Resumo para não especialistas
O presente trabalho objetivou analisar antropônimos em libras, precisamente, sinais que nomeiam pessoas famosas, com base na taxonomia (classificação) proposta por Barros (2018). De acordo com essa taxonomia, antropônimos em libras podem ser de quatro principais tipos, a saber, (1) resultantes de empréstimos da língua oral, ou seja, da incorporação de elementos do nome original em português, ou referentes a aspectos (2) físicos; (3) comportamentais ou (4) sociais do indivíduo nomeado. Cada uma dessas categorias, por sua vez, abrange diferentes subcategorias. Por exemplo, os antropônimos que se referem a aspectos sociais se subdividem entre aqueles relativos à profissão de uma pessoa, a um evento marcante ou à procedência de uma pessoa. Os 132 antropônimos aqui analisados foram coletados do canal ED Libras do Youtube. Sua classificação em termos das categorias e subcategorias propostas por Barros (2018) foi realizada e armazenada em uma planilha do Excel, que integra o pacote Office da Microsoft. Os resultados obtidos mostram uma maior frequência de antropônimos relacionados a aspectos sociais e mistos, ou seja, motivados por uma combinação de mais de uma das quatro categorias propostas por Barros (2018).
Introdução
Conforme explica Sousa (2022), a onomástica é o campo dos estudos linguísticos que se ocupa da análise dos nomes próprios. Segundo o autor, ela se divide em toponímia (estudo dos nomes de lugares), antroponímia (estudo dos nomes de pessoas), zoonímia (estudo do nome de animais), metereonímia (estudo dos nomes de fenômenos atmosféricos), onionímia (estudo dos nomes de produtos comerciais), entre outros. Interessa-nos aqui a antroponímia[1], uma vez que nosso objetivo geral é analisar sinais da libras que nomeiam pessoas famosas nacional e internacionalmente de acordo com a taxonomia proposta por Barros (2018). Especificamente, objetivamos analisar 132 sinais de celebridade coletadas no canal ED Libras do Youtube e classificá-los como resultantes de empréstimo do português, ou como motivados pelo aspecto físico, comportamental ou social da pessoa nomeada.
Para isso, este artigo foi organizado da seguinte maneira. Na seção 1, apresentamos uma síntese dos trabalhos já desenvolvidos sobre sinais que designam pessoas na libras. Na seção 2, descrevemos nosso método, precisamente, nossa fonte de dados e nossos procedimentos de análise. Na seção 3, apresentamos nossos resultados e, finalmente, na seção 4, nossas considerações finais.
1. Revisão de literatura
Barros (2018) propõe uma taxonomia para sinais que nomeiam pessoas na libras. De acordo com a autora, tais sinais podem ser de quatro principais tipos, a saber, Empréstimo de Língua Oral, Aspecto Físico, Aspecto Comportamental e Aspecto Social. Como se pode ver na Figura 1, cada uma dessas macro-categorias é formada por subcategorias, que serão mais detalhadas na seção 3, ao ilustramos nossos resultados.
Subsequentemente, outros estudos sobre sinais que nomeiam pessoas na libras foram desenvolvidos com base na proposta taxonômica de Barros (2018). Sousa et al. (2020) analisaram 34 sinais que designam pessoas surdas da Grande Florianópolis/SC, disponíveis no Inventário de Libras de Santa Catarina, Grande Florianópolis, do Projeto Corpus/Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como resultado, os autores reportam que sua análise revelou a predominância de antropônimos motivados por aspectos físicos das pessoas nomeadas.
Também baseadas em Barros (2018), Rech e Sell (2020) analisaram sinais que nomeiam autores/pesquisadores, documentados no Manuário Acadêmico e Escolar elaborado pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). As autoras reportam, assim como Sousa et al. (2020), que a maioria dos sinais antroponímicos analisados é motivada por características físicas das pessoas nomeadas, pouco se relacionando, portanto, com suas atuações profissionais.
2. Método
2.1. Fonte de dados
Os dados para este trabalho foram coletados, entre março e novembro de 2021, do Canal ED Libras do Youtube[1] (Figura 2). Esse canal foi criado em dezembro de 2014 e à época da coleta continha 132 vídeos de sinais que designam celebridades brasileiras e internacionais.
2.2. Procedimentos de análise
Os sinais antroponímicos coletados foram classificados, seguindo Barros (2018), em uma planilha do Excel (Figura 3). O uso desse programa facilitou a criação de gráficos para a apresentação dos resultados na seção 3.
3. Resultados
A classificação dos 132 sinais que designam pessoas em libras coletados no canal ED Libras de acordo com as categorias propostas por Barros (2018) nos levou propor duas novas categorias: Mistos e Dúvidas. Na primeira, reunimos casos que combinam aspectos de mais de uma das categorias originais. Na segunda, incluímos os casos que não nos parecem se encaixar em nenhuma das categorias disponíveis. Como se pode ver no gráfico da Figura 4, os sinais mistos foram os mais frequentes nos nossos dados. Em segundo lugar, aqueles que remetem a aspectos comportamentais e, em terceiro, os aspectos físicos, diferentemente de Sousa et al. (2020) e Rech e Sell (2020), para quem essa última foi a categoria mais frequente. Empréstimos da Língua Oral e Aspectos Sociais foram as classes menos frequentes em nossos dados.
3.1. Empréstimos de língua oral
Entre os poucos casos de Empréstimo de Língua Oral, foram identificados sinais de três subtipos: mais de uma letra, sigla, não previsto na taxonomia de Barros (2018) e incluído aqui, e soletração. Os dois primeiros foram os mais frequentes, com dois sinais cada. O último, o menos frequente, com apenas um sinal (Figura 5).
Para ilustrar cada um dos subtipos, citamos os seguintes exemplos: o sinal do jogador de futebol Cristiano Ronaldo[1], formado por duas letras produzidas simultaneamente, uma em cada mão (Figura 6); o sinal de Martin Luther King[2], formado pela soletração da inicial de cada um de seus nomes, M, L e K (sigla) (Figura 7) e, por fim, o sinal do apresentador Gugu[3], formado pela soletração manual completa de seu nome: G-U-G-U (Figura 8).
3.2. Aspectos físicos
Os subtipos mais frequentes na categoria Aspectos Físicos foram, em primeiro lugar, o formato do cabelo, em segundo, o formato da sobrancelha e, em terceiro, a presença de um sinal (pinta). Apesar disso, foram encontradas três motivações para sinais não previstas na taxonomia de Barros (2018), a saber, o formato da careca, aparência e covinhas.
Ilustramos essas três motivações, cuja inclusão na taxonomia propomos, através dos seguintes exemplos: o sinal do empresário Luciano Hang[1] (Figura 10), que faz referência à sua careca, o sinal da cantora Claudia Leitte[2] (Figura 11), que faz referência à sua aparência (sinal BONIT@) e o sinal do cantor Bruno[3] (Figura 12), que faz referência às suas covinhas.
3.3. Aspectos comportamentais
Entre os subtipos de motivação na categoria Aspectos Comportamentais, o mais frequente foi justamente aquele que diz respeito a gestos estereotipados, não previsto na taxonomia original de Barros (2018) (Figura 13).
Como exemplo de sinal com essa motivação, citamos o sinal do apresentador Jô Soares[1] (Figura 14), que, ao final de seu programa, sempre se despedia mandando um “beijo do gordo”. Já a como exemplo de uma segunda motivação também não prevista na taxonomia de Barros (2018), a saber, uma tatuagem, citamos o sinal da participante do programa Big Brother Brasil (BBB) Vih Tube[2] (Figura 15).
3.4. Aspectos sociais
No que diz respeito aos sinais motivados por aspectos sociais, só foram encontrados, entre os pouquíssimos casos, sinais referentes à profissão da pessoa nomeada e a um evento associado à mesma (Figura 16).
O sinal do cantor Xororó[1] exemplifica o primeiro subtipo, profissão, uma vez que remete ao seu trabalho por meio do sinal VIOLÃO (Figura 17). Já o sinal do presidente Getúlio Vargas[2] ilustra o segundo subtipo, evento, ao remeter ao seu suicídio através de um tiro no peito (Figura 18).
3.5. Mistos
Conforme anunciamos no início desta seção, foram encontrados sinais cuja motivação pareceu-nos combinar duas das categorias originalmente propostas por Barros (2018). A análise desses sinais revelou que, em sua maioria, essa combinação envolve categorias diferentes, mas, em alguns poucos casos, pode envolver subtipos de uma mesma categoria (Figura 19).
O sinal da cantora Ludmilla[1] ilustra a combinação de motivações de categorias diferentes. Precisamente, seu sinal remete à primeira letra de seu nome em português, Empréstimo de Língua Oral > Uma letra e a um Aspecto Físico > Formato da Testa ao mesmo tempo (Figura 20). O sinal do cantor estadunidense Frank Sinatra[2], por sua vez, faz referência a duas motivações compreendias pela categoria Aspectos Sociais, a saber, Profissão (CANTOR) e Procedência (Nova Iorque) (Figura 21).
3.6. Dúvidas
Finalmente, nove sinais aqui analisados não puderam ser classificados de acordo com a taxonomia proposta por Barros (2018). Tal fato nos levou a reuni-los na categoria que designamos como Dúvidas. Cabe reiterar que o nome dessa categoria resulta da falta de clareza para os autores quanto à motivação desses sinais (Figura 22).
Como exemplo de antropônimo desse tipo, citamos o sinal do participante do BBB Gilberto (Gil do Vigor)[1] (Figura 23). Até o momento, não conseguimos levantar uma possível motivação para a forma do sinal, no entanto, mais estudos podem elucidar essa questão e, consequentemente, nos permitir migrá-lo dessa categoria para uma das propostas por Barros (2018).
4. Considerações finais
O presente estudo, assim como Sousa et al. (2020) e Rech e Sell (2020), aplica a taxonomia proposta por Barros (2018) a um novo conjunto de dados. Diferentemente dos referidos autores, que reportam os aspectos físicos como a motivação mais recorrente no sinais analisados, neste trabalho observamos maior incidência de sinais com motivação mista, ou seja, que envolvem mais de uma das categorias originais ou subtipos de motivações de uma mesma categoria.
A inclusão da categoria Misto, assim como da categoria Dúvidas, é uma das sugestões que este trabalho faz para o aprimoramento da taxonomia de Barros (2018). Além desta, propomos também a inclusão de subcategorias nas categorias já previstas. Precisamente, na categoria Empréstimos da Lingua Oral, propomos a inclusão de siglas; na categoria Aspectos Físicos, formato da careca, aparências e covinhas; e na categoria Aspecto Comportamental, gestos estereótipos e tatuagem.
Informações Complementares
Conflito de Interesse
Os autores não têm conflitos de interesse a declarar.
Declaração de Disponibilidade de Dados
Os dados do Canal ED Libras em Youtube https://www.youtube.com/channel/UC_aBg_0u6nkSD9EKrvgkkIg/about
Referências
AMARAL, E. T. R.; SEIDE, M. S. Nomes próprios de pessoa: introdução à antroponímia brasileira, São Paulo: Blucher Open Access, 2020.
DICK, M. V. de P. Toponímia e Antroponímia no Brasil. Coletânea de Estudos. 2 ed. São Paulo: FFLCH/USP, 1990.
ICOS. Onomastic terminology. Disponível em <Onomasticterminology – ICOS (icosweb.net)> 2024. Acesso em 12 abril, 2024.
BARROS, M. E. Taxonomia Antroponímica nas Línguas de Sinais – A Motivação dos Sinais-Nomes, RE-UNIR, v. 5, n. 2, p. 40-62, 2018.
RECH, G. C.; SELL, F. S. Os sinais de nome atribuídos no contexto acadêmico: uma abordagem antroponomástica. Onomástica Desde América Latina, n.2, v.1, 2020, p. 67-81.
SOUSA, A. M. Onomástica em libras. In: SOUSA, A. M. de; GARCIA, R.; SANTOS, T. C. dos. Perspectivas para o ensino de línguas, v. 6, Rio Branco: Edufac, 2022, p. 5-20.
SOUSA, A. M. de; OLIVEIRA, G. C. S. de; GONÇALVES-FILHO, J. S. T.; QUADROS, R. M. de. Antroponímia em língua de sinais: os sinais-nome em Florianópolis-SC, Brasil. Revista Humanidades e Inovação v.7, n.26, 2020.
Avaliação
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID774.R
Decisão Editorial
EDITOR: Renato Rodrigues Pereira
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9870-3780
FILIAÇÃO: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Sul, Brasil.
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CARTA DE DECISÃO: Considerando as avaliações positivas dos pareceristas para o manuscrito intitulado “Análise de antropônimos de pessoas famosas na Libras”, sobretudo após revisões requeridas, assim como nossa leitura avaliativa em todo o processo, recomendamos a publicação do artigo em decorrência da relevância do trabalho para o desenvolvimento dos estudos antroponomásticos e para a descrição linguística de Línguas de Sinais. O texto apresenta, na versão atual, princípios teóricos e procedimentos adequados aos objetivos estabelecidos, bem como importantes reflexões sobre os dados.
Rodadas de Avaliação
AVALIADOR 1: Alexandre Melo de Sousa
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2510-1786
FILIAÇÃO: Universidade Federal de Alagoas, Alagoas, Brasil.
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AVALIADOR 2: Márcia Sipavicius Seide
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2859-1749
FILIAÇÃO: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Paraná, Brasil.
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RODADA 1
AVALIADOR 1
2024-04-01 | 08:47 AM
O artigo apresenta análise de 132 antropônimos (sinais-nome em Libras) de pessoas famosas, com base nas taxonomias de Barros (2018). Embora este tipo de estudo não seja original, a proposta contribui para a descrição do léxico em Libras e amplia os resultados favorecendo comparações de dados para uma melhor compreensão do processo de nomeação de pessoas em línguas de sinais. A metodologia é clara e as ilustrações são bem alinhadas aos propósitos do estudo. Recomendo:
- Rever o trecho: “A onomástica é o campo dos estudos linguísticos que se ocupa da análise dos nomes próprios. Ela se divide em toponímia e antroponímia.”. O referido campo de estudos possui outras subáreas além a toponímia e antroponímia (zoonímia, metereonímia, onionímia entre outros) que também estudam nomes próprios;
- Informar o número de sinais-nome analisados por Rech e Sell (2020);
- Na subseção 3.6, substituir “alguns poucos sinais-nome” por “9 sinais-nome”. Embora a indicação conste no gráfico, é importante que venha explícita no texto;
- Ainda sobre a subseção 3.6, não ficou clara a razão do sinal-nome Gilberto não ter se encaixado em nenhuma das taxonomias de Barros (2018). Qual a motivação da nomeação? Não foi possível recuperar?
- Os autores propõem as categorias “Misto” e “Dúvidas”. Sobre a última, não seria o caso de nomear “Opaca”? Parece-me que “Dúvidas” quebra o paralelismo entre as demais taxonomias.
Por fim, recomendo a publicação do artigo após os ajustes sugeridos.
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AVALIADOR 2
2024-04-04 | 09:36 AM
PARECER PÚBLICO DA PRIMEIRA VERSÃO DO ARTIGO “ANÁLISE DE ANTROPÔNIMOS DE PESSOAS FAMOSAS NA LIBRAS”
Márcia Sipavicius Seide
A primeira versão do artigo a sim enviada para apreciação apresentava uma pesquisa antroponímica em Libras respaldada por metodologia e fundamentação teórica adequadas e cujo objeto de estudo é inédito e cujos resultados contribuem para uma melhor compreensão linguísticas dos nomes de pessoa em Libras, motivo pelo qual sou favorável à sua publicação após revisão. Não obstante estes pontos fortes do artigo o recomendarem à publicação, há aspectos do artigo que podem e devem ser aperfeiçoados. É preciso discutir brevemente duas questões terminológicas, expandir e aprofundar a revisão de literatura de modo ao inserir a pesquisa nas áreas em que se insere (a descrição linguística de Línguas de Sinais e a Onomástica), refletir sobre as limitações de pesquisa e necessidade de futuras pesquisas e redefinir e renomear a categoria de antropônimos que os autores designam como sendo “dúvidas”.
Nas primeiras linhas do artigo, os autores afirmam: “A onomástica é o campo dos estudos linguísticos que se ocupa da análise dos nomes próprios. Ela se divide em toponímia e antroponímia.”. Além de me causar estranheza o uso de minúscula nas palavras “libras”, “onomástica”, “toponímia” e “antroponímia”, percebo que há um debate sobre que termos utilizar para nomeara subáreas de pesquisa em Onomástica que não foi mencionado pelos autores do artigo, mas merecem visibilidade e reflexão. Os estudos dos nomes próprios no Brasil tiveram melhor difusão na área dos nomes próprios de lugares pelos trabalhos seminais de Maria Vicentina do Amaral Dick que utilizava o termo toponímia e antroponímia para designar tanto uma área de estudo quanto um conjunto determinado de nomes próprio. Este uso polissêmico do termo não é recomendado Counsil of Onomastic Science (ICOS, 2024) que recomenda o termo Toponomástica e Antroponomástica para fazer referência às áreas de estudo, mais informação sobre esta questão podem ser encontrados em Amaral e Seide (2020) e em Carvalhinhos (2022). Sugiro aos autores que mencionem este debate em nota de rodapé, se posicionem frente a ele e justifiquem suas escolhas terminológicas, esta é a primeira questão terminológica que merece discussão. A segunda diz respeito ao uso do termo “sinais nome” para designar os antropônimos de Libras. Em sua tese de doutorado, Rech (2022) cria e adota o termo “sinais de nome” para designar o antropônimo em Libras e também discute sobre qual é o estatuto deste tipo de nome de pessoa. Há também uma discussão ao ser feita sobre a criação e a normatização dos candidatos a termo, “sinal nome” e “sinal de nome”.
A parte de revisão de literatura apresenta somente três pesquisas anteriores, contudo, há outras que devem ser consideradas, mencionadas e analisadas. De um lado, por se tratar de uma descrição de antropônimos em uma língua de sinais, é preciso trazer mais pesquisas realizada neste âmbito, como o faz Rech (2022) na tese dela. De outro lado, por se tratar de pesquisa brasileira acerca de nomes de pessoas do Brasil é preciso contextualizar a pesquisa na área da Antroponomástica no Brasil, para tanto. acredito que será útil aos autores minha pesquisa bibliográfica de revisão sistemática de literatura sobre o tema (Seide, 2022). Tendo por base e parâmetros essas outras pesquisas. os autores terão condições de perceberem as limitações e as contribuição ode sua pesquisa, tópicos a serem acrescentados nas considerações finais do artigo.
Uma característica do artigo que pode ser vista como uma limitação é o fato de que a pesquisa se atém à descrição da carga semântica dos nomes pressupondo sua transparência. Os casos nos quais o conteúdo semântico do nome é opaco aos pesquisadores, eles decidiram categorizar como pertencentes a uma categoria por eles denominadas como “dúvidas”. Esta não me parece uma boa designação, pois no caso não são os nomes duvidosos, a dúvida é dos pesquisadores pois há uma opacidade semântica. Sendo esta a causa da dúvida, acho que a categoria poderia designar-se como sendo a dos sinais opacos e ser definida como sendo formada por nomes cuja carga semântica não é transparente aos seus usuários.
Outro aspecto do artigo que pode ser aperfeiçoado diz respeito ao conhecimento que se supõe os leitores tenham sobre as pessoas famosas nomeadas. Considerando um público amplo, nada garante que todos saibam quem são os nomeados, sugiro aos autores acrescentarem notas de rodapé com informações biográficas e enciclopédicas sobre os nomeados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Eduardo Tadeu Roque; SEIDE, Márcia Sipavicius. Nomes próprios de pessoa: introdução à antroponímia brasileira, São Paulo:Blucher Open Access. Disp.em Nomes próprios de pessoa: introdução à antroponímia brasileira - Editora Blucher. Acessado em 04, abril, 2024.
CARVALHINHOS, Patricia. E.R. Amaral & M.S. Seide, Personal names: An introduction to Brazilian anthroponymy, Translated by Emanuele Fernandes, Araraquara: Letraria, 2022, 254 pp., ISBN 978-85-69395-91- 1. Onoma 57, 313–320.Disp. em < Onoma-57-4.02-Carvalhinhos-updated.pdf (onomajournal.org) >. Acessado em 04, abril, 2024.
ICOS. Onomastic terminology. Disp em < Onomastic terminology – ICOS (icosweb.net)> 2024. Acesso em 04, abril, 2024.
RECH, Gabriele Cristine. Estudo dos nomes próprios de pessoas na Libras: onomástica e linguística cognitiva em diálogo.2022.248f. Tese (Doutorado em Letras) –– Programa de Pós-Graduação em Letras, área de concentração Linguagem e Sociedade – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2022. Disp.em < https://tede.unioeste.br/handle/tede/6406>.
SEIDE, Márcia Sipavicius. Prenomes e sobrenomes no Brasil: uma revisão sistemática de literatura. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 17, p. e1704, 2022. DOI: 10.14393/DLv17a2023-4. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/65296 . Acesso em: 3 dez. 2022
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RODADA 2
AVALIADOR 1
2024-04-21 | 03:41 PM
Após nova leitura do artigo, recomendo publicação. As dúvidas é os ajustes foram respondidos.
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AVALIADOR 2
2024-04-15 | 01:07 PM
A versão revista está satisfat´ória.
Resposta dos Autores
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID774.A
RODADA 1
2024-04-15
Resposta à avaliadora Márcia Sipavicius Seide
Primeiramente, agradecemos muitíssimo pela leitura extremamente cuidadosa e pelo parecer detalhado e com contribuições preciosíssimas. Respostas abaixo:
A primeira versão do artigo a sim enviada para apreciação apresentava uma pesquisa antroponímica em Libras respaldada por metodologia e fundamentação teórica adequadas e cujo objeto de estudo é inédito e cujos resultados contribuem para uma melhor compreensão linguísticas dos nomes de pessoa em Libras, motivo pelo qual sou favorável à sua publicação após revisão. Não obstante estes pontos fortes do artigo o recomendarem à publicação, há aspectos do artigo que podem e devem ser aperfeiçoados. É preciso discutir brevemente duas questões terminológicas, expandir e aprofundar a revisão de literatura de modo ao inserir a pesquisa nas áreas em que se insere (a descrição linguística de Línguas de Sinais e a Onomástica), refletir sobre as limitações de pesquisa e necessidade de futuras pesquisas e redefinir e renomear a categoria de antropônimos que os autores designam como sendo “dúvidas”.
Nas primeiras linhas do artigo, os autores afirmam: “A onomástica é o campo dos estudos linguísticos que se ocupa da análise dos nomes próprios. Ela se divide em toponímia e antroponímia.”. Além de me causar estranheza o uso de minúscula nas palavras “libras”, “onomástica”, “toponímia” e “antroponímia”,
Estamos seguindo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009, de acordo com o qual:
“[n]o caso dos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas, o Acordo Ortográfico recomenda o uso de iniciais minúsculas, mas permite, opcionalmente, as maiúsculas, tal como nas regras ortográficas anteriores, dando os seguintes exemplos: português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas)” (Funag, s.d.[1]).
percebo que há um debate sobre que termos utilizar para nomeara subáreas de pesquisa em Onomástica que não foi mencionado pelos autores do artigo, mas merecem visibilidade e reflexão. Os estudos dos nomes próprios no Brasil tiveram melhor difusão na área dos nomes próprios de lugares pelos trabalhos seminais de Maria Vicentina do Amaral Dick que utilizava o termo toponímia e antroponímia para designar tanto uma área de estudo quanto um conjunto determinado de nomes próprio. Este uso polissêmico do termo não é recomendado Counsil of Onomastic Science (ICOS, 2024) que recomenda o termo Toponomástica e Antroponomástica para fazer referência às áreas de estudo, mais informação sobre esta questão podem ser encontrados em Amaral e Seide (2020) e em Carvalhinhos (2022). Sugiro aos autores que mencionem este debate em nota de rodapé, se posicionem frente a ele e justifiquem suas escolhas terminológicas, esta é a primeira questão terminológica que merece discussão.
Atendemos a sugestão, inserindo uma nota de roda-pé. Nela, nos posicionamos quanto a usar a terminologia ainda mais difundida no Brasil.
A segunda diz respeito ao uso do termo “sinais nome” para designar os antropônimos de Libras. Em sua tese de doutorado, Rech (2022) cria e adota o termo “sinais de nome” para designar o antropônimo em Libras e também discute sobre qual é o estatuto deste tipo de nome de pessoa. Há também uma discussão ao ser feita sobre a criação e a normatização dos candidatos a termo, “sinal nome” e “sinal de nome”.
Excelente ponto! Na verdade, o termo sinal-nome resulta de influência da literatura em inglês, onde se emprega name sign. “Sinais de nome” não nos parece uma alternativa melhor, uma vez que não se trata de um sinal do nome (em português). Optamos por nos referir ao conceito ou por meio do termo antropônimo ou de maneira analítica através do sintagma “sinais que nomeiam/designam nomes de pessoas em libras”.
A parte de revisão de literatura apresenta somente três pesquisas anteriores, contudo, há outras que devem ser consideradas, mencionadas e analisadas. De um lado, por se tratar de uma descrição de antropônimos em uma língua de sinais, é preciso trazer mais pesquisas realizada neste âmbito, como o faz Rech (2022) na tese dela.
Cabe esclarecer que o artigo em questão resulta do TCC do primeiro autor, orientado pelo segundo. Deixamos isso mais explícito na nota de roda-pé 1, pois esse fato explica a desconsideração da literatura internacional, que, por estar em inglês, é inacessível para estudantes em nível de graduação. Some-se a isso o fato de o primeiro autor ser surdo. Por utilizar o português como segunda língua, ele também tem dificuldade de acessar a literatura nacional, mesmo em português. Visando não descaracterizar o trabalho original, distanciando-o, inclusive, da forma como foi apresentado no XIII Congresso da Abralin, nossa decisão foi manter o que apresentamos na versão submetida, isto é, apenas trabalhos que, assim como o nosso, se basearam na taxonomia proposta por Barros (2018).
De outro lado, por se tratar de pesquisa brasileira acerca de nomes de pessoas do Brasil é preciso contextualizar a pesquisa na área da Antroponomástica no Brasil, para tanto. acredito que será útil aos autores minha pesquisa bibliográfica de revisão sistemática de literatura sobre o tema (Seide, 2022). Tendo por base e parâmetros essas outras pesquisas. os autores terão condições de perceberem as limitações e as contribuição ode sua pesquisa, tópicos a serem acrescentados nas considerações finais do artigo.
Além das justificativas apresentadas acima, pensamos ser importante também relativizar a cobrança recorrentemente feita a pesquisadores de línguas sinalizadas quanto a referenciar a literatura relativa ao nosso tema de pesquisa nas línguas faladas. Sabemos que o contrário nunca acontece! Ainda que seja inegável que as línguas naturais não se manifestem apenas através da modalidade oro-auditiva, os trabalhos sobre línguas faladas, na maioria esmagadora das vezes, ignora as línguas de sinais, mesmo quando propõem universais linguísticos. Esperar que os pesquisadores das línguas de sinais citem a literatura correlata ao tema nas línguas faladas, a nosso ver, é uma forma de colonialismo científico. Tal fato, inclusive, vem enviesando nosso olhar para os fatos das línguas de sinais, levando-nos a imprimir nelas construtos teóricos propostos exclusivamente com base nas línguas faladas.
Uma característica do artigo que pode ser vista como uma limitação é o fato de que a pesquisa se atém à descrição da carga semântica dos nomes pressupondo sua transparência. Os casos nos quais o conteúdo semântico do nome é opaco aos pesquisadores, eles decidiram categorizar como pertencentes a uma categoria por eles denominadas como “dúvidas”. Esta não me parece uma boa designação, pois no caso não são os nomes duvidosos, a dúvida é dos pesquisadores pois há uma opacidade semântica. Sendo esta a causa da dúvida, acho que a categoria poderia designar-se como sendo a dos sinais opacos e ser definida como sendo formada por nomes cuja carga semântica não é transparente aos seus usuários.
Concordamos totalmente que a dúvida é dos pesquisadores. Entretanto, como sabemos, todas as classificações resultam da análise dos mesmos. Sendo assim, ainda que possível, a interpretação de que a dúvida recaia sobre os dados e não sobre os pesquisadores nos parece um tanto quanto incomum. Seja como for, para evitar interpretações como a apontada, explicamos mais claramente no corpo do texto por que a categoria recebeu o nome “dúvidas”. Apesar de não convencional em português, esse nome se aproxima da forma como o primeiro autor se referiu aos sinais cuja classificação de acordo com a taxonomia de Barros (2018) não foi possível e, por essa razão, decidimos mantê-lo.
Outro aspecto do artigo que pode ser aperfeiçoado diz respeito ao conhecimento que se supõe os leitores tenham sobre as pessoas famosas nomeadas. Considerando um público amplo, nada garante que todos saibam quem são os nomeados, sugiro aos autores acrescentarem notas de rodapé com informações biográficas e enciclopédicas sobre os nomeados.
Excelente sugestão! Acrescentamos para cada personalidade cujo sinal foi analisado e discutido no texto uma nota de roda-pé com um link para uma página biográfica na Wikipedia.
Resposta ao avaliador Alexandre Melo de Sousa
Agradecemos a leitura cuidadosa e os comentários extremamente relevantes para o aprimoramento do trabalho. Respostas abaixo:
O artigo apresenta análise de 132 antropônimos (sinais-nome em Libras) de pessoas famosas, com base nas taxonomias de Barros (2018). Embora este tipo de estudo não seja original, a proposta contribui para a descrição do léxico em Libras e amplia os resultados favorecendo comparações de dados para uma melhor compreensão do processo de nomeação de pessoas em línguas de sinais. A metodologia é clara e as ilustrações são bem alinhadas aos propósitos do estudo. Recomendo:
Rever o trecho: “A onomástica é o campo dos estudos linguísticos que se ocupa da análise dos nomes próprios. Ela se divide em toponímia e antroponímia.”. O referido campo de estudos possui outras subáreas além a toponímia e antroponímia (zoonímia, metereonímia, onionímia entre outros) que também estudam nomes próprios;
Fizemos o acréscimo e fundamentamos isso com o artigo de Sousa (2022).
- Informar o número de sinais-nome analisados por Rech e Sell (2020);
Infelizmente, as autoras não reportam esse número.
- Na subseção 3.6, substituir “alguns poucos sinais-nome” por “9 sinais-nome”. Embora a indicação conste no gráfico, é importante que venha explícita no texto;
Corrigido.
- Ainda sobre a subseção 3.6, não ficou clara a razão do sinal-nome Gilberto não ter se encaixado em nenhuma das taxonomias de Barros (2018). Qual a motivação da nomeação? Não foi possível recuperar?
Realmente não conseguimos levantar a motivação. Por essa razão o incluímos na categoria “Dúvidas”.
- Os autores propõem as categorias “Misto” e “Dúvidas”. Sobre a última, não seria o caso de nomear “Opaca”? Parece-me que “Dúvidas” quebra o paralelismo entre as demais taxonomias.
É um excelente ponto, mas, como se pode ver, a taxonomia de Barros (2018) não apresenta um paralelismo absoluto (cf. “Empréstimos de Línguas Orais” vs. “Aspecto Físico”). Pelas razões apresentadas nas respostas à parecerista anterior, optamos por manter o termo.
Por fim, recomendo a publicação do artigo após os ajustes sugeridos.