise acústica (espectrograma e formantes).

Para análise, as vogais pretônicas foram divididas em orais e nasalizadas. Foram coletadas 170 ocorrências de vogais pretônicas orais e analisados os seguintes aspectos: duração em milissegundos, F1 (relacionado à altura da língua) e F2 (relacionado ao movimento horizontal da língua – posterioridade/anterioridade da língua) em Hertz; ambos retirados das posições mediais das vogais, posição em que não há a interferência de sons circunvizinhos e de pausa. Quanto às vogais com traço nasal, buscou-se observar se havia nasalidade heterossilábica. No que tange à nasalidade tautossilábica (que totalizou 20 ocorrências), observou-se, além da duração, a presença ou não do murmúrio nasal, considerando para isso critérios como forma da onda e concentração da energia (Balduino, 2018). Nesta pesquisa, não foram analisados os formantes (orais e nasais) nem os antiformantes característicos das vogais nasalizadas em virtude de essas três características acústicas se influenciarem mutuamente e, dada a qualidade dos áudios, seria possível que se incorressem em imprecisões. Assim, deixou-se para estudos futuros (com uma base de dados de fala controlada coletada especificamente para esse fim) a análise dos formantes orais e nasais e os antiformantes. Os correlatos acústicos observados para as vogais nasaliadas foram o murmúrio nasal e a duração em milissegundos.

Foi realizada uma primeira análise de F1 e F2 das vogais a fim de identificar possíveis outliers. Tomando por base o trabalho de Balduino (2022), que menciona os valores médios de F1 e F2 no português brasileiro, europeu, santomense e principense, foi considerado um intervalo possível para cada uma das vogais, excluindo-se os números muito destoantes, em geral oriundos da qualidade do áudio. Assim, os dados foram normalizados usando o método Lobanov para os formantes e o z-score para a duração.

4. Análise dos resultados

Nesta seção, serão apresentados os resultados, divididos em vogais pretônicas orais (subseção 4.1) e vogais pretônicas nasalizadas (subseção 4.2).

4.1. Vogais pretônicas orais

Em posição pretônica, foram encontradas as mesmas realizações orais encontradas em posição tônica: [i, e, ɛ, ə, ɐ, a, ɔ, o, u], como se observa nos exemplos em (1):

Figure 5.

No que diz respeito às vogais médias-baixas, sua realização foi bem restrita (apenas 4 ocorrências em um total de 170): [ɛ] apareceu somente em pertá e [ɔ] apareceu três vezes: uma em torésma ‘torresmo’ e nas duas ocorrências da palavra modjádu. Nessas quatro ocorrências de vogais médias-baixas, é possível conjecturar que o abaixamento da vogal se deu por influência da vogal tônica ([a] ou [ɛ]), em um processo de harmonia vocálica. Ter uma vogal média-baixa (coronal ou dorsal) como gatilho do processo de harmonia é aceito e mencionado em diversas línguas, já a vogal central [a] como gatilho é questionada. Trabalhos como Abaurre e Sandalo (2012), Sandalo (2012), Sandalo, Abaurre e Madruga (2013), Sandalo e Abaurre (2014), Kenstowicz e Sandalo (2016), Madruga, Hamann e Abaurre (2020) questionam o comportamento da vogal central em processos de harmonia, mostrando que, em algumas variedades do português, o [a] pode atuar como gatilho; em outras, não. Duas variedades de português em que o [a] não é gatilho para harmonia são as de São Paulo e de Belo Horizonte; ao passo que em Recife e Porto Alegre, o [a] é gatilho para a harmonia, como em melado [mɛˈladʊ] e lotada [lɔˈtadɐ] (essas palavras seriam realizadas em São Paulo e Belo Horizonte como [meˈladʊ] e [loˈtadɐ]) (Sandalo & Abaurre, 2014). Já no português de São Tomé e Príncipe, como discutido por Balduino (2022), o [a] desencadeia harmonia vocálica de média-baixa, como em recado [ɾɛˈkadʊ] e governar [ɡɔvɛɾˈnaɾ]. Sandalo e Abaurre (2014) inclusive apontam que a dispersão vocálica das diversas vogais seria a responsável por definir o comportamento do /a/: em sistemas em que o /a/ se encontra mais baixo e mais distante das demais vogais, essa vogal não desencadearia harmonia, já nos sistemas em que o /a/ estivesse mais próximo das outras vogais baixas, a harmonia ocorreria. No caso da dispersão acústica do kabuverdianu do Príncipe, como se verá na figura 4.9 a seguir, tal hipótese precisa ser avaliada, já que há outras vogais centrais na língua.

Quanto à distribuição das vogais centrais em posição pretônica, como apontado na seção 3.2, de um total de 72 dados, a variante preferida foi [ə]: 37 ocorrências (51%). Em seguida, veio o [ɐ] (23 ocorrências – 32%) e, por fim, o [a] (12 ocorrências – 17%). Em comparação com a tônica, observa-se uma inversão nas preferências (nessa posição, 65% das realizações foram de [a], seguidas pelo [ɐ] e o [ə]). Esse resultado era esperado, dado que a posição pretônica, sendo mais fraca, seria um locus mais privilegiado para uma vogal reduzida (como é o caso do [ɐ] e do [ə]), enquanto a tônica, tendo mais intensidade, preferiria a vogal mais forte [a].

Assim como ocorreu na posição tônica, na sílaba pretônica, não foi verificado o espalhamento da nasalidade por consoante nasal [m] e [n] na sílaba seguinte, sendo as vogais sempre realizadas de forma oral. Foram encontrados os seguintes fones [i, e, ə, ɐ, a, o, u] (enquanto que em tônica estiveram presentes [i, e, a, ɔ, u]), como se vê em (2):

Figure 6.

Comparando as posições tônica e pretônica, observa-se que, na posição tônica, não foram registrados [ɛ, ə, ɐ, o]. Contudo, não se pode afirmar que, nesse contexto, os segmentos ausentes nunca ocorrem dada a limitação dos dados. Assim, estudos futuros devem se debruçar sobre esse aspecto. Em posição pretônica, observa-se que as médias-baixas [ɛ] e [ɔ] não foram encontradas, o que poderia não estar relacionado à natureza da consoante, mas provavelmente ao fato de as médias-baixas não terem sido recorrentes em posição pretônica como apontado em estudos prévios, como Quint (2000). Tal conjectura para ser confirmada ou refutada precisa da realização de testes, o que pode ser foco de estudos futuros.

Quanto à nasal palatal, foram encontradas somente duas palavras: anhós ‘nós’ e dinheru ‘dinheiro’ e em uma delas a vogal foi realizada oral ([ɐ.ˈɲɔs]) e na outra a vogal foi nasalizada ([dĩ.ˈɲe.ɾʊ]). Dado o pequeno número de ocorrências, não é possível fazer afirmações detalhadas sobre o comportamento do [ɲ] quanto ao espalhamento da nasalidade em pretônicas.

Com relação ao kabuverdianu de Santiago, Quint (2000) menciona que, em posição pretônica, haveria neutralizações, sendo encontrados os fones [i, e, ɐ, o, u]. Esse mesmo cenário é apontado por Lang (2001, 2002), que afirma que as vogais /ɛ, a, ɔ/ só aparecem na sílaba tônica. Por causa disso, caso uma palavra que contenha um desses segmentos em posição acentuada sofra um processo de flexão ou derivação, com consequente deslocamento da sílaba tônica, as vogais centrais/médias-baixas (tanto orais quanto nasalizadas) são substituídas pelas suas correspondentes altas (/e, ɐ, o/), como se vê em (3) (exemplos retirados de Lang, 2002 – o autor afirma que há mais exemplos, mas não os menciona):

Figure 7.

Como vimos, no caso do kabuverdianu do Príncipe, há mais realizações possíveis, podendo ser tema de estudos futuros observar como ocorrem as neutralizações nessa posição. Outro aspecto que pode ser analisado é a possibilidade de redução das vogais pretônicas, fenômeno que não pôde ser analisado dado a quantidade de dados e a qualidade das gravações disponíveis.

Passando aos correlatos acústicos, as médias gerais normalizadas referentes à duração[1] e ao primeiro e segundo formantes (F1 e F2) das vogais pretônicas orais podem ser vistas na tabela 4:

Figure 8. Tabela 4. Valores médios normalizados de F1 e F2, em Hertz, e da duração, em milissegundos, para as vogais pretônicas e tônicas orais do kabuverdianu do Príncipe (Elaboração própria)

A partir da tabela 4, observa-se que, em comparação com as vogais tônicas orais, todas as vogais pretônicas duram menos (com a diferença sendo em média 30 pontos e podendo chegar a uma queda de aproximadamente metade, como no caso da média-baixa dorsal, ou mesmo 69 pontos, como no caso da média-baixa coronal). Essa menor duração das vogais pretônicas já era esperada, tendo sido reportada em outros estudos, como Cristófaro Silva et al (2019), Barbosa e Madureira (2015), Balduino (2022), entre outros. Ainda em comparação com as tônicas, nota-se ainda uma centralização das vogais pretônicas: [i, e, ɛ] são menos anteriores, [a, ɔ, u] são mais anteriores, sendo a vogal [o] mais posterior do que o [u], como se observa na comparação dos espaços acústicos. Esse comportamento pode ser visto no gráfico da dispersão acústica das vogais orais pretônicas, conforme figura 1:

Figure 9. Figura 1. Gráfico do espaço acústico (F1 x F2) dos valores médios de vogais orais pretônicas e tônicas do kabuverdianu do Príncipe (Elaboração própria)

A partir da figura 1, observa-se ainda que o [ɛ] está mais baixo que o [ə], sendo mais próximo das vogais centrais do que das anteriores. Como se trata de apenas 1 ocorrência, esse comportamento deve ser analisado mais detidamente em estudos futuros.

4.2. Vogais pretônicas nasalizadas

Para as vogais pretônicas nasalizadas, foram encontradas as realizações [ĩ, ẽ, ɛ̃, ə̃, ɐ̃, õ], segmentos um pouco diferentes da posição tônica, como se observa nos exemplos em (4):

Figure 10.

Em comparação com as vogais tônicas nasalizadas, as diferenças consistem na ausência de [ã] e [ũ] (que pode ser decorrente da limitação do corpus) e a presença da média-baixa nasal (F1: 558 Hz em comparação com F1 de [e]: 437 Hz), que, contudo, só foi registrada em um único dado (enfia). A ocorrência de [ɛ̃] não era esperada (devendo ser observada com mais detalhes em uma base de dados mais ampla), uma vez que há uma tendência geral das línguas de não possuírem vogais médias-baixas quando a vogal é seguida por uma consoante nasal na mesma sílaba, como é o caso da posição tônica do kabuverdianu do Príncipe e de variedades do português (como o brasileiro e o de São Tomé e Príncipe) e sendo mesmo uma tendência geral das línguas. Kingston (2007, p. 417; tradução nossa) aponta essa tendência geral: ‘‘Em suma, a nasalização reduz os contrastes de altura, e o faz com mais frequência, eliminando vogais médias”.

Considerando a variedade de Santiago, o cenário da pretônica é o mesmo encontrado em posição tônica: Quint (2000) menciona a ocorrência de neutralizações entre as vogais médias e centrais e considera somente cinco fonemas: /ĩ, ẽ, ã, õ, ũ/. Lang (2002) também aponta neutralizações e afirma que o comportamento das vogais nasais depende da natureza da consoante seguinte, replicando o que ocorre na posição tônica. Assim sendo, caso a consoante seguinte seja uma oclusiva ou lateral, a vogal será oral e acompanhada de uma consoante nasal homorgânica, havendo cinco realizações possíveis: kintal [kin.ˈtɐl] ‘quintal’, bengala [beŋ.ˈɡa.lɐ] ‘bengala’, bandoba [bɐn.ˈdo.bɐ] ‘estômago, pança’, konloia [kon.ˈlo.jɐ] ‘conluiar’, kunpridu [kum.ˈpɾi.du] ‘comprido’. O autor não menciona exemplos com consoantes fricativas seguintes, mas a consulta a Lang (2001) mostra que, nesse caso, a vogal seria nasalizada e a consoante nasal não estaria presente, como se observa em konfundi [kõ.ˈfun.di] ‘confundir’, kansadu [kɐ̃.ˈsa.du] ‘cansado’, onradu [õ.ˈɾa.du] ‘honrado’. Do mesmo modo que na vogal nasalizada em sílaba tônica, essa análise de Lang (2001, 2002) pode ser entendida como se referindo à presença ou não do murmúrio nasal.

Sobre a ocorrência do murmúrio, das 20 ocorrências de pretônicas nasalizadas, em 3, a vogal foi seguida por uma consoante fricativa (enfia ‘enfiar’, konfia ‘confiar’ e kansadu ‘cansado’), estando o murmúrio presente em duas delas (no caso de konfia, não foi possível separar a vogal e o murmúrio, o que pode ser decorrente da própria qualidade da gravação). Nas demais ocorrências, a consoante seguinte foi uma oclusiva e o murmúrio só não pôde ser discriminado em 2 delas (vindô ‘termo usado para se referir aos caboverdianos do Príncipe’ (sendo que em outra realização o murmúrio aparece) e xintare ‘sentar’). As figuras 2 e 3 apresentam espectrogramas com alguns exemplos:

Figure 11. Figura 2. Forma de onda (tela 1), espectrograma (tela 2) e camada de etiquetagem de segmentos dos vocábulos mantega ‘manteiga’ e xintare ‘sentar’ (Elaboração própria)

Figure 12. Figura 3. Forma de onda (tela 1), espectrograma (tela 2) e camada de etiquetagem de segmentos de faz’enzami ‘fazer exame’ e konfia ‘confiar’ (Elaboração própria)

Assim como foi encontrado na posição tônica, as vogais nasalizadas em pretônica tanto apresentaram murmúrio diante de oclusivas e fricativas (como em mantega e enzami, respectivamente) quando puderam aparecer sem o murmúrio nesses mesmos contextos (como em xintare e konfia, respectivamente), cenário que aponta a necessidade de mais estudos sobre o comportamento do murmúrio.

Quanto à duração das vogais pretônicas nasalizadas, a expectativa era de que elas tivessem uma duração maior do que suas contrapartes orais, o que foi verificado nos dados, como mostra a tabela 5. Essa maior duração das vogais nasalizadas também se verifica em posição tônica, como mostra a tabela 6.

Figure 13. Tabela 5. Valores médios normalizados da duração, em milissegundos, para as vogais pretônicas orais e nasalizadas do kabuverdianu do Príncipe e a diferença númerica e percentual entre os valores (Elaboração própria)

Figure 14. Tabela 6. Valores médios normalizados da duração, em milissegundos, para as vogais tônicas orais e nasalizadas do kabuverdianu do Príncipe e a diferença númerica e percentual entre os valores (Elaboração própria)

Em pretônicas, a maior diferença entre vogais orais e nasalizadas ocorre no [ɛ] (oral: 44 ms; nasalizado: 121 ms; diferença: 77; porcentagem: 175%) e a menor no [ɐ] (oral: 62 ms; nasalizado: 97 ms; diferença: 35; porcentagem: 57%). No caso das tônicas, a maior diferença ocorre no schwa (oral: 99 ms; nasalizado: 177 ms; diferença: 78; porcentagem: 79%) e a menor no [o] (oral: 109 ms; nasalizado: 138 ms; diferença: 29; porcentagem: 27%).

Assim como no caso das vogais tônicas nasalizadas, essa maior duração das vogais pretônicas nasalizadas, juntamente com a presença do murmúrio nasal podem ser apontados como indicativos da natureza bifonêmica da vogal nasal (/VN/), como defendido por Moraes e Wetzels (1992), Sousa (1994), Seara (2000), Valentim (2009), Balduino (2018) para outras variedades do português, como a brasileira e a santomense e principense. Esse comportamento inclusive também foi verificado em outras línguas crioulas, como atestado por Balduino et al (2015) para o santome e o lung’Ie. De todo modo, no caso do kabuverdianu do Príncipe, são necessários mais estudos para confirmar ou refutar tal hipótese.

Comparando as médias das durações das vogais orais e nasalizadas de forma geral nas posições tônica e pretônica, foram encontrados os seguintes valores:

Figure 15. Tabela 7. Comparação da duração de vogais tônicas orais, tônicas nasalizadas, pretônicas orais e pretônicas nasalizadas do kabuverdianu do Príncipe e a diferença númerica e percentual entre os valores (Elaboração própria)

A partir da tabela 7, observa-se que o continuum proposto por Cristófaro Silva et al (2019) se verifica, com a seguinte escala descrescente de duração: tônica [+ nasal] > átona [+ nasal] > tônica oral > átona oral. Assim sendo, de fato as vogais tônicas costumam ser mais longas do que as átonas, contudo, quando se fala na oposição nasalizada e oral, a duração das vogais nasalizadas será maior do que a das orais, independentemente da tonicidade, ficando tal aspecto em segundo plano.

5. Considerações finais

Este artigo apresentou uma descrição das vogais pretônicas do kabuverdianu do Príncipe, comparando-as com as tônicas. A partir dos resultados, conclui-se que o kabuverdianu do Príncipe não é uma mera reprodução de outras variedades, como a falada em Santiago. No que diz respeito às vogais pretônicas orais, por exemplo, foram encontradas mais realizações do que se imaginava. O quadro 2 contrapõe os achados dessa pesquisa sobre o kabuverdianu do Príncipe com os estudos anteriores que enfocam a variedade santiaguense (Quint, 2000; Lang, 2002; Rodrigues, 2008):

Figure 16. Quadro 2. Comparação entre o kabuverdianu do Príncipe e o de Santiago (Elaboração própria)

Este estudo apresenta um caráter piloto e uma abordagem fonética acústica, sendo um ponto de partida para pesquisas futuras que desejem analisar essa língua. Através da análise, foram lançadas algumas pistas fonológicas, como a discussão sobre a harmonia vocálica e a presença de vogais média-baixas em sílaba pretônica e o estatuto bifonêmico da vogal nasalizada. Esses aspectos devem ser analisados mais detalhadamente em pesquisas futuras. Ademais, podem-se apontar outros desdobramentos futuros, como (i) verificar se ocorrem processos (como ensurdecimento e apagamento) nas vogais pretônicas; (ii) investigar o comportamento das vogais médias e centrais da língua, ponto importante para o sistema como um todo; (iii) comparar os resultados com outras línguas faladas, como o português, sobretudo a variedade principense (Balduino, 2022). Esses e outros temas permitirão conhecer mais não só sobre o kabuverdianu do Príncipe, mas também sobre a complexa realidade linguística da ilha, o que é relevante para os estudos de línguas crioulas em geral e para as pesquisas sobre STP de forma mais específica.

Agradecimentos

Agradeço à Profa. Dra. Amanda Balduino pela leitura atenta da primeira versão deste artigo e pelos valiosos comentários.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

A autora declara não haver conflito de interesses.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os dados, códigos e materiais que suportam os resultados deste estudo estão disponíveis nos apêndices.

Ética e Consentimento

Os participantes desta pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em que constavam as informações gerais da pesquisa e indicaram aceite de sua participação. Não há registro no Comitê de Ética, pois em São Tomé e Príncipe não existe tal comitê, contudo em uma perspectiva oficial, a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais e Capital Humano do governo do Príncipe estava ciente da realização da pesquisa e autorizou o uso dos dados gravados para estudos científicos.

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Apêndices

Dados de pretônicas orais

Figure 17.

Dados de pretônicas nasalizadas

Figure 18.

Dados de tônicas orais

Figure 19.

Dados de tônicas nasalizadas

Figure 20.

Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID760.R

Decisão Editorial

EDITOR: Elisa Battisti

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6701-4218

FILIAÇÃO: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: O artigo As vogais pretônicas do kabuverdianu do príncipe: uma análise preliminar apresenta os primeiros resultados de um estudo das vogais pretônicas da língua kabuverdianu, falada no Príncipe. A análise, adequada e cuidadosamente efetuada, traz novidades em relação às poucas descrições anteriores da língua. Mostra que as vogais orais e nasais pretônicas, comparadas às vogais tônicas, duram menos e são mais centralizadas. As vogais pretônicas nasalizadas têm uma duração maior do que suas contrapartes orais, o que, juntamente com a presença do murmúrio nasal, indicia a natureza bifonêmica da vogal nasal (/VN/). A análise é relevante para as áreas da fonologia e da sociolinguística, contribuindo para esclarecer a organização interna do kabuverdianu e a variedade de realizações da língua.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Samuel Gomes de Oliveira

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1660-3354

FILIAÇÃO: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

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AVALIADOR 2: Laura Helena Hahn Nonnenmacher

ORCID: https://orcid.org/0009-0007-4049-3523

FILIAÇÃO: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2024-04-22 | 11:32 PM

O trabalho objetiva descrever as vogais pretônicas do kabuverdianu do Príncipe, variedade apresentada como ainda pouco estudada. Para tanto, realiza análise acústica a partir de dados coletados para outros fins, o que compromete, em alguma medida, a qualidade dos áudios e, por consequência, a análise em si. De maneira geral, a descrição das vogais pretônicas da variedade enfocada é alcançada, ainda que seja necessário enfatizar que as limitações impõem algumas restrições às considerações que podem ser feitas sobre os dados.

De um lado, o texto apresenta, como fragilidade, a amostra e a análise acústica dela decorrente. De outro, o trabalho tem, como ponto forte, o próprio empreendimento de buscar promover a descrição do kabuverdianu do Príncipe. É possível, a partir da descrição realizada, encontrar semelhanças e diferenças entre o kabuverdianu de Príncipe e o kabuverdianu de Santiago, o que possibilita que pesquisadores tenham de onde tirar hipóteses ao realizarem estudos posteriores com as duas variedades. No que tange ao próprio manuscrito, contudo, é preciso modalizar a conclusão de que o kabuverdianu do Príncipe possui um comportamento próprio, tendo em vista o tamanho da amostra utilizada, considerando-se tanto o número de informantes quanto o número de dados de vogais pretônicas. Assim, o trabalho não possibilita a formulação de generalizações sobre o kabuverdianu falado no Príncipe, mas sim cumpre a função de lançar bases para um estudo dessa variedade, o qual merece ser aprofundado futuramente. Nesse sentido, o artigo serve de ponto de partida para diferentes pesquisas que possam ser feitas sobre o mesmo objeto de estudo.

O artigo, ao apresentar os dados completos nos apêndices, permite que outros pesquisadores possam não apenas conferir as informações, como também utilizar os dados em investigações futuras. É interessante que os dados de áudio possam ser disponibilizados a estudiosos que desejem realizar pesquisas de natureza semelhante.

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AVALIADOR 2

2024-04-18 | 10:29 PM

O tema do presente trabalho é bastante interessante e necessário para a descrição da língua kabuverdianu do Príncipe. Entretanto, o levantamento de dados apresentado no estudo nos traz alguns questionamentos: (i) o que o artigo busca mostrar com a divulgação dos resultados da análise-piloto, com tão poucos informantes e tão pouco dados? (ii) qual é a relevância teórica deles? (iii) que contribuição para a área da fonologia resultados tão preliminares podem fornecer?

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RODADA 2

AVALIADOR 1

2024-05-14 | 11:01 PM

As solicitações de revisão foram atendidas.

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AVALIADOR 2

2024-05-22 | 07:05 PM

O tema do trabalho, como já mencionado anteriormente, é bastante interessante e necessário para a descrição da língua kabuverdianu do Príncipe. O próprio referencial bibliográfico do artigo indica como a literatura sobre tal língua é limitada. Nesse sentido, como a análise sistematiza e descreve bem o seu corpus bastante enxuto, serve de ponto de partida para futuros estudos sobre o mesmo tema. Reforço, no entanto, devido ao número bastante pequeno de informantes e de dados do trabalho, a necessidade do uso de modalizadores para apresentar as suas considerações sobre a análise. Destaco aqui, um erro de digitação a ser corrigido na página 12 ("nasaliadas").

How to Cite

FREITAS, S. Pretonic Vowels of Príncipe Kabuverdianu. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id760. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/760. Acesso em: 16 oct. 2024.

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