Resumo para não especialistas
O presente texto é uma apresentação das reflexões desenvolvidas em nossa pesquisa de mestrado, ainda em andamento, a partir de dois dados que integram o corpus total do estudo. Essa pesquisa se propõe a observar a argumentação de uma criança, denominada como L., a partir do uso de estruturas linguístico-discursivas (argumento – contra-argumento – resposta) e multimodais (expressões faciais e corporais que contribuem para a comunicação) presentes nas interações argumentativas que L. estabelece com seus interlocutores (no caso dos dados aqui analisados, o pai e a mãe da criança). Apesar de ser um estudo de caso, ou seja, uma investigação focada sob um único indivíduo, ele colabora para a expansão das informações que temos até o momento sobre o discurso argumentativo em crianças, um fenômeno que muito contribui para os mecanismos linguageiros e cognitivos dos sujeitos porque permite o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo frente aos conhecimentos de língua e mundo. Assim sendo, esta pesquisa nos dá pistas sobre como a argumentação ocorre dentro do contexto familiar dessa criança possibilitando que, dentre outras coisas, essas informações possam ser testadas, futuramente, em outros contextos (como o escolar, por exemplo) e em estudos com um maior número de sujeitos.
Desenho de pesquisa
Introdução
Considerando a quantidade de pesquisas que se dedicaram ao estudo da argumentação na área de Linguística – feitas, sobretudo, nos contextos de fala adulta, das práticas retóricas e suas características discursivas –, nossa pesquisa de mestrado procura contribuir para a expansão das questões relacionadas à argumentação, no discurso argumentativo infantil, que são trabalhadas pela área de Aquisição da Linguagem. Partimos de investigações anteriores como as de Ricci (2020, 2021), de Vasconcelos (2016, 2017) e de Vieira (2011, 2015), que se embasaram na proposta teórica de Selma Leitão Leitão (2006, 2007a, 2007b, 2008) para trabalhar diferentes aspectos presentes no desenvolvimento argumentativo em crianças.
Vale ressaltar que entendemos a argumentação enquanto um fenômeno discursivo, caracterizado pela defesa de pontos de vista e consideração de perspectivas distintas e contrárias (Leitão, 2007, p. 75), que tem um papel essencial no desenvolvimento linguageiro e cognitivo das crianças por proporcionar os movimentos de reflexão e de reformulação no encadeamento interativo, assim possibilitando a transformação de conhecimentos – linguístico e, também, de outras ordens, coconstruídos nessas situações de interação.
Dito isso, apresentamos, neste texto, um recorte de uma pesquisa de mestrado que se propõe a analisar a argumentação de L., dos 2,6 aos 3,6 anos de idade, a partir da tríade argumento – contra-argumento – resposta (unidade mínima para a análise da argumentação na perspectiva adotada por Leitão, 2007a, 2007b, 2008, à qual nos filiamos), buscando compreender o papel da multimodalidade, principalmente do aspecto gestual, na produção desses enunciados argumentativos.
Além disso, observamos o processo de Aquisição a partir de um olhar inspirado nos trabalhos do chamado “Círculo de Bakhtin” (Bakhtin, 2016; Volóchinov, 2013, 2018) e de outros autores interacionistas que com eles dialogam (Bruner, 1983; Del Ré et al. 2006, 2014a, 2014b, 2016, 2021; François, 1989, 2004, 2006; Salazar-Orvig, 2005, 2013, 2020; Vygotsky, 2005). É importante pontuar que a perspectiva aqui adotada parte da ideia, dentre outros pressupostos, de que os sujeitos entram na língua(gem) por meio do contato com os seus diferentes “modos de funcionamento” (François, 2006, p. 184), a partir dos diversos movimentos linguístico-discursivos postos na interação.
Feitos esses comentários mais gerais, propomos traçar o seguinte percurso textual: I. realizar uma breve retomada dos conceitos que, até o momento, parecem ser os mais produtivos para o alcance dos nossos objetivos de pesquisa e para o esclarecimento de nosso lugar teórico; II. apresentar os objetivos e perguntas de pesquisa; III. falar sobre o andamento das questões trabalhadas até o momento, trazendo algumas percepções que tivemos acerca dos dados já vistos, e mencionar os passos que pretendemos dar nas próximas etapas deste estudo.
Retomando questões da abordagem dialógico-discursiva em aquisição da linguagem
Antes de discorrermos sobre outras noções que procuraremos mobilizar em nossas análises, é necessário que se situe o leitor acerca do que entendemos por “língua”, visto que sua conceituação é variada e depende muito da opção feita por cada pesquisador para melhor contemplar seu objeto de estudo, bem como as perguntas por ele levantadas. Isto posto, dentro das “lentes” aqui adotadas, não podemos tratar a “língua” enquanto uma entidade fechada, um sistema insensível às questões sociais que o rodeiam; ao contrário, a entendemos como um veículo de significações ideológicas, constituída histórica e socialmente (Volóchinov, 2018).
Ao tomarmos essa postura, por consequência, entendemos que a aquisição se dá como um processo de interação verbal e cultural no qual a criança se constitui enquanto sujeito na e pela língua(gem), e sua entrada na língua se dá a partir das trocas (da interação) entre o eu e o outro em diferentes gêneros discursivos. Nesse sentido, é nas trocas verbais, pela necessidade de se expressar e comunicar, além de, em nosso caso, de se posicionar frente uma oposição, que os fenômenos de linguagem – por extensão, a argumentação – irão se construir na fala da criança; sendo que esses fenômenos são manifestados de maneiras distintas nestes discursos devido às particularidades de cada indivíduo – a nível micro e macro.
O motivo pelo qual as ideias defendidas pelo Círculo podem ser – e são – fundamentais para a análise da fala infantil, embora esses intelectuais não a tenham abordado especificamente, se dá, justamente, porque, como afirma François (2006), quando nos debruçamos sobre a linguagem da criança, também lidamos com a linguagem humana. Dessa maneira, as reflexões propostas por Bakhtin e os demais autores do Círculo nos possibilitam compreender melhor o universo linguageiro infantil, que não se trata de uma linguagem inferior ou pouco estruturada, mas de um modo de funcionamento diferente daquele do adulto.
Logo, no momento em que optamos por trabalhar com este tipo específico de discurso, na prática, nada mais fazemos do que olhar para a língua por um outro viés, para a sua gênese, considerando os processos envolvidos em um desenvolvimento linguageiro que é, sempre, situado com e em relação a um outro (os parceiros comunicacionais da criança, como pais, tios, amigos, professores, etc.) em um dado horizonte sócio-histórico e, a partir dessa perspectiva teórica, focalizamos as particularidades de cada sujeito no desenvolvimento de sua relação com a língua(gem).
A argumentação e a multimodalidade em crianças pequenas: breves considerações
Como mencionamos anteriormente, partimos do conceito de argumentação proposto por Selma Leitão (2006, 2007a, 2007b e 2008), professora e pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e seu grupo Núcleo de Pesquisa da Argumentação (NUPArg/UFPE). A autora traz um novo olhar para esse fenômeno, já muito debatido nas áreas da filosofia e do discurso, valendo-se das ideias de Frans Van Eemeren (pragmadialética) e Claudio Fuentes (professor da Universidade do Chile), junto às questões discutidas por Bakhtin (1976, 1995, 1997) no que tange às concepções de língua(gem), do dialogismo, de sujeito, o princípio da alteridade, de gênero, dentre outras.
O conceito de argumentação de Leitão (2007a, 2007b, 2008) se distancia do proposto por Ducrot e Carel (2008), já que, para estes, a argumentação se dá por meio da “oposição na língua”: há uma potencialidade de argumentação no arcabouço da língua, o que justifica a ideia de que enunciar é argumentar. A autora, por outro lado, defende que é na oposição explícita, em que há o embate de ideias, que podemos verificar mecanismos linguísticos-discursivos mobilizados para a defesa de pontos de vista, propiciando a constituição e a transformação do conhecimento. Logo, a partir das influências teóricas supracitadas, Leitão (2008, p. 454, grifos nossos) define a argumentação como:
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[...] uma atividade de natureza discursiva e social que se realiza pela defesa de pontos de vista e a consideração de objeções e perspectivas alternativas, com o objetivo último de aumentar – ou reduzir – a aceitabilidade dos pontos de vista em questão (Van Eemeren et al., 1996). Tomadas em conjunto, a defesa de pontos de vista e a consideração de idéias [sic.] alternativas criam, no discurso, um processo de negociação que possibilita o manejo de divergências entre concepções a respeito de fenômenos do mundo (físico ou social). Este processo de negociação de diferentes perspectivas confere à argumentação um potencial epistêmico que a institui como recurso privilegiado de constituição do conhecimento e – argumenta-se no presente artigo – de desenvolvimento do pensamento reflexivo.
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A autora afirma, desse modo, que a argumentação atua em diferentes dimensões – a discursiva, a psicológica e a epistêmica – sendo, então, a cena argumentativa sustentada pelos elementos do embate/negociação, realizados através dos movimentos de argumento, contra-argumento e resposta. Aqui, trataremos apenas do componente discursivo, uma vez que interessam-nos as mudanças que ocorrem e podem ser vistas no nível linguístico-discursivo.
Isto posto, no nível discursivo, os componentes da tríade são entendidos da seguinte forma: a) argumento: ponto de vista inicial e seu apoio, por justificativas implícitas ou explícitas; b) contra-argumento: enunciado que se opõe ao argumento – rejeitando-o total ou parcialmente –, podendo trazer outras alternativas para a conversa; c) resposta: reação que surge a partir da oposição, aceitando ou refutando os pontos de vistas e justificativas trazidos no contra-argumento, normalmente sendo o desfecho da cena argumentativa (Leitão, 2007).
Nota-se que esta concepção sobre argumentação está intimamente ligada à noção de “polêmica aberta”, trabalhada por Bakhtin em Problemas da Poética de Dostoiévski (1981), uma vez que tratamos da oposição que pode ser nitidamente recuperada no discurso. Entretanto, não desconsideramos a polêmica velada nos enunciados argumentativos, sua existência ou importância dentro das produções de sentido – apenas escolhemos operar com aquilo que pode ser retomado, já que a oposição explícita permite que verifiquemos como os interlocutores de uma dada situação revisam seu próprio discurso, ao refletir acerca das perspectivas postas na situação de interação.
Assim como nas análises da argumentação na fala adulta, nas quais se consideram diferentes elementos e contextos de produção a depender do olhar adotado, quando falamos da infância a respeito do período de surgimento dessas construções ou mesmo de seus aspectos constitutivos, não há um consenso entre as teorias: alguns autores, como Piaget (1996), defendem que a argumentação seria uma habilidade alcançada tardiamente, na faixa dos 10 ou 11 anos, graças à maior maturidade cognitiva; outros, como Vasconcelos (2016; 2017), pontuam que condutas opositivas e proto-argumentativas são eficazmente realizadas por crianças por volta dos dois anos.
Assim como Vasconcelos (2016; 2017), acreditamos que as crianças argumentam desde cedo, mesmo que não o façam do mesmo modo que um adulto, mas, sim, empregando os mecanismos linguageiros de que já dispõem – verbais ou gestuais – para convencer seu interlocutor. Então, ao admitirmos os gestos e outras manifestações corporais como componentes da linguagem e, consequentemente, da argumentação, estamos entendendo que a fala é um espaço multimodal, ou seja, um ambiente que comporta outros modos de expressão/comunicação para além dos verbais que, com eles, colaboram para a construção da significação.
Para discutir os aspectos multimodais nos dados infantis, tomamos como ponto de partida, principalmente, os trabalhos de Cavalcante (1994, 2018), Cavalcante e Brandão (2012) e Almeida e Cavalcante (2017), que apontam a multimodalidade como parte “constitutiva da linguagem e como lócus de análise em aquisição. Assim, a multimodalidade refere-se às modalidades de uso da língua (fala, gesto, olhar) que coatuam na produção linguística com vistas à interação” (Almeida; Cavalcante, 2017, p. 526, grifos nossos).
Nesse sentido, assumimos que fala e gestos compõem uma mesma matriz de significação – a matriz gesto-fala – e integram um mesmo sistema linguístico, possuindo igual importância na construção de sentidos durante a interação. Por fim, é importante destacar que os recursos multimodais podem se manifestar junto à verbalização ou mesmo à parte e, no caso da argumentação, como nos parece nas análises preliminares, acabam, às vezes, por valer como um dos elementos da tríade argumentativa por si.
1. Pergunta de pesquisa e/ou hipóteses
1.1. Dos objetivos, perguntas e hipóteses desta pesquisa
Destacamos que nossa pesquisa de mestrado, para além de contribuir com os trabalhos pontuados na introdução, visa dar continuidade às discussões iniciadas em nossa pesquisa de Iniciação Científica; dessa maneira, como objetivo geral, temos a análise do discurso argumentativo de uma criança brasileira – a qual chamamos de L. – no intervalo etário de seus 2,6 e 3,6 anos, por meio dos movimentos linguístico-discursivos de argumento – contra-argumento – resposta (Leitão, 2006, 2007a, 2007b, 2008), observando como esses enunciados são produzidos por ela em termos da utilização de recursos verbais e multimodais.
Por objetivos específicos, a partir da ampliação do número de sessões observadas dentro da mesma faixa etária, propomo-nos a refinar o olhar multimodal adotado anteriormente, procurando identificar a função desses elementos para a (co)construção dos movimentos da tríade nos episódios argumentativos, principalmente dos aspectos gestuais, pretendendo sugerir alterações nas categorias até então feitas para a análise do discurso argumentativo infantil com base em Vieira (2011, 2015) e procurando refletir sobre como essas duas dimensões – a multimodal e a argumentativa – contribuem para o processo de aquisição da linguagem em seu todo.
Para isso, partimos dos seguintes pressupostos/hipóteses: a) as crianças argumentam desde muito cedo, mesmo que de maneira diferente de um adulto; b) elas, por estarem em processo de aquisição, mobilizarão os elementos linguísticos-discursivos dos quais dispõem, além do próprio conhecimento de mundo já construído, para argumentar; e c) a multimodalidade, especificamente, em nossa proposta, a gestualidade, exerce um papel importante na(s) construção(ões) de sentido(s) posto(s) em negociação no momento de interação, constituindo, em igual importância, os elementos da tríade argumentativa proposta por Leitão (2006, 2007a, 2007b, 2008).
Além dos pontos de partida mencionados anteriormente, também usamos de algumas perguntas para nortear nosso estudo, sendo elas: a) como e quando as crianças argumentam?; b) de que maneira a multimodalidade, no âmbito da gestualidade, coconstrói, junto aos elementos verbais, a tríade argumento – contra-argumento – resposta? (Leitão, 2006, 2007a, 2007b, 2008); c) os recursos gestuais têm uma função específica dentro da tríade argumentativa?; e d) há mecanismos de gestualidade que são recorrentes na interação argumentativa e/ou em cada um dos elementos da unidade triádica?.
1.2. Metodologia
A criança aqui estudada, denominada L., é brasileira e foi filmada dos 0 aos 7 anos de idade por pesquisadores do grupo NALíngua-CNPq (Del Ré et al., 2016), sendo seus dados salvaguardados por este mesmo grupo. No entanto, o recorte proposto para a pesquisa de mestrado que estamos desenvolvendo (e que é apresentada parcialmente neste texto), corresponde dos 2,6 aos 3,6 anos de idade deste menino, assim configurando uma pesquisa naturalística, qualitativa e longitudinal. O corpus por nós delimitado configura um conjunto de 13 sessões, com duração aproximada de uma hora cada, gravadas mensalmente pelos pesquisadores e dois registros de diário, fornecidos pelos cuidadores da criança e com extensão aproximada de dois minutos.
Na tentativa de responder às questões já mencionadas, além da abordagem teórica de base dialógico-discursiva (Bakhtin, 2016; Bruner, 1983; Del Ré et al., 2012, 2014a e b, 2021; François, 1989, 2004, 2006; Salazar-Orvig, 2005, 2013, 2020; Volóchinov, 2013, 2018; Vygotsky, 2005) e a unidade de análise de Leitão (2006, 2007a, 2007b e 2008), utilizamos as categorias de análise propostas por Vieira (2011, 2015) e para o olhar multimodal, tomamos como fundamento as pesquisas de Cavalcante (1994, 2018), Almeida e Cavalcante (2017), Cavalcante e Brandão (2012) e Vasconcelos (2016, 2017), que olharam para a multimodalidade em diferente situações de comunicação/interação e, especificamente Vasconcelos (2016, 2017), para a sua função na argumentação em bebês.
Considerando a natureza de nossa pesquisa, seus interesses específicos e também sua ligação com outros trabalhos dos grupos GEALin (UNESP-FCLAr) e NALíngua (CNPq), é importante dizer que os dados selecionados estão transcritos segundo as normas CHAT do programa CLAN, que é disponibilizado gratuitamente na plataforma CHILDES (MacWhinney, 2000). As análises primárias partem das transcrições feitas no CLAN, pois nesse software, fazemos a identificação das cenas argumentativas e as exportamos para o programa ELAN (Nijmegen, 2002), visto que esta ferramenta possui outros recursos que possibilitam uma observação mais detalhada da gestualidade, assim como de outros elementos que pertencem à esfera da multimodalidade.
No tópico seguinte são trazidas as transcrições, bem como algumas de nossas considerações iniciais ao confrontarmos os dados. Destacamos que as transcrições dos episódios foram simplificadas – não estão constando os mesmos símbolos e/ou marcações dos programas supracitados – para uma melhor compreensão e leitura por parte do público das cenas argumentativas aqui descritas. Apresentamos, a seguir, uma tabela com a legenda das convenções por nós adotadas:
Também é interessante mencionar que, nas análises preliminares, procuramos identificar as cenas com potencial argumentativo, a partir da unidade triádica de Leitão (2006, 2007a, 2007b e 2008), verificando se nestes momentos encontrávamos a presença da oposição e da negociação. Depois, procuramos ver de que maneira o jogo argumentativo se efetivou dentro de cada situação: seu contexto, o que estava sendo posto na interação, se havia a utilização de outras estratégias como explicações e justificativas, além de observar se os elementos multimodais as integravam e de que modo. Enfatizamos, novamente, que o que trazemos aqui é um recorte e que pretendemos aprofundar nossas reflexões a partir da análise dos demais dados que compõem nosso corpus.
2. Descrição dos resultados variáveis e das variáveis indicadoras
2.1. Reflexões preliminares a partir de dois episódios de L
Considerando o propósito deste artigo – apresentar as reflexões iniciais e resultados parciais de nossa pesquisa de mestrado –, trazemos dois episódios, procurando neles destacar os movimentos discursivos da tríade de argumento – contra-argumento – resposta (Leitão, 2006, 2007a, 2007b e 2008), apontando, igualmente, os elementos multimodais ali contidos, a fim de observar de que forma estes estão contribuindo para a produção e recepção do sentido nas situações expressas. A seguir, apresentamos dados coletados sob forma de diário, correspondentes às idades de 2,6 e 3,6 anos, respectivamente:
Neste momento, pelo que pudemos constatar, estavam presentes em cena a criança e seus pais, sendo que o episódio argumentativo é efetivamente engajado pelo par criança-mãe; a negociação se instaura, nesta situação, pela proposta de partilha do doce – sugerida pelo menino – entre L. e sua mãe que, em um primeiro momento, brinca sobre não estar disposta a dividir o chocolate com a criança, solicitando que ela lhe dê motivos convincentes para fazê-lo. A cena ali instaurada é guiada por um tom de brincadeira e de ironia, o que notamos pelo riso e entonação dos demais participantes (a mãe e o pai de L.) ao longo da situação enunciativa, como também no desenrolar dos movimentos de argumento – contra argumento – resposta dos interactantes.
A mãe, nos primeiros minutos de áudio, simula estar indisposta, até que a criança decide propor para ela um combinado (turno 4); acerca disso, é importante dizer que temos um indício da influência da voz materna no discurso de L. e, por consequência, na maneira que ele decide organizar sua fala: a criança, com aquilo que é posto em cena, bem como a partir da memória discursiva, procura organizar seus enunciados de modo a conseguir um acordo com sua interlocutora, uma opção que também está relacionada às relações dialógicas já estabelecidas entre os participantes em outros momentos.
Assim, a escolha de L. muito tem a ver, a grosso modo, com a cultura familiar. Como dissemos previamente, o eu é sempre constituído pelo outro; esses dois agentes compartilham um determinado contexto, em maior ou menor escala – como a cultura geral de dada sociedade e/ou a cultura familiar, por exemplo – no qual, em cada tipo de situação interativa, atualizam, negociam e constroem sentidos, conforme o horizonte discursivo lhes permite. Assim sendo, a família de L., a nível micro, especialmente nas situações em que o outro se configura como a mãe, lhe fornece as “balizas” para que ele, por diferentes vias – em nosso sujeito, normalmente, a ironia, a brincadeira, a inversão de papéis, combinados, o humor, a mudança na entonação, expressões corporais, etc. – chame a atenção para o objeto de desejo, engajando seu interlocutor na negociação.
Notando que a interlocutora mantinha seu posicionamento inicial – de não dividir o alimento – a criança, então, contra-argumenta, com a proposição em 4 – “é só do L. tambéeem… va(mos) vamos fazer uma coooisa?” –, que é complementada pelos enunciados de número 6 – “você é uma amiiiga e eu sou um amiiigo” – e 8 – “p(r)a comee(r)” –; particularmente sobre 6, vale fazer nota da retomada que o menino faz da voz de seu pai que, no começo do embate entre a parceira e o filho, complementa um dos motivos/argumentos – ser amigos – oferecidos por L. ao dizer rindo: “se é amigo, precisa dividir, né L.?”. A criança ao inverter os papéis e trazer a ideia do combinado para o jogo argumentativo, evoca a memória discursiva de outras interações com a mãe, enfatizando, pela combinação pronomes (“você” e “eu”) + mudança na entonação com alongamento silábico (“amiga” e “amigo”), o acordo que deveriam firmar, para alcançar o objetivo final de comerem o chocolate juntos.
Em 7, a mãe, de certa maneira, ainda se opõe à criança ao perguntar qual seria a implicação de ambos serem amigos, o que o menino prontamente responde “p(r)a comee(r)”. Neste enunciado, observamos o quanto o acabamento dado pelo outro é importante durante o processo de aquisição, visto que o desfecho da cena se dá graças a interpretação atribuída pela interlocutora a partir da situação discursiva instaurada entre ela e a criança – uma vez que, se analisássemos essa frase solta, sem seu contexto e somente pela sua estruturação, não veríamos tão claramente o caráter argumentativo nela contido.
Enfim, vemos que a resposta se dá na coesão entre os participantes que se contentam com o combinado estabelecido entre eles. Sobre os aspectos multimodais, como explicado na nota de rodapé [3], pouco pudemos analisar sobre sua ocorrência para além dos recursos vocais. Quanto a estes, é possível dizer que ocorreram junto à produção oral, por meio do alongamento e mudança na entonação (alterações prosódicas), trazendo ênfase para os referentes indicados (como no caso dos pronomes “você” e “eu”), para a discordância/insatisfação de L. em relação às falas de sua interlocutora e imprimiram força ao argumento implícito “nós somos amigos, por isso, compartilhamos as coisas”, trazido pelo menino e acatado pelo pai nos minutos iniciais da gravação, explicitando isso à mãe.
Nesta cena estão presentes os pais e a criança, no entanto, diferentemente do primeiro dado (D1), um “ele” (terceiro) é incluído no desenrolar da interação, como uma estratégia para que a interlocutora (mãe) desistisse de seu posicionamento inicial (de que ele deveria fazer cocô na privada). Dito isso, o jogo se inicia com um comentário da mãe acerca de alguns hábitos do menino: o uso da chupeta e de fraldas, sendo a proposição da mãe convencer L. de que seria necessário abandonar esses dois acessórios, principalmente a fralda, visto que ele já é “um menino grande.” (2).
A criança, então, em primeiro momento, contra-argumenta ao trazer a informação de que precisa fazer o uso das fraldas, sobretudo quando se come “salada de ovo”, porque, apesar de seus esforços, ele só consegue fazer cocô com o utensílio higiênico, o que é reforçado pela complementação “eu só consigo fa / fazer cocô na f(r)alda. [...] eu faço foooorça [faz movimento com os braços para cima e para baixo, com os punhos cerrados], aí não vaai!” (6 e 7). Ao demonstrar a execução da ação, L., de certo modo, indica para a mãe que, ao contrário do que ela pensa – ser um menino grande e poder passar a usar o vaso sanitário –, ele não tem as condições e/ou habilidades necessárias para abandonar a fralda, se colocando no discurso como uma “criança pequena”.
A mãe resgata sua posição inicial, reformulando um pouco sua justificativa ao dizer “mas L., menino grande não fica usando fralda.” (8), deixando implícita sua visão sobre a condição do menino em seu enunciado. A criança, em seguida, desloca o tópico da conversa para um terceiro, seu cocô, que é personificado em sua voz – “ééé porque / porque o meu cocô não / não gosta de / de / de sair na privaaada.” [desvia o olhar da interlocutora e realiza um gesto explicativo com a palma das mãos as movimentando no sentido lateral] – de certa forma, advertindo a mãe “não sou só eu, é ele também”, o que notamos pelo emprego do verbo na terceira pessoa do singular.
A interlocutora acata seu relato em um clima de brincadeira – não há birras ou descontroles em relação ao que ali é posto, o menino sempre procura explicitar sua posição pelos recursos linguageiros de que dispõe, no entanto, devido ao comentário inesperado, a mãe ri, ainda que dê o espaço para que a criança (dando voz ao seu cocô) se posicione. A partir deste momento, os sujeitos não mais se configuram como um “eu-mãe”, que se opõe a “você-criança”, mas sim como um “nós-mãe/criança”, que contestam “ele-cocô”, o que se vê na fala da mãe através do uso da primeira pessoa do plural e do pronome de terceira pessoa: “mas vamos conversar com ele, ver se ele [...] vamos fazer um combinado com o seu cocô, [para] ver se ele sai na privada.”, buscando a adesão do menino ao evocar, para além deste emprego, a memória do “combinado”.
L. retorna à ideia de que é incapaz de mudar a situação ao recusar a proposta da mãe e complementá-la, explicitando o motivo da rejeição, fornecendo um outro ponto de vista: “ele não respeita nenhum combinado [faz enfaticamente com o indicador o sinal de “não” olhando para sua interlocutora] de privaaada. Ele só respeita combinado de f(r)aalda.”. Aqui, observamos que os gestos dão maior sustentação às explicações oferecidas pelo menino, também imprimindo sua insatisfação desvio de olhar (recorrente ao longo de todo o embate) e o gesto emblemático para negação combinados a oralização do “não”; assim sendo, a cena se encerra pelo desacordo entre os interactantes.
2.2. Algumas considerações finais e encaminhamentos
Ao longo deste texto, procuramos discorrer, ainda que brevemente, sobre o papel do gesto e da entonação na produção de enunciados argumentativos por uma criança entre 2,6 e 3,6 anos, em situações de interação com os pais (especialmente a mãe). Apresentamos, para isso, dois dados nos quais está presente a tríade argumento – contra-argumento – resposta, buscando mostrar que cada elemento ancora-se não apenas na produção verbal, mas também na entonação e no gesto produzidos pela criança e interpretados pelo outro – interlocutor com quem ela interage.
A reflexão aqui iniciada certamente não esgota todas as possibilidades que a teoria nos oferece para analisar o fenômeno, mas buscamos listar aquelas que, em nossa percepção atual, puderam ser levantadas a partir dos recortes trazidos; assim sendo, não descartamos a probabilidade de, em um futuro próximo, outras apreensões surgirem em função de nosso aprofundamento na teoria, bem como devido ao amadurecimento das análises.
De modo geral, a perspectiva dialógica-discursiva nos ajuda a entender a entrada da criança sempre por uma dinâmica da alteridade: dela com a linguagem, com o(s) outro(s), que estão continuamente em interação nas mais diversas atividades e gêneros do cotidiano. Nessa relação, a criança não é passiva e nem completamente autônoma, mas é sempre posta em um universo de possibilidades de dizer que, a partir de um dado horizonte discursivo, das interações sociais que desenvolve e das próprias nuances linguísticas, os quais são constantemente “balizados” pelo seu outro, influenciarão as formas com as quais ela se posiciona discursivamente, como vimos nos exemplos aqui discutidos.
Logo, é preciso ressaltar que, especificamente nas interações argumentativas aqui analisadas, as cenas se configuraram diante da necessidade de L. de se posicionar no discurso, exprimindo seus desejos, opiniões e defendendo seus pontos de vista. Observamos que, em crianças pequenas, os elementos verbais nem sempre são suficientes para a compreensão de uma situação argumentativa, visto que nem sempre as crianças são capazes de verbalizar completamente o que precisam/querem exprimir – ou seja, nem sempre fazem uso de unidades da língua de modo a tornar mais transparente sua intenção comunicativa e seu ponto de vista.
O que se observa, na verdade, é a manutenção do fio discursivo, da interação por meio das trocas que se dão entre mãe e criança, garantindo a esta, inclusive, um espaço para argumentar. Assim sendo, os recursos multimodais, além de integrarem a tríade proposta por Leitão (2006, 2007a, 2007b e 2008), nos parecem, inicialmente, ser essenciais para que o interlocutor dê certo acabamento aos enunciados da criança, atribuindo-lhes um valor opositivo, explicativo ou de complemento, por exemplo – movimentos importantes dentro do discurso argumentativo.
Notamos também que a interação estabelecida entre os sujeitos é igualmente fundamental para a emergência de condutas e enunciados argumentativos, visto que é o parceiro em questão que viabiliza que a argumentação se efetive de uma maneira ou de outra, dando voz e forma para os enunciados da criança. Nos dados aqui apresentados, vimos que o papel da mãe, neste sentido, é essencial, já que na cultura familiar de L. é sempre ela quem fomenta as atitudes de negociação, incentivando que seu filho argumente à sua maneira e desenvolva, pela interação e com o passar do tempo, as estratégias necessárias para que seu repertório linguageiro e discursivo se amplie eficazmente.
Até o presente momento, pudemos observar que os recursos multimodais, em específico, a entonação e a gestualidade, desempenharam um papel importante na construção dos sentidos postos em jogo durante as cenas, mas ainda não foi possível delimitar se há algum tipo de recorrência ou padronização no uso destes elementos por L. durante suas arguições; portanto, alguns dos desafios para as próximas etapas da pesquisa são: I. a identificação de recorrências; II. a construção de categorias para a esquematização dos aspectos observados; e III. a descrição de uma possível (ou não) função específica da gestualidade dentro da tríade argumentativa.
Por fim, esperamos, a partir da análise da totalidade dos dados, ampliar as discussões sobre a contribuição da multimodalidade para a efetivação da argumentação de nosso sujeito de pesquisa – buscando distinguir, de maneira mais clara e delimitada, quais recursos integram esse fenômeno discursivo na produção criança e como isso se dá.
Informações Complementares
Conflito de Interesse
As autoras declaram não possuir conflito de interesses.
Declaração de Disponibilidade de Dados
Os dados e materiais que suportam os resultados deste estudo não estão disponíveis publicamente por conterem informações que possam comprometer a privacidade do participante da pesquisa, visto que o sujeito-objeto é menor de idade e suas filmagens fazem parte do Banco de Dados NALíngua (DEL RÉ, A. et al., 2016), estando assim resguardados pelas condições explicitadas na Resolução nº 510 do Conselho Nacional de Saúde, de 07/04/2016 (parágrafo único, inciso V). Essas informações poderão ser disponibilizadas mediante solicitação à autora correspondente DEL RÉ, A..
Pesquisa com Seres Humanos
Considerando que os dados analisados neste trabalho fazem parte de um banco de dados, eles não são passíveis de avaliação pelo Comitê de Ética e Pesquisa; mas são regidos pela Resolução nº 510 do Conselho Nacional de Saúde, de 07/04/2016 (parágrafo único, inciso V). A referência do corpus NALíngua-CNPq (Del Ré, A. et al, 2016.) pode ser consultada em: Del Ré, A.; Hilário, R. N.; Rodrigues, R. A. O Corpus NALíngua e as tecnologias de apoio: a constituição de um banco de dados de fala de crianças no Brasil. Revista Artefactum – Revista de Estudos em Linguagem e Tecnologia. ANO VIII – N° 02/2016. Disponível em: A CONSTITUIÇÃO DE UM BANCO DE DADOS DE FALA DE CRIANÇAS NO BRASIL | Del Ré | ARTEFACTUM - Revista de estudos em Linguagens e Tecnologia. Acesso em 19 de dezembro de 2023.
Referências
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Avaliação
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID766.R
Decisão Editorial
EDITOR: Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1409-7475
FILIAÇÃO: Universidade Federal da Paraíba, Paraíba, Brasil.
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CARTA DE DECISÃO: Consideramos que após as sugestões dos pareceristas ad hoc, o artigo "A criança pequena argumenta? Uma proposta de estudo para o discurso de L. (2,6 a 3,6 anos)" deve ser publicado, pois teve sua submissão aceita pelos pareceristas e as revisões necessárias foram efetuadas. Sendo assim, consideramos o artigo aceito para publicação.
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Rodadas de Avaliação
AVALIADOR 1: Marlete Sandra Diedrich
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9177-089X
FILIAÇÃO: Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
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AVALIADOR 2: Carmem Luci da Costa Silva
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6036-5285
FILIAÇÃO: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.
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RODADA 1
AVALIADOR 1
2024-03-06 | 12:59 PM
O texto submetido tem mérito acadêmico e representa a apresentação de um projeto de pesquisa, com recorte de dois dados para análise. Aborda o tema do discurso argumentativo na fala da criança, com enfoque no papel da gestualidade e da multimodalidade. Trata-se de pesquisa relevante para a área, com contribuição para os estudos da Lingu´ística e da Aquisição da Linguagem. Os dados analisados fazem parte de importante banco de dados, com riqueza na apresentação dos fenômenos e possibilidades de análise. A pesquisa se fundamenta em textos de referência na área, com enfoque atual.
Na sequência, apresentam-se sugestões de aprimoramento:
1 Há necessidade de revisão de linguagem em pontos específicos, os quais envolvem, principalmente, a construção sintática dos períodos compostos, conforme assinalamos no arquivo enviado. Acredita-se que, com a revisão sugerida, o texto ganhe em propriedade e objetividade.
2 É importante deixar mais explícito o fato de o texto ser a apresentação de um projeto de pesquisa, pois ora tem-se a impressão de ser uma pesquisa como um todo, ora um projeto e ora ainda um artigo derivado de um recorte da pesquisa. Em relação a esse aspecto, destaca-se, também a importância de se situar melhor a etapa da pesquisa focalizada no artigo, uma vez que faz parecer se tratar de uma pesquisa de mestrado, no entanto, apresenta três autores, o que exige que se situe melhor a etapa do projeto merecedora de atenção, por se acreditar se tratar de um projeto envolvendo um pequeno grupo de pesquisadores, o que não configura uma pesquisa de mestrado.
3 Há conceitos citados no texto, mas não abordados de modo mais detalhado, como é o caso de "memória discursiva". Sugere-se que tais conceitos recebam definição no decorrer do texto.
4 Na análise do recorte D2, sugiro levar em conta a cena enunciativa marcada pela simulação, assumida no decorrer da análise como jogo ou brincadeira, mas que pode ser melhor explorada na relação entre os interlocutores.
5 Por fim, considera-se importante, também nas considerações finais, situar o fato de se tratar de apresentação ou registro de p´rojeto de pesquisa, o que pode auxiliar na proposta como um todo.
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AVALIADOR 2
2024-03-23 | 10:49 AM
O artigo "A criança pequena argumenta? Uma proposta de estudo para o discurso de L. (2,6 a 3,6)" está com uma construção teórica bem definida, pois apresenta, de modo explícito, o ponto de vista principal que sustenta a noção de língua e, além disso, estabelece relações desse ponto de vista com outros estudos. Os termos e conceitos mobilizados na pesquisa, como argumentação e multimodalidade, estão clararmente delimitados e sustentados em estudos de autores que desenvolvem tais noções. Os objetivos são explicitados e cumpridos no estudo. A metodologia está detalhada e os procedimentos de análise estão explicidados para a condução analítica dos dados. A análise estabelece o diálogo entre a teorização desenvolvida e a metodologia delineada, mostrando a relação entre argumentação e mulitumodalidade (gestualidade) na aquisição de língua materna pela criança. O texto está com escrita adequada ao contexto acadêmico e ao gênero artigo científico. Por isso, este parecer é favorável à publicação do artigo.
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RODADA 2
AVALIADOR 1
2024-04-20 | 07:28 AM
A versão apresentada pelas autoras contempla as sugestões dadas no parecer anterior e apresenta-se como um artigo derivado de pesquisa de mestrado sólida, redigido com propriedade, acerca de tema atual e instigante no universo dos estudos da Aquisição da Linguagem. A discussão teórica associada à análise dos dados oferece importantes conclusões acerca do tema "argumentação da criança", o que me leva a indicar o trabalho para publicação.
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AVALIADOR 2
2024-04-10 | 11:12 AM
Prezados, conforme parecer enviado anteriormente, o artigo satisfaz as exigências teóricas, metodológicas e analíticas de um artigo científico. Além disso, o artigo apresenta contribuições importantes para o campo de aquisição da linguagem. Por isso, o parecer é favorável à publicação do artigo.
Resposta dos Autores
DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID766.A
RODADA 1
2024-04-10
1. Carmem Silva
A avaliadora foi favorável à publicação, enviando somente uma justificativa
em relação ao aceite. Nenhum documento sugerindo alterações foi anexado.
2. Marlete Sandra Diedrich
No que tange ao RESUMO, procuramos dar mais ênfase que o texto se trata
de uma apresentação de um projeto de mestrado, a partir da análise de dois dados
extraídos do corpus selecionado para a pesquisa. Também retiramos as palavras
“breves” e “algumas”, conforme sugerido.
Sobre a seção DESENHO DE PESQUISA, corrigimos a numeração que, na
redação original, se iniciava no subitem INTRODUÇÃO. Dessa forma, a primeira
parte do texto ficou devidamente indicada, seguindo a seguinte sequência: 1. Desenho
de pesquisa > 1.1 Introdução > 1.2 Retomando questões da abordagem
dialógico-discursiva em aquisição da linguagem > 1.3 A argumentação e a
multimodalidade em crianças pequenas: breves considerações. Ainda, todas as
correções textuais como: alterações de pontuação, troca e/ou retirada de palavras,
correções de digitação (anteriormente, não detectadas pelo corretor automático, mas
indicadas pela avaliadora), foram feitas.
Em PERGUNTA DE PESQUISA E/OU HIPÓTESES, conforme sugerido
pela parecerista, optamos por utilizar a expressão “pesquisa de mestrado” em todos os
momentos que tivemos que retomar a natureza do texto confeccionado para o CadLin.
Da mesma forma que no item anterior (DESENHO DE PESQUISA), todas as
correções textuais como: alterações de pontuação, troca e/ou retirada de palavras,
correções de digitação (não detectadas pelo corretor automático, porém indicadas pela
avaliadora), foram feitas.
Já em DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS VARIÁVEIS E DAS
VARIÁVEIS INDICADORAS, realizamos as mesmas correções textuais que nos
itens prévios. Além disso, consideramos os comentários feitos sobre as análises dos
dados e pensaremos sobre as possibilidades sugeridas pela parecerista na observação
da totalidade do corpus; no entanto, dentro do conjunto de levantamentos que temos
até o momento, optamos por não alterar a análise apresentada no documento original