Share

Theoretical Essay

On a method for language documentation based on language (re)vitalization activities: a case study

Wilson de Lima Silva

University of Arizona image/svg+xml

https://orcid.org/0000-0003-3526-7197

Joseph Dupris

University of Arizona image/svg+xml


Keywords

Language documentation
Language revitalization
Indigenous languages
Methodology

Abstract

In this paper, we reflect upon a collaborative research model in which language documentation and linguistic description research start with language (re)vitalization activities. We describe as a case study the project to revitalize the maqlaqsyals language, which is spoken by members of the Klamath-Modoc Tribes (USA). We show how linguistic work that results from initiatives centered on indigenous communities, their needs, their knowledge, and their values, help in the “decolonization” of linguistics and its areas of investigation.

Introdução

No cenário de pesquisa acadêmica, entre os principais motivos para se documentar as línguas indígenas estão (a) necessidade de documentar a diversidade linguística antes de que as mesmas deixem de existir; (b) obter ‘dados’ que contribuam para a ‘teoria linguística’, visando um melhor entendimento do sistema de linguagem humana; e (c) a língua é vista como porta de entrada para um universo de conhecimento e gêneros de tradição oral específico de um grupo. Apesar de concordar na importância desses três motivos citados, vale ressaltar que as atividades e projetos de documentação linguística deve servir, em primeiro lugar, às necessidades das comunidades indígenas em suas iniciativas de preservação e fortalecimento de suas línguas (DRUDE; GARBAS JR.; GALUCIO, 2007).

Este trabalho tem como objetivo incentivar pesquisares (no nosso caso, linguistas e antropólogos) a (re)avaliar suas metodologias e considerar a importância de propiciar um ambiente de colaboração propício às necessidades e expectativas dos povos indígenas e de suas lideranças. Apresentamos um modelo em que a (re)vitalização da língua é o gerador das atividades de documentação, capacitação, e análise linguística. Nesse modelo, há um relacionamento dinâmico entre essas atividades de pesquisa, cada uma delas sendo motivada pela função que elas têm dentro de um projeto de revitalização.

Usamos o projeto de revitalização da língua da língua maqlaqsyals—língua das Tribos1 Klamath-Modoc, localizada no estado de Oregon, nos Estados Unidos (EUA)—como um exemplo de reflexão sobre trabalhos linguísticos que resultam de iniciativas centradas nas comunidades indígenas, em suas necessidades, seus saberes, e seus valores, e como tais trabalhos promovem a descolonização da linguística e suas áreas de investigação. Seguimos a definição proposta por Waziyatawin e Yellow Bird (2012, p. 3) que abordam o processo de descolonização como:

“A resistência inteligente, calculada, e ativa às forças do colonialismo que perpetram a submissão (ênfase nossa) e/ou a submissão e/ou exploração de mentes, corpos e territórios. A descolonização está comprometida com propósito principal de anular as estruturas coloniais, proporcionando a liberação dos indígenas.” (tradução dos autores)2

Destacamos o termo ‘submissão’ na definição acima pois queremos enfatizar que quando falamos de descolonização, não estamos sugerindo que devemos ignorar as ferramentas de análise linguística e o conhecimento acadêmico empregados nos trabalhos de documentação e de (re)vitalização de uma língua. O problema é quando o trabalho é submisso à essas ferramentas. A linguística, nesse contexto, tem sido vista como uma disciplina que impõe ideias ocidentais (colonizadoras) em suas terminologias, valores, e análises que se sobrepõem às necessidades e aos valores das comunidades indígenas (Errington, 2008; HERMES; BANG; MARIN, 2012; LEONARD, 2017). Um exemplo desse tipo de imposição é o uso de termos como ‘extinta’ para caracterizar línguas que apesar de terem sido deixadas de ser faladas, podem ainda ser recuperadas pelas gerações mais novas do grupo a partir de material existente. Em alguns casos, o termo ‘extinta’ é usado para caracterizar até mesmo as línguas que voltam a ser faladas pelos membros do grupo através de atividades de retomada linguística. Este é o caso do maqlaqsyals, que mesmo tendo sido retomado nos finais dos anos 90, ainda é considerado como ‘extinto’ quando citado em trabalhos acadêmicos (e.g. O’HARA, 2015). O uso do termo é visto como algo negativo, pois as atividades de retomada buscam vitalizar a língua e promover atitudes positivas entres os membros do grupo.

No contexto norte-americano, para que pesquisas sobre línguas indígenas sejam bem-sucedidas, as entidades federais e estaduais, incluindo universidades, devem garantir que as comunidades façam parte do processo de avaliação do projeto, uma vez que a relação entre língua nativa e soberania estão fortemente relacionadas. Estudantes indígenas, nesse contexto, querem aprender a utilizar as ferramentas da linguística (e suas diversas subdisciplinas) adaptando-as de modo que elas respondam às necessidades e aos valores de suas comunidades. Assim, a descolonização da linguística não propõe uma ‘linguística para indígenas’, mas sim mais ideias indígenas na linguística. A seguir, descrevemos um modelo que propõe uma metodologia para pesquisa com línguas nativas baseada nas relações entre instituições indígenas e não-indígenas, e que buscam a inclusão de valores e ideias indígenas nos trabalhos de documentação e revitalização.

1. Documentação e (re)vitalização de línguas indígenas

A documentação e a re(vitalização) geralmente são vistas como duas atividades distintas. A primeira é caracterizada como uma atividade cujo objetivo é criar um corpus abrangente de dados de uma língua nos mais diferentes contextos de fala (HIMMELMANN, 2006). A divisão de Linguística do Museu Goeldi3 (umas das referências de pesquisas de documentação linguística no Brasil) define a documentação linguística como:

[…] um campo de atuação da linguística que se ocupa com a criação de registros duradouros de línguas em seu uso, hoje em dia usualmente através da criação de acervos digitais que permitem acesso e uso deste material mesmo por pessoas que não falam e entendem a língua em questão. (Museu Goeldi, Divisão de Linguística)

Esses registros complementam os trabalhos de descrição linguística (i.e., gramáticas, dicionários e textos), também considerados como produtos dos trabalhos de documentação. Esse tipo de abordagem, deixa em segundo plano a pesquisa de documentação como uma ferramenta para atender às necessidades das comunidades.

Uma visão integrativa dos trabalhos de documentação propõe uma abordagem mais abrangente em que a pesquisa de documentação linguística (geralmente feita por linguistas) é integrada aos trabalhos de (re)vitalização (feita por membros da comunidade). Esse tipo de colaboração é uma maneira de unir forças na realização de projetos mais abrangentes com uma dinâmica em que a comunidade mantenha o controle das atividades dos projetos, resultando em uma pesquisa mais colaborativa (PENFIELD et al., 2008).

Nessa abordagem mais integrativa, pesquisadores e membros de comunidades indígenas têm se dedicado a modelos de pesquisa colaborativos e de empoderamento dos membros das comunidades indígenas na realização de projetos de pesquisas de documentação. Um dos projetos pioneiros no Brasil é descrito por Franchetto (2007) sobre as iniciativas do povo Kuikuro do Alto Xingu como agentes das atividades de documentação, e o descrito por Rubim (neste volume) com os Kokama no Amazonas.

O modelo atual enfatiza atividades de documentação que estejam entrelaçadas com as atividades de capacitação de pesquisadores indígenas, atividades de (re)vitalização e de descrição e análises linguísticas. Por exemplo, Fitzgerald & Hinson (2013) discutem um modelo dinâmico de pesquisa em que as atividades de documentação e (re)vitalização realizadas por acadêmicos e pelos membros da comunidade da Tribo Chicksaw (no estado de Oklahoma, EUA) interagem entre si em um ciclo de constante feedback e, chamado de Modelo Chicksaw, criado nas atividades de revitalização da língua chicksaw.4 Nesse modelo, o resultado (ou produto) de um dos estágios serve de ‘matéria-prima’ para o estágio seguinte (FITZGERALD, 2020), como mostra a figura 1.5

Figure 1. Figura 1. O Modelo Chicksaw. Fonte: FITZGERALD; HINSON, 2013, p. 596

Entretanto, o que descrevemos aqui é um modelo em que as atividades de (re)vitalização é o motor gerador das atividades de um projeto. Nesse modelo, as atividades iniciadas a partir das iniciativas de (re)vitalização são polivalentes; elas promovem o aprimoramento dos registros de documentação, fornecem material (‘dados’) para as análises linguísticas e criam oportunidades para promover a capacitação de pessoal (membros da comunidade indígena) interessado. Além disso, o modelo promove um intercâmbio de conhecimentos em uma dinâmica contínua de atividades que visam (re)vitalizar a língua em questão. Chamamos esse modelo de ‘fluxo de conhecimento’ (figura 2), uma vez que os conhecimentos específicos de cada um dos componentes estão interligados e fluindo para um objetivo comum: a (re)vitalização da língua.

Figure 2. Figura 2. Nosso modelo de fluxo de conhecimento na pesquisa linguística Fonte: autores.

Demostramos esse modelo a partir das atividades do projeto de revitalização da língua maqlaqsyals,7 do grupo Klamath-Modoc. Nesse contexto, a equipe do projeto consiste de colaboradores motivados em trabalhos com a língua (por exemplo, interessados em ensinar, documentar, etc.), membros da comunidade que tenham conhecimento da língua e da cultura do grupo, e que tenham familiaridade com a situação sociopolítico da comunidade. Todos os participantes precisam ser responsáveis e motivadores. O modelo proporciona, assim, um ambiente de colaboração que facilita a capacitação de membros da comunidade como uma espécie de ‘curadores da língua’, isto é, os membros do grupo assumem funções de curadoria que implicam em responsabilidades de arquivista, pesquisador, aprendiz ou professor da língua (FURBEE; STANLEY, 2002).

2. Estudo de caso: O processo de revitalização da língua maqlaqsyals8

A língua maqlaqsyals é considerada uma língua isolada (MITHUN, 1999), embora haja estudos que apontem para uma possível relação com línguas da família Paiutian do norte da Califórnia (SHIPLEY, 1966). Tradicionalmente o grupo vivia no território localizado hoje na fronteira entre os estados de Oregon e Califórnia, (cerca de 3,500km2 - mais ou menos o tamanho da cidade de Cuiabá-MT), como mostra o mapa da figura 3.

Figure 3. Figura 3. Território tradicional da Tribo Klamath-Modoc. Fonte: Bureau of Reclamation California-Great Basin.9

A língua maqlaqsyals passou várias décadas adormecida. O processo de abandono da língua por parte dos falantes se acelerou na época em que a Tribo Klamath-Modoc teve seu reconhecimento no âmbito federal encerrado pelo governo estadunidense em 1954. A partir desse ano, as terras tradicionais do grupo foram abertas para interesses comerciais e privados, obrigando muitas famílias a deixarem suas terras. A restauração do reconhecimento do grupo como uma tribo oficial pelo governo federal ocorreu em 1986, após 32 anos. É a partir deste momento que inicia o movimento de retomada da língua.

Movimentos de resistência cultural e a retomada da língua tiveram um papel fundamental na restauração do reconhecimento oficial do grupo.10 Durante os anos de 1987 e 1988, a Tribo Klamath-Modoc realizou uma pesquisa (DUPRIS et al., 1988) para avaliar necessidade e estabelecer propostas de projetos de cunho socio-político-cultural para dar suporte à revitalização. Segundo a pesquisa, o número de falantes fluentes da língua maqlaqsyals era de 35 indivíduos. Entre as atividades culturais relatadas, os membros do grupo apontaram a língua nativa como o aspecto cultural mais importante. Assim, tiveram início as atividades de documentação da língua com o objetivo de revitalizá-la (DUPRIS, 2019).

As iniciativas de documentação com os poucos falantes da língua tomaram força nos anos 90. Durante esse período membros do grupo recebem bolsas de pesquisa para trabalhar na identificação de material sobre a língua coletado por pesquisadores e arquivados em museus e instituições acadêmicas por antropólogos e linguistas. É também nesse período que se dá início à criação de programas na língua para a pré-escola e o ensino fundamental.

Em 2001 programas de ensino da língua maqlaqsyals são implementados nas escolas da comunidade. Durante as férias escolares do meio do ano, começou um projeto de imersão na língua e cultura voltado para crianças e jovens. Essas atividades diárias têm a duração de duas semanas, e conta com adultos e idosos que servem como professores voluntários, repassando seus conhecimentos, participando nas atividades de pesquisa e ensinando a língua através de atividades culturais. A língua, nesse contexto, não é o objeto de estudo; ela é usada como um instrumento de mediação para o aprendizado de canções e contos tradicionais. Assim, a língua é transmitida de maneira natural e tradicional, sem a necessidade de treinamento técnico dos professores voluntários. Joseph Dupris (co-autor) participou como aluno da primeira edição dessas atividades de férias, de 1997 a 2003, quando se formou no ensino médio.

A essa altura, os últimos falantes que tinham maqlaqsyals como primeira língua já eram bem idosos e os últimos falantes morreram em 2003. Assim, com o desaparecimento desses falantes, os linguistas não-indígenas também desapareceram. Não havia interesse em trabalhar como os falantes que tinham o maqlaqsyals como segunda língua (a primeira sendo o inglês, a língua dominante). Entretanto os linguistas continuavam produzindo e escrevendo seus trabalhos descritivos e teóricos. Apesar de mais de uma década de pesquisa de documentação sendo feita com o grupo, não houve aumento de número de falantes durante esse período.

Para levar as iniciativas de revitalização da língua maqlaqsyals adiante, decidiu-se que a ênfase seria em pesquisa e atividades em que a revitalização da língua fosse prioridade. Motivado em colaborar com essas iniciativas do grupo, Joseph Dupris decidiu estudar linguística, chegando ao mestrado em linguística com especialização em línguas indígenas na Universidade do Arizona.11 Atualmente, Joseph está finalizando o programa de doutorado duplo em antropologia e linguística (ANLI), na mesma instituição. Joseph faz parte da terceira geração de defensores do movimento de retomada da língua maqlaqsyals e atuou em vários projetos para o resgate da língua e cultura Klamath-Modoc.

Como antropólogo, linguista e membro do grupo Klamath-Modoc, Joseph decidiu adotar um modelo de pesquisa indígena voltado às necessidades do grupo e com o enfoque na revitalização. Em dezembro de 2016 foi realizada uma oficina piloto na comunidade para se discutir a retomada de projetos de pesquisa linguística. Nessa oficina piloto os participantes discutiram metodologias que proporcionassem a colaboração interna (entre os membros da comunidade envolvidos no projeto) e a colaboração externa (entre a comunidade e a instituição e/ou colaboradores não-indígenas).

3. Projeto piloto: Naanok gew s?as?aaMaks (‘minhas relações’)

O projeto piloto focou em explorar estratégias para desenvolver relacionamentos que contribuíssem no processo de colaboração, para que o compartilhamento de conhecimentos fosse uma atividade coletiva e realizada com responsabilidade, de maneira recíproca e respeitosa. O grupo discutiu o ‘porquê/como’ (s?as?aaMaks) das metas de um projeto de revitalização. As questões abordadas ajudaram os membros das comunidades e pesquisadores a discutir as razões para se desenvolver o projeto e as formas de colaboração e relações entre os indivíduos envolvidos durante a sua duração. Assim, a partir da escolha do foco da pesquisa, discutimos como coletar o material necessário, como disseminar esse conhecimento entre os membros da comunidade e como transferir conhecimento. A figura 4 ilustra o círculo de discussão com as quatros questões metodológicas discutidas pelo grupo.

Figure 4. Figura 4. Questões metodológicas. Fonte: Autores.

As relações externas do projeto se dão em colaboração com o Instituto para o Desenvolvimento das Línguas Indígenas Americanas (AILDI, sigla em inglês)12 e o programa de mestrado NAMA (sigla em inglês). Essas parcerias proporcionam apoio para a elaboração de metodologias de pesquisas que focam nas necessidades da comunidade, bem como oficinas de capacitação. Durante a oficina piloto, foram realizados treinamentos com foco na imersão na língua nativa; elaboração de um currículo para o ensino da língua, baseado em cópias de material e documentos históricos adquiridos em arquivos de museus e universidades.

Uma das coisas mais importantes realizadas durante essa primeira oficina foi a efetivação de um diálogo entre os membros da comunidade para debater os objetivos e as expectativas de um projeto de revitalização. Os participantes envolvidos no projeto tiveram a oportunidade de apresentar suas posições e comunicar suas responsabilidades no projeto, tudo isso em um ambiente de imersão na língua maqlaqsyals.

A segunda oficina ocorreu em dezembro de 2017 com a participação de 30 membros da tribo Klamath-Modoc. A oficina focou no treinamento de professores em métodos de ensino através de metodologias e práticas de imersão na língua usando técnicas do método Where Are Your Keys (WAYK, sigla em inglês).13 O método WAYK consiste de uma série de técnicas que usa a linguagem de sinais como forma de oferecer um apoio visual no processo de aprendizagem de uma língua. Uma das vantagens de se usar o método WAYK é que, além de oferecer técnicas para o ensino-aprendizagem de uma língua, ele também oferece técnicas que promovem a cooperação comunitária. Essa é uma característica importante porque para que um projeto de revitalização seja sustentável é necessário que haja engajamento, motivação e senso de responsabilidade de todos os envolvidos (alunos, professores, pesquisadores, membros da comunidade, etc.). As técnicas do WAYK foram desenvolvidas para fortalecer as relações dos membros da comunidade para além do ambiente de ensino-aprendizagem da língua (GARDNER; CIOTTI, 2018).

Através dessas atividades, os membros das comunidades envolvidos no projeto, expressaram que a língua é muito mais que ‘dados de pesquisa,’ ela é parte integral das relações entre os membros do grupo. Baseando-se nas experiências com atividades de revitalização realizadas durante as oficinas, os participantes refletiram sobre as habilidades que a equipe do projeto precisa para trabalhos de revitalização que tenham relevância para projetos de documentação linguística.

Será preciso uma dedicação enorme por parte dos membros da Tribo Klamath-Modoc para que a língua maqlaqsyals volte a ser usada diariamente nas comunidades. Entretanto o engajamento das pessoas, o espírito de resistência e a retomada da língua e cultura tribais trazem a esperança de que a língua seja restaurada na vida da comunidade.

4. Considerações finais

Neste trabalho, apresentamos um modelo de pesquisa de colaboração entre vários agentes engajados em atividade de documentação linguística. Para pesquisadores da área acadêmica, atividades de documentação e descrição linguística e atividades de revitalização são vistas como extintas, mas para os membros da comunidade essas atividades são inseparáveis. Elas têm uma dinâmica em que uma necessita e beneficia a outra.

Focamos no projeto de revitalização da língua maqlaqsyals, falada pelos membros da Tribo Klamath-Modoc, no estado de Oregon nos EUA. Nesse contexto, o grupo retomou o controle das iniciativas de pesquisa com a língua, para que qualquer projeto envolvendo a língua do grupo apresente de forma clara os benefícios para as necessidades do grupo em revitalizar a língua. Nesse modelo, a revitalização é tratada como prioridade. O modelo (ilustrado na figura 2) traz benefício para membros da comunidade, através de oficinas de capacitação em diferentes áreas do estudo; nesse modelo as atividades de documentação se tornam mais ricas através da documentação das atividades de revitalização. O modelo também beneficia as pesquisas linguísticas de cunho teórico. Por exemplo, Dupris (2015) apresenta uma descrição da língua maqlaqsyals em uma forma mais teórica, mas que foi desenvolvida a partir das atividades de revitalização na comunidade. Assim, é importante enfatizar que mesmos no contexto proposto por esse modelo, em que o foco é a revitalização, no meio do processo o pesquisador tem a oportunidade (e, no nosso caso, o apoio da comunidade) em usar material na língua para seus trabalhos teóricos e acadêmicos.

Apesar de reconhecer que este tipo de modelo de pesquisa não se encaixa em todos os contextos, o que queremos enfatizar com esse trabalho é a importância do grupo indígena (re)tomar o controle de projetos de pesquisas com/sobre a sua língua originária, para que as prioridades sejam dadas aos objetivos da comunidade, ao mesmo tempo promovendo colaboração com instituições de pesquisa e/ou com pesquisadores não-indígenas. Esperamos que o modelo possa colaborar nas reflexões sobre a descolonização de práticas de pesquisas que tendem a ser prejudiciais na relação entre os indivíduos envolvidos no projeto e entre a comunidade indígena e as instituições de pesquisa.

Reflexões e discussões sobre aspectos coloniais da linguística têm sido tópicos constantes em conferências na América do Norte. Alguns valores e métodos acadêmicos utilizados na linguística tendem a limitar, podendo até mesmo ter um resultado contrário ao esperado em relação às questões de justiça social, quando o modelo do pensamento ocidental de analisar, ensinar, e valorizar a língua como objeto de estudo é imposto ao trabalho linguístico no contexto indígena (cf. Leonard, 2012; 2018). No estudo de caso apresentado sobre o processo de revitalização da língua maqlaqsyals, a retomada das atividades de pesquisa por membros do grupo fortaleceu a sua soberania e é vista como uma forma de resistência e uma forma de descoloniza políticas e métodos da pesquisa com ou sobre a sua língua.

Agradecimentos

Queremos agradecer aos membros da Tribo Klamath-Modoc. Aos colegas participantes do Viva Língua Viva 2019 pelas discussões frutíferas sobre projetos de (re)vitalização e documentação. Ao American Indian Language Development Institute, pelo apoio logístico com as oficinas. E ao National Science Foundation pelo fomento das atividades de pesquisa de colaboração do co-autor (Wilson) com membros de comunidades Desano e Siriano.

How to Cite

SILVA, W. de L.; DUPRIS, J. On a method for language documentation based on language (re)vitalization activities: a case study. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 1, n. 3, p. 01–14, 2020. DOI: 10.25189/2675-4916.2020.v1.n3.id243. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/243. Acesso em: 25 apr. 2024.

Statistics

Copyright

© All Rights Reserved to the Authors

Cadernos de Linguística supports the Opens Science movement

Collaborate with the journal.

Submit your paper