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Relato de Pesquisa

O horizonte valorativo em enunciados do gênero comentário online na defesa de um currículo homeschooling: entre o conservadorismo e o neoliberalismo

Ana Beatriz Simões da Matta

Universidade Federal do Rio de Janeiro image/svg+xml

https://orcid.org/0000-0001-5356-975X


Palavras-chave

Homeschooling
Perspectiva Dialógica da Linguagem
Horizonte Valorativo

Resumo

Este trabalho, em diálogo com os pressupostos teórico-metodológicos da Perspectiva Dialógica da Linguagem, elaborada pelo Círculo de Bakhtin (Bakhtin, 1998, 2008, 2010; Medviédev, 2012; Volóchinov, 2017), destina-se a apresentar uma análise de enunciados do gênero comentário online a respeito do vídeo “Como montar um currículo para Homeschooling”, integrante do canal de Youtube intitulado “Canal Educalar”. O homeschooling, conceituado neste trabalho como escolarização doméstica (Penna, 2019; Traversinni; Lockmann, 2022), é um fenômeno educacional em que se reclama o direito de a família substituir, no espaço doméstico, a escolarização formal realizada comumente no espaço escolar. Tal fenômeno ganhou destaque por filiar-se a pressupostos neoliberais e (neo) conservadores, como a liberdade individual e a defesa da família tradicional, que foram mais legitimados ao longo do governo Bolsonaro (2018-2022). Desse modo, a análise dos 11 comentários, presentes no vídeo, pautou-se nos percursos metodológicos presentes em Volóchinov (2017), Rohling e Remenche (2016) e Rodrigues (2005), em que nos debruçamos a observar, primeiramente, a dimensão social do gênero comentário online para, posteriormente, analisarmos a dimensão verbal. A partir da análise dos comentários, percebeu-se a construção depreciativa do espaço escolar como um espaço prejudicial ao desenvolvimento do aluno, bem como a discursivização do homeschooling como possibilidade de proteção à diversidade social e a alunos com necessidades educacionais específicas. Mostrou-se presente, também, a vinculação aos projetos neoliberais e (neo) conservadores, como atitudes responsivas (Bakhtin, 2008) de valoração positiva a tais discursividades. Além disso, na materialidade imagética, houve o uso de emojis favoráveis à proposição do currículo no âmbito da escolarização doméstica, o que evidencia o potencial sociocomunicativo do gênero no acento valorativo do enunciado.

Resumo para não especialistas

Este trabalho analisa comentários online sobre o vídeo “Como montar um currículo para homeschooling”, do “Canal Educalar”, integrante do Youtube. O homeschooling, entendido neste artigo como escolarização doméstica, é uma proposta educacional alternativa à educação formal desenvolvida no ambiente escolar, na qual os pais conclamam a liberdade de educar seus filhos em outros espaços que não sejam a escola. Esta proposta se destacou durante o governo Bolsonaro (2018-2022) por alinhar-se, dentre as diversas possibilidades de sua prática, a valores neoliberais e (neo)conservadores. Para as nossas análises, escolhemos 11 comentários dos 41 que se encontravam postados até a data de escrita deste trabalho. Percebemos que os comentadores entendiam a escola como um espaço negativo e apresentavam o homeschooling como solução àproteção dos alunos frente à diversidade de temas progressistas que possam ser abordados por professores nas instituições formais de educação.

Introdução

A potencialidade de autoria nas mídias digitais no contexto da Cibercultura, entendida como a cultura contemporânea mediada pelas tecnologias digitais em rede (Santos, 2010), propicia a construção de profícuo espaço de responsividades diante dos atos/eventos da vida, visto a possibilidade de o sujeito falar sobre si e sobre o outro de maneira mais fluida e interconectada. A liberação do polo da emissão[1] (Lemos, 2003), uma das leis ciberculturais, propulsiona o rompimento do paradigma da transmissão do conteúdo de mídia em massa e viabiliza a possibilidade de produção de mídia participativa individual por meio de dispositivos digitais portáteis. Dessa forma, parece ser possível, nesses ambientes digitais, autorar sem revelar-se, bem como avaliar e validar discursos, ainda que estes sejam de ódio, de segregação e de privação de direitos.

Segundo Rohling e Remenche (2016), comentários publicados no espaço sociocomunicativo das mídias digitais operam como construções socioideológicas em grande escala, dada a viabilidade, pelo uso de recursos multimodais, da coletivização de avaliações e de validações individuais, tornando público o que é privado. Por essa razão, as autoras destacam que o comentário online, dentre os diversos gêneros produzidos/utilizados na esfera digital, é o que evidencia, de modo mais saliente, as valorações enunciativas (Bakhtin, 2008) dos sujeitos atuantes desta esfera comunicativa; isto é, a tomada de posição desses sujeitos frente à multiplicidade de conteúdos que são produzidos e circulados no digital.

Diante deste contexto sociodiscursivo e filiada [F1] à Perspectiva Dialógica da Linguagem, elaborada pelo Círculo de Bakhtin[2] (Bakhtin, 2008; Medviédev, 2012; Volóchinov, 2017), este artigo apresenta uma análise de enunciados do gênero comentário online postados a respeito do conteúdo do vídeo “Como montar um currículo para Homeschooling”, integrante do canal de Youtube intitulado “Canal Educalar”. O homeschooling, conceituado neste trabalho como escolarização doméstica (Penna, 2019; Traversinni; Lockmann, 2022), é um fenômeno educacional multifacetado e constituído por diferentes perspectivas teórico-metodológicas, em que se reclama o direito de a família substituir, no espaço doméstico, a escolarização formal realizada comumente no espaço escolar.

Nossa filiação à noção de escolarização doméstica, para entender uma das correntes do homeschooling no Brasil, vai ao encontro do proposto por Penna (2019) e Traversinni e Lockmann (2022). Para esses autores, o termo escolarização destaca a pretensa liberdade educacional dos pais frente à matrícula obrigatória dos filhos na educação formal, além de evitar a mistura entre “os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar e aqueles que se desenvolvem predominantemente, por meio do ensino, em instituições culturais (lei no 9394 de 1996, art. 1º)” (Penna, 2019, p. 1). Por sua vez, justifica-se o uso de doméstica com o intuito de diferenciar-se do termo domiciliar, quando aplicado ao “regime de exercícios domiciliares (com acompanhamento da escola)” (Penna, 2019, p. 1). Ao longo do artigo, haverá menção[3] a ensino domiciliar e educação domiciliar quando retirados de documentos oficiais e outras referências bibliográficas.

Vale destacar que o interesse por este tema surge como uma atitude responsiva (Bakhtin, 2008) diante do fenômeno da escolarização doméstica, em uma postura de não neutralidade como pesquisadora diante desta modalidade educacional. As compreensões que aqui se apresentam buscam criar inteligibilidades sobre como os sentidos produzidos se manifestam e quais são seus efeitos no contexto social e ideologicamente marcado; neste caso, advogamos, com base nas pesquisas de Lacerda (2019), Lima et al. (2022) e Traversinni e Lockmann (2022), que o fenômeno da escolarização doméstica pode ser constituído, também, por índices sociais de valoração oriundos do neoliberalismo (Harvey, 2008) e do (neo)conservadorismo (Apple, 2006, 2011; Moll, 2015), materializados[4] em enunciados concretos, como é o caso dos comentários online.

Traversinni e Lockmann (2022) elencam dois importantes exemplos de como os efeitos do neoliberalismo e do (neo)conservadorismo podem balizar a prática da escolarização doméstica. Um deles é a responsabilidade individual dos sujeitos em suas atuações na sociedade, que respalda a defesa dos direitos das famílias de educarem seus filhos em ambiente doméstico. O outro é o entendimento do homeschooling como prática de proteção do educando frente à diversidade (supostamente) vivenciada no ambiente escolar, sobretudo a de gênero e de sexualidade. Voltaremos a esses exemplos mais adiante.

Cabe ressaltar, também, a noção de valoração/axiologia[5] trazida pela Perspectiva Dialógica da Linguagem, importante para alcançar os objetivos propostos neste trabalho. Para Bakhtin (2008), todo enunciado é dialógico, já que se constitui como resposta a enunciados anteriores e como antecipação a enunciados futuros. Ao mesmo tempo, os enunciados são axiológicos, ou seja, “apresentam sempre uma dimensão avaliativa e expressam um posicionamento social” (Bakhtin, 2008, p. 45). Este aspecto do posicionamento social compõe o horizonte valorativo do sujeito, que, combinado ao horizonte espacial e temporal (o onde e o quando ocorre a enunciação) e ao horizonte temático (do que trata a enunciação), formam a parte extraverbal do enunciado (Volóchinov, 2017). Ampliaremos nossas discussões sobre o horizonte valorativo na seção 2.

Posto isso, tomando por base o estudo de Rohling e Remenche (2016) acerca dos comentários online sobre a greve de professores da rede pública estadual do Paraná de 2015, que problematizou as valorações de participantes de fóruns de discussão acerca da postura dos docentes neste movimento grevista e da escola como espaço de periculosidade e doutrinação de estudantes, este trabalho buscou entender os sentidos produzidos a partir do horizonte valorativo presente nos enunciados que compõem o gênero comentário online na situação da assistência do supracitado vídeo. Para isso, debruçamo-nos por perceber as apreciações dos sujeitos em tais enunciados, que contribuem para os modos sociais de compreender e discursivizar a construção curricular na escolarização doméstica, o horizonte temático do vídeo em questão.

Para tal, este artigo está organizado da seguinte forma: incialmente, discorremos sobre a escolarização doméstica, situando este fenômeno educacional entre os postulados do neoliberalismo e do (neo)conservadorismo. Depois, elencamos considerações sobre o horizonte valorativo e sua relação com o enunciado concreto a partir das discussões do Círculo de Bakhtin. Na sequência, descrevemos o gênero digital comentário online dentro do contexto da produção cibercultural. Ato seguido, delineamos o percurso metodológico do trabalho e passamos às análises dos comentários online. Por fim, tecemos nossas considerações em movência, que se unirão a outros dizeres sobre o fenômeno da escolarização doméstica.

1. A escolarização doméstica entre o neoliberalismo e o (neo)conservadorismo: breves considerações

Como fenômeno educacional heterogêneo e multifacetado, constituído por valorações sociais diversas – sobretudo no âmbito político – o homeschooling vem ganhando espaço nas discussões sobre as políticas educacionais brasileiras, o que suscita argumentos favoráveis (Andrade, 2014; Colucci, 2014; Bastos, 2013) e contrários (Penna, 2019; Traversinni; Lockmann, 2022) a sua prática. Nessa multiplicidade de discursos acerca do homeschooling[1] e suas possibilidades de entendimento em língua portuguesa – educação domiciliar, ensino domiciliar, educação na casa, ensino doméstico[2], dentre outros – filiamo-nos ao termo escolarização doméstica. Como já explicitado na introdução, defendemos, com base nos estudos de Lacerda (2019), Lima et al. (2022) e Traversinni e Lockmann (2022), que o entendimento da prática do homeschooling pode ser constituído, também, por pressupostos (neo) conservadores e neoliberais, com destaque à liberdade individual dos pais em escolarizar seus filhos em ambiente doméstico.

Na visão de Biroli, Machado e Vaggione (2020), o (neo)conservadorismo é uma lógica social normativa e disciplinadora que se interioriza nos sujeitos contemporâneos, com o apoio de coalizões políticas estabelecidas entre religiosos e não religiosos, embora a direita cristã seja o grupo mais expoente. Sobre esta perspectiva normativista e disciplinante do (neo)conservadorismo, Lima et al. (2022) acrescentam que seus efeitos estão presentes na política social e educacional brasileira, influenciados por movimentos (neo)conservadores, sobretudo, estadunidenses. Para os autores, dialogando com Lacerda (2019), “há uma estreita relação da experiência brasileira com o conservadorismo e o (neo)conservadorismo estadunidense, inclusive havendo interferências dos movimentos dos Estados Unidos em diferentes esferas políticas da sociedade brasileira”. (Lima et al., 2022, p. 8) Mais adiante, exemplificaremos iniciativas educacionais brasileiras que receberam a influência conservadora norte-americana.

Diante desta influência, é importante mencionar fatos sobre o estabelecimento do movimento (neo) conservador nos Estados Unidos. Apple (2006) afirma que, nas décadas de 1960 e 70, ocorreram transformações no cenário social norte-americano, propiciadas pelos movimentos feministas, negros, LGBTQIA[F1] +[1]. e dos movimentos de contracultura. Estas movimentações acarretaram uma série de conquistas sociais, tais como a Emenda de Direitos Iguais, aprovada no Congresso dos Estados Unidos, em março de 1972, garantindo igualdade de direitos às mulheres; a permissão para o aborto pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1973; e o crescimento do movimento LGBTQIA+ (Lacerda, 2019; Lima et al., 2022).

Nesse cenário de disputas sociais, a partir da década de 1980, houve, nos Estados Unidos, o surgimento de uma aliança conservadora, atrelada à Nova Direita[1], ao mundo dos negócios e aos intelectuais conservadores, que rechaçam políticas sociais e democráticas (ainda que limitadas), oriundas dos esforços das minorias (mulheres, professores, funcionários e legisladores progressistas e líderes comunitários) (Apple, 2011). Tal aliança empenha-se “(...) em prover as condições educacionais tidas como necessárias para não só aumentar a competitividade internacional, o lucro e a disciplina, mas também para resgatar um passado romantizado de ‘lar’, família e escolas ideais” (Apple, 2011, p. 68).

Cabe aqui mencionar o uso do prefixo -neo no conceito de (neo)conservadorismo. De acordo com Moll (2015), o termo foi cunhado por Michael Harrington, no intento de delinear um novo tipo de conservadorismo com similaridades ao neoliberalismo. Interessante observar que Lacerda (2019) assevera que os (neo) conservadores conclamam a liberdade individual, incorporando postulados neoliberais; ao passo que os “velhos” criticavam-na, apontando seus excessos ao estabelecimento da moralidade. Para Apple (2011), o conservadorismo assume diferentes significados a depender do contexto social/histórico: ora imbricado a propor ações defensivas, ora ofensivas, a depender do status quo. Na leitura da obra de Apple (2011), Lima et al. (2022) sugerem que a base do pensamento (neo)conservador é a percepção das perdas morais diante das pautas das minorias supracitadas, pelo enfraquecimento da fé religiosa e da família (tradicional) como sustentáculo da base social. Dessa forma, o (neo)conservadorismo propõe um ideário com valores privatistas, absolutismo do livre mercado, valores da direita cristã, militarismo interno e externo, além de apoio ao sionismo (Lacerda, 2019).

Apple (2011) sublinha um grupo da aliança da Nova Direita norte-americana, interessante a este trabalho: os populistas autoritários, em sua maioria grupos religiosos ligados ao movimento evangélico. Por meio da leitura que realizam da moralidade cristã, “tais grupos atribuem a crise econômica vivida a uma alegada decadência moral produzida pelo Estado, que teria se voltado de maneira excessiva a interesses de grupos minoritários por meio da oferta de políticas sociais” (Lima et al., 2022, p. 5). Nessa defesa pela moralidade atrelada à religiosidade, os populistas autoritários se colocam contrários a questões de gênero, sexualidade e diversidade familiar, conclamando a liberdade de, por exemplo, educarem seus filhos em casa, livre das periculosidades progressistas do espaço escolar: “A ‘família’ encarna a defesa dos seus filhos contra o inimigo externo, consubstanciando na figura da escola (...) [que seria] ocupada pelos ativistas sociais e pelas esquerdas” (Natividade et al., 2022, p. 71).

Conforme mencionado anteriormente, há reverberações do (neo)conservadorismo estadunidense na sociedade brasileira e estas são objeto do interesse de trabalho de Lacerda (2019) e de Lima et al. (2022). Enquanto Apple (2006; 2011) e Moll (2015) focalizam a coalização norte-americana – a Nova Direita- constituída em quatro pilares – neoliberais, os neoconservadores, os populistas autoritários e a nova classe média profissional – sendo os neoliberais os líderes dessa coalizão, no cenário brasileiro, o pilar do novo conservadorismo é a direita cristã, constituída, sobretudo, pela bancada evangélica, que, a partir da década de 1970, utiliza-se dos meios de comunicação para difundir suas ideias e reclamar maior espaço no cenário político. Lacerda (2019) afirma que as ações de defesa da direita cristã brasileira debruçam-se a defender a família tradicional, a combater questões de gênero e sexualidade (com a proposição da existência da “ideologia de gênero” e do “kit gay”), a promover a militarização da sociedade, o encarceramento em massa, o porte de armas e a reduzir a maioridade penal, tendo por agentes políticos militares, ruralistas e empresários de ramos diversos. E tais ações reverberam, como já dito, em iniciativas e políticas educacionais, dentre as quais Lima et al. (2022) elencam quatro: a Base Nacional Comum Curricular, o Movimento Escola Sem Partido, a militarização da educação e a escolarização doméstica, objeto de nossa atenção neste artigo.

Diante de uma agenda (neo) conservadora, que se dispõe a proteger crianças e adolescentes de crenças consideradas “progressistas” e da diversidade, em especial a de gênero e sexualidade, fortalece-se, também, o ideário neoliberal. Como doutrina político-econômica que propõe o bem-estar humano ao promover a liberdade individual e empreendedora, garantindo ao corpo social a propriedade privada, o livre comércio e o livre mercado (Harvey, 2008), o neoliberalismo prega a concorrência e a individualização extrema. Há, desse modo, uma liberdade dos pais na escolha da educação dos filhos; ao mesmo tempo, esses sujeitos são responsabilizados pelo sucesso ou pelo fracasso resultante desta escolha. Traversinni e Lockmann (2022) destacam que essa liberdade individual da família no âmbito educacional evidencia dois movimentos:

Vale salientar que a liberdade é um dos pilares da agenda bolsonarista ressignificada dos fascismos da metade do século XX. A tríade “Deus, pátria e família”, acrescida, agora, da liberdade, impulsiona o conservadorismo nos costumes e o neoliberalismo na condução da economia. Advogando a existência de uma guerra cultural extremista baseada na retórica do ódio, Rocha (2021) destaca que o bolsonarismo propõe essa liberdade, sobretudo de expressão; mas, paradoxalmente, ameaça a democracia em seu sentido mais primário: o direito à diferença. E é justamente na proteção do convívio com o diferente que a escolarização doméstica lança uma de suas bases: a “proteção da mesmidade”, “em que se evidenciam discursos que apontam a escola como lugar inapropriado para determinados sujeitos “normais” que podem ter seus gestos, suas crenças, seus valores e seus modos de vida corrompidos ao frequentarem o espaço indesejável da escola” (Lockmann, 2020, p. 10).

Nesse sentido, Apple (2011) pontua que o neoliberalismo deseja um Estado “fraco”, ou seja, com pouca intervenção, sobretudo, nas relações econômicas, ao passo que o (neo)conservadorismo anseia uma política coercitiva (disciplinante) em relação ao corpo, gênero, raça, padrões, valores e condutas e, principalmente, ao tipo de conhecimento que deve ser “transmitido” às futuras gerações. Nessa contradição, a política de modernização conservadora surge como caminho para libertar os indivíduos para propósitos econômicos e simultaneamente controlá-los para propósitos sociais. Assim, quanto mais a liberdade econômica aumenta, maior são as desigualdades; portanto, maior necessidade de controle. E a escolarização doméstica é um possível caminho para este controle, uma vez que, dentre suas diversas características, propõe a exclusão de crianças e de jovens da convivência com a diversidade cultural no espaço escolar formal.

Compreendemos que uma das formas do controle social ocorre no espaço escolar e na elaboração do currículo, ditando o que pode ser aprendido e o que deve ser excluído. Na perspectiva de Silva (2016), o currículo é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes, seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo. Apple (2011) acrescenta que o currículo se relaciona intimamente à política da cultura. Ao advogar a favor da não neutralidade curricular, o autor defende que o currículo é o resultado de uma tradição seletiva, ou seja, das escolhas de um grupo sobre o que é ser conhecimento legítimo: “[o currículo] é produto das tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e econômicas que organizam e desorganizam um povo” (Apple, 2011, p. 59, nossos grifos).

Feitas essas considerações acerca do (neo)conservadorismo e do neoliberalismo, passamos a um breve delineamento acerca do horizonte valorativo, proposto pelo Círculo de Bakhtin.

2. O componente axiológico/valorativo nos enunciados concretos: breves linhas acerca do horizonte valorativo no Círculo de Bakhtin

Na Perspectiva Dialógica da Linguagem, elaborada pelo Círculo de Bakhtin, à qual nos filiamos neste artigo, o uso da língua se dá na forma de enunciados, orais ou escritos, concretos e únicos, que são empregados pelos interlocutores em diferentes campos da atividade humana. Para Bakhtin (2008), todo enunciado, composto de uma parte verbal (ou semiótica) e outra extraverbal, constitui-se de ecos e ressonâncias de outros enunciados, relacionados à identidade da esfera da comunicação discursiva. Ao mesmo tempo, o enunciado também apresenta algo de singular, único e irrepetível na comunicação discursiva, por ser um novo acontecimento e materializar “a postura ativa do falante nesse ou naquele campo do objeto e do sentido” (Bakhtin, 2008, p. 289).

Sobre a parte extraverbal do enunciado, Volóchinov (2017) destaca que esta se compõe do horizonte espacial e temporal (o onde e o quando ocorre a enunciação); o horizonte temático (o que trata a enunciação) e o horizonte valorativo (a atitude/valoração dos falantes). Estes três horizontes estão intimamente relacionados à situação interlocutiva e, principalmente, à orientação social do enunciado (Volóchinov, 2013), ou seja, a dependência do peso sócio-hierárquico do auditório social[F1] , já que o discurso é sempre construído a partir da posição social, histórica e cultural de um enunciador diante de seu interlocutor.

Assim como postulam Rohling e Remenche (2016), a divisão entre os três horizontes aqui apresentada – horizonte temático, espacial e valorativo – se dá para fins metodológicos e de análise mais particularizada no horizonte valorativo dos enunciados do gênero discursivo em tela. No entanto, cabe ressaltar que estes horizontes estão intimamente imbricados na materialidade linguística e relacionados à situação interlocutiva: o espaço-tempo em que ocorrem, o tema do enunciado e, principalmente, o espaço social de uso da linguagem; no nosso caso, o Youtube.

O horizonte valorativo, sobre o qual nos debruçamos, é um aspecto essencial da enunciação, uma vez que esta é axiológica e dialógica por natureza; ou seja, os enunciados, que materializam os discursos, apresentam sempre uma dimensão avaliativa e expressam um posicionamento social, formando elos na cadeia discursiva (Bakhtin, 2008). Isto significa que não há enunciado sem dimensão valorativa e, tampouco, valoração sem materialidade, seja verbal ou em outros formas concretas de signo[1]: “É na materialidade dos enunciados, na forma de enunciação, entonação, seleção e disposição das palavras ou signos mobilizados que se evidencia a dimensão valorativa.” (Rohling; Remenche, 2016, p. 1462).

Tomando a dimensão valorativa como intrínseca ao signo, concordamos com Rohling e Remenche (2016) sobre a aproximação da noção de valoração / axiologia à de ideologia, visto que, como propõe Volóchinov (2017), tudo o que é sígnico é ideológico. O autor conceitua a ideologia como o conjunto de reflexos e refrações no cérebro humano da atividade social e natural, materializado em formas sígnicas. Neste sentido, o signo não apenas integra uma realidade, espelhando-a fidedignamente, mas reflete e refrata outras. E é neste processo de reflexos e refrações, nos termos de Volóchinov (2017), que se torna possível interpretar essas realidades, ou seja, assumir uma posição avaliativa: “distorcê-la [a realidade], ser-lhe fiel, percebê-la de um ponto de vista específico (...) As categorias de avaliação ideológica (falso, verdadeiro, justo, bom) podem ser aplicadas a qualquer signo” (Volóchinov, 2017, p. 93).

Em relação à posição avaliativa, Faraco (2009) assevera que os enunciados denotam uma dimensão avaliativa porque expressam posicionamentos sociais de valoração. O autor defende que a noção de ideologia, para estes intelectuais russos, relaciona-se à visão de mundo resultante das diversas intepretações que sujeitos situados socio-historicamente realizam ao longo de sua trajetória de vida, além de representarem os produtos da cultura imaterial do homem.

Portanto, a refração – esse processo de apreensão da realidade de um ponto de vista específico – está relacionada à visão de mundo dos sujeitos, que compõe os índices sociais de valoração, visto que a palavra só se torna signo quando adquire um valor social (Volóchinov, 2017). E são esses índices sociais de avaliação que constituem o horizonte valorativo dos falantes.

Sobre esta questão, Grillo e Américo (2017) acrescentam que o horizonte valorativo do sujeito é formado pelo conjunto de interesses e valores oriundos de determinados grupos sociais – os índices de valoração social. Merece destaque a consideração das autoras acerca da possibilidade de ampliação e redefinição constante desse horizonte valorativo, que suscita, nos termos de Grillo e Américo (2017) “a reavaliação e a redistribuição dos sentidos linguísticos antigos (Grillo; Américo, 2017, p. 361).

Nesse movimento de ampliação do horizonte valorativo, cabe salientar que os índices de valoração social estão sempre em confronto, ou seja, em relações dialógicas, e é este entrecruzamento que torna o signo “vivo e móvel”, como pontuam Rohling e Remenche (2016). Para que haja relações dialógicas, como relembra Faraco (2009), é preciso que a materialidade linguística entre na esfera do discurso e tenha se transformado em enunciado, no qual se fixa a posição de um sujeito social. Nessa fixação de posição do sujeito social, é possível haver a atitude responsiva[1], isto é, estabelecer “relações que geram significação responsivamente a partir do encontro de posições avaliativas” (Faraco, 2009, p. 67).

A partir destas proposições acerca do horizonte valorativo, passamos, agora, à problematização do gênero comentário online, situando-o no contexto da produção cibercultural e das especificidades de comunicação da plataforma YouTube, suporte em que se encontram os enunciados analisados.

3. O gênero comentário online no contexto da cibercultura

Neste artigo, entendemos o comentário online como gênero do discurso produzido/compartilhado na esfera da comunicação digital. Bakhtin (2008) ressalta que cada campo da utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados[F1] , aos quais denomina “gêneros do discurso”. No fluxo discursivo, os interlocutores lançam mão de formas típicas de enunciados a depender das especificidades do campo de comunicação no qual se inserem. Como assinala Rodrigues (2005[F2] ), a ideia de tipificação proposta pelo Círculo é social (e não taxonômica, com vistas à categorização), em que se percebem regularidades construídas sócio-historicamente, em situações de interlocução relativamente estáveis e reconhecidas pelos falantes. Os gêneros, portanto, são “impessoais” por não serem os enunciados únicos e irrepetíveis; [F3] entretanto, são históricos e concretos, situados culturalmente a partir das especificidades de suas esferas de produção e circulação.

Estas especificidades determinam ao enunciado três importantes elementos indissoluvelmente relacionados ao seu conjunto e profícuos ao entendimento dos gêneros discursivos, a saber: o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional. De modo sintético, entendemos que o conteúdo temático se refere ao objeto do discurso e aos sentidos que se estabelecem com outros enunciados (i.e., as relações dialógicas), que determinam as finalidades discursivas; o estilo refere-se à seleção dos recursos léxicos, fraseológicos e gramaticais da língua, determinado não apenas pelas escolhas individuais dos falantes, mas também pela situação comunicativa e pelo contexto social. Por fim, a construção composicional, como os [F1] procedimentos composicionais para a organização, disposição e acabamento da totalidade discursiva e da relação dos participantes da comunicação discursiva.

Na esteira deste pensamento, e pelo entendimento de que todo enunciado é um elo na comunicação discursiva e que o emprego linguístico ocorre por meio deste e não de orações isoladas, Bakhtin (2008) elenca três aspectos importantes do enunciado: a alternância dos sujeitos do discurso, a conclusibilidade e a expressividade. Por alternância dos sujeitos do discurso, entende-se que o enunciado como unidade apresenta começo e fim determinados, delimitando-o de [F1] outros enunciados. Desse modo, cada enunciado apresenta fronteiras determinadas pela alternância dos sujeitos: o falante conclui o que precisava dizer e passa a palavra ao outro, suscitando sua atitude responsiva, uma postura de resposta verbal ou não, ainda que não seja imediata. Cabe salientar que essa é uma imagem usada metaforicamente pelos autores para mostrar de que forma se entende o enunciado como em elo na cadeia de comunicação.

Com relação à conclusibilidade, Bakhtin (2008) a considera como um aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso, que pode ocorrer pelo fato do sujeito haver falado (ou escrito) tudo o que deseja dizer em dado momento ou circunstância. O autor aclara o uso deste tudo ao dar a seguinte explicação: “(...) Quando ouvimos ou vemos, percebemos nitidamente o fim do enunciado, como se ouvíssemos o “dixi[1][F1] conclusivo do falante” (Bakhtin, 2008, p. 35).

Por sua vez, a expressividade refere-se à não neutralidade dos enunciados, como uma instância valorativa do sujeito frente ao objeto discursivo, aos participantes da interação e dos enunciados já-ditos e do que se tem a dizer. Para o Círculo de Bakhtin, não há enunciado neutro nas responsividades da vida: “viver é posicionar-se” (Bakhtin, 2008, p. 45). Mais adiante, voltaremos a estes três aspectos do enunciado, considerando a produção destes enunciados no espaço sociocomunicativo do YouTube.

Em diálogo com as especificidades do campo de comunicação que suscitam formas típicas de enunciados propostas por Bakhtin (2008), Alves Filho e Santos (2013) tecem relevantes considerações. Os autores apontam que o gênero comentário online é recorrente em diferentes interfaces digitais, como portais de notícias, redes sociais e repositórios de vídeos, como é caso da plataforma Youtube, suporte digital dos enunciados aqui analisados. Seu espaço interlocutivo é, na maioria das vezes, destinado ao interlocutor para a exposição de opiniões após a assistência de vídeos, que se utiliza de diversas semioses para expressar sua posição avaliativa. Nessa interação sociodiscursiva, o comentário online [F1] suscita diferentes atitudes responsivas, ou seja, “materializam axiologicamente[1] os diferentes valores sociais” (Remenche; Rohling, 2016, p. 1464).

O comentário online, como possibilidade de constituir-se como um discurso-resposta no ambiente digital, descortina a posição de Medviédev (2012) quando da crítica aos formalistas russos por entenderem o gênero apenas em seu conteúdo composicional, uma vez que, para o Círculo, tal entendimento se baseia na sua ligação com uma situação social de interlocução, e não nas suas características formais. Logo, como propõem Alves Filho e Santos (2013), o discurso-resposta do comentário online apresenta como mote principal “o posicionamento axiológico do comentador” (Alves Filho; Santos, 2013, p. 13).

Como repositório de vídeos largamente utilizado na atualidade, o Youtube insere-se como interface digital de produção e compartilhamento de vídeos de inúmeros conteúdos. Na atual fase da cibercultura em que estamos inseridos, nota-se a emergência não só da ubiquidade, ou seja, da possibilidade de informar-se, conectar-se e interagir em movimento e em diferentes espaços, como também do princípio da conexão generalizada, em que se rompe a lógica linear de compreensão do tempo e do espaço.

Acerca da autoria neste gênero, Rodrigues (2005) destaca que todo gênero tem a sua concepção de autoria, relacionando-se não ao autor empírico, mas à posição de autoria inscrita no próprio gênero. Como assinala Bakhtin (2008, p. 75), não há palavra “sem dono”. No entanto, como postulado na introdução deste trabalho, na produção do comentário online, é possível autorar sem revelar-se, principalmente quando há a discordância do conteúdo a ser comentado. Diante desta possibilidade, Remenche e Rohling (2016) trazem a metáfora da máscara, que sintetiza o uso de nicknames e avatares, como modos de resguardar o sujeito empírico neste ambiente digital.

Ainda que haja esta possibilidade de ocultação/mascaramento da autoria, principalmente em projetos de dizer afetados pelos reflexos e refrações do que é ser ético, nesta análise, assim como Remenche e Rohling (2016), entendemos que todos os comentários possuem assinatura. Ou seja, há um autor declarado nos textos, que, materializando seu horizonte avaliativo, discursiviza acerca de um currículo homeschooling. Em nossa análise, percebemos uma filiação favorável a esta modalidade educacional, muito embora seja possível haver uma seleção de comentários pelos produtores do canal em questão pelas funcionalidades do Youtube em filtrá-los, em um intento de suprimir vozes sociais que se posicionem contrariamente à escolarização doméstica.

Depois dos delineamentos acerca do gênero em questão, nesta seção, apresentamos as noções de enunciado, gênero discursivo, em particular o comentário online, além do horizonte valorativo, que serão mobilizadas em nossas análises. Passamos, agora, à proposição do percurso metodológico proposto neste trabalho.

4. Entre a teoria e a metodologia

As análises que ora apresentamos ocupam-se dos 41 enunciados produzidos/gerados a partir da assistência do vídeo “Como montar um currículo para Homeschooling”, do Canal Educalar. Dentre estes, foram selecionados 11, com o objetivo de criar inteligibilidades sobre os sentidos produzidos a partir do horizonte valorativo dos enunciados produzidos/gerados que compõem o gênero comentário online na situação da assistência do supracitado vídeo, assim como perceber as valorações que contribuem para os modos sociais de compreender e discursivizar a construção curricular na escolarização doméstica. A escolha destes 11 comentários deu-se pela observação das regularidades na materialidade linguística, com o uso tanto de termos religiosos como de situações de compra e venda.

Como citado na introdução, neste artigo, filiamo-nos à Perspectiva Dialógica da Linguagem, proposta pelo Círculo de Bakhtin. Ao delinear anotações sobre temas diversos[1], Bakhtin (2017) reafirma que o enunciado, no fluxo discursivo, encontra-se de modo encadeado, uma vez que sempre pressupõe enunciados que o antecedem e o sucedem. Portanto, o estudo do enunciado deve considerar esta característica integrada da comunicação discursiva. Nas palavras de Bakhtin (2017), “Ele [o enunciado] é apenas um elo na cadeia e fora dessa cadeia não pode ser estudado. Entre os enunciados, existem relações que [F1] não são definidas em categorias, nem mecânicas e nem linguísticas”[2] (Bakhtin, 2017, p. 27).

Nessa mesma linha de raciocínio, Volóchinov (2017) reitera que todo enunciado, ainda que esteja acabado e seja significativo para determinado fluxo discursivo, é somente um momento singular na comunicação discursiva ininterrupta (cotidiana, literária, científica, política), que se integra a uma constituição multilateral de uma dada coletividade social, também ininterrupta. O autor enfatiza essa integração entre o enunciado e a constituição social, ao entender que “a comunicação discursiva nunca poderá ser compreendida nem explicada fora dessa ligação com a situação concreta” (Volóchinov, 2017, p. 220).

Dadas essas condições, para Volóchinov (2017), a língua vive e se forma no plano histórico, na comunicação discursiva concreta. Isso significa ir contra a noção de língua como sistema abstrato de regras, que são internalizadas no psiquismo dos falantes, e advogar a favor da constituição dos sujeitos do discurso como sócio-historicamente situados.

Tendo em vista esta concretude da comunicação discursiva, situada sócio-historicamente, e retomando a discussão empreendida para o estudo do enunciado explicitada acima em Bakhtin (2017), apresentamos três importantes aspectos delineados por Volóchinov (2017), quais sejam: as relações dialógicas, os gêneros do discurso e as formas da língua, caros às análises propostas neste trabalho:

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1) formas e tipos de interação discursiva em sua relação com as condições concretas; 2) formas dos enunciados ou discursos verbais singulares em relação estreita com a interação da qual são parte, isto é, os gêneros dos discursos verbais determinados pela interação discursiva na vida e na criação ideológica; 3) partindo disso, revisão das formas da língua em sua concepção linguística habitual (Volóchinov, 2017, p. 220).

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Como explicam Molon e Vianna (2012), as orientações metodológicas de Volóchinov (2017) acima expostas enfatizam que os saberes mobilizados nessa proposta não advêm apenas do campo da Linguística. Para estes teóricos, a análise das condições concretas da interação, que se debruça a entender o onde, o quando e o como esta ocorre, mobiliza outros campos do conhecimento das ciências. Em face disso, realça-se o que os autores propõem acerca da concretude: “A ideia de concretude não se restringe ao contexto estrito da enunciação, mas sim à sua realidade sócio-histórica” (Molon; Viana, 2012, p. 160).

Seguindo as proposições elencadas acima, primeiramente, descreveremos o ambiente sociodiscursivo da produção dos enunciados – o canal do Youtube Educalar –, dando ênfase às condições concretas da interação dos comentadores online – o onde, o quando e como se dá tal interação. Tal ênfase situará o comentário online sócio-historicamente como produto audiovisual que emerge no contexto da Cibercultura.

Além disso, comentaremos brevemente o conteúdo do vídeo[1] em questão, tendo em vista que os comentários online materializam as atitudes responsivas dos visualizadores deste conteúdo digital. E para melhor elucidar conceito de currículo para o idealizador do vídeo, retiraremos alguns trechos do blog do Canal Educalar[2], já que há, no blog, um artigo de mesmo nome do vídeo, ressaltado pelo idealizador do vídeo como complemento ao que se propõe como currículo na cosmovisão cristã.

Em consonância com o proposto por Volóchinov (2017) e de maneira a contemplar o olhar para o gênero comentário online, composto de elementos verbais e não verbais, seguimos o proposto em Rodrigues (2005), debruçando-nos na apresentação da dimensão social e verbal destes comentários. Assim como a autora em suas análises a respeito do gênero artigo jornalístico, guiamo-nos por alguns questionamentos, sem a pretensão de responder a todos de forma enfática, mas como um caminho de construção das análises: o que motiva o acontecimento da produção destes comentários online? A quem estes reagem? Como se manifestam tais reações-respostas nos comentários? Qual a orientação valorativa diante do que se diz? Como os assistentes do supracitado vídeo constroem suas orientações valorativas? Como estas questões se materializam nos comentários online?

Como propõe Rodrigues (2005), o estudo deste gênero não partiu de categorias de análise preestabelecidas, mas sim da apreensão de certas regularidades da materialidade linguística. Dado o espaço destinado a este artigo, foram selecionados, como já explicitado,11 comentários em que pudemos perceber a materialização dos efeitos do neoliberalismo e do (neo)conservadorismo, tais como aquisição de materiais didáticos e elementos religiosos, ou seja, pela percepção de termos verbais e semióticos que puderam ser interpretados como filiações a estes índices sociais de valoração.

Passamos, agora, às análises.

5. Análises

Como já apresentado, os comentários online analisados foram produzidos/gerados a partir da assistência do vídeo “Como montar um currículo para homeschooling”, do Canal Educalar. O critério de escolha deste vídeo se baseou na quantidade de visualizações, sendo este um dos mais visualizados deste canal. Consideramos tal informação relevante, uma vez que denota o interesse dos usuários da rede mundial de computadores, simpatizantes ou não da escolarização doméstica, sobre o tema. O vídeo em questão foi publicado no dia 24 de abril de 2020, possui 6.900 visualizações, 747 curtidas e 45 comentários majoritariamente favoráveis ao conteúdo proposto[1].

De acordo com as estatísticas do YouTube, o canal iniciou seus trabalhos de difusão de conteúdo em 31 de março de 2017. Até a data da escrita deste artigo, possuía 16.700 inscritos, 531 vídeos postados e 501.619 visualizações de seu conteúdo. Vejamos a descrição do canal:

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A Educalar é um projeto de Educação Domiciliar idealizado por Emerson e Vanessa Almeida, Cristãos Reformados. Somos uma Plataforma de Apoio às famílias educadoras de língua portuguesa, no Brasil e no Mundo. Temos lutado diariamente para produzir materiais práticos e de fácil aplicação no dia a dia das famílias que têm abraçado a Educação Domiciliar. Nosso objetivo é ser um apoio sólido e constante nesta jornada tão importante e notável que as famílias educadoras escolhem traçar. Conheça nosso Site: https://educalar.com.br. Seja um Membro da Nossa Comunidade: https://comunidade.educalar.com.br. Nosso canal gratuito no Telegram: bit.ly/CanalTelegramEducalar. Seja muito bem-vindo a Educalar. Um abraço, Emerson Almeida (Educalar, 2020, nossos grifos).

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Os idealizadores supracitados – youtubers homeschoolers – iniciam sua apresentação mencionando a filiação ao cristianismo reformado, sugestiva à vinculação ao protestantismo. Em luta diária pela produção de conteúdos acerca da escolarização doméstica, o canal visa a ser um repositório prático a famílias educadoras de língua portuguesa que, supostamente, escolhem aderir a esta modalidade educacional. Como sublinha Volóchinov (2017), o discurso é sempre construído a partir da posição social, histórica e cultural de um enunciador diante de seu interlocutor; logo, filiados a denominações cristãs evangélicas, os enunciadores marcam seu posicionamento discursivo religioso em relação à educação.

A respeito do conteúdo do vídeo, este versa acerca de uma dúvida considerada comum aos que buscam filiar-se à escolarização doméstica, ou seja, “Como montar um currículo para homeschooling”. Esta tarefa, de acordo com o idealizador do conteúdo, é um desafio aos pais. Em sua visão, o currículo, como exposto no blog do “Canal Educalar”, que complementa o conteúdo do vídeo, “é o caminho pelo qual seus filhos irão passar na jornada de estudos em casa” (Almeida, 2020) e precisa ter um foco bastante objetivo e definido.

Uma das questões mais importantes levantadas pelo idealizador do conteúdo é que a escolha do currículo está atrelada à cosmovisão. Em sua valoração, a cosmovisão significa “aquilo que cremos”. Importante destacar que, diferentemente de outros materiais para homeschooling, o enunciador advoga que não há neutralidade neste processo de escolha, ainda que o sistema (não há referência a que se aponta por sistema aqui) insista em propor que haja uma neutralidade.

Na esteira do entendimento da cosmovisão enquanto sistema de crenças, o enunciador parte para uma divisão entre dois objetivos essenciais de um currículo, quais sejam: “Um currículo que tem como objetivo glorificar a Deus. Todo conteúdo, matéria e materiais partirão deste princípio” e “Um currículo humanista. Todo conteúdo estará centrado no homem ou no próprio conteúdo, que, por sua vez, é o homem sendo o centro novamente” (Almeida, 2020). Diante desta separação entre o conteúdo divino e humano, o enunciador faz a seguinte pergunta: “qual seria para nós, educadores homeschoolers, o currículo mais relevante aos nossos filhos? A resposta é o primeiro objetivo. Para isso, há a indicação do livro “A Filosofia do Currículo Cristão”, de Rushdoony (2001), além do incentivo à aquisição dos materiais do Sistema Mackenzie de Ensino, que se alinham a este objetivo. Por fim, o enunciador propõe que a leitura do livro indicado e a compra dos kits de materiais pode ser complementada pelos conteúdos produzidos no canal e no blog Educalar.

Como é possível perceber nesta breve descrição do canal, do conteúdo do vídeo e de trechos retirados do Blog do “Canal Educalar”, não há uma proposição da sequenciação de temas a serem propostos aos alunos, talvez uma das expectativas de quem procure o material audiovisual, mas sim da posição avaliativa do enunciador a respeito do que seja um currículo, seus objetivos e base epistemológica (a cosmovisão cristã), bem como a proposição da aquisição de um material didático de uma grande rede educacional brasileira. Essas duas vertentes, para nós consideradas como as mais importantes apresentadas no vídeo, justificam a escolha do corpus aqui apresentado, delineado, como propõe Rodrigues (2005), a partir da apreensão das regularidades verbais e imagéticas nos comentários online – elementos religiosos e situações de compra e venda de materiais – que parecem materializar os efeitos do neoliberalismo e (neo)conservadorismo.

Para melhor visualização do corpus analisado, numeramos os comentários de C1 a C11 e retiramos as identidades empíricas dos comentadores, de maneira a garantir seu sigilo. Os excertos foram organizados a partir da apreensão das regularidades expostas acima e reagrupados na ordem em que apareciam no espaço destinado aos comentários no Youtube, abaixo do vídeo, já que se apresentavam entre outros comentários que não foram selecionados para esta análise.

Figure 1. Fonte: Educalar (2020, nossos grifos).

Com relação ao conteúdo temático, mesmo nos comentários que não foram selecionados para esta análise – como montar um currículo para homeschooling – evidencia-se a regularidade do gênero comentário online como uma possibilidade de resposta a algo noticiado ou comentado, que se relaciona à esfera de comunicação em que é produzido e circulado; neste caso, o Youtube. Dessa maneira, cria-se uma rede discursiva na qual os sujeitos se mostram majoritariamente favoráveis à defesa da escolarização doméstica por meio de um currículo cristão.

Como assinalam Remenche e Rohling (2016), o acento valorativo se mostra bastante saliente não apenas no tema a que os comentários online se debruçam a atender, mas no acabamento estilístico-composicional, que se materializa no léxico escolhido para fazer referência ao objeto de discurso. Além do aspecto verbal, que serve de materialidade às valorações, verifica-se o uso de emojis que evidenciam tanto a valoração positiva ao conteúdo ministrado, quanto aos comentários anteriores, que materializam as valorações do auditório social (Volóchinov, 2017) a que se destinam, formado, como posto por Rohling e Remenche (2016) pela coletividade de leitores internautas que se lançam a defender o currículo da escolarização doméstica.

Temos, desse modo, o enunciado C2, que termina com o uso de um emoji de rosto enviando beijo com formato de coração e o enunciado C11, formado apenas por emojis de rosto sorridente com olhos de coração[1] e palmas. Ainda que o enunciado esteja formado, apenas, pelos elementos imagéticos, cumpre relembrar o proposto por Bakhtin (2008): “[...] não se pode construir uma enunciação sem modalidade apreciativa. [...] Toda enunciação compreende inicialmente, uma orientação apreciativa”; (Bakhtin, 2008, p. 15); portanto, os emojis aqui destacados são valorações positivas à maneira de conceber o currículo aos moldes cristãos.

A respeito da temporalidade, nota-se, nos enunciados, sua produção/geração em diferentes tempos, visto que o vídeo, publicado em abril de 2020, ainda se encontra postado no Canal e aberto a atitudes responsivas de seus interlocutores. Desse modo, percebe-se, pelas especificidades do ambiente digital, que a conclusibilidade, ou seja, a característica do enunciado que denota a completude do sujeito haver falado (ou escrito) tudo o que deseja dizer em dado momento ou circunstância, elencada na seção três, mostra-se aberta às atitudes responsivas dos interlocutores digitais, uma vez que é possível responder, replicar, editar ou até mesmo apagar os comentários postados. Como explicitado acima, para Rohling e Remenche (2016), o interlocutor imediato mais específico destes comentários em distintos tempos-espaços é o produtor do vídeo em tela, mas o seu auditório social é a coletividade de leitores internautas, que constrói uma rede de sentidos acerca da defesa do currículo homeschooling, agindo sobre os sentidos e sobre as significações interindividuais, sobretudo de quem busca a assistência do vídeo, ao mesmo tempo em que reflete e refrata signos, saturando-os de recortes valorativos e de orientações ideológicas.

Entre discursos já-ditos e antecipados acerca do currículo cristão, os materiais didáticos, que materializariam a execução deste, são enquadrados pelos comentadores:

Figure 2.

Em C1, ressalta-se o papel que o Canal Educalar desempenha como elemento essencial de seleção de materiais didáticos, valorando-os positivamente pelo uso do adjetivo “firme” e pelo substantivo “filtragem”, que denota a ação de separação daquilo que seria nocivo ao consumo. Ao construir esta posição de valoração positiva do Canal Educalar, o comentarista afirma que a necessidade desta seleção emerge da cosmovisão de autores “que muitas vezes é antibíblica”. Sobre esta seleção, relembramos Silva (2016), ao entender o currículo como resultado de uma seleção de conteúdos em um universo de saberes; logo, os materiais didáticos, que servirão de instrumentos à materialização deste currículo, precisam da firmeza e da “filtragem” do Canal Educalar, de maneira que se alinhem à visão bíblica.

Notamos, desse modo, uma orientação depreciativa de modo endereçado, incluindo autores de materiais didáticos que não se filiam aos objetivos de um currículo cristão como interlocutores diretos. Ao qualificarem esta postura como antibíblica, parece-nos que este signo materializa ressonâncias ideológicas se tornam intensas e “tensas” ou, ainda, trata-se de “[...] discursos já povoados pelas intenções sociais de outrem (Bakhtin, 1998, p. 105).

Ao final deste comentário, há uma materialização do agradecimento do comentarista em relação à filtragem dos materiais didáticos. Nela, lança-se mão da autoridade divina para que haja a continuidade deste trabalho de modo profícuo e baseado na bondade. Há, como em C1, uma regularidade do elemento religioso em C2, C3, C4, C6, C7 e C10[1], em especial pelos usos de “benção” (em C2 e C3), de “educação domiciliar cristã” (em C4), de “cosmovisão cristã” (em C6), de “Deus abençoe” (em C7) e da recomendação da leitura da Bíblia (em C10). O que nos chama a atenção é a corporificação do elemento divino em C1 (“Que Deus os faça prosperar nessa tarefa e retribua o bem que têm feito”), capaz não apenas de perceber positivamente o trabalho realizado pelo Canal, mas também de depreciar o trabalho de outros autores que apresentam uma cosmovisão antibíblica, já que estes não parecem ser “abençoados”.

Em C5 (“Seria tãooo bommm se conseguissem parcelar o pagamento do material do Sistema Mackenzie”), há uma antecipação do posto pelo enunciador do vídeo sobre a forma de pagamento integral do valor do material didático em questão, o que dificulta sua aquisição pela comentadora. A repetição de vogais em “taaão boom” denota a expressividade deste enunciado quando da valoração negativa em relação ao elevado custo, em um intento de transpor à materialidade verbal escrita a entonação a ser utilizada em uma possível realização vocal.

Sobre a entonação, Volóchinov (2019) destaca-a como a “mais pura expressão da avaliação”, visto que, por meio dela, “a palavra entra em contato direto com a vida” (Volóchinov, 2019, p. 123), em um caráter irrepetível. Consoante ao pensamento de Volóchinov (2019), Bakhtin (2010) define entonação como a relação emocionalmente valorativa do falante com o sentido do seu enunciado. Pelo fato de ter mais de um filho, a comentadora lamenta a inexistência do parcelamento do montante a ser gasto na compra do kit didático, o que pode ser um obstáculo a um melhor oferecimento do currículo homeschooling a seus filhos.

Ainda sobre a aquisição de material didático, vejamos os comentários C8 e C9:

Figure 3.

Em C8, há uma diferenciação do posto em C5. Aqui, o comentador interessa-se pela aquisição do material do Sistema Mackenzie[1], em um intento por direcioná-lo a seu filho de 4 anos, de maneira a iniciar (!) seu processo de alfabetização; contudo, mostra dificuldade em como adquiri-lo. Percebemos, em C8, que a exclusão da criança e do adolescente do espaço escolar torna-se um direito da família – optar ou não pela educação domiciliar e iniciar o processo de alfabetização precocemente. Resgatando a discussão de Traversinni e Lockmann (2022) sobre o neoliberalismo, que prega a individualização extrema, reverberada na liberdade da educação dos filhos em ambiente doméstico, este direito individualiza-se, na medida em que os pais definem sua responsabilidade integral pela educação dos filhos; por conseguinte, o sucesso ou fracasso nesta modalidade educacional é do sujeito e não mais do Estado.

Em resposta a C8, C9 solicita a escrita de um e-mail próprio para assuntos “comerciais”: pedidos@educalar.com.br. Nesse sentido, o Canal, ora abençoado em C1, assume o papel de ser intermediário da aquisição do material do Sistema Mackenzie, tornando-se, ao mesmo tempo, o bastião da “filtragem de conteúdos” seguindo os preceitos bíblicos e o mercador destes.

Essa interseção entre os pressupostos neoliberais e (neo)conservadores é apresentada na obra de Rushdoony (2001), citada em C6 (recontextualizado abaixo). Como a obra de Rushdoony (2001) – “A Filosofia do currículo cristão” – tem um grande espaço no conteúdo do vídeo, apresentamos fragmentos desta, a fim de corroborar o entendimento dos pressupostos neoliberais e (neo)conservadores, que corroboram as posições valorativas aqui apresentadas:

Figure 4.

Na obra de Rushdoony (2001), propõe-se um tratado filosófico de educação cristã, a partir de um compilado de palestras ministradas em diferentes instituições de ensino norte-americanas de inclinação confessional cristã. Rushdoony[1] (2001) afirma que a educação sempre foi uma função religiosa da sociedade; o Estado, ao assumi-la, retira dos pais cristãos e da igreja sua liberdade em propiciar (esse) cristianismo aos estudantes. Apesar de não repudiar os valores religiosos, “[o Estado] troca o cristianismo pela própria religião estatizante, geralmente uma forma de humanismo” (Rushdoony, 2001, p. 9). Mesmo que não haja uma definição dessa religião estatizante, é possível inferir que a laicidade dos diversos Estados ocidentais, que abre possibilidades do convívio simultâneo de religiões e crenças, prejudique o projeto clássico e cristão proposto por seus defensores.

A aproximação entre a liberdade da família em educar os filhos e a religião advogada por Rushdoony (2001) para a elaboração curricular endossa o paradoxo do Estado no neoliberalismo e no neoconservadorismo, proposto por Apple (2011). De um lado, o neoliberalismo, que prega pouca intervenção estatal, sobretudo nas relações econômicas, e de outro, o neoconservadorismo, que disciplina os corpos sociais e o que pode ou não ser ensinado. Nessa equação, quanto mais houver liberdade econômica e ausência do Estado, maior [F1] são as desigualdades sociais; consequentemente, a necessidade de controle social aumenta.

Com vistas a exemplificar este paradoxo apontado por Apple (2011), mobiliza-se aqui a relevância que Rushdoony (2001) confere à economia para a construção de um profícuo currículo no contexto da escolarização doméstica. Em suas palavras: “A Bíblia e a lei bíblica são fundamentais para todo currículo sadio e não podem ser excluídas. A economia é um requisito básico de todo currículo e deveria receber uma análise minuciosa da teoria e prática.” (Rushdoony, 2001, p. 41, nossos grifos).

Em vista disso, novamente destacamos a regularidade na qual a Bíblia é mencionada nos comentários – em C1, quando o comentador relembra a postura antibíblica de alguns produtores de material didático, e em C10, pela recomendação da leitura da Bíblia (“Leia a Bíblia”). Neste comentário, sublinhamos a forma imperativa afirmativa do verbo ler (Leia), como uma ordenação aos que se lançam a construir um currículo “sadio” no contexto da escolarização, sem esquecer, evidentemente, do fator econômico.

Concluídas nossas análises, passamos a tecer, na próxima seção, considerações em movência sobre o exposto neste trabalho.

6. Considerações em movência

Nessas considerações em movência, que se juntam a outros dizeres sobre a escolarização doméstica, destacamos que a análise aqui apresentada aponta para uma avaliação positiva do currículo homeschooling, sobretudo aos moldes cristãos. A materialidade linguística e os usos estilísticos e multimodais dos enunciados destacados evidenciam o potencial sociocomunicativo deste gênero “em acentuar valorativamente determinado projeto de dizer” (Rohling; Remenche, 2016, p. 1474).

O gênero comentário online, sobretudo no ambiente do Youtube, mostra-se como possibilidade de resposta ao que se [F1] é proposto no conteúdo de um vídeo ou a outros comentários postados, considerando, como visto anteriormente, a coletividade de internautas que compõem o auditório social (Volóchinov, 2017) deste gênero. Como aponta [F2] Alves Filho e Santos (2013), os comentadores realizam um enquadramento de determinada temática apresentada nos conteúdos audiovisuais. No caso de nossas análises, foi possível, pela depreensão das regularidades dos 41 comentários produzidos/gerados até a data da escrita deste artigo (elementos religiosos e situações de compra e venda) e seleção de 11 destes, perceber o enquadre dos comentadores ao uso do material didático e a obras como a “Filosofia do Currículo Cristão” de Rushdoony e à própria Bíblia como profícuos a esta construção curricular no contexto da escolarização doméstica.

Em retomada ao que apontaram Grillo e Américo (2017) sobre o horizonte valorativo, formado pelo conjunto de interesses e valores oriundos de determinados grupos sociais – os índices de valoração social, concluímos que o horizonte valorativo, tanto dos comentadores selecionados quanto do idealizador do vídeo, é constituído também por índices sociais de valoração oriundos do neoliberalismo e do (neo) conservadorismo, presentes, de igual maneira, na defesa da escolarização doméstica.

Para corroborar esta afirmação, além de considerarmos as obras de Lacerda (2019), Lima et al. (2022) e Traversinni e Lockmann (2022), que defendem o exposto acima quanto à escolarização doméstica, resgatamos algumas observações mobilizadas a partir de nossas análises dos comentários online em tela: a seleção de conteúdos que estejam em conformidade com o proposto pela Bíblia e a depreciação de autores que não são considerados bíblicos, a presença de elementos religiosos, a conclamação da liberdade em escolarizar e alfabetizar os filhos em idade precoce e a importância da aquisição de obras e materiais didáticos que materializem esse currículo “sadio”, como propõe Rushdoony (2001). Todos esses itens elencados tornam, portanto, a escolarização doméstica uma mercadoria – cristã – a ser adquirida pelos pais, que se materializará em um currículo alinhado aos preceitos cristãos, sem esquecer, sobretudo, dos valores econômicos.

Esperamos, por fim, que a sociedade, os professores e todos os que se envolvem com a educação neste país possam debater o tema da escolarização doméstica não como utopia e mero fruto da dissonância cognitiva dos contrários ao estado democrático de direito, mas como fenômeno educacional em consolidação no Brasil. De igual modo, urge-nos defender o espaço escolar como profícuo campo de agenciamento discente e de valorização docente, a fim de que haja o pleno desenvolvimento do cidadão crítico, problematizador e transformador de seu entorno.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

Não há conflito de interesses neste artigo.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os dados que suportam os resultados deste estudo serão disponibilizados pelo autor correspondente, mediante solicitação razoável.

Referências

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ANEXO

DADOS DA TRANSCRIÇÃO

Nome do narrador: Emerson Almeida.

Identificação narrador: EA

Data do vídeo: 20/04/2020

Duração do áudio: 00:15:56

Convenção de Transcrição: MARCUSCHI (1991).

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EA (00:00)

Uma das perguntas que vocês mais nos fazem é como eu faço pra montar um currículo. “Onde eu encontro isso ou onde eu COMPRO um currículo?”. E a gente tem bastante dificuldade de pensar em currículo porque a gente simplesmente não foi treinado a montar ou planejar qualquer coisa. É muito difícil de a gente montar algo se a gente não consegue ter clareza. Lembram do vídeo que eu postei outro dia falando sobre clareza? Vou até deixar linkado aqui nesse vídeo. É muito complicado eu conseguir planejar se eu não tenho a EXPERIÊNCIA de fazer isso. E eu concordo plenamente que todo mundo vai ter medo de planejar, de organizar o seu currículo, porque a gente nunca passou por isso. Toda vez que a gente vai fazer algo diferente, a gente tem medo de fazer. Isso é COMUM. Não é só eu que passo por isso, não são só vocês. Eu acredito que todas as pessoas que arriscam começar a educação em casa, muitas vezes sem o apoio de outras famílias, ela vai passar por esse medo. Mas, afinal de contas, como que eu faço pra montar o meu currículo? Quais são as opções? Eu consigo comprar um currículo pronto?

EA (01:01)

Se você estiver nos Estados Unidos, por exemplo, a gente tem ali uma infinidade de opções. Mas, no Brasil isso não é tão comum. Como que eu faço pra COMEÇAR então? Porque, eu preciso começar hoje e eu preciso saber o que eu vou aplicar amanhã. E a gente tem que entender que o currículo é só o começo, aí a gente tem depois que fazer o detalhamento dessas atividades, ter todo o planejamento. Mas eu preciso começar por algum lugar e esse algum lugar é o currículo. Eu já tenho BEM DEFINIDO que a educação domiciliar é o que eu quero. Eu já tenho BEM DEFINIDO que eu vou assumir a responsabilidade integral de educar meus filhos em casa, então agora eu quero começar a me PREPARAR pra isso. Antes de eu estar falando exatamente sobre o currículo eu gostaria de dar um adendo aqui e comentar um negócio MUITO importante. A família, muitas vezes vem falar comigo e fala, “Mas Emerson, eh…”, a mãe fala “Eu estou grávida ainda, será que agora é a hora de eu começar a ver isso? Olha, mas o meu filho, minha filha, tem DOIS ANOS ainda. Eu queria começar a ver isso mais pra frente com 4 ou 5 anos”. E eu gostaria de lembrá-los que a educação domiciliar começa com os pais, com o PAI e com a MÃE. Nós precisamos nos preparar, nós precisamos nos organizar e isso leva TEMPO, leva MESES, senão ANOS.

EA (02:18)

A gente muitas vezes não tem o hábito de leitura, muitas vezes a gente não é uma pessoa ORGANIZADA, a gente não tem uma casa organizada, a gente não tem rotina pra nada. Então tudo isso começa com nós. O pai e a mãe que tem a POSSIBILIDADE de fazer isso sozinhos, sem os filhos, conseguir melhorar sua rotina, implementar uma rotina, um hábito de leitura, começar a fazer o que precisa fazer, começar a LER, começar a ter bagagem e EXPERIÊNCIA pra isso, antes que a criança nasça, é mais fácil. Todos nós que já temos filhos e sabemos que a rotina dentro de casa ela acaba mudando um pouquinho, percebem que fica mais complicado, porque, por exemplo, se eu quero estudar, eu tenho que esperar, por exemplo, o Eric dormir. Ou, eu levanto antes que ele pra eu conseguir estudar. Não tem como a gente estar brincando, a gente estar estudando e eu estudando ao mesmo tempo, porque ele vai querer estar em cima, ele vai querer estar brincando, ele quer atenção, ele é uma criança. Lembre disso, se você tem a OPORTUNIDADE de fazer e se organizar ANTES da criança nascer, quando tem, está planejando ter um filho, ou ainda quando está grávida, ou a criança ainda tem um, dois anos, aproveite, é muito importante.

EA (03:29)

Dado isso, eu gostaria de te dizer o seguinte, que na descrição nós temos, se você está no blog, a descrição desse artigo, onde a gente pontua os pontos sobre como ter esse currículo. Inclusive, é na descrição do blog que você vai encontrar os links para os livros que eu vou sugerir, e se você está no YouTube, você vai ter na DESCRIÇÃO o link para o artigo do blog. Ok? Então, o que que a gente precisa saber para montar o nosso currículo? CRISTÃOS. E aqui eu vou falar pra cristãos. A primeira e única coisa que você precisa ter em mente. Que o nosso currículo precisa ter uma cosmovisão CRISTÃ. Não basta eu ir lá no Sebo comprar um monte de livro e falar ‘eu vou montar o meu currículo’. Porque, muitas vezes a gente pensa o seguinte ‘vou comprar um livro, vou fazer uma leitura antes de começar a aula’ e aí a nossa educação é uma educação CLÁSSICA e CRISTÃ. MUITAS vezes a gente percebe isso. Então, a primeira coisa que você precisa entender, o que que é uma cosmovisão cristã, como você aplica isso na sua vida e como, a partir DESTE óculos, eu estou inclusive gravando com óculos, que é óculos novo, agora eu estou precisando usar óculos, para + a educação dos meus filhos.

EA (04:37)

Como que eu faço isso? Como que eu consigo, a partir de uma visão que eu tenho de mundo, eu vou MONTAR esse material para os nossos filhos? É a primeira coisa que a gente precisa saber. Eu quero montar um currículo e muitas vezes eu não sei no que eu creio. Muitas vezes eu compro um material do fulano A, outro material do fulano B e falo ‘vou montar o currículo. Esse é o meu currículo, eu montei’. Não é assim que funciona. Você não sabe nem no que a pessoa acredita e MUITAS vezes eu vejo famílias NEGLIGENCIANDO esse ponto, porque simplesmente não sabe no que acredita. A gente precisa parar e refletir ‘no que que eu acredito? Eu já tenho decidido que vou fazer educação domiciliar, eu já sei que vou assumir essa responsabilidade, agora eu preciso começar a pensar + no material’. “Ah, mas Emerson, eu tenho dificuldade”, então você pede AJUDA, você começa a estudar e começa a se preparar. Por isso que eu falo da + questão da PREPARAÇÃO que você pode fazer antes e se você tiver oportunidade, FAÇA. “Ah, meu filho é grande." Então você vai ter que ter um gap, você vai ter que ter um espaço de tempo pra que você estude e vá fazendo paralelamente atividades com seus filhos.

EA (05:39)

Definido aquilo que você acredita, a cosmovisão da sua família, você começa a pensar nessa questão do material. Porque muitas vezes a gente pensa, inclusive a primeira sugestão que eu vou dar é que você use, por exemplo, a BNCC como base. Mas você fala "Emerson, você, cristão, sugerindo a BNCC?”. Eu sou totalmente contra a BNCC. Quem já veio conversar comigo, inclusive eu tenho f falado sobre con,  contra a BNCC no meu Facebook, por exemplo, desde 2017. O pessoal nem falava de BNCC. Eu falei "como podem ter aprovado essa porcaria?". MAS, é um começo e vai me falar assim "mas como você tá indicando isso se você é contra?" SIMPLES, eu entendo que se você tem uma COSMOVISÃO CRISTÃ bem definida, você consegue usar a BNCC como BASE, como orientação. "Ah, meu filho tem 5 anos, eu posso usar isso. Meu filho tem 6 anos, eu posso usar aquilo". Mas, tudo que está lá eu devo seguir? NÃO, definitivamente não. Mas é uma base, é uma base de currículo. Você consegue entender? Muitas vezes você vai ter um material excelente, a qualidade do material é boa, mas lá dentro tem coisas que se desvirtuam. Então, quando a gente vai falar de cosmovisão, a gente tem que entender duas coisas.

EA (06:48)

Primeiro, que eu tenho que ter bem definida uma cosmovisão cristã no meu lar. Então, eu recomendo que você LEIA livros sobre isso. Posso, inclusive, deixar linkado no artigo que a gente vai ter no blog alguns livros que eu sugiro que você leia e + entender que se você não tem uma cosmovisão cristã bem definida, você vai automaticamente seguir uma cosmovisão humanista. Por exemplo, o que nós temos dentro da BNCC. Você acha que existe neutralidade? Não, não existe neutralidade. Todo mundo acredita em alguma coisa. "Ah, mas eu sou ateu." Você ACREDITA em alguma coisa. Alguma coisa é o quê? O humanismo. "Ah, o ser humano ele é autossuficiente. O ser humano consegue fazer as coisas por si só. O ser humano não precisa de um criador". A BNCC, por exemplo, ela tem uma cosmovisão HUMANISTA. Esse é um problema que muitas vezes a gente não entende, a criança muitas vezes é o centro, o CONTEÚDO muitas vezes é o centro e a gente não consegue perceber. Muitas vezes a gente está treinando dentro de casa um mine mini Einstein, um mini Newton. A gente quer que ele seja o Beethoven, a gente esquece o PORQUÊ que ele tem que fazer aquilo ali. A gente dá muita ênfase no conteúdo, a gente dá muita ênfase no EU da criança. Isso é um problema. Então entenda essa grande questão. Dado isso, eu gostaria de sugerir a primeira maneira que eu acabei de comentar. BNCC. USE a BNCC para consulta, pra pelo menos ter um norte. Não use tudo, mas use para ORIENTAÇÃO, para saber "Olha, eu posso usar isso, eu posso usar aquilo." É um começo. Você pode, sim, se orientar por ela. Mas eu não aconselho que você tente, primeiro, aplicar tudo aquilo ali em casa, porque é loucura, você vai ficar louco, vai ficar estressado e vai desis desistir da educação domiciliar, MAS você pode usar aquilo ali como um norte. Ok?.

EA (08:31)

Segunda sugestão que eu dou é que você + compre livros e os livros que a gente vai estar sugerindo ali na descrição do blog. Por quê? Aqueles livros, eles estão divididos em duas etapas. A primeira, eu vou estar MOLDANDO a minha mente, eu vou estar estruturando a minha mente pra entender o que é educação domiciliar, qual a importância, qual é o problema do sistema atual e eu vou AUXILIAR você através daqueles livros ali a ter uma visão diferente da educação. A segunda parte, quando eu faço indicação de livros, são livros que a gente tem e pode usar pra montar NECESSARIAMENTE o currículo. Deixa eu pegar um aqui para+  ter um exemplo pra vocês, só um pouquinho. Aqui, por exemplo, a gente tem o livro "A Filosofia do Currículo Cristão do Rushdoony". Esse livro é espetacular. Você vai perguntar "Mas, Emerson, ele não ensina a montar um currículo." Verdade, ele não vai ensinar você a montar um currículo, MAS ele vai falar, através da COSMOVISÃO cristã, como você ENTENDE as matérias. É excelente, você PRECISA ler esse livro para conseguir falar "Poxa, mas matemática é matemática, tem como eu ter cosmovisão cristã?" E aí você começa a entender os MOTIVOS por trás de todas as matérias.

EA (09:41)

Você tem um livro que + pouca gente tem lido de verdade esse livro, mas é ESPETACULAR. Ele vai te dar uma base EXCELENTE. Esse livro aqui, Susan Wise Bauer e Jesse Wise, né, que é a mãe dela. A mãe e a filha escreveram esse livro aqui. Esse livro, ele vai dar uma perspectiva de educação clássica perfeita. Qual que é o problema desse livro aqui? E é um problema entre aspas, não é bem um problema. Todas as indicações que ele tem aqui dos materiais, dos RECURSOS a serem utilizados, são em inglês. MUITAS das famílias não vão conseguir usar esses materiais porque não tem acesso ou porque não dominam o idioma. Então, muitas vezes você vai conseguir MONTAR o currículo, mas você não vai conseguir usar os recursos que eles sugerem. Então, você tem que GARIMPAR esses recursos aqui no Brasil. Você vai correr atrás desses materiais e vai fazer aí o possível pra melhorar o seu currículo e implementar. Ok?

EA (10:36)

Outra opção MUITO boa que foi uma das indicações que eu fiz algum tempo atrás que é esse livro aqui "Educação por princípios" e o que, qual que é a grande questão desse livro aqui? No final dele, ele tem o currículo PRONTO já. Você simplesmente olha e dentro de uma cosmovisão cristã, e vai aplicando com seus filhos, claro que vai ter que fazer adaptação, mas é uma opção. Já tá pronto. Muitas vezes eu vejo a família se batendo, correndo atrás de currículo, SÓ comprar um livro desse, por exemplo + e, fazer uma adaptação, óbvio, mas aplicar com seus filhos. Você consegue entender? O currículo, muitas vezes, que a gente fica desesperado, não é o grande desafio. O desafio, muitas vezes é ter + recursos, tanto financeiros como materiais disponíveis né, pra aplicar. E aí, onde eu vou encontrar esses materiais? AÍ entra o desafio. Porque não é qualquer material que eu posso usar, não é qualquer livro que eu posso usar e MUITAS vezes os pais não estão preparados para fazer essa seleção. Quando a gente tem, por exemplo, dentro da comunidade Educalar lá, o bônus, que é o acesso à plataforma, então o membro que é membro da comunidade Educalar, ele tem acesso à plataforma e a plataforma, por exemplo, tem materiais de apoio. MATERIAIS de apoio, não material didático. E aqueles materiais já são selecionados, já são materiais desenvolvidos. A família ela entra lá e USA. É muito fácil entrar e usar não se preocupando com a pesquisa.

EA (11:58)

Muitas vezes a gente não percebe, mas + fazer pesquisa, selecionar material, montar material, dá MUITO trabalho. E a gente às vezes, não tem esse tempo pra + parar, fazer tudo isso enquanto nossas crianças estão crescendo e a gente precisa educar. Terceira opção que eu dou para você é comprar um kit de material PRONTO, por exemplo, do sistema Mackenzie de ensino ou qualquer outro que você JÁ TENHA avaliado e você acredite que seja bom usar com seus filhos. Por que que eu acho que essa inclusive tem que ser a primeira opção da família que não tem experiência? Porque você vai lá e compra o kit de um material, por exemplo, do terceiro ano do ensino fundamental. Você quer começar a educação domiciliar. Você compra, você recebe esse kit em casa e você já tem um currículo, base, pronto. O que você vai fazer? Você, por exemplo, que já é membro da comunidade Educalar, já tem o kit do Mackenzie e tem materiais de apoio dentro da plataforma, você une as duas coisas e você tem um currículo que você pode aplicar na sua casa. Aí você pode ir MELHORANDO, adaptando, CRIANDO e ganhando experiência. Você consegue entender?

EA (13:02)

É muito simples porque você não tem que correr atrás de um material, o material está ali, disponível pra você. Já vem o livro de português, já vem o livro de história, já vem o livro de matemática, já vem o livro de geografia, material, os recursos que você precisaria correr, estão disponíveis. “Emerson, você acredita que essa é a melhor opção?”. Não, eu não acredito. Eu acredito que + a melhor opção é quando a família já tem experiência, já tem BAGAGEM pra montar o seu próprio currículo. Mas eu não acredito que a família que simplesmente está começando vai conseguir fazer assim, rápido. É difícil, salvo se ela já desde lá, antes de ficar grávida, o filho estava na barriga ainda, ela conseguiu se preparar, conseguiu treinar, conseguiu ter contato com outras famílias. Essa família sim, ela terá experiência suficiente para quando seus filhos estiverem na idade de estudo, eles já têm uma bagagem suficiente.

EA (14:14)

Falando em idade de estudo, lembre-se, quando a gente fala de educação clássica, que é a linha pela qual a Educalar tem como base, uma das coisas que a gente MAIS tem que fazer com nossos filhos é leitura. Leitura, excesso. A gente tem que saturar os nossos filhos e nos saturar de leitura. A gente PRECISA ler.

Muitas vezes eu vejo a família preocupada com um monte de coisa. Não se preocupe com as coisas, se preocupe com a LEITURA. A gente precisa ter um hábito firme de leitura conosco e com nossos filhos. Leia muito clássicos, contos, fábulas, encene, brinque com seus filhos com esses materiais. Você vai perceber que isso vai fazer uma grande diferença na sua vida. Os seus filhos precisam estar HABITUADOS com a leitura. É importante a gente entender que uma criança que LÊ bem, que interpreta bem um texto, que depois começa a entender bem de lógica, ela consegue pegar qualquer coisa. Não é noite pro dia. Muitas vezes eu vejo mães querendo, por exemplo, inserir caligrafia onde o filho não sabe nem ler direito. Vamos um passo de cada vez. Se fundamentem. LEIAM os livros que eu tenho indicado aqui na descrição do artigo. FUNDAMENTEM-SE. Leiam para ter base, para falar "Agora eu sei o norte, eu vou para esse lado aqui". Espero que tenha ajudado, espero que tenha CLARIFICADO e eu realmente espero que você consiga definir um rumo para a sua família.

Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID720.R

Decisão Editorial

EDITOR: Fabiana Esteves Neves

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3724-221X

FILIAÇÃO: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: O artigo oferece, em interação com a Perspectiva Dialógica da Linguagem do Círculo de Bakhtin, uma contribuição relevante sobre as impressões compartilhadas socialmente acerca do fenômeno da escolarização doméstica, discussão que urge ser feita por especialistas, nos meios educacionais, e amplamente divulgada em outros contextos sociais. Tais percepções são observadas, pela autora, em textos no gênero “comentário online”, o que, por si só, igualmente desperta interesse, já que se trata de textos fartamente produzidos no contexto digital, por enunciadores de perfis diversificados. Por essas razões, é recomendada a publicação do artigo.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Victoria Wilson da Costa Coelho

ORCID: ttps://orcid.org/0000-0002-5237-8860

FILIAÇÃO: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

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AVALIADOR 2: Danuse Pereira Vieira

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9013-1164

FILIAÇÃO: Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2024-02-28 | 11:18 AM

O texto "O horizonte valorativo em enunciados do gênero comentário online na defesa de um currículo homeschooling: entre o conservadorismo e o neoliberalismo" faz excelente reflexão crítica sobre os efeitos da escolarização doméstica (homeschooling) como escolha individual e por direito em relação ao papel do Estado em suas atribuições e responsabilidade na educação da crianças e jovens bem como aborda o papel de políticas neoliberais e neoconservadoras associadas a fins religiosos (cristãos/evangelizadores) na formação curricular desse projeto e sua repercussão na qualidade da formação dessas crianças e jovens em termos de sua socialização, consciência crítica, respeito às diferenças, etc.. Texto de relevância social e científica que pode interessar a pesquisadores das áreas sociais e humanas e a educadores de modo geral.

O artigo encontra-se bem elaborado e é coerente com os objetivos delineados. Trata de uma temática de grande relevância social e científica, ao abordar a educação doméstica associada a um projeto de formação curricular de raiz claramente religiosa (cristã) em consonância com políticas neoliberais e conservadoras. O texto está bem fundamentado e discorre com clareza a perspectiva discursiva e dialógica do Círculo Bakhtiniano, tratando do gênero comentário online à luz dessa teoria, além de abordar aspectos da organização curricular e seus impactos na formação cidadã de crianças e jovens submetidos a esse regime educacional por escolha individual de seus responsáveis. Com base nos comentários online analisados e gerados a partir da assistência do vídeo “Como montar um currículo para homeschooling”, do Canal Educalar, a metodologia está bem descrita e a análise demonstra, por meio dos comentários escolhidos, como se expressa a valorização dos textos bíblicos e da formação cristã em oposição a uma clara e às vezes implícita desvalorização e deslegitimização da educação formal e laica de responsabilidade do Estado e as implicações políticas e sociais daí resultantes. Sobre esse aspecto, as autoras salientam os efeitos de um sistema de crenças baseado na cosmovisão e sua repercussão na educação, clamando pela defesa do espaço escolar como campo de produção de conhecimento, “de agenciamento discente e de valorização docente”, com vistas à formação e ao “pleno desenvolvimento do cidadão crítico, problematizador e transformador de seu entorno.”. Alguns problemas pontuais de ordem linguística devem ser revistos. (Victoria Wilson)

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AVALIADOR 2

2024-00-00 | 00:00 AM

O artigo “O horizonte valorativo em enunciados do gênero comentário online na defesa de um currículo homeschooling: entre o conservadorismo e o neoliberalismo” é dividido em cinco seções, que são claras e objetivas, apresenta como escritura derradeira suas considerações em movência, por não as considerar como finais. O documento tem como objetivos centrais:i)Investigar discursos no contexto da Cibercultura; ii)analisar a valoração construída nos comentários on-line de um vídeo relacionado ao homeschooling; iii)situar esses dados sociodiscursivamente, considerando implicações neoliberais à luz da Perspectiva Dialógica da Linguagem do Círculo de Bakhtin.Enfatiza-se o movimento de apresentar autores em conversa dialógica, o que evidencia repertório teórico e contribui para o futuro leitor do artigo. A convocação teórica tecida permitiu uma construção argumentativa coerente. Apresentou teóricos "conversando" , estratégia importante, pois possibilitou a compreensão mais ampla sobre os temas: ensino domiciliar, educação domiciliar e homeschooling. Seria rico para a ampliação do repertório dos leitores, dedicar uma atenção maior à referencialização bibliográfica, garantindo uma base adequada para futuras pesquisas. Além disso, evidenciar o porquê da escolha de algumas terminologias específicas, como materialidade linguística, materialidade linguageira, materialidade concreta, a fim de garantir uma precisão conceitual e contribuir para fluidez da leitura do escrito.Ao analisar os discursos a respeito do homeschooling, o estudo indica a relevância da análise da materialidade linguística e imagética no gênero digital comentários on-line e lança luz sob as dinâmicas discursivas que permeiam o ambiente digital, desta forma, também faz o leitor pensar sobre políticas educacionais e o papel na sociedade contemporânea.

O artigo em tela problematiza o homeschooling no Brasil, aborda as tensões e crenças que perpassam um ambiente digital específico, construindo reflexões relevantes em todo o escrito. Durante a leitura cuidadosa do documento, identifico pontos que merecem uma revisão mais específica para que o leitor possa dialogar mais facilmente com a autora do artigo. Talvez, seja relevante considerar alguns itens, que destaco e comento ao longo do arquivo com o artigo. Entre eles:•Inclusão de referências adicionais quando problematizar o assunto currículo para tornar o ponto mais robusto teoricamente.•Clarificar o uso de termos como materialidade linguística, materialidade linguageira, materialidade concreta, semiótica associando-os as suas correntes teóricas.•Retomar as palavras-chave e verificar se há referência teórica no resumo para o conceito cibercultura, verificar se o corpus tem como foco a cibercultura ou a análise de comentários situados no espaço X.•Revisão no nível textual para pequenos ajustes: (i) quanto ao uso de expressões como vida vivida, moldes pretéritos; (ii) uso da primeira pessoa do singular e da primeira do plural; (iii); coesão interna de alguns parágrafos (sinalizados no arquivo do artigo).•Revisão cuidadosa na referenciação teórica, há autores citados no corpo do texto, sem indicação bibliográfica.•O escrito trouxe questões relacionadas aos termos neoliberalismo, conservadorismo, aspecto que foi sublinhado ao longo do texto. No entanto, essa tônica em destaque necessitaria de uma análise detalhada sobre os termos. Recomenda-se, portanto, que a autora incorpore uma seção para discutir, contextualizar o neoliberalismo e conservadorismo, bem como, traçar diálogo com referências teóricas convocadas no artigo.•Delimitar o recorte histórico utilizado para contextualizar a História da educação (1ª seção), associando-o claramente a seus argumentos quanto à origem do homeschooling no Brasil.•A autora apresenta análise e convocações teóricas abrangentes, sugere-se que revisite essas costuras e busque integrá-las de forma mais clara e coesa, destacando as convergências entre os teóricos e análises apresentadas.•A seção de análise de dados apresenta vigor, entretanto, aconselha-se mais cuidado na organização para que o leitor possa localizar os dados de forma mais clara e compreensível. A seção precisa cuidar da apresentação sequencial dos dados, bem como, da visualização e contextualização dos mesmos. Sugere-se: (i) que seja feita transcrições das falas/trechos que serão usadas/dos, quando se referirem ao vídeo explorado; (ii) que as fontes usadas nos excertos estejam em um padrão;(iii) que seja dividido em blocos de análises os excertos (dados) e que sejam recontextualizado quando analisados; (iv) que os dados e sua materialidade linguística sustentem as explanações e inferências teóricas.

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RODADA 2

AVALIADOR 2

2024-05-21 | 06:24 PM

O artigo (re)contextualiza dados de um vídeo com grande número de participantes e comentários a respeito do homeschooling, coteja autores da área da análise do discurso, problematizando as formas de valorar tal prática, idealizada e recorrente em alguns grupos sociais. Apresenta análise detalhada sobre homeshooling a partir da materialidade linguística, usos estilísticos e multimodais, reconhecendo-o como fenômeno educacional em ascensão no Brasil. Bem como, aponta o valor do espaço escolar como locus para o desenvolvimento do cidadão crítico. A abordagem contribui para a compreensão das crenças sociais em torno do homeschooling no Brasil.

O artigo em tela problematiza o homeschooling no Brasil, aborda as tensões e crenças que perpassam um ambiente digital específico, construindo reflexões relevantes em todo o escrito. Durante a primeira leitura cuidadosa do documento, identifiquei pontos que mereciam passar por ampla revisão, sublinho os itens para a segunda revisão:i) revisão textual: coesão interna de alguns parágrafos (sinalizados no arquivo do artigo).ii) referenciação teórica ao final;iii) delimitação do recorte histórico a respeito da história da educação;iv) integração de análises e referências teóricas;v) organização da seção de análise de dados. Este ponto foi todo reorganizado e apresenta outro fôlego, deixo mais uma indicação: transcrever os excertos sem usar molduras, assim terá mais espaço para recontextualizados (ao menos termos) quando analisados. Talvez, diminuir os espaços entre linhas na transcrição consecutiva, possa proporcionar mais espaço físico. No arquivo comentado, indico preocupação quanto à transcrição do vídeo (será possível o leitor acessar?).O arquivo enviado juntamente com parecer apresenta comentários diversos , que peço que sejam considerados, pois visam ajudá-la na revisão dos itens indicados acima.

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RODADA 3

AVALIADOR 2

2024-06-10 | 11:35 AM

Informo que a autora realizou as alterações solicitadas no artigo. Peço que o artigo seja encaminhado para os demais procedimentos da revista.

Resposta dos Autores

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID720.A

RODADA 1

2024-04-25

Primeiramente, gostaria de agradecer a leitura atenta e cuidadosa do meu manuscrito pela editora de seção Fabiana Souza e pelas pareceristas Victoria Wilson e Danuse Pereira Vieira, que trouxeram aportes e sugestões interessantes para a revisão deste trabalho.

Destaco, aqui, os pontos de modificação dos pareceres, na seção Recomendações aos autores:

“Inclusão de referências adicionais quando problematizar o assunto currículo para tornar o ponto mais robusto teoricamente”.

Agradeço a sugestão. Incluí a discussão de Silva (2016) sobre currículo, para dialogar com Apple (2006, 2011), referência central do artigo sobre este assunto.

“Clarificar o uso de termos como materialidade linguística, materialidade linguageira, materialidade concreta, semiótica associando-os as suas correntes teóricas”.

Agradeço a sugestão. Opto pelos termos materialidade linguística e imagética, proposto por Volochínov (2017).

“Retomar as palavras-chave e verificar se há referência teórica no resumo para o conceito cibercultura, verificar se o corpus tem como foco a cibercultura ou a análise de comentários situados no espaço X.”

Agradeço a sugestão. Alterei a palavra-chave “cibercultura” por “horizonte valorativo”. De fato, a análise do corpus não tem como foco a noção de cibercultura, embora o comentário online seja um gênero presente nesta modalidade cultural. Inseri nota de rodapé sobre as leis da Cibercultura propostas por Lemos (2003), de maneira a convidar o leitor a conhecê-las posteriormente.

“Revisão no nível textual para pequenos ajustes: (i) quanto ao uso de expressões como vida vivida, moldes pretéritos; (ii) uso da primeira pessoa do singular e da primeira do plural; (iii); coesão interna de alguns parágrafos (sinalizados no arquivo do artigo).”

“Alguns problemas pontuais de ordem linguística devem ser revistos.”

Agradeço a sugestão. Com o auxílio de profissional de revisão externa, contemplei os pontos destacados no artigo. Os termos “vida vivida” e “moldes pretéritos” foram retirados do artigo, já que a seção 1 foi reformulada.

“Revisão cuidadosa na referenciação teórica, há autores citados no corpo do texto, sem indicação bibliográfica.”

Agradeço a sugestão. As referências foram cuidadosamente revistas e, as faltantes, foram indicadas na seção Referências.

“O escrito trouxe questões relacionadas aos termos neoliberalismo, conservadorismo, aspecto que foi sublinhado ao longo do texto. No entanto, essa tônica em destaque necessitaria de uma análise detalhada sobre os termos. Recomenda-se, portanto, que a autora incorpore uma seção para discutir, contextualizar o neoliberalismo e conservadorismo, bem como, traçar diálogo com referências teóricas convocadas no artigo.”

“Delimitar o recorte histórico utilizado para contextualizar a História da educação (1ª seção), associando-o claramente a seus argumentos quanto à origem do homeschooling no Brasil.”

Agradeço a sugestão. Pelos apontamentos relevantes realizados ao longo do arquivo, percebi a importância de conceituar os termos (neo)conservadorismo e neoliberalismo, bem como as reverberações dos movimentos da Nova Direita norte-americana no fenômeno da escolarização doméstica no Brasil. Por tal motivo, a seção 1 foi reformulada, uma vez que priorizei tal discussão face à historicização da educação no lar trazida por Vasconcelos (2008), proposta incialmente.

“A autora apresenta análise e convocações teóricas abrangentes, sugere-se que revisite essas costuras e busque integrá-las de forma mais clara e coesa, destacando as convergências entre os teóricos e análises apresentadas”.

Agradeço a sugestão. Sobre este tópico, como havia sinalizações ao longo do artigo, realizei diversas reescritas e aproximações entre os teóricos convocados à discussão do artigo.

“A seção de análise de dados apresenta vigor, entretanto, aconselha-se mais cuidado na organização para que o leitor possa localizar os dados de forma mais clara e compreensível. A seção precisa cuidar da apresentação sequencial dos dados, bem como, da visualização e contextualização dos mesmos. Sugere-se: (i) que seja feita transcrições das falas/trechos que serão usadas/dos, quando se referirem ao vídeo explorado; (ii) que as fontes usadas nos excertos estejam em um padrão;(iii) que seja dividido em blocos de análises os excertos (dados) e que sejam recontextualizado quando analisados; (iv) que os dados e sua materialidade linguística sustentem as explanações e inferências teóricas.”

Agradeço a sugestão. Realizei formatação prévia dos comentários retirados do Youtube. Inseri nota de rodapé para que o leitor pudesse acessar a transcrição completa do vídeo. Pela extensão do artigo, não foi possível recontextualizar todos os dados; porém, deixo ao leitor sugestão em nota de rodapé para que os retome. Como sugerido no artigo, grifei os dados, a fim de que o leitor pudesse contemplar a sustentação das interpretações propostas por mim.

Além das recomendações e sugestões de alteração elencadas nos pareceres, destaco outras modificações realizadas:

a. Alteração do título, em português, para: O horizonte valorativo em enunciados do gênero comentário online na defesa de um currículo homeschooling: entre o (neo) conservadorismo e o neoliberalismo – agrgando o prefixo (neo) ao termo conservadorismo, consoante à filiação teórica apresentada na seção 1.

b. Adequação do resumo aos resultados de análise e formatação sugeridas;

c. Retirada da filiação ao termo escolarização doméstica como nota de rodapé para o corpo do texto, o que evita, de fato, a “quebra discursiva”, consoante ao proposto pela parecerista.

d. Ajustes diversos como convocações teóricas e sinalizações de ordem linguística propostas pela parecerista.

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RODADA 2

2024-06-07

Agradeço, mais uma vez, a leitura atenta e cuidadosa de meu artigo pela editora de seção Fabiana Neves e pela parecerista Danuse Pereira.

Abaixo, elenco os pontos destacados na segunda revisão, que foram modificados na escrita do artigo:

i) revisão textual: coesão interna de alguns parágrafos (sinalizados no arquivo do artigo). ii) referenciação teórica ao final;

Com relação aos dois pontos acima destacados, o trabalho foi reformatado segundo as novas normas da ABNT (NBR 10520), pela revisora Tainá Lima. Todos os comentários para a coesão de parágrafos pontuais do texto foram considerados e modificados.

iii) delimitação do recorte histórico a respeito da história da educação;

Por questões de extensão do artigo, retirei a discussão sobre educação clássica, de maneira a contemplar outras conceituações sugeridas nos comentários ao longo do arquivo.

iv) integração de análises e referências teóricas;

Foram realizadas mais integrações entre as análises e referências, a saber: retomada de Silva (2016) sobre a seleção de conteúdos de um currículo; Apreciação valorativa de Bakhtin (2008), Auditório social (2017), Conclusibilidade do enunciado na esfera digital (Bakhtin, 2008), Traversinni e Lockmann (2022) sobre a individualização extrema pregada no neoliberalismo e retomada final dos objetivos do trabalho com base em Grillo e Américo (2017) sobre a tese defendida neste trabalho, que é a composição do horizonte valorativo dos comentadores constitituído pelos índices sociais de valoração oriundos do neoliberalismo e do (neo)conservadorismo.

v) organização da seção de análise de dados. Este ponto foi todo reorganizado e apresenta outro fôlego, deixo mais uma indicação: transcrever os excertos sem usar molduras, assim terá mais espaço para recontextualizados (ao menos termos) quando analisados. Talvez, diminuir os espaços entre linhas na transcrição consecutiva, possa proporcionar mais espaço físico. No arquivo comentado, indico preocupação quanto à transcrição do vídeo (será possível o leitor acessar?). O arquivo enviado juntamente com parecer apresenta comentários diversos, que peço que sejam considerados, pois visam ajudá-la na revisão dos itens indicados acima.

As sugestões elencadas acima, relacionadas à apresentação dos dados, foram atendidas e os termos foram recontextualizados em sua maioria. Quanto à transcrição do vídeo, inseri todo o seu conteúdo em anexo, seguindo as normas propostas em Marcuschi (1991).

Os comentários sugeridos ao longo do texto foram amplamente considerados. Houve a necessidade de inserir notas de rodapé, não no sentido de proporcionar quebra discursiva ao leitor, mas de contemplar as pertinentes elucidações propostas pela parecerista.

Como Citar

SIMÕES DA MATTA, A. B. O horizonte valorativo em enunciados do gênero comentário online na defesa de um currículo homeschooling: entre o conservadorismo e o neoliberalismo. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id720. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/720. Acesso em: 3 ago. 2024.

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