Resumo para não especialistas
Em algumas comunidades indígenas com a presença de pessoas surdas pode-se desenvolver uma língua de sinais própria para estabelecer a comunicação. Atualmente, as línguas dessas comunidades têm recebido atenção de pesquisadores e sua estrutura tem sido estudada. Neste trabalho, comparamos a Língua Terena de Sinais - LTS e a Língua Brasileira de Sinais – Libras, a primeira uma língua mais nova e com estudos mais recentes e a segunda uma língua mais antiga e com pesquisas mais avançadas. A importância de pesquisas desse tipo se dá por focar em estudos em línguas de sinais de micro comunidades como as indígenas e dá visibilidade para essa população, mostrando a diversidade cultural da comunidade surda. Dessa forma, a comparação realizada entre essas duas línguas mostra que elas apresentam semelhanças e diferenças em sua estrutura. Assim, os constituintes estruturais (parâmetros fonológicos) presentes na Libras também estão presentes na LTS; a estrutura que mais teve diferença foi a forma da mão (configuração de mão). Portanto, concluímos que essas duas LS são diferentes e que a LTS é uma língua independente, sem origem ou influência na Libras.
Introdução
As primeiras notícias sobre línguas de sinais indígenas (LSI) surgiram a partir dos estudos da LSI Urubu-Ka’apor em 1966 com uma apresentação no workshop do Summer Institute of Linguistic feita por Jim Kakumasu, que foi um missionário e linguista que viveu com os Ka’apor (GODOY, 2020). Desde essas primeiras notícias, trabalhos sobre diferentes LSI têm surgido e mostrado a realidade dos indígenas surdos que vivem nessas comunidades.
A LSI se constrói em comunidades indígenas que têm a presença de surdos que criam uma forma de comunicação compartilhada por seus pares surdos e por ouvintes da comunidade. Discutir a LSI é falar de um espaço social linguístico permeado, atualmente, pela multiculturalidade e pelo contato com línguas orais e com Línguas de Sinais (LS) como a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que é a LS reconhecida nacionalmente por meio da Lei 10.436/2002.
Nesse contexto, a Língua Terena de Sinais (LTS) é uma das LSI que vem recebendo atenção de estudiosos que começam, ainda de forma inicial, a investigar esse sistema linguístico. Segundo Soares (2018), surdos da etnia terena foram identificados na Terra Indígena Cachoeirinha, próximo ao município de Miranda-MS. Nessa aldeia, convivem surdos e ouvintes que utilizam a LTS.
Quanto a presença da Libras na região, Soares (2018) afirma que há jovens surdos estudando na cidade que começam a ter contato com a Libras, contudo, quando em comunicação com os amigos surdos da aldeia, esses jovens utilizam a LTS. Esse cenário bilíngue demonstrado pelos surdos em convívio com a Libras e a LTS dão indício de que essa LSI se constitui como um sistema autónomo.
Dessa forma, o presente artigo pretende investigar as semelhanças e as diferenças fonológicas dos sinais de duas línguas: Língua Terena de Sinais e Língua Brasileira de Sinais. A escolha dessas línguas se deu pela possibilidade de acesso aos sinais por meio da documentação feita em trabalhos acadêmicos no Brasil, o que possibilita a comparação entre as unidades mínimas desses sistemas de comunicação.
Sendo assim, esta pesquisa justifica-se pela descentralização dos estudos sobre Língua de Sinais no Brasil, uma vez que uma grande parte dos trabalhos sobre LS focalizam apenas a Libras, fazendo-se necessário discussões e mais pesquisas sobre as LS de micro comunidades, como as indígenas. Compreender sobre esse universo traz o desafio de conhecer sobre as línguas usadas pelos indígenas e a capacidade e criatividade dos mesmos que, pela necessidade de comunicação, criaram uma língua e comunicam entre si.
Além disso, pesquisas de descrição linguística favorecem o entendimento da língua e cultura, possibilitando a criação de materiais didáticos, de gramáticas e de outros elementos didáticos que possam favorecer a educação de indígenas surdos nas comunidades.
Dessa feita, no primeiro momento tratamos do sistema fonológico da Libras e da LTS. Em seguida, analisamos fonologicamente os sinais de ambas as línguas. Por fim, tecemos nossas considerações finais.
1. Fonologia da Língua Brasileira de Sinais
A fonologia das línguas sinalizadas se preocupa em estudar as unidades mínimas distintivas dos sinais, que são denominados de parâmetros fonológicos (QUADROS; KARNOPP, 2004). A literatura da área afirma que na Libras há cinco parâmetros: Configuração de Mão (CM), Locação (L), Movimento (M), Orientação da palma da mão (O) e Expressões Não-Manuais (ENM).
Segundo Quadros e Karnopp (2004), a Configuração de Mão diz respeito à forma que a mão é configurada no momento da realização do sinal (figura 1). Assim, há sinais que podem apresentar apenas uma CM e outros que apresentam mais de uma configuração no momento da execução dos sinais.
O parâmetro Locação refere-se ao local que a mão está posicionada no momento da sinalização. Esse local pode ser em uma parte do corpo ou no espaço neutro, que diz respeito à região à frente do peitoral sem contato com o corpo (QUADROS; KARNOPP, 2004). A figura 2 apresenta as locações possíveis em Libras descritas por Ferreira-Brito e Langevin (1995).
Segundo Quadros e Karnopp (2004), os movimentos realizados pelas mãos pelos braços e pelos ombros compreendem o parâmetro M. Esse é o parâmetro mais complexo, uma vez que essa unidade mínima apresenta diversas variáveis na execução do sinal, que dizem respeito ao tipo, a direcionalidade, a maneira e a frequência, como demonstrada na figura 3, com base na descrição de Ferreira-Brito (1990).
As três unidades mínimas apresentadas anteriormente foram as primeiras descritas nas LS por Stokoe (1960) e são consideradas os parâmetros primários dessas línguas. Posteriormente, com o surgimento de outras pesquisas, os parâmetros orientação da palma da mão (O) e expressão não-manual (ENM) passaram a compor o grupo de parâmetros dessas línguas, e, na Libras, são considerados parâmetros secundários.
O parâmetro O diz respeito ao direcionamento da palma da mão no momento da execução do sinal (Figura 4) (QUADROS; KARNOPP, 2004). É importante ressaltar que um sinal pode ser composto por uma ou mais orientações e essa quantidade pode estar relacionada aos M e as CM do sinal.
As expressões não manuais são as expressões realizadas pela face ou pelo corpo e acompanham a execução manual do sinal. Essas expressões podem marcar tanto questões afetivas, como as expressões que acompanham o sinal de FELIZ, de TRISTE, de VERGONHA e etc., quanto questões gramaticais, como as expressões que marcam sentenças interrogativas e negativas.
Quadros e Karnopp (2004) apresentam algumas das expressões não manuais possíveis na sinalização (figura 5).
O quadro de parâmetros fonológico das LS pode ter variação de acordo com a língua de sinais. No Brasil, a literatura elenca os cinco descritos neste trabalho por constituírem unidades distintivas quando analisados pares mínimos. Além disso, o número de elementos que compõem um parâmetro pode variar de uma língua para outra, por exemplo, a Língua de Sinais Japonesa apresenta configurações de mãos que não estão presentes na Libras e que, dificilmente faria por questões culturais.
Nesta pesquisa, nosso desafio é comparar os sinais da Libras e da LTS e verificar se fonologicamente há semelhanças ou diferenças entre os parâmetros e se há peculiaridades nos parâmetros da LTS. Na próxima seção conheceremos um pouco mais sobre as questões fonológicas da LTS.
2. Fonologia da Língua Terena de Sinais
As informações e dados que serão aqui expostos estão baseados na pesquisa de Soares (2018), a qual investigou a LTS. A autora comparou sinais da LTS com sinais da Libras a fim de compreender se os sinais da LTS seriam uma variedade da Libras, um pidgin ou uma língua autônoma. Com base no método léxico-estatístico de Crowley (1992), a autora concluiu que a porcentagem de semelhança entre o léxico das duas LS foi baixa (29%), assim, a autora argumenta que a LTS surgiu e se desenvolveu sem nenhum contato com a Libras, sendo, portanto, línguas descendentes, que são línguas que convivem numa mesma região e podem entrar em contato uma com a outra.
No que diz respeito ao sistema fonológico da LTS, Soares (2018) se baseia na metodologia de Pike (1975) para identificação de fonemas nas línguas orais por meio da análise de pares mínimos e pares análogos. Dessa forma, a autora compara sinais semelhantes que se distingue em apenas um ou dois parâmetros para identificar os fonemas da LTS.
Na figura 6 temos o exemplo do par mínimo composto pelos sinais MEU e EU. Nesses sinais, a unidade mínima que os diferencia é a CM (SOARES, 2018). Ressaltamos um ponto importante, se comparados com a Libras, o sinal MEU em LTS é o mesmo utilizado para EU em Libras. E o sinal utilizado para EU em LTS, se aproxima ao sinal de MEU em Libras.
Soares (2018) apresenta os sinais de ÁGUA e BANHO como exemplo de par análogo. A figura 7 demonstra que os sinais se diferenciam nos parâmetros L (boca e topo da cabeça) e ENM (movimento de abrir a boca e neutro). Assim, há uma distinção em duas unidades mínimas, o que configura ser um par análogo.
A partir dos dados de pares mínimos e análogos da LTS, Soares (2018) conclui que os mesmos parâmetros fonológicos presentes em qualquer LS natural também estão presentes na LTS. Dessa maneira, podemos argumentar que essa LSI apresenta uma constituição fonológica muito próxima a Libras, com os cinco parâmetros: CM, L, M, O e ENM. Contudo como o estudo de Soares (2018) é uma das primeiras pesquisas sobre essa língua, outras análises precisam ser desenvolvidas para refirmar ou refutar as considerações feitas pela autora e compreender melhor essa LSI.
3. Comparação fonológica preliminar entre a LTS e a Libras
Nas seções anteriores demonstramos alguns aspectos referentes à fonologia da Libras e da LTS. Assim, neste momento compararemos em que essas línguas se assemelham e se distanciam em relação aos seus constituintes fonológicos, focalizando os cinco parâmetros descritos por Ferreira-Brito (1990) e Ferreira-Brito e Langevin (1995).
Selecionamos um grupo de seis sinais da LTS presentes em Soares (2018) e pesquisamos a realização desses sinais em Libras no Dicionário da Língua Brasileira de Sinais V3-2011[1] para proceder a comparação. Em sua pesquisa, Soares (2018) faz uma comparação fonológica básica entre a LTS e a Libras nos campos semânticos: animais, numerais, cores, parentesco, natureza, verbos, artefatos, nomes, partes do corpo e culturais. Sendo assim, selecionamos do trabalho da autora apenas os sinais da LTS presentes em outras seções da tese para comparar com as análises já feitas pela autora.
Dessa forma, selecionamos os seguintes sinais: ÁGUA, EU, MEU, ONDE, POR QUÊ e CAFÉ. Apesar de esses sinais serem de campos semânticos distintos, entendemos que essa análise preliminar ainda assim é pertinente, uma vez que é possível contrastar com as considerações de Soares (2018) sobre diferentes campos semânticos. Além disso, nossa descrição adota uma metodologia que permite comparar de maneira mais detalhada os parâmetros fonológicos dos dois sistemas linguísticos em estudo.
O primeiro sinal analisado é ÁGUA (Quadro 1). A CM, a L e o M desses sinais são diferentes e a O e a ENM são semelhantes. Em ambos os sinais a O é para o lado contralateral, ou seja, a palma da mão se direciona para o lado contrário da mão que realiza o sinal e a ENM é com a boca aberta como se, iconicamente, imitasse a ação de tomar água. Na Libras a boca é aberta em proporções menores, que pode fazer referência tanto ao ato de tomar a água quanto a um empréstimo da letra inicial da palavra em português, água.
O quadro 2 apresenta o sinal EU. Em ambos os sinais a mão se posiciona na locação ‘busto’ e os parâmetros M, O e ENM também são os mesmos. O parâmetro que diferencia esses sinais é a CM, em LTS temos a mão aberta com os dedos unidos e o polegar estendido e em Libras o dedo indicador estendido.
Soares (2018) afirma que a LTS constitui um sistema linguístico diferente da Libras, sem relação no processo de criação ou contato linguístico. Assim, entendemos que a proximidade na constituição paramétrica do sinal EU nessas línguas pode ter uma explicação relacionada a iconicidades das línguas de sinais, o que Fusellier (2004) classifica como semiogênese, ou seja, as línguas de sinais partem de um tronco comum, o corpo, por isso apresentam semelhanças que estão relacionadas a expressão corporal humana. Essa pode ser a explicação para que a LTS, a Libras e outras LS utilizarem um sinal semelhante para significar a primeira pessoa do singular.
O mesmo ocorre no quadro 3 para o sinal MEU. Nesses sinais a diferença está somente na CM, pois a L, o M, a O e a ENM são os mesmos. Tanto o sinal EU (quadro 2) quanto o sinal MEU (quadro 3) fazem referência a primeira pessoa, a que profere o discurso e, portanto, são direcionados para quem sinaliza.
É importante destacar que em Libras temos observado que na sinalização natural entre interlocutores a indicação de primeira pessoa (EU) e de posse (MEU) se confunde, alguns sinalizantes fazem a inversão de uso desses sinais, mas sem comprometer a significação dentro do contexto de uso.
No quadro 4 os sinais referentes ao termo ONDE se assemelham em apenas um único parâmetro; a L no espaço neutro. Os parâmetros CM, M, O e ENM diferem entre a realização do sinal em LTS e em Libras.
Marinho (2014) argumenta sobre a evolução do sinal de formas mais expansivas corporalmente para formas mais curtas, sintetizadas pelas mãos. A autora demonstra essa evolução a partir do exemplo do sinal CADEIRA em Libras (Figura 8).
Marinho (2014, p. 20) afirma que
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o sinal mais antigo representa a própria atitude de sentar, com os movimentos de flexão das pernas e dos cotovelos, sugerindo o agachamento do corpo em direção a um assento. Da mesma maneira, a forma contemporânea faz alusão ao apoio das nádegas e das coxas numa superfície, porém com o redimensionamento das proporções do sinal original, substituindo as pernas pelos dedos indicador e médio da mão ativa.
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Apresentamos essa reflexão para discutir a partir do Quadro 4 que os sinais de línguas emergentes[1] como a LTS tendem a apresentar uma extensão corporal e uma iconicidade evidente, mas que a partir da evolução dessas línguas esses sinais podem passar a sinalização apenas pelas mãos e o signo torna-se mais arbitrário, como ocorreu com diversos sinais da Libras, a exemplo da figura 8.
Essa mesma discussão pode ser usada para o sinal POR QUÊ no quadro 5. Em que, na LTS, o sinal apresenta o uso das mãos e dos braços na sua realização e na Libras, apenas os dedos são utilizados na sinalização. O sinal em questão difere em todos os parâmetros entre a LTS e a Libras, a única semelhança entre esses dois sinais é na realização na grande área espaço neutro, apesar de haver localização específicas como ‘ombros’ e ‘lado do indicador’.
Por fim, no quadro 6 destacamos o sinal CAFÉ. Esses dois sinais se diferenciam apenas no parâmetro CM, em cada língua é estabelecida uma forma da mão de segurar de maneira icônica a xícara de café. Em LTS ocorre com a ‘mão fechada’ e em Libras com o ‘dedo indicador e polegar unidos e os demais estendidos’.
Portanto, a tabela 1 sintetiza quantitativamente as porcentagens de semelhanças e diferenças entre os sinais da LTS e da Libras considerados na presente pesquisa. Podemos concluir a partir desse quadro que:
(i) a porcentagem de semelhanças e diferenças entre essas duas LS, com base nos sinais pesquisados, é igual a 50%;
(ii) o parâmetro fonológico que teve maior divergência nos sinais foi a CM, com 100% de diferença;
(iii) O parâmetro M foi o segundo que mais divergiu entre os sinais;
(iv) Os parâmetros L, O e ENM tiveram uma porcentagem de diferença (33,3%) e semelhança (66,6%) igual.
A partir das considerações feitas sobre os seis sinais da LTS pesquisados no presente estudo, a tabela 2 apresenta uma síntese da porcentagem de semelhanças e de diferenças dos sinais dos campos semânticas presentes no trabalho de Soares (2018). A autora faz a comparação entre três pares de sinais em cada campo semântico, divergem apenas os campos semântico de cores com 2 pares e de nomes com 4 pares.
O parâmetro ENM não foi considerado na análise da autora, ela descreveu essa unidade apenas quando tinha caráter distintivo entre os pares de sinais, o que influenciou, por exemplo, a totalidade de diferença no campo semântico ‘nomes’. Pois a única semelhança entre os sinais da LTS e da Libras nessa categoria estava no parâmetro ENM.
Por fim, comparando os dois quadros apresentados, podemos concluir que:
(i) A LTS e a Libras apresentam mais diferenças do que semelhanças, o que corrobora com a afirmação de Soares (2018) de que são sistemas linguísticos distintos;
(ii) Apesar de as duas LS apresentarem os mesmos parâmetros fonológicos, o tempo de existência das LS e o contexto cultural de uso influenciam nas diferenças estruturais entre essas línguas e confirmam que a LTS é uma língua autônoma;
(iii) O parâmetro CM foi a unidade minima que teve maior divergência tanto nos dados da presente pesquisa quanto no trabalho de Soares (2018). A própria autora já havia alertado para esse fato, ao afirmar que a CM “é o parâmetro mais “produtivo”, ou seja, com mais variação, nas línguas de sinais, segundo pesquisas” (Soares, 2018, p. 92).
4. Considerações finais
A LTS é uma língua natural plena que surgiu de maneira emergente decorrente da necessidade de comunicação entre pares surdos e pessoas ouvintes da comunidade indígena em que esses indivíduos estão inseridos. Como línguas naturais plenas, todos os níveis linguísticos estão presentes nessa língua.
Neste trabalho, nosso foco esteve sobre o nível fonológico da língua. Sendo assim, concluímos que os parâmetros fonológicos da Libras: CM, L, M, O e ENM são os mesmos do sistema linguístico da LTS. Entretanto, isso não significa que, por exemplo, o mesmo inventário de CM, L, M, O e ENM presentes na Libras estejam presentes na LTS, uma vez que questões culturais influenciam na criação desse grupo de unidades mínimas.
A comparação feita no presente trabalho entre os parâmetros em um grupo de sinais e as comparações feitas por Soares (2018), nos leva a concluir que essas duas LS são diferentes e que a LTS é uma língua autônoma, sem origem ou influência na Libras. Contudo, são línguas descendentes, por conta de surdos indígenas da comunidade estarem em contato com sinalizantes de Libras em outros espaços fora da aldeia, faz com essas línguas estejam em contato atualmente.
No que diz respeito à comparação fonológica entre esses dois sistemas linguísticos, concluímos que o parâmetro CM foi o que apresentou maior divergência entre LTS e Libras, assim como previu Soares (2018); os demais parâmetros, em pelo menos um dos pares de sinais analisados, apresentou semelhança.
O presente trabalho inovou ao apresentar uma descrição fonológica detalhada dos sinais, que favoreceu uma análise mais clara sobre as diferenças paramétricas entre a LTS e a Libras. Para pesquisas futuras, pretendendo estender o número de sinais analisados para conclusões mais aprofundadas sobre a temática.
Informações Complementares
Conflito de Interesse
O autor não tem conflitos de interesse a declarar.
Declaração de Disponibilidade de Dados
Os dados, códigos e materiais que suportam os resultados deste estudo estão disponíveis abertamente em: (i) Repositório da UNESP através do link http://hdl.handle.net/11449/155878 e; (ii) Dicionário da Língua Brasileira de Sinais V3 – 2011 através do link http://www.acessibilidadebrasil.org.br/libras_3/
Referências
FERREIRA-BRITO, L. Uma abordagem fonológica dos sinais da LSCB. Revista Espaço: Informativo Técnico-Científico do INES, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 20-43, 1990.
FERREIRA-BRITO, L. LANGEVIN, R. Sistema Ferreira Brito-Langevin de Transcrição de Sinais. In: FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
FUSELLIER-SOUZA, Ivani dos Santos. Sémiogènese de langues des signes: études des langues de signes emergentes (LS ÉMG) pratiques par de sourds brésiliens. 2004. Doutorado. Paris: Universidade de Paris, 2004.
GODOY, Gustavo. Os Ka’apor, os gestos e os sinais. 2020. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
Kakumasu, J. Y. Urubu-Kaapor Sign Language. International Journal of American Linguistics, 34(4) 275–281, 1968.
MARINHO, Margot Latt. Língua de Sinais Brasileira: proposta de análise articulatória com base no banco de dados LSB-DF. 2014. Tese (Doutorado em Linguística) - Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
PIKE, K. L. Phonemics: a technique for reducing languages to writing. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1975. (1. ed., 1947).
QUADROS, Ronice Muller de. KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SOARES, Priscilla Alyne Sumaio. Língua Terena de Sinais: análise descritiva inicial da língua de sinais usada pelos terenas da Terra Indígena Cachoeirinha. 2018. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa). Faculdade de Ciências e Letras (Campus Araraquara), Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, 2018.
STOKOE JR, William C. Sign language structure: An outline of the visual communication systems of the American deaf. Journal of deaf studies and deaf education, v. 10, n. 1, p. 3-37, 2005.
Avaliação
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2023.V4.N2.ID684.R
Decisão Editorial
EDITOR 1: Ana Vilacy Moreira Galucio
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0168-1904
FILIAÇÃO: Museu Paraense Emílio Goeldi, Pará, Brasil.
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EDITOR 2: Ângela Fabíola Alves Chagas
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4925-1711
FILIAÇÃO: Universidade Federal do Pará, Pará, Brasil.
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CARTA DE DECISÃO: O artigo investiga as semelhanças e as diferenças fonológicas dos sinais de duas línguas: Língua Terena de Sinais (LTS) e Língua Brasileira de Sinais (Libras). Por trazer questões relativas a uma língua de sinais indígena, objeto de pesquisa ainda muito pouco explorado pelos estudiosos da área, o artigo torna-se de grande importância tanto para o campo de estudo das línguas indígenas, como das línguas de sinais e por isso constitui uma grande contribuição a ser publicada nos Cadernos da Abralin.
Rodadas de Avaliação
AVALIADOR 1: Carla Regina Martins Valle
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1854-915X
FILIAÇÃO: Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, Brasil.
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AVALIADOR 2: Gean Nunes Damulakis
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3784-9185
FILIAÇÃO: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
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RODADA 1
AVALIADOR 1
2023-09-06 | 15:10
1. No arquivo anexo, veja em vermelho o que percebi que houve equívoco de digitação.
2. "As primeiras pesquisas com Línguas de Sinais Indígenas (LSI) surgiram a partir dos estudos sobre a LSI Urubu-Ka’apor." - Sugiro, indicar algumas pesquisas que tratam desse assunto. Pode ser inclusive ser em nota de rodapé.
3. Pag 2 - "a língua de sinais oficial do Brasil, a Libras." Sugiro verificar a Lei 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio de comunicação; portanto, não oficializa. Caso você prefira manter como está, convém citar algum autor que considere a Libras como oficial.
4. Você nomeou como tabelas (quantitativo), mas são quadros (qualitativos). Portanto, é necessário fazer a mudança de tabela para quadros.
5. Você utilizou o parâmetro ENM e depois utilizou EF, sugiro padronizar para não confundir o leitor, ou seja, use ENM.
6. A literatura da área afirma que na Libras há cinco parâmetros: Configuração de Mão (CM), Locação (L), Movimento (M), Orientação da palma da mão (O) e Expressões Não-Manuais (ENM). Em sua análise comparativa LTS e Libras dos sinais EU, ÁGUA, MEU, ONDE, POR QUÊ e CAFÉ - Qual a CM? Qual a OR? Qual o M? Onde ocorre o ponto de articulação? Qual a ENM? Acredito que essa metodologia de comparação torna mais clara a compreensão do leitor. Um quadro comparativo com esses dados permite que se comprove que o parâmetro fonológico que teve mais divergência foi a CM.
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AVALIADOR 2
2023-09-25 | 18:25
Considero importante reduzir a assimetria entre as descrições das fonologias de ambas as línguas, ampliando a seção dedicada a descrição da fonologia da LTS. Além disso, é muito importante ampliar o número de dados comparados, além de estabelecer um critério para a seleção dos itens lexicais a ser comparados. Uma outra saída seria explicitar de que forma apenas os seis itens elencados dão conta de uma análise contrastiva abrangente entre ambas as línguas analisadas.
Por fim, recomendo uma revisão formal cuidadosa do texto. Algumas observações vão no anexo.
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RODADA 2
AVALIADOR 1
2023-10-16 | 09:51
O artigo está de acordo com o solicitado pela parecerista. Solicito rever o Quadro 7, pois se trata de Tabela 1 e o Quadro 8, que se trata tabela 2.
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AVALIADOR 2
2023-10-21 | 18:09
O artigo sumariza, a partir da comparação de alguns itens lexicais da Língua de Sinais Terena (LTS) e da Libras, algumas diferenças e convergências estruturais (fonológicas) entre as duas línguas de sinais. O autor usa um número pequeno de itens, porém consegue indicar, também com apoio de outros trabalhos, que a LTS tem uma origem própria, emergente, não podendo ser considerada uma língua originada da Libras.
Resposta dos Autores
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2023.V4.N2.ID000.A
RODADA 1
2023-10-13
AVALIADOR 1
1. No arquivo anexo, veja em vermelho o que percebi que houve equívoco de digitação.
Sugestões atendidas.
2. "As primeiras pesquisas com Línguas de Sinais Indígenas (LSI) surgiram a partir dos estudos sobre a LSI Urubu-Ka’apor." - Sugiro, indicar algumas pesquisas que tratam desse assunto. Pode ser inclusive ser em nota de rodapé.
Foi indicada no corpo do texto a pesquisa de Jim Kakumasu (1968) como percursor dos estudos sobre a língua de sinais Ka’apor.
3. Pag 2 - "a língua de sinais oficial do Brasil, a Libras." Sugiro verificar a Lei 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio de comunicação; portanto, não oficializa. Caso você prefira manter como está, convém citar algum autor que considere a Libras como oficial.
Utilizei o termo ‘reconhecida nacionalmente por meio da Lei 10.436/2002)
4. Você nomeou como tabelas (quantitativo), mas são quadros (qualitativos). Portanto, é necessário fazer a mudança de tabela para quadros.
Sugestão atendida.
5. Você utilizou o parâmetro ENM e depois utilizou EF, sugiro padronizar para não confundir o leitor, ou seja, use ENM.
Sugestão atendida.
6. A literatura da área afirma que na Libras há cinco parâmetros: Configuração de Mão (CM), Locação (L), Movimento (M), Orientação da palma da mão (O) e Expressões Não-Manuais (ENM). Em sua análise comparativa LTS e Libras dos sinais EU, ÁGUA, MEU, ONDE, POR QUÊ e CAFÉ - Qual a CM? Qual a OR? Qual o M? Onde ocorre o ponto de articulação? Qual a ENM? Acredito que essa metodologia de comparação torna mais clara a compreensão do leitor. Um quadro comparativo com esses dados permite que se comprove que o parâmetro fonológico que teve mais divergência foi a CM.
Todos os quadros foram acrescidos com uma descrição fonológica comparativa de cada um dos parâmetros. Além disso, ao final da seção de discussão, acrescentei um quadro quantitativo para comprovar a maior divergência no parâmetro CM.
AVALIADOR 2
O autor faz uma breve descrição da fonologia de ambas as línguas, que deverá servir de base para a comparação. Considero que três pontos devem ser observados pelo autor:
1) o reduzido espaço dedicado à descrição da fonologia da língua Terena de sinais (LTS); 2) em decorrência dessa descrição pequena, a comparação prometida fica comprometida;
Mais informações sobre a descrição fonológica feita por Soares (2018) foi acrescida ao trabalho. Contudo, ressalto que a pesquisa da autora é inicial, o que não traz uma descrição detalhada de todos os aspectos fonológicos dessa língua. Além disso, ao concluir que a LTS apresenta os mesmos parâmetros fonológicos de qualquer LS, depreende-se que essa língua se assemelha ao sistema fonológico da Libras. Contudo, para a LTS, não temos ainda uma pesquisa com o inventário de CM, L, M, O e ENM como temos em Libras.
3) a comparação é prometida como referente à fonologia das línguas, mas é realizada com base em apenas 6 itens lexicais, sem explicitar em que medida essa quantidade seria suficiente para essa comparação. Além disso, não há explicitação de critério para a escolha dos itens a ser comparados: 1 pronome pessoal (“eu”), 1 pronome possessivo (“meu”), 2 substantivos (“água” e “café”) e dois pronomes interrogativos (“onde” e “por que”). Devido a esse fato, pode parecer ao leitor que os itens foram escolhidos aleatoriamente.
Resolvi alterar o título do trabalho para um estudo preliminar devido ao número pequeno de sinais comparados na pesquisa. Justifiquei no trabalho que a escolha desses itens de campos semânticos distintos deu-se por serem os sinais que não foram comparados com a Libras no trabalho de Soares (2018). Assim, para uma análise mais completa diante do número de dados disponíveis, na seção 3, somei as comparações feitas em minha pesquisa com as comparações de Soares (2018) para ter conclusões mais consistentes sobre a fonologia desses dois sistemas linguísticos.
Em relação às considerações finais, o autor declara estão “presentes os mesmos parâmetros em ambas as línguas e que [,] as disparidades presentes nessas línguas podem se dar em decorrência do tempo de existência delas”. Essa afirmação poderia ser menos genérica, pois o fato de duas línguas apresentarem, por exemplo, o parâmetro “configuração de mão”, não significa que as configurações sejam as mesmas em ambas as línguas. Dizer isso de maneira explícita e exemplificar, sobretudo nas considerações finais pode ser útil para entendermos as conclusões alcançadas. Sobre “as disparidades presentes nessas línguas...”, o autor deixa antever que mais tempo de vida deixaria ambas as línguas mais parecidas. Mas não retoma quais são essas disparidades e em que sentido elas cessariam de existir com o passar do tempo. A redação também parece dizer que a Libras também tem um tempo de vida tão curto que esse tempo implicaria nesse resultado da pesquisa.
A seção de considerações finais foi refeita a fim de atender as sugestões do parecerista, com afirmações mais detalhadas e menos genéricas.