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Literature Review

Language Practices of Military Police Officers in Work Situations from an Ergological Perspective

Emanuele Rostirolla Mascarello

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https://orcid.org/0000-0003-2168-4176

Ernani Cesar de Freitas

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https://orcid.org/0000-0002-8920-9446


Keywords

Ergology
Language Practices
Work
Renormalizations
Police Officers

Abstract

In any work activity there is a gap between the prescribed work and the work actually carried out in institutions. Based on this, the objective of this study is to analyze the language practices of two military police officers at the interface of Language, Work and Ergology. The theoretical foundation is developed based on Ergology studies in Schwartz (2011, 2015, 2020), which has a multidisciplinary approach to verify the complex context that is the relationship between man and his work activity; we present the concepts of norm, activity, renormalization, body itself, use of self and dramatic use of self proposed by Schwartz and Durrive (2010); language practices, language as, in and about work, defended by Nouroudine (2002). We carried out applied, descriptive, bibliographical research, in addition to field research with a qualitative approach. The corpus consists of a semi-structured oral interview applied to two military police officers who are part of the Drug and Violence Resistance Educational Program (PROERD) in the city of Passo Fundo in Rio Grande do Sul. We observed, with regard to the work of police officers, that language develops as, in and about work, with recurring renormalizations of work activity.

Resumo para não especialistas

Em qualquer atividade de trabalho há um distanciamento entre o trabalho prescrito (normas) e o trabalho efetivamente realizado nas instituições. A partir dos estudos da Ergologia, (SCHWARTZ, 2011, 2015, 2020) uma disciplina que busca aproximar-se desse contexto complicado que é a relação do homem e sua atividade de trabalho e de sua interface com os estudos sobre as práticas linguageiras (prática social do trabalho), em especial, sobre Linguagem e Trabalho, o presente estudo tem o objetivo de analisar as práticas linguageiras de duas policiais militares apresentadas em contexto de trabalho por meio do desenvolvimento de um programa institucional, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), executado na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Como parte da revisão teórica utlizada, são explicados os conceitos de norma, atividade, renormalização, corpo si, uso de si e dramáticas do uso de si propostos por Schwartz e Durrive (2010) e também os conceitos de práticas linguageiras, a linguagem como, no e sobre o trabalho, defendidos por Nouroudine (2002). Esses conceitos são retomados na análise do corpus que é composto por uma entrevista oral semiestruturada realizada com as duas policiais militares colaboradoras do estudo. Como os pressupostos teóricos e metodológicos previstos na interface desenvolvida permitem saber, as atividades de trabalho são também atividades de linguagem que constituem as práticas linguageiras as quais se apresentam com particularidades relevantes, como o foi no estudo realizado, em que se constatou que as práticas linguageiras apresentadas pelas policiais entrevistadas se realizam pelo uso da linguagem como, no e sobre o trabalho, com recorrentes renormalizações da atividade laboral.

Introdução

As práticas linguageiras contemplam caminhos que se constituem das experiências dos sujeitos e das normas prescritivas que formam a extensão entre o trabalho prescrito e o trabalho real em ambiente laboral. A norma para a realização de uma determinada tarefa se constitui daquilo que é prescrito e pré-determinado pelas empresas e instituições, no entanto os estudos da Ergologia vêm discutindo sobre o modo como as normalizações e burocracias prescritas são realizadas, pois se entende que o prescrito não atende em sua totalidade a toda a execução da atividade laboral

Nesse sentido, esta pesquisa se constitui de uma abordagem teórico- metodológica que envolve a linguagem e o trabalho em interface com a Ergologia e auxilia na compreensão das práticas de linguagens do sujeito em situação de trabalho, de seu papel dentro da empresa e de seu próprio cenário de atuação.

Com essa abordagem, o presente artigo analisa as práticas linguageiras de policiais militares, do gênero feminino, que integram o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), na cidade de Passo Fundo/RS, orientando-se pela perspectiva ergológica em interface com a Linguagem como, no e sobre o trabalho. Uma análise dessa natureza, concentrada sobre as práticas linguageiras, é essencial para se compreender o ambiente em que se atua, com quem se atua e como se atua.

Tendo em vista esse espaço da atividade de trabalho, nosso estudo tem como tema as práticas linguageiras que se constituem das experiências dos sujeitos e das normas prescritivas que formam a extensão entre o trabalho prescrito e o trabalho real, em ambiente laboral. Com base nesse tema, o problema de pesquisa está assim posto: como as práticas linguageiras influenciam no desenvolvimento da atividade laboral desempenhadas pelos profissionais da segurança pública, no caso da nossa pesquisa, as policiais militares? Objetiva-se analisar as práticas linguageiras de policiais militares, sustentadas pelos preceitos da Ergologia, com interface na Linguagem como, no e sobre o trabalho.

A fundamentação teórica está desenvolvida com base nos estudos da Ergologia em Schwartz (2011, 2015, 2020), que busca aproximar-se desse contexto complexo que é a relação do homem e sua atividade de trabalho; apresentamos os conceitos de norma, atividade, renormalização, corpo si, uso de si e dramáticas do uso de si propostos por Schwartz e Durrive (2010); práticas linguageiras, a linguagem como, no e sobre o trabalho, defendidos por Nouroudine (2002).

No que se refere aos procedimentos metodológicos, realizamos uma pesquisa aplicada, descritiva, bibliográfica, além de um estudo de campo de abordagem qualitativa, utilizando o método ergológico, apresentado por Trinquet (2010) como um método pluridisciplinar inovador que permite abordar a atividade humana de trabalho, qualquer que seja ela. Esse método fundamenta os procedimentos de análise desta pesquisa. O corpus de pesquisa é constituído por uma entrevista oral e semiestruturada, com perguntas abertas, aplicada a duas policiais militares que integram o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) na cidade de Passo Fundo/RS.

Este artigo está organizado da seguinte forma: na seção “1, desenvolvemos esta introdução”; na seção “2 Ergologia: uma proposta pluridisciplinar na relação homem e atividade de trabalho”; na seção “3 Linguagem e trabalho na atividade laboral de policiais militares”. Na seção denominada “4 Roteiro metodológico”, desenvolvemos o dispositivo de análise, bem como a metodologia empregada. Na seção “5 A imagem do sujeito nas práticas linguageiras na atividade laboral e sua relação como, no e sobre o trabalho”, realizamos a análise de corpus que é constituído por excertos de uma entrevista oral realizada com duas policiais militares. Por fim, na seção “6, Considerações finais”, apontamos algumas conclusões acerca desse estudo. Na sequência, apresentamos a fundamentação teórica.

1. ERGOLOGIA: uma proposta pluridisciplinar na relação homem e atividade de trabalho

Ao discutirmos acerca das normas que regem a atividade no e sobre o trabalho, buscamos desenvolver este estudo mediante enfoques teóricos com base em pesquisadores da Ergologia.

Yves Schwartz (2020), filósofo, especialista em análise do trabalho, aprofundou os estudos na Ergonomia de linha francesa e traz a Ergologia que, teve seu conceito elaborado a partir dos anos 1990, apresentada como um projeto de melhor conhecer e, sobretudo, de melhor intervir sobre as situações de trabalho para transformá-las. O conceito de Ergologia tem suas origens na França e está interligada a estudos pluridisciplinares a respeito de situações de trabalho, sendo o resultado de experimentações e debates entre profissionais sobre conceitos e protagonistas da atividade de trabalho.

Conforme o filósofo francês (Schwartz, 2020), o exercício profissional, independente de qual seja ele, não é o campo por excelência do mecânico e do repetitivo, pois mobiliza escolhas e dramas particulares. Nesse contexto de trabalho é que são desenvolvidas as atividades na situação de trabalho que o profissional se encontra.

A Ergonomia da Atividade está centrada na atividade humana, na análise do sujeito em ação no trabalho que, de acordo com Freitas e Facin (2015, p. 25), “a Ergonomia de língua francesa deu uma colaboração para se pensar na atividade humana ao se tomar como objeto de estudo o trabalho na indústria e nas organizações contemporâneas.” Dessa forma, a Ergonomia surgiu pensando no trabalho na indústria e nas organizações. Ainda, conforme os autores, é constatado que há uma lacuna entre o trabalho prescrito pelas normas e o trabalho realmente realizado. A Ergonomia da Atividade foi se constituindo com base na constatação dos efeitos nocivos produzidos pela administração científica do trabalho.

Esta distância ou lacuna existente entre o trabalho prescrito e o trabalho propriamente realizado (real/concreto) é, de acordo com Freitas e Facin (2015, p. 25), “o dado inusitado do trabalho, é fruto da gestão própria, de si mesmo, do ser humano que trabalha, resolvendo os confrontos impertinentes à situação real de trabalho”. Essa distância é a prova da particularidade da atividade humana de trabalho. É nesse sentido que se busca analisar a prescrição dentro da atividade dos policiais militares e da atividade real em situação de trabalho, pois, em algumas situações, o prescrito não dá conta da ação do policial quando este está em campo, atendendo uma ocorrência, por exemplo. No caso dos policiais que foram entrevistados para essa pesquisa, onde o ambiente de trabalho se expande para a sala de aula.

Dessa forma, a disciplina ergológica busca aproximar-se desse contexto complexo que é a relação do homem e sua atividade de trabalho. Essa complexidade foi desconsiderada pelo taylorismo, pela chamada “organização científica do trabalho” e mesmo pelo toyotismo. Duraffourg e Durrive (2010, p. 81) enfatizam que “a norma está do lado do prescrito, a renormalização do lado da atividade. Ter um posicionamento ergológico é escolher estar nesta vertente para praticar o seu “ofício”.

Nesse sentido, portanto, a ergologia é um método de investigação de caráter pluridisciplinar que, de acordo com Trinquet (2010, p. 94), tem essa característica em função de a atividade humana ser muito complexa para se compreender e analisar a partir de uma única disciplina, qualquer que seja ela. Enquanto todas as outras disciplinas se interessam pelas atividades fora do trabalho, a Ergonomia se interessa apenas pela atividade de trabalho (Trinquet, 2010, p. 95).

Trinquet (2010, p. 95) considera a abordagem ergológica como um estudo de toda a atividade humana e enfatiza seu objetivo e seu método. A ergologia tem como objetivo conhecer melhor a realidade complexa de nossa atividade laboriosa, ou seja, analisar sob quais condições ela se realiza efetivamente, tanto em seus aspectos econômicos quanto sociais e humanos. O método é colocar em diálogo a pluridisciplinaridade dialética dos saberes eruditos e dos saberes de experiência.

Schwartz (2020) circunscreve a atividade como um dinamismo mesmo da vida humana, amplamente não antecipável enquanto produtora de história. Em um primeiro momento, essa abordagem da atividade era inseparável de uma proposta de reelaboração no “pólo do sujeito”: falando de “si”, recusamo-nos a fazer do suporte, uma entidade recuperável por qualquer ciência humana, seja ela qual for. Esse si do qual se faz uso, de acordo com Schwartz (2020), desloca o exercício das competências das ciências humanas e sociais: nenhuma delas pode impor sua zona legítima de competência; é essa entidade sintética em retrabalho incessante que convoca a parte de pertinência de cada uma delas, segundo ponderações sempre aleatórias. Para esse filósofo, a execução de qualquer tarefa passa por uma dialética de uso de si, uso de si por si e uso de si pelo(s) outro(s).

A seguir, ilustramos os conceitos dessa dialética na Figura 1:

Figure 1. Figura 1: Dialética da execução de tarefas Fonte: elaborado pelos pesquisadores (2023)

Freitas (2010, p.176) aponta que o trabalho é uso de si por si, uma vez que, no processo de atividade, “o sujeito mobiliza seu saber-fazer, seus valores, seus afetos, enfim, sua singularidade”. Desse modo, não há como padronizar as situações de experiência, já que há a subjetividade do sujeito que executa a ação, independentemente se a atividade a ser realizada se aplica a mais de um sujeito.

Schwartz (2021) amplia os estudos quanto ao conceito de uso de si e que há uma dimensão maior dentro das atividades de serviço: a dramática do uso de si. Para ele, toda a sequência de atividades industriosas envolve arbitragens, debates, imersos num mundo social em que a comunidade de destino é sempre eminentemente problemática, em permanente reconstrução. Dessas arbitragens surgem decisões que não são antecipáveis: as renormalizações. Essas, por sua vez, impõem ao sujeito que ele recrie tomadas de decisões, ou seja, que o forçam a escolher. É nesse sentido que surge a ideia de que esse uso de si é uma imposição contínua dessas micro escolhas permanentes e que resulta a expressão do trabalho como dramática do uso de si. (Schwartz, 2014). Conforme esse teórico, a dramática pode ser individual ou coletiva e tem lugar quando ocorrem eventos que rompem os ritmos das sequências habituais, antecipáveis da vida em que o sujeito faz o uso de si para tratar esses eventos.

Na seção seguinte, serão apresentados os conceitos de linguagem no, como e sobre o trabalho relacionado aos conceitos de norma, prescrição e renormalização que regem a atividade de trabalho.

2. Linguagem e trabalho na atividade laboral de policiais militares

Durante muito tempo, o uso da linguagem durante a execução das atividades laborais era visto como algo negativo ou que poderia prejudicar o processo de produção. Porém, com o passar dos anos a atividade de linguagem e a atividade de trabalho estão conectadas, pois, de acordo com Boutet (1998) ambas, tanto a atividade de linguagem quanto a atividade de trabalho transformam o meio social e permitem trocas de negociação entre os seres humanos.

Ainda assim é questionável o fato de que nas relações de trabalho havia a ausência das ciências da linguagem entre as bases teóricas sobre a gestão das organizações, priorizando a matemática, psicologia, ecologia, ciências cognitivas etc (Souza-e-Silva, 2002, p. 62). Diante disso, Souza-e-Silva (2002, p. 62) explica que “estranha-se que os fatos da linguagem não sejam um objeto digno de estudo científico” e, complementa que “as ciências da linguagem pouco se têm mobilizado para as questões do trabalho”. Nesse sentido, a autora apresenta uma reflexão sobre esse distanciamento da linguagem como estudo científico.

De acordo com Souza-e-Silva (2002, p. 62) um dos motivos desse distanciamento teria relação com a ideia de “transparência da linguagem”, em que tudo aquilo que fosse emitido pelo enunciador seria compreendido como tal pelo interlocutor. No entanto, sabemos que essa percepção da linguagem é equivocada, pois nem sempre a mensagem emitida pelo enunciador é compreendida pelo interlocutor, nesse caso, importa o ponto de vista do destinatário.

Ainda, conforme Souza e Silva (2002, p. 62), o segundo motivo está relacionado à própria linguística, que durante muito tempo voltou-se apenas às instituições escolares. Por esse motivo é que se explica o surgimento tardio das colaborações interdisciplinares, de um lado as ciências voltadas para o trabalho e, de outro, as ciências da linguagem, tendo início na década de 80 na França e no Brasil, na década de 90. É a partir dessas colaborações que o linguista se vê obrigado a recorrer a noções e/ou categorias de análise advindas de outras disciplinas.

A partir dos estudos voltados ao trabalho pelos ergonomistas, é que se pôde chegar a uma oposição entre o trabalho prescrito ou tarefa do trabalho real executado e atividade. O surgimento dessa oposição levou à reflexão de que o ambiente de trabalho não seria apenas um ambiente de produção, mas que os discursos ali produzidos poderiam levar a se pensar o trabalho não apenas como atividade executada, mas também a atividade pertencente à história.

Schwartz (2015, p. 382) apresenta o conceito de norma como aquilo que exprime o que uma instância avalia como devendo ser uma regra, um objetivo, um modelo. Essa instância pode ser exterior ao indivíduo, ao que Schwartz chama de normas impostas e, também podem ser próprias do indivíduo (normas instauradas na atividade). E, segundo o autor, o ser humano precisa de normas antecedentes (manuais e notas técnicas, regras de gestão e organizacionais, prescrições e instruções etc) que lhe permitem desenvolver sua atividade singular por meio das renormalizações.

De acordo com Schwartz, (2015, p. 382) as normas antecedentes são definidas a partir do agir humano. Ela existe no período anterior à prática de trabalho do sujeito e a partir do momento que se instalam no ambiente de trabalho. Observando o conceito das normas antecedentes e as aplicando nas práticas linguageiras no contexto situacional do ambiente de trabalho dos policiais militares, podemos pensar a norma como o prescrito, o protocolo e até mesmo o modelo de ações que o profissional deve seguir. No entanto, a prescrição não abarca a dimensão de uma ação policial ou de uma determinada ocorrência a ser realizada, por exemplo. Tratando da atividade das policiais deste estudo, há a necessidade de renormalizações tendo em vista que o prescrito e a norma não dão conta da dimensão da atividade laboral. E é nessa situação que o profissional atua com a sua singularidade e experiência realizando as renormalizações, a partir daquilo que está posto, ou seja, pré-determinado.

Quando o prescrito não atende a dimensão do fazer, o profissional vai tentar reinterpretar essas normas que lhe são propostas, realizando o processo de renormalização que, conforme Schwartz (2015, p. 383), “é o processo de renormalização que está no cerne da atividade. Em parte, cada um chega a transgredir certas normas, a distorcê-las de forma a se apropriar delas. Cada um as suporta como algo que se impõe do exterior.”. Nesse sentido, é possível afirmar que todo o profissional executará sua atividade a partir de recorrentes renormalizações a partir do prescrito.

Dessa forma, toda atividade será executada pelo sujeito laboral tendo como base sua singularidade e experiência, ou seja, sua subjetividade, mesmo que a ação a ser realizada seja a mesma e por mais de um sujeito. E é nesse contexto de ação do trabalho que se constroem as práticas linguageiras que, de acordo com Nouroudine (2002, p. 18), as práticas linguageiras envolvem três aspectos da linguagem: a linguagem como trabalho, a linguagem no trabalho e a linguagem sobre o trabalho. Os três aspectos das práticas linguageiras buscam compreender as relações entre o prescrito e o trabalho real e, mesmo que em um primeiro momento possam dizer a mesma coisa, apresentam aspectos bem distintos.

De acordo com Nourodine (2002, p. 18) a linguagem como trabalho possui uma complexidade idêntica à de toda a atividade de trabalho. É considerado complexo por ser composto de várias dimensões que envolvem o trabalho: econômica, social, cultural etc. Ainda que apresentem tal complexidade, esta provém menos da existência de várias dimensões no trabalho do que da constatação de quais dimensões não apenas se justapõem umas sobre as outras ou ao lado das outras, comunicando-se entre si para formar um fato social. Esse caráter multidimensional e total do trabalho é irredutível, visto ser a marca e o reflexo da natureza do ser humano que é, ao mesmo tempo, social, econômico, jurídico etc.

Nourodine (2002, p. 19) afirma que o trabalho também é complexo pois integra propriedades múltiplas, cada uma participando da formação de uma significação dinâmica e variável nos campos social e histórico. Assim, as atividades, os saberes e os valores são propriedades intrínsecas ao trabalho, que se manifestam no coletivo. Se não há trabalho sem que haja intenção expressa por um sujeito individual ou coletivo, a orientação da atividade é dirigida por uma dinâmica transformadora inscrita na atividade, ordenada em torno dos coletivos de trabalho, em que a cooperação é indispensável.

Sobre essa complexa relação, Nouroudine (2002) destaca que Catherine Teiger parte da hipótese de que, nas situações de trabalho, a linguagem como atividade integra aspectos estratégicos definíveis como “fala para si e fala ao outro”, para o outro, centrada nos desafios da realização do trabalho e da existência da identidade pessoal dentro e pelo grupo.” (Teiger, 1995, p. 67 apud Nouroudine, 2002, p. 19). Trazemos a esse conceito a atividade de trabalho dos policiais em uma ação, neste caso, coletiva. Há uma estratégia, alguém que fala por si e pelo outro, o sujeito que orienta, que coordena o grupo para a conclusão do caso e o resultado. No entanto, mesmo que haja a linguagem estratégica e planejada em torno de um mesmo objetivo, apenas a situação de trabalho é que vai manter tal estratégia ou, certamente, possíveis mudanças.

Nessa situação observamos dois níveis da linguagem: de um lado, os gestos, falas, que o protagonista utiliza ao se dirigir a seus colegas envolvidos em uma atividade executada coletivamente, nesta situação a Capitã dirigindo-se aos policiais (soldados) e por outro lado, as falas que o protagonista do trabalho dirige a si próprio para acompanhar e orientar seus próprios gestos. (Nouroudine, 2002, p. 20). Toda essa descrição está relacionada à linguagem como trabalho.

A linguagem no trabalho não se opõe ao conceito anterior. Existe no trabalho uma parcela de linguagem que não participa diretamente da atividade específica por meio da qual um operador ou um determinado coletivo concretiza uma intenção de trabalho, manifestando-se como corpos si. Enquanto a linguagem como trabalho é expressa pelo ator e/ou coletivo dentro da atividade, em tempo e lugar reais, a linguagem no trabalho, seria antes, uma das realidades constitutivas da situação de trabalho global na qual se desenrola a atividade. (Nouroudine, 2002). No caso do trabalho desenvolvido pelas policiais no programa em que já existe um manual, uma cartilha do que fazer em sala de aula.

A linguagem como trabalho está voltada ao pesquisador. De acordo com Nouroudine (2002, pág. 26), há uma situação na qual os protagonistas do trabalho se expressam a respeito de sua atividade “aquela na qual saberes são transmitidos de uns para outros em um coletivo de trabalho (no seio de uma equipe, de um serviço, de uma empresa etc.). É muito difícil você falar, expor o seu trabalho. Normalmente, quando questionado, o protagonista fala da atividade em si e de forma restrita.

Na próxima seção, delineamos a análise de corpus empreendida neste estudo.

3. Procedimentos metodológicos

No que se refere aos procedimentos metodológicos adotados neste estudo, se baseiam na perspectiva pluridisciplinar que envolve a temática da Ergologia e da Linguagem como, no e sobre o trabalho. Nesse sentido, a proposta é que possamos compreender as especificidades da atividade de trabalho das policiais militares, tendo como base a análise de práticas linguageiras singulares que se realizam na atividade laboral desses profissionais. Esta pesquisa classifica-se como aplicada, exploratória e bibliográfica, mediante pesquisa de campo com abordagem qualitativa.

O corpus constitui-se de entrevistas semiestruturadas coletadas junto a duas policiais militares, do gênero feminino, que integram o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) na cidade de Passo Fundo/RS. As entrevistas com os sujeitos da pesquisa foram realizadas na sede do 3º RPMon - Regimento de Polícia Montada, em Passo Fundo/RS. A seleção dessas duas policiais se justifica, visto que somente essas profissionais integram o Programa desde o início de sua execução nas escolas, além de terem o curso e o treinamento exigido. A aplicação de entrevista com essas policiais militares teve como finalidade analisar as práticas linguageiras na atividade laboral, comparando o prescrito com a atividade real.

A transcrição das entrevistas foi realizada de forma singular, ou seja, sem pretensão de enquadrá-las na análise das marcas da oralidade dos sujeitos entrevistados, mas, sim compreender as práticas linguageiras desses profissionais na atividade laboral, mediante recortes utilizando pistas linguísticas, tendo como base o método ergológico. Trinquet (2010, p. 93) apresenta o método ergológico como pluridisciplinar inovador, que permite abordar, com pertinência, a complexidade intrínseca da atividade humana do trabalho, para associar as marcas linguísticas com as categorias teóricas analisadas.

O PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) foi criado baseado no programa internacional D.A.R.E. (Drug Abuse Resistance Education) que, no Brasil é organizado pela Câmara Técnica Nacional, vinculada ao Conselho Nacional de Comandantes-Gerais, e tem como objetivo ensinar habilidades para tomada de boas decisões aos estudantes da rede escolar gaúcha, para ajudá-los a conduzir suas vidas de maneira segura e saudável, através da aplicação de todos os currículos desenvolvidos pelo D.A.R.E. Internacional por policiais devidamente habilitados.

Os objetivos específicos do programa se estruturam em proporcionar e solidificar ferramentas de proteção às comunidades escolares para valorização da vida, contribuindo para uma cultura de paz e para a construção de uma sociedade mais íntegra e saudável; desenvolver habilidades de tomada de decisão segura, saudável e responsável nos alunos, através da aplicação dos currículos D.A.R.E. Internacional; prevenir a criminalidade, uma vez que boa parte dos crimes são relacionados direta ou indiretamente ao uso de drogas e à violência; fortalecer a imagem da Brigada Militar através do policiamento ostensivo preventivo nas escolas, uma vez que o trabalho com crianças e adolescentes na comunidade desmistifica a imagem de uma polícia apenas repressora.

A fim de organizarmos os procedimentos de análise do corpus, desenvolvemos um dispositivo metodológico oriundo das proposições de Trinquet (2010) no que se refere ao método ergológico em que serão acionados os conceitos de atividade de trabalho, trabalho prescrito e trabalho real. Serão analisados os conceitos de corpo si, uso de si e dramáticas do uso de si, desenvolvidos por Schwartz e Durrive (2010). E, também, serão acionados os conceitos de práticas linguageiras, linguagem no, como e sobre o trabalho, propostos por Nouroudine (2002).

Na Figura 2, estruturamos esse dispositivo metodológico que será acionado no discorrer da análise:

Figure 2. Figura 2: Dispositivo metodológico de análise Fonte: elaborado pelos pesquisadores (2023)

Esse dispositivo (Figura 2) representa os conceitos teóricos a serem mobilizados durante a análise de corpus, que está firmada nos estudos da Ergologia propostos por Trinquet (2010), Schwartz (2014), Schwartz e Durrive (2010) e Nouroudine (2002).

Na próxima seção, denominada “5 A imagem do sujeito nas práticas linguageiras na atividade laboral e sua relação como, no e sobre o trabalho”, estruturamos nossa análise de corpus.

4. A imagem do sujeito nas práticas linguageiras na atividade laboral e sua relação como, no e sobre o trabalho

Nesta seção, apresentamos as três questões semiestruturadas, juntamente com as respostas da entrevista realizada com as duas policiais que integram o PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência na cidade de Passo Fundo/RS. Dessa forma, organizamos os Quadros 1, 2 e 3 em que cada um se refere a uma questão. As respostas das entrevistadas são denominadas como PM1 (policial militar 1) e PM2 (policial militar 2).

A análise e interpretação dos dados, por sua vez, será realizada por meio de uma integralização entre os três blocos de respostas nos Quadros 1, 2 e 3. Na sequência, vejamos os três quadros:

Figure 3. Quadro 1: Resposta 1 Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2023)

Na sequência, apresentamos o Quadro 2, com a segunda questão aplicada para as policiais:

Figure 4. Quadro 2: Resposta 2 Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2023)

Por fim, evidenciamos os resultados da terceira questão no Quadro 3:

Figure 5. Quadro 3: Resposta 3 Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2023)

Observamos, a partir desses depoimentos envolvendo o trabalho dos policiais, que a linguagem como trabalho se manifesta como ferramenta, se refere ao trabalho ensinado. A linguagem no trabalho é um instrumento de ação em sala de aula, revelando assim a recorrência de renormalizações na atividade laboral em sala de aula. Conforme Nouroudine (2002, p. 22), “enquanto a linguagem como trabalho é expressa pelo ator e/ou coletivo dentro da atividade, em tempo e lugar reais, a linguagem no trabalho, seria antes, uma das realidades constitutivas da situação de trabalho global na qual se desenrola a atividade”.

No que se refere à linguagem sobre o trabalho, percebemos que as policiais no papel de professor em sala de aula estão o tempo todo falando sobre o trabalho. Há uma ressignificação da figura da policial que, do ponto de vista daquelas crianças, a primeira impressão é negativa. Nesse sentido, Nouroudine (2002, p. 25) apresenta uma importante reflexão de que a linguagem sobre o trabalho não é exclusividade do pesquisador, como algo externo à situação de trabalho na realidade produtiva. Esse teórico ainda acrescenta que questionamentos de quem se fala, de local e momento são relevantes para situar o campo de validade de pertinência da linguagem sobre o trabalho.

As normas antecedentes são aquelas estabelecidas anteriormente que, conforme Schwartz (2015, p. 382) as normas antecedentes existem antes da vida (industriosa) coletivas que elas tornaram possível e em seguida, elas não tomam em consideração a singularidade das pessoas que vão estar encarregadas de agir e vão se instalar no posto de trabalho. Nesse sentido as normas antecedentes se definem em relação ao agir humano, à ação de realizar alguma atividade.

Já as renormalizações realizadas pelo profissional dentro da atividade de trabalho, estão relacionadas a esse agir humano, que, nas palavras de Schwartz (2015, p. 384) o ser humano será singular na sua atividade e, para ser singular ele vai tentar reinterpretar essas normas que lhe são propostas, configurando o meio com o seu próprio meio. No caso da atividade das policiais, é essa singularidade na reinterpretação das normas que está presente no seu agir em sala de aula. Elas constroem o meio com o seu próprio meio, transgredindo as normas e se apropriando delas.

Essa reinterpretação das normas e o agir na atividade humana está relacionado ao uso de si. Schwartz (2015, p. 385) diz que na atividade de trabalho não há uma simples execução, mas uso, convocação de um indivíduo singular com capacidade bem mais ampla que as enumeradas pelas tarefas. Nesse sentido, as policiais fazem esse uso de si pelos outros e o uso de si por si mesmas.

Ainda relacionado ao agir humano, à reinterpretação de normas e o uso de si, apresentam-se as dramáticas do uso de si. Nesse contexto de sala de aula, o policial precisa se despir da postura militarista e autoritarista da sua profissão e adotar uma postura mais leve e amigável pois, de acordo com Schwartz (2015, p. 377), “a dramática do uso de si tem lugar quando ocorrem eventos que rompem os ritmos das sequências habituais, antecipáveis da vida”. No caso estudado, há a inversão de papéis - ora policial, ora professor.

A partir do depoimento apresentado na questão 2, novamente temos a situação em que o prescrito não atende a atividade real, o trabalho de campo. O documento que rege a atividade do policial não abarca a demanda de situações que só a prática apresenta. A instrução aqui citada refere-se ao trabalho prescrito (norma) que, segundo Schwartz (2014), “é tudo aquilo que é pré-indicado ou pré-determinado pela empresa ou instituição”; ou seja, na situação das policiais, o prescrito é a instrução que rege o programa.

Com essa reflexão, percebe-se a dimensão do trabalho desenvolvido em sala de aula por estas profissionais, bem como as práticas de linguagem adotadas na execução da atividade, levando em conta a situação crítica das crianças.

Figure 6. Quadro 4: Síntese dos resultados Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores (2023)

5. Conclusão

Neste estudo, voltamos nosso olhar às práticas linguageiras de policiais militares em situação de trabalho, analisando o uso de si a partir das renormalizações advindas de normas e prescrições. Aqui o ambiente de trabalho se expandiu do campo de ação de polícia para dentro das salas de aulas. Além da mudança de ambiente, houve também a mudança de representação do sujeito de ação, como policial educadora.

A questão norteadora permitiu identificar como as práticas linguageiras influenciam no desenvolvimento da atividade laboral desempenhadas pelos profissionais da segurança pública (policiais militares). O objetivo do trabalho foi analisar as práticas linguageiras dos policiais militares sustentadas pelos preceitos da Ergologia, consideramos que nosso objetivo foi alcançado que, com base nos depoimentos das policiais entrevistadas, indicaram relação aos conceitos ergológicos que envolvem a atividade laboral do policial militar, caracterizada por inúmeras renormalizações. Além da mudança de ambiente, houve também a mudança de representação do sujeito de ação, em outro contexto de enunciação, como policial educadora.

Dessa forma, verificou-se que o profissional ou corpo-si, ao realizar sua atividade como policial educadora em sala de aula, é acionado a recorrer à renormalização, desde o gerenciamento das aulas até mesmo às diversas situações de campo. A entrevista com as policiais permitiu revelar uma fala com informações relevantes ao campo de atuação do policial militar.

Aqui as competências do saber fazer, da gestão do uso do corpo-si estão ligadas ao ambiente, local da cenografia, que se diferencia quando observada a profissão. No papel da policial militar, autoritária e exigente há uma gestão do corpo-si. Quando essa mesma profissional solta esse militarismo e ação em campo para gerenciar uma sala de aula, há outras versões desse mesmo corpo-si, não mais como a policial, mas aqui desenvolvendo o o papel da policial educadora.

A fundamentação teórica se constitui a partir da abordagem ergológica de Schwartz (2011, 2015, 2020), Schwartz e Durrive (2010) e das práticas linguageiras, abordando os conceitos da linguagem como, no e sobre o trabalho, desenvolvidos por Nouroudine (2002). Este estudo caracteriza-se como pesquisa aplicada, descritiva, bibliográfica, além de um estudo de campo de abordagem qualitativa, utilizando o método ergológico, um método pluridisciplinar inovador, proposto por Trinquet (2010), que permitiu abordar com maior apropriação a atividade de trabalho. Esse método fundamentou os procedimentos de análise.

O estudo contribuiu para a ampliação do conceito das práticas de linguagem em situação de trabalho, desde as noções conceituais de: norma, prescrito, real, renormalização, uso do corpo si e dramática do uso de corpo si. Além disso, verificamos que mesmo estando aptas a realizar as atividades do PROERD (Programa Educacional de Resistência a Drogas e a Violência) nas escolas, cada policial necessita ter um agir em diferentes situações, estando assim marcada a singularidade do sujeito laboral. Percebemos, desse modo, a diferença que esse Programa faz na vida das crianças, ao proporcionar momentos de aprendizado mediante valorização e compreensão das regras, dos princípios e dos valores em situações de trabalho.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

As autoras declaram não ter interesses conflitantes.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os autores confirmam que os dados, códigos e materiais que sustentam as descobertas deste estudo estão disponíveis no artigo [e/ou] seus materiais suplementares.

Referências

DE FREITAS, Ernani Cesar. As práticas de linguagem no e sobre o trabalho: discursos da prescrição na atividade docente. XVII Congreso Internacional Asociación de lingüística y Filología de América Latina (ALFAL 2014), João Pessoa/PB. 2014.

DE FREITAS, Ernani Cesar. Linguagem na atividade de trabalho: ethos discursivo em editoriais de jornal interno de empresa. Desenredo, Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo/RS, v. 6, n.2, p. 170-197, jul./dez. 2010.

DE FREITAS, Ernani Cesar. Facin, Débora. Discursos na atividade do professor: práticas de linguagem no e sobre o trabalho docente. Revista Aled. 15 (1), pp. 23-40. 2015.

NOUROUDINE, Abdallah. A linguagem: dispositivo revelador da complexidade do trabalho. In: SOUZA-E-SILVA, Maria Cecília Pérez; FAÏTA, Daniel. (Org.). Linguagem e trabalho: construção de objetos de análise no Brasil e na França. São Paulo: Cortez, 2002. p.17-30.

SCHWARTZ, Yves. Motivações do conceito de corpo-si: corpo-si, atividade, experiência. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 259-274, jul.-set. 2014.

SCHWARTZ, Yves. Pode a atividade ser objeto de “análise”? Em Discurso 3. 1ª ed. Rio de Janeiro. 2020.

SCHWARTZ, Yves, DURRIVE, Louis. Trabalho e Ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói: Eduff, 2021.

SCHWARTZ, Yves, DURRIVE, Louis. Trabalho e Ergologia II: diálogos sobre a atividade humana. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2015.

SCHWARTZ, Yves; DURRIVE, Louis. Vocabulário de Ergologia. In:(Orgs.). Trabalho e ergologia II: diálogos sobre a atividade humana. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2015. p.375-393.

SOUZA-E-SILVA, Maria Cecília Pérez, FAITA, Daniel (Orgs.). Linguagem e Trabalho: construção de análise no Brasil e na França. São Paulo: Cortez, 2002.

TRINQUET, Pierre. 2010. Trabalho e educação: o método ergológico. Campinas, número especial, p. 93-113.

Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID742.R

Decisão Editorial

EDITOR: Mônica Magalhães Cavalcante

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5561-3993

FILIAÇÃO: Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: O artigo apresenta uma abordagem teórico-metodológica inovadora ao integrar a análise das práticas de linguagem e do trabalho sob a perspectiva ergológica. Este enfoque permite uma compreensão aprofundada das práticas linguísticas de policiais militares em seu ambiente de trabalho, revelando a importância dessas práticas para o desempenho profissional, a dinâmica da organização e, mais amplamente, para a sociedade. Além de ser de grande interesse para linguistas e professores de Língua Portuguesa, o estudo oferece contribuições significativas para a sociedade em geral, ao destacar a importância da comunicação eficaz em programas de prevenção à violência..

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Antônio Lailton Moraes Duarte

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4099-4858

FILIAÇÃO: Universidade Estadual do Ceará, Ceará, Brasil.

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AVALIADOR 2: Francisca Tarciclê Pontes Rodrigues

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6610-4174

FILIAÇÃO: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Ceará, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2024-03-27 | 08:31 PM

Da leitura do artigo, constata-se que os objetivos dos autores consistem em analisar as práticas linguageiras de policiais militares, do sexo feminino, que integram o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) na cidade de Passo Fundo/RS, na perspectiva ergológica em interface com a Linguagem como, no e sobre o trabalho. Para atingir esses objetivos, os autores se fundamentam nos estudos da Ergologia - a relação do homem e sua atividade de trabalho; os conceitos de norma, atividade, renormalização, corpo si, uso de si e dramáticas do uso de si; práticas linguageiras, a linguagem como, no e sobre o trabalho. Metodologicamente, os autores realizaram entrevistas semiestruturadas coletadas junto a dois policiais militares, do sexo feminino, que integram o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) na cidade de Passo Fundo/RS, e aplicaram o método ergológico, valendo-se das categorias do dispositivo metodológico de análise: ergolo (corpo si e dramáticas) e práticas linguageiras (linguagem como, sobre e no trabalho). Nota-se que o "corpus" da pesquisa é muito reduzido para conclusões e resultados apresentados. Contudo, é compreensível, já que, dada a extensão do artigo, seria difícil efetuar uma análise com um maior número de policiais militares. Apesar desse ponto fraco, a avalia-se que o autor alcançou seus objetivos e os resultados apoiam suas conclusões, já que identificou como as práticas linguageiras influenciam no desenvolvimento da atividade laboral desempenhadas pelos profissionais da segurança pública (policiais militares), salientando-se as renormalizações por meio do corpo si. Portanto, o impacto previsto do trabalho no terreno é de que é urgente a discussão sobre a relação entre práticas de linguagem em situação de trabalho deve ser estuda sob o prisma da norma, do prescrito, do real, da renormalização, do uso do corpo si e da dramática do uso de corpo si. Al´ém disso, os métodos e dados revelam a urgência de se discutir o papel da linguagem e sua relação com o trabalho sob a persectiva dos dispositivos ergológicos.

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AVALIADOR 2

2024-03-25 | 06:31 PM

A análise ora apresentada se deu considerando-se somente o manuscrito revisado. Com base nisso, importa salientar que esta versão atualizada resulta de uma problematização muito particular que pode apresentar contribuições relevantes para os campos teóricos colocados em interface e sobre o trabalho tomado como referência para a análise investigativa, no entanto o manuscrito apresenta os fundamentos teóricos elegidos de forma descritiva sem maiores investimentos nos esclarecimentos que justificariam a articulação teórica feita e sua importância em relação ao objetivo de pesquisa. Pelo exposto, orienta-se que o manuscrito seja ainda revisado de modo a se apresentarem os esclarecimentos em questão e as contribuições pontuais da pesquisa à luz das particularidades que só a problematização feita permite.

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RODADA 2

AVALIADOR 1

2024-05-03 | 11:03 AM

Tendo em vista o atendimento das modificações solicitadas de forma satisfatória, entendo que o artigo atende os requisitos para publicação, pois configura-se como uma pesquisa relevante, oportuna e necessária para área da ergologia, linguagem e trabalho.

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AVALIADOR 2

2024-05-07 | 10:16 AM

O manuscrito ora reavaliado apresentou as modificações solicitadas, sobretudo quanto aos aspectos explicativos relacionados às escolhas teóricas e metodológicas tomadas como referência para a realização do estudo proposto, no entanto o modo de organizar retoricamente o texto para dar clareza aos leitores sobre os aspectos fundamentais das teorias evocadas e sobre a interface proposta ainda está comprometido e isso pode prejudicar o entendimento do estudo especialmente quanto às particularidades epistemológicas, científicas e procedimentais nele envolvidas, as quais são indispensáveis para se reconhecerem a relevância e a validade do estudo. Por se tratar de uma limitação mais de aspecto textual do manuscrito, entende-se que as sugestões pontuais de reescrita a serem apresentadas aos pesquisadores poderão contribuir para o alcance da superação das dificuldades apontadas e lhes viabilizar a publicação desejada.

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RODADA 3

AVALIADOR 12

2024-07-08 | 04:40 PM

O manuscrito reavaliado apresenta as atualizações conforme as orientações avaliativas ao se constituir de informações mais explicativas e relevantes acerca dos fundamentos teóricos e dos procedimentos metodológicos e analíticos necessários. Também se observou o atendimento às orientações avaliativas quanto ao aspecto textual, sobretudo quanto aos aspectos de coesão textual, por isso se conclui em favor da publicação do manuscrito.

Resposta dos Autores

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID742.A

RODADA 1

2024-04-20

Questão 1 apontada por Antônio Lailton M. Duarte

Com o intuito de  aprimorar o artigo, sugiro como forma de melhorar a redação e apresentação , usar o itálico nos termos de língua estrangeira, sobretudo na palavra "corpus"; adequar os aspectos da normatização tanto quanto às citações como das referências de acordo, respectivamente, com a NBR 10.520:2023  e NBR 6028: 2018  da ABNT. Também é preciso fazer uma revisão gramatical, sobretudo quanto à pontuação nos trechos indicados e também no uso de elos coesivos. Essas pequenas correções no texto o aprimorará bastante.

Na estrutura do artigo, penso que não seja interessante abrir uma única subseção, como ocorreu na seção 2, em que abriste uma única subseção 2.1. Sugiro que abras duas subseções para a seção 2 ou faça uma única.  Talvez seja interessante na seção 2 modificar o título e criar  a subseção 2.1  - A relação do homem com o trabalho e deixar a 2.1 como 2.2. Relação de linguagem e trabalho na atividade laboral de policiais militares. Sugiro criar um título para seção 2, capaz de abarcar o conteúdo das duas subseções propostas.

Resposta: Na versão revisada utilizamos o itálico nos termos de língua estrangeira conforme sugestão. Realizamos as adequações de citações e referências de acordo com a ABNT e revisão gramatical e revisão dos elos coesivos.

Na estrutura do artigo, mantemos a seção 2 e na seção 2.1, modificamos o título  e criamos uma nova seção, denominada 3.

Questão 2 apontada por Francisca Tarciclê Pontes Rodrigues

Os fundamentos teóricos escolhidos têm o potencial de contribuir com o entendimento sobre a dinâmica, os condicionamentos diversos e os desdobramentos do trabalho e, por isso, a interface teórica proposta e o trabalho tomado como referência para análise constituem dois aspectos muito relevantes da pesquisa quanto à possibilidade de demonstrar o potencial teórico dos fundamentos escolhidos e as particularidades e implicações da relação entre trabalho e linguagem, no entanto estes aspectos diferenciais da proposta merecem mais investimentos explicativos tanto na parte introdutória do manuscrito quanto nas considerações finais, de modo a superar o caráter muito descritivo observado na análise dos dados e nas conclusões apresentadas. Acrescenta-se a isso a orientação de se dar clareza sobre como o método informado como método ergológico foi aplicado na realização da análise. Além disso, importa dar clareza sobre como os fundamentos teóricos postos em interface contribuíram para ampliar os conhecimentos desses campos de saber específicos e sobre o tipo de trabalho sob análise.

Resposta: Na versão revisada explicamos com maior clareza os fundamentos teóricos na parte introdutória, nos procedimentos metodológicos e também na conclusão. Além disso, explicamos como o método ergológico foi utilizado na análise dos recortes e pistas linguísticas das policiais entrevistadas.

RODADA 2

2024-06-25

Informo que todas as alterações solicitadas por Antônio Lailton M. Duarte foram realizadas no artigo. Além disso, foi realizada a reescrita do resumo conforme orientação de Francisca Tarciclê Pontes Rodrigues.

How to Cite

MASCARELLO, E. R.; FREITAS, E. C. de. Language Practices of Military Police Officers in Work Situations from an Ergological Perspective. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, p. e742, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id742. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/742. Acesso em: 21 nov. 2024.

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