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Estudo Piloto

Acesso lexical em universitários com TDAH: investigando o impacto do controle executivo e dos blends no processamento linguístico

Priscilla de Albuquerque Almeida

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https://orcid.org/0000-0002-9702-365X

Nathália Leite de Sousa Soares

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https://orcid.org/0000-0002-1536-315X

Karla Araújo Pinheiro

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https://orcid.org/0000-0003-0370-4209

José Ferrari Neto

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https://orcid.org/0000-0003-2734-7197


Palavras-chave

Psicolinguística
Acesso Lexical
Blends
Controle Executivo
TDAH

Resumo

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento resultante de déficits do controle executivo. O reconhecimento e o acesso lexical de palavras do tipo blends podem ser mais custosos nos universitários com TDAH. O objetivo geral foi investigar se os blends são processados mais rapidamente que palavras morfologicamente complexas entre os grupos experimental (GE - com TDAH) e controle (GC - sem TDAH). Ainda, buscou-se: i) verificar a influência do controle executivo no acesso lexical de palavras complexas e dos blends, ii) comparar o desempenho entre o GE e o GC para analisar se as distinções cognitivas repercutem no acesso lexical e constatar os tipos de palavras que facilitam e os que dificultam o processamento. Participaram 18 universitários do GE e 8 universitários do CG com idade entre 21 e 47 anos. Para testar o controle executivo, o design experimental englobou as condições congruente, incongruente e neutra nos blends e nas palavras morfologicamente complexas em uma Tarefa de Decisão Lexical com Simon Task. A hipótese proposta é a de que o GE teria mais dificuldades no reconhecimento e acesso lexical de blends e maior tempo na tomada de decisão lexical em comparação com o GC, pois essa tarefa exige uma maior demanda do controle executivo, algo que os sujeitos com TDAH possuem mais falhas. O GE iria cometer mais erros na condição incongruente e seriam mais lentos nos tempos de reação em comparação com a condição congruente. Os resultados preliminares revelaram efeitos principais de grupo, de tipo de palavra e de condição. Observou-se também que houve efeito de interação apenas entre grupo e tipo de palavra. O GE mostrou-se ser mais lento que o GC. Dessa forma, os resultados caminham na direção da hipótese proposta e,  diante disto, pretende-se ampliar a amostra de voluntários para averiguar se estas tendências permanecem ou se modificam.

Resumo para não especialistas

A palavra “blend” no inglês significa misturar. Quando trabalhamos com blends na morfologia estamos tratando de uma junção de palavras ou fragmentos de palavras cujo significado é a soma dessas partes que são misturadas, como no caso de namorido (namorado + marido). O blend pode causar estranhamento, mas tende a ser normalizado porque costuma compactar duas palavras que existem previamente dentro do vocabulário de uma determinada cultura. Para que seja processado e tenha seu significado compreendido, é necessário que se preste atenção às partes que o compõem. Portanto, a atenção é fundamental para o processamento desse tipo de palavra. A fim de investigar esse ponto, foi elaborada a presente pesquisa, a qual foi desenvolvida com base em universitários que têm o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e teve como objetivo observar o impacto da atenção no acesso lexical durante o processamento dos blends. Os resultados obtidos no experimento desta pesquisa confirmaram a hipótese inicial. Pessoas sem esse transtorno gastaram menos tempo para efetuar a mesma tarefa que foi requerida a pessoas com o transtorno, que tenderam a demorar mais a reconhecer os blends devido, possivelmente, pela disfunção na região do lobo pré-frontal que afeta a sua atenção.

Introdução

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento que apresenta falhas no controle executivo (CE). A função do CE é coordenar vários processos envolvidos na realização das habilidades cognitivas, que são: controle inibitório, que é a capacidade de controlar a atenção, o comportamento e as emoções, memória de trabalho, cuja função é armazenar e processar informações e, flexibilidade cognitiva, que envolve a flexibilização para se ajustar às novas demandas e prioridades (Baddeley; Hitch, 1974, Diamond, 2013). Esses processos são basilares para várias operações de produção e compreensão de linguagem, dentre as quais o acesso e a representação lexical. Com isso, por apresentarem déficit executivo, os sujeitos com TDAH podem apresentar mais falhas no reconhecimento e acesso lexical. No que se refere a palavras do tipo blends (Barkley, 1997; Whipple; Nelson, 2016), tal dificuldade tende a ser maior. O blending é um mecanismo de cruzamento ou mesclagem vocabular formado prototipicamente pela junção entre a parte inicial da primeira palavra-fonte e a parte final da segunda palavra-fonte: resultado do uso produtivo da composição vocabular (Rosa, 2022; Marangoni Júnior, 2021). Para que sejam devidamente reconhecidos e acessados, ou seja, processados de modo a possibilitar a extração do seu significado, é preciso que as suas partes constituintes sejam identificadas, o que requer, dentre outras coisas, atenção e monitoramento constante.

Diante disso, esta propositura parte dos seguintes questionamentos: Qual é o impacto da leitura dos blends no acesso lexical dos estudantes? Qual é a influência do controle executivo no acesso lexical dos blends? Será que existe diferença de desempenho entre o Grupo Experimental (alunos com TDAH) e o Grupo Controle (alunos sem TDAH)?

O presente trabalho trata-se de um estudo piloto, situado no âmbito da Psicolinguística Experimental. O objetivo geral foi investigar experimentalmente o impacto da leitura dos blends no acesso lexical de estudantes com TDAH e sem TDAH. Nesse intuito, buscou-se especificamente: i) verificar a influência do controle executivo no acesso lexical dos blends e ii) comparar o desempenho entre os participantes do Grupo Experimental (GE) e do Grupo Controle (GC) para averiguar se as distinções cognitivas repercutem no acesso lexical e constatar qual(is) tipo(s) de blend(s) tende(m) a ser(em) processada(s) mais rapidamente e as que são mais custosas ao processamento a depender do grupo analisado.

As hipóteses e previsões aventadas para esta pesquisa partem do pressuposto de que o processamento de palavras formadas por blending é afetado por falhas no controle executivo, o que repercute no acesso lexical dos sujeitos, principalmente no que se refere a sujeitos com TDAH. Nossa hipótese é de que quanto menor o material linguístico (blends do tipo CLIP-CLIP ou CC) e a relação entre os constituintes desafiar a ordem canônica (blends do tipo MODIFICADOR-NÚCLEO ou MN), maior seria a dificuldade de processamento para o GE. Diante disso, as tendências esperadas foram: a) quanto ao GE - mais lentos em termos de tempos de reação no processamento de blends com grau de dificuldade alta (tipo CLIP-CLIP[1] e MODIFICADOR- NÚCLEO[2]) e mais erros na condição incongruente em comparação com a condição congruente e neutra na Tarefa de Decisão Lexical com Simon (TDL) em comparação com o GC, possivelmente por mais dificuldades no reconhecimento e acesso lexical de blends numa tarefa que exige uma maior demanda do controle executivo, algo que os sujeitos com TDAH possuem mais falhas; b) quanto ao GC - processamento mais rápido em blends de dificuldade alta na condição incongruente e quanto à acurácia, mais acertos nestes blends de dificuldade alta e em posição incongruente.

Em virtude de literatura escassa acerca do processamento linguístico em estudantes universitários com TDAH e da recente discussão acadêmica sobre os blends, a presente propositura se justifica pela necessidade de ampliar essas discussões por meio de uma pesquisa de caráter exploratório.

Este artigo está organizado da seguinte forma: a seção 2 mostra a fundamentação teórica que embasa esta propositura, a seção 3 engloba o percurso metodológico deste estudo, a seção 4 engloba as considerações finais seguido das referências bibliográficas.

1. Fundamentação teórica

Nesta seção, discutiremos tópicos pertinentes que embasam a nossa pesquisa e que serão melhor explorados nos resultados e discussão.

1.1. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento que traz maiores problemas clínicos e de saúde pública devido às dificuldades que afetam de modo direto na qualidade de vida do indivíduo que possui esta psicopatologia. O TDAH é caracterizado por um padrão persistente de déficit de atenção e ou hiperatividade-impulsividade. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V tr, 2023), o sujeito é diagnosticado com TDAH quando apresenta seis ou mais sintomas persistentes de desatenção de forma negativa na vida social, acadêmica e laborativa expresso no relato do paciente num período de seis meses antes de procurar ajuda profissional, bem como a persistência de seis ou mais sintomas de hiperatividade e impulsividade seis meses depois do primeiro relato. Os sintomas começam a ser manifestados na infância e podem persistir na idade adulta, com a prevalência dos sintomas de 60% dos casos em adultos já diagnosticados na infância (Rotta; Ohlweiler; Riesgo, 2016).

O TDAH é resultante de uma disfunção do córtex pré-frontal, região cerebral associada às habilidades cognitivas superiores que impulsionam os mecanismos do Controle Executivo (CE). As funções do CE são fundamentais para o processo de leitura, pois abrangem diversas estratégias a serem utilizadas durante a manipulação de vários estímulos linguísticos, como: letras, palavras e frases (Filipek, et al., 1997; Rodrigues, 2011).

Os mecanismos do CE mais envolvidos no processo de leitura são a atenção e a memória de trabalho. A atenção exerce o papel de inibir os estímulos distratores durante o processo de decodificação, reconhecimento de palavras e compreensão da leitura. A memória de trabalho, por sua vez, possibilita o processamento das capacidades cognitivas mais complexas envolvidas na leitura, que são: transformação de grafemas e fonemas, acesso às redes sintáticas e semânticas de forma fluente (Medina.; Souza; Guimarães, 2018, Smith; Geva, 2000).

Os sujeitos com TDAH apresentam mais dificuldades na capacidade de leitura em comparação aos sujeitos que não possuem este transtorno. Isso pode ser justificado devido às falhas no CE. O estudo de Ferrari-Neto, Estivalet e Almeida (2022) verificou a influência da memória de trabalho na compreensão leitora de estudantes universitários com TDAH. Os resultados obtidos revelaram que o GE (com TDAH) teve uma acurácia menor e um tempo maior na tomada de decisão lexical em comparação ao GC (sem TDAH). Percebeu-se que o déficit de atenção e a pouca capacidade de memória de trabalho dos universitários com o referido transtorno dificultam a capacidade de leitura.

Tarefas que envolvem tomada de decisão lexical que exigem uma maior velocidade de processamento podem ser mais custosas para quem possui TDAH, pois requerem manipulação de informação fonológica, atenção seletiva e memória de trabalho visuoespacial. Tais tarefas podem ser mais custosas devido ao déficit executivo (Barkley, 2002, Dupaul; Stoner, 2007). Diante disso, discorreremos a seguir sobre os blends e a sua relação com o acesso lexical.

1.2. Blending e acesso lexical

A formação de palavras engloba basicamente dois processos: a derivação e a composição (Rosa, 2022). Este último, por sua vez, a partir de usos produtivos da linguagem pressupõe um mecanismo específico de cruzamento ou mesclagem vocabular conhecido como blending: as palavras são compostas por meio da junção de segmentos das palavras-base, tais como em sacolé (saco + picolé), cantriz (cantora + atriz) e apertamento (aperto + apartamento). O blending, esse fenômeno linguístico e cognitivo relacionado ao uso da linguagem, cria novos termos com significado único. Embora o fenômeno seja mais antigo, a discussão acadêmica é recente, principalmente no que se refere à exploração de cunho psicolinguístico, haja vista que sua compreensão é fundamental para a ampliação das descobertas sobre o reconhecimento e acesso lexical das palavras na mente humana.

Os blends são o resultado de um processo de fusão das partes de, pelo menos, duas palavras-fonte nas quais uma delas tende a ser reduzida ou apresentar algum tipo de sobreposição de ordem gráfica ou fonológica (Marangoni Junior, 2021). De maneira prototípica, os blends são formados pela junção entre a parte inicial da primeira palavra-fonte e a parte final da segunda palavra-fonte. Além disso, há outros mecanismos produtivos para este autor (mantendo ou a completude de uma das palavras-fonte ou a sobreposição total nas palavras-fonte), tais como em: A B + C D → A D: Nescau < Nestlé + cacau; A B + C D → A B D: sedanapo < seda + guardanapo e A B + C D → A C D: almojanta < almoço + janta.

Minussi e Villalva (2020) elaboraram um estudo para analisar o impacto dos blends no reconhecimento e no acesso lexical de falantes nativos do Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE) e, nesse sentido, o design experimental englobou dois testes um teste off-line de reconhecimento lexical e um teste on-line de decisão lexical aplicados em estudantes universitários. No que se refere ao teste off-line, este contou com 56 palavras com o intuito de averiguar se os falantes de PE reconheceriam blends oriundos do PB e se os falantes do PB, por sua vez, reconheceriam blends oriundos do PE. No que tange ao experimento on-line, este contou com a testagem de 80 palavras, 40 blends com três tipos de estrutura (palavra-clip ou PC, clip-palavra ou CP e clip-clip ou CC) e 40 distratoras para computar os tempos de reação e a acurácia das respostas. Os resultados mostraram, essencialmente, que houve maior facilitação no processamento de blends do tipo CC (como ‘namorido’ e ‘portunhol’), pois a explicação estaria nas sobreposições das bases nos outros tipos de blend (tipos PC, como em ‘chafé’ e CP, como em ‘caipifruta’), o que poderia tornar o processamento mais custoso: achados contrários à hipótese inicial dos autores de que, quanto mais as bases fossem transparentes, maior seria o reconhecimento e a facilitação no processamento.

Os resultados obtidos por Minussi e Villalva (2020) fornecem insights sobre o processamento dos blends no acesso lexical. A maior facilidade no reconhecimento dos blends do tipo CC sugere que a transparência das bases pode ser um fator interveniente na ativação e reconhecimento das palavras na mente dos falantes. Por outro lado, a maior dificuldade no processamento dos blends PC e CP pode estar relacionada à necessidade de integrar e mapear as partes das palavras-fonte de forma mais complexa, uma sobreposição que pode exigir um esforço cognitivo adicional (Minussi; Villalva, 2020). Esses achados ressaltam a relevância de estudar o fenômeno do blending no contexto do acesso lexical, uma vez que o processamento eficiente das palavras é de suma importância para uma comunicação mais fluida e bem-sucedida.

Além disso, compreender como a mente humana lida com a formação e o reconhecimento de novos termos através deste fenômeno pode repercutir na aquisição e aprendizagem linguística, bem como no desenvolvimento de modelos teóricos mais abrangentes sobre a organização lexical na mente humana (Marangoni Júnior, 2021). Esta pesquisa propôs-se a investigar como se dá o reconhecimento e o acesso lexical de blends em estudantes universitários com TDAH e sem TDAH. Neste sentido, a seção seguinte delineará a trajetória metodológica desta pesquisa.

2. Metodologia

O presente estudo é uma pesquisa experimental de caráter quantitativo, exploratório e comparativo, haja vista que as hipóteses levantadas acerca dos blends e do controle executivo foram averiguadas por meio de análises estatísticas comparativas entre grupos distintos de voluntários. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (CEP/CCS/UFPB), conforme a Resolução n.510/2016 do CNS/MS, emitida em 26 de março de 2020. Este estudo é uma extensão da dissertação de mestrado sobre a influência da memória de trabalho na compreensão leitora de estudantes universitários com TDAH, realizada por Almeida (2020), pois surgiu da necessidade de verificar se haveria diferenças significativas no acesso lexical de palavras do tipo blends entre os grupos: GE e GC.

2.1. Participantes

A pesquisa contou com dois grupos de voluntários, a saber: (i) Grupo Experimental (GE) e (ii) Grupo Controle (GC). O GE contou com a participação de 18 estudantes universitários (9 graduandos e 9 pós-graduandos) com diagnóstico de TDAH dado por um médico psiquiatra ou neurologista. Eram 5 mulheres e 13 homens, com idade entre 21 e 47 anos (m = 36a8m), majoritariamente destros, majoritariamente destros, 18 estudantes destros e 1 estudante canhoto, com visão normalizada ou corrigida.

O GC teve a participação de 8 estudantes universitários sem sintomas associados ao TDAH. Estes, por sua vez, submeteram-se a testes psicométricos para descartar a possibilidade de déficit de atenção e outros sintomas associados ao TDAH, como: Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção - BPA (Javier; Monteiro, 2013). Espera-se, no futuro, desenvolver estudos em que este grupo esteja mais pareado, seja por fator idade ou por fator sexo. Para fins desta pesquisa não foi possível em decorrência da dificuldade de achar participantes que atendessem aos critérios de inclusão, mas certamente é um cuidado metodológico pretendido para outros estudos a serem elaborados com esta temática.

Os resultados dos scores os situou entre médio superior e superior (categorias indicativas de ausência de déficit atencional) e a Escala de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ou ETDAH-AD (Benczic, 2013). Selecionou-se os que tiveram como escores: inferior, médio-inferior ou médio. O GC totalizou 8 universitários, sendo 5 graduandos e 3 pós-graduandos. Quanto ao gênero: 2 mulheres e 6 homens. Idades entre 25 e 37 anos (m = 31a1m), majoritariamente destros, majoritariamente destros, 6 participantes destros e 2 participantes canhotos, com visão normalizada ou corrigida.

2.2. Design experimental

2.2.1. Variáveis

A presente propositura contou com as seguintes variáveis, a saber: (i) independentes – tipo de palavra (blends de alta, média e baixa dificuldade), fator grupal (alunos com TDAH e alunos sem TDAH) e congruência (congruente, incongruente e neutro); (ii) dependentes – tempo de reação e acurácia.

2.2.2. Material

O material aventado para Tarefa de Decisão Lexical com Simon [1](TDL) possibilitou verificar o tempo de reação que os participantes teriam mediante a um conflito cognitivo entre a posição espacial da palavra apresentada e a sua informação semântica. A TDL foi composta por: 60 blends distribuídos em três níveis de dificuldade (alta, média e baixa), 60 palavras complexas e 120 pseudopalavras. No que tange especificamente aos blends, estes foram compilados a partir de um corpus elaborado por Villalva e Minussi (2022). Num artigo publicado pela OpenEdition Journals, os autores tecem uma descrição e análise do corpus de blends para o português que, de acordo com eles, é um pré-requisito fundamental para futuras pesquisas que permitirão uma análise mais aprofundada deste tipo de palavra e o impacto dela no processamento de texto e no acesso lexical.

O Portuguese Blend Corpus (doravante PBC) consiste num arquivo excel formado por cerca de 300 blends oriundos do Português Brasileiro (PB), como também do Português Europeu (PE), Português Angolano (PA) e Português Moçambicano (PM) e, em sua formulação, houve o descarte de blends originários de nomes próprios devido à opacidade para não-falantes residentes. O intuito inicial foi discutir a análise morfológica entre Blends e Palavras Compostas e averiguar se teriam estruturas lexicais similares ou totalmente diferentes. Algumas informações importantes acerca do PBC valem ser ressaltadas: i) cada entrada do PBC incorpora um link que atesta o contexto de uso do blend em questão; ii) os blends são palavras de frequência muito baixa (quase nula) por serem oriundos de gestos criativos e não para atender a exigências semânticas específicas, por isso o PBC tem o registro apenas do valor de frequência das palavras-base e não dos blends em si; iii) o contexto sociocultural é um fator que contribui para a seleção das palavras-base.

Mediante ao desafio de elencar e compreender blends, os estudiosos estabeleceram duas pesquisas experimentais: um Teste de Familiaridade (com graduandos da Universidade de Lisboa - ULisboa e da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP que tiveram acesso a um subconjunto de 56 estímulos e estes forneciam um significado para cada estímulo apresentado) e um Teste de Decisão Lexical (analisou-se o Tempo de Reação destes alunos durante a leitura dos mesmos blends que eles deram significado e, num comparativo entre PB e PE, observou-se que: blends constituídos de PALAVRAS-CLIP ou PC são lidas e acessadas no léxico mental mais lentamente que CLIP-PALAVRA ou CP e estas, por sua vez, foram mais lentas que blends do tipo CLIP-CLIP ou CC, isto é, blends com estrutura linear CC tendem, a partir das análises deste estudo, ser acessadas mais rapidamente que as demais estruturas). Estas análises foram fundamentais para a formulação de um subcorpus de 184 blends que possibilitou o levantamento de hipóteses e a classificação destes blends a partir de três critérios que serão melhor delineados a seguir.

Após as análises experimentais, o PBC foi compilado com base em três critérios essenciais: (i) o status lexical dos constituintes dos blends e as suas relações lineares; (ii) o papel gramatical dos constituintes que compõem os blends; (iii) a relação fonético-prosódica entre os constituintes dos blends com as palavras-base. No que tange ao primeiro pilar, os pesquisadores focaram na estrutura morfológica: os constituintes dos blends são formados ou pela combinação de pedaços ou raízes das palavras-base que recebem o nome de clipes (como em “arrumário” <arrumar + armário>) ou por palavras inteiras (como em “sapatênis” <sapato + tênis>). No que se refere ao segundo pilar, os autores focaram nas relações gramaticais entre as partes constituintes dos blends que podem estabelecer ou estruturas de modificação (quando um constituinte exerce uma modificação sobre outra parte constituinte do blend, como em “aborrescente” <aborrecido + adolescente>, em que o clip “aborr” atua como modificador do núcleo “escente”, isto é, o significado final do blend não é apenas de uma adolescente qualquer, mas sim de um “adolescente aborrecido”) ou estruturas coordenadas (em que as partes constituintes não exercem qualquer modificação de sentido umas sobre outras, apenas coexistem e atuam como núcleos justapostos: é o que acontece em “temedroso” <temeroso + medroso>). No que tange ao último pilar, os autores focaram no mecanismo de concatenação fonética, bem como na proeminência prosódica dos constituintes dos blends (como ocorre em “namorido” <namorado + marido>, “tristemunho” <tristeza+ testemunho> e “portunhol” <português + espanhol>).

O quadro 1 permite especificar os blends quanto a estrutura dos constituintes (clip-clip ou CC, clip-palavra ou CP e palavra-palavra ou PP) e quanto a relação entre os constituintes (modificador-núcleo ou MN, núcleo-modificador ou NM e núcleo-núcleo ou NN) e as bases das palavras que os compõem. O quadro 2, por sua vez, apresenta exemplos de palavras complexas (substantivos derivados de substantivos primitivos com 6 a 10 letras como em ferrugem < ferro) e pseudopalavras (criados a partir da troca de letras de palavras previamente existentes como lamarto < lagarto contendo também de 6 a 10 letras).

Figure 1. Quadro 1 Amostra dos Blends usados no Experimento de Decisão Lexical (TDL) Fonte: Os autores.

Figure 2. Quadro 2: Amostra de Palavras Complexas e Pseudopalavras usadas no Experimento TDL Fonte: Os autores.

2.2.3. Procedimentos

A TDL com Simon foi veiculada para os voluntários via plataforma web-based jsPsych e durou, aproximadamente, 10 minutos. Ao acessar o link no navegador, o aluno se deparava com os estímulos que foram apresentados de forma randomizada e em diferentes posições na tela do computador: congruente, incongruente e neutra. Na condição congruente, o estímulo palavra (no caso, um blend de alta, média ou baixa dificuldade ou palavra complexa) aparecia na posição homolateral da tela e tecla Q, correspondente à resposta SIM, ou quando o estímulo pseudopalavra aparecia na posição homolateral a tecla P, que correspondia com a resposta NÃO. Na condição neutra, o estímulo palavra (blend ou palavra complexa) ou pseudopalavra aparecia no centro da tela e o participante precisava pressionar a tecla Q para SIM e a tecla P para NÃO. Na condição incongruente, o estímulo palavra (blend ou palavra complexa) e ou pseudopalavra aparecia na posição contralateral a tecla Q, SIM, ou tecla P, NÃO. O estímulo ficava na tela do computador durante 3000 milissegundos (ou 3 segundos), o aluno lia o estímulo e decidia com SIM ou NÃO se a palavra é ou não é do Português Brasileiro (PB). A figura 1 mostra, esquematicamente, as etapas do experimento on-line e o modo como os estímulos eram apresentados na tela do computador para os alunos.

Figure 3. Figura 1: Esquema das Etapas da Tarefa de Decisão Lexical com Simon Fonte: Os autores.

3. Resultados e discussão

As variáveis dependentes testadas neste estudo foram Tempo de Reação e Acurácia. Os dados foram analisados através do programa estatístico Jamovi e considerou os seguintes fatores: Tipo de Palavra (blends em três níveis de dificuldade - alta, média e baixa), Grupo (estudantes com e sem TDAH) e Congruência (posições congruente, neutra e incongruente).

A mensuração do tempo de reação foi analisada a partir do Modelo de Regressão Linear da análise da variância (ANOVA). Os resultados preliminares obtidos são apresentados na tabela 1 e ilustrados no gráfico 1:

Figure 4. TABELA 1: Análise da Variância (ANOVA) – tempo de reação da TDL.

Figure 5. Gráfico 1: tempo de reação da TDL entre os grupos.

Os resultados preliminares indicaram efeito principal de Grupo. Os participantes com TDAH foram mais lentos em comparação com os participantes sem o referido transtorno (GE = 1394 ms, dp = 485 e GC = 1276ms, dp = 404) (F = 93,6721, p < 0,001). Esse resultado confirma a nossa hipótese de que o GE teria maior tempo na tomada de decisão lexical e corrobora com os achados de Ferrari-Neto, Estivalet e Almeida (2022) no qual os sujeitos com TDAH demandaram um tempo maior de processamento em tarefas que exigiam um esforço maior do CE em comparação com os participantes que não tinham este transtorno. A tarefa de decisão lexical é um instrumento que requer mais controle atencional e de memória de trabalho, algo em que os sujeitos com TDAH apresentam mais dificuldades devido a falhas no CE.

Os resultados também indicaram que houve efeito principal de Tipo de Palavra (cf. gráfico 2). Para ambos os grupos (GE e GC), os blends foram processados muito mais lentamente (1527ms, dp = 499) que as pseudopalavras (1291ms, dp = 451) e estas, por sua vez, foram mais lentamente que as palavras complexas (1186ms, dp = 372) ( F = 231,5383, p <0,0001). A possível explicação para os blends terem sido mais lentos que os demais estímulos testados palavras complexas e pseudopalavras foi a dificuldade de reconhecer e integrar as partes das palavras-base, o que pode ter gerado um custo maior no processamento lexical: os voluntários demandaram maior esforço cognitivo para decidir se o blend seria melhor enquadrado em uma palavra ou em uma pseudopalavra, enquanto que as palavras complexas estariam melhor delineadas no léxico mental e, por isso, acessadas e reconhecidas sem tanta dificuldade, o que corrobora com as contribuições de Minussi e Villalva (2020), Marangoni-Júnior (2021), Barkley (2002), Dupaul e Stoner (2007).

Figure 6. Gráfico 2: Tempo de reação quanto ao Tipo de Palavra (Palavra Complexa, Pseudopalavra e Blend).

A tabela 2 e o gráfico 3 indicam o tempo de reação dos participantes quanto a condição congruência:

Figure 7. Tabela 2: Tempo de reação quanto a condição Congruência (Congruente, Incongruente e Neutra).

Figure 8. Gráfico 3: Tempo de reação quanto a condição congruência (Congruente, Incongruente e Neutra).

Observa-se que as condições: congruente (1381ms, dp = 446) e incongruente (1394ms, dp = 450) não diferiram entre si e ambas foram mais lentas que a condição Neutra (1229ms, dp = 480) (F = 76,2959, p < 0,001). De acordo com o resultado obtido, a condição neutra foi processada mais rápida em ambos os grupos (GE e GC). A hipótese sugestiva é que a condição neutra não exigiu muito esforço do CE, diferentemente da condição incongruente em que os estímulos apareceram na posição contralateral da tela do PC. Isso exigiu dos participantes uma demanda atencional e de memória de trabalho bem maior (Ferrari-Neto; Estivalet; Almeida, 2022).

No que tange aos Efeito de Interação, o gráfico 4 mostra que houve efeito na relação entre Grupo e Tipo de Palavra:

Figure 9. Gráfico 4: Efeito de interação entre Grupo e Tipo de Palavra.

Nota-se que, em ambos os grupos, o processamento de blends foi mais lento ((GE = 1609ms, dp = 524) e (GC = 1445ms, dp = 423)) em comparação com as palavras complexas (PC) e pseudopalavras (PP). Diante disto, há algumas considerações: para os participantes sem TDAH, observa-se que as retas das PP e das PC tendem a se encontrar, um indicativo de diferença no tempo de reação entre esses dois tipos de palavras (GC = PP (1223ms, dp = 393) e PC (1158ms, dp = 318)). Para os participantes com TDAH, por sua vez, a tendência é que as PC (1214ms, dp = 388) sejam mais rápidas que as PP (1358ms, dp = 470).Vale salientar que houve efeito de interação Grupo e Tipo de Palavra, mas não é relativo aos blends, e, sim, às diferenças entre pseudopalavras e palavras complexas no GC.

O reconhecimento do blend como um tipo de palavra resultante da fusão de duas palavras-fonte requer do participante uma maior atenção e capacidade de memória de trabalho. Além disso, a sobreposição e a transparência das partes dos blends oriundas das palavras-base são fatores que podem dificultar o mapeamento e a integração destas partes e, por conseguinte, exigir um esforço cognitivo ainda maior. Isso pode justificar porque os participantes com TDAH tiveram o desempenho inferior em comparação com os participantes sem TDAH, haja vista que estes apresentam falhas no CE (Marangoni-Júnior, 2021, Minussi; Villalva, 2020; Barkley, 2002, Dupaul; Stoner, 2007).

O gráfico 5 mostra o tempo de reação na interação entre Grupo e Congruência:

Figure 10. Gráfico 5: Efeito de Interação entre Grupo e Congruência (Congruente, Incongruente e Neutra).

Observa-se que não houve efeito de interação entre Grupo e Congruência. Os grupos GE e GC foram mais lentos nas condições congruente (GE (1438ms, dp = 463) e GC (1323ms, dp = 396)) e incongruente (GE (1455ms, dp = 472) e GC (1334ms, dp = 385)) em comparação com a neutra (GE (1288ms, dp = 503) e GC (1169ms, dp = 413)). Este resultado corrobora com o ilustrado no gráfico 3. Como discutido anteriormente, a condição neutra não exige muito esforço cognitivo e, por isso, tende a facilitar o reconhecimento e acesso lexical dos estímulos apresentados na tela do PC.

O gráfico 6 ilustra o efeito de interação entre Tipo de Palavra e Congruência:

Figure 11. Gráfico 6: Efeito de interação entre Tipo de Palavra (Pseudopalavra, Palavra Complexa e Blend) e Congruência (Congruente, Incongruente e Neutro).

Os resultados revelaram que não houve efeito de interação entre Tipo de Palavra e Congruência, pois os participantes com TDAH e sem TDAH tiveram um comportamento similar. As palavras complexas foram processadas mais rapidamente na condição neutra (1047ms, dp = 359) do que nas pseudopalavras na condição congruente (1328ms, dp = 427). Os blends foram processados mais lentamente na condição incongruente (1577ms, dp = 472). A possível explicação estaria em aspectos discutidos anteriormente: o impacto do CE (principalmente no que tange ao foco atencional e a capacidade da memória de trabalho) atrelado à dificuldade de reconhecimento dos Blends (devido ao maior custo cognitivo para o mapeamento e a integração das partes oriundas das palavras-base). Diante disso, o indivíduo despenderia maior tempo para decidir se o blend se enquadraria melhor ou na categoria palavra ou na categoria pseudopalavra. Essa junção de fatores pode indicar o motivo pelo qual as palavras morfologicamente complexas serem processadas mais rápido que as demais palavras testadas: elas estariam presentes no léxico mental e, por isso, seriam ativadas e reconhecidas mais rapidamente.

Figure 12. Gráfico 7: Acurácia dos blends quanto ao Grupo

A partir do número de acertos, percebe-se que houve um efeito de grupo. Os participantes com TDAH acertaram menos em comparação aos participantes sem TDAH. Esse resultado confirma a nossa hipótese de que os participantes com TDAH teriam mais dificuldades no reconhecimento e acesso lexical dos blends. Como comentado anteriormente, o acesso lexical de blends exige a plena capacidade de atenção e memória de trabalho. Por isso, os participantes do GE tiveram mais custo no reconhecimento e acesso lexical dos blends em comparação ao GC que teve mais acertos.

O gráfico 8 ilustra a acurácia quanto ao fator Grau de Dificuldade dos Blends:

Figure 13. Gráfico 8: Acurácia quanto ao Grau de Dificuldade dos Blends.

Observa-se que não houve diferença no grau de dificuldade média e baixa, pois houve número de acertos similares. A condição de dificuldade alta, por sua vez, teve menos acertos. Este resultado confirma também a nossa hipótese de que os participantes com TDAH acertariam menos blends com grau de dificuldade alta. Vale salientar que o mesmo ocorreu entre os participantes do GC. A possível explicação estaria na estrutura e na relação entre os constituintes que compõem os blends: enquanto blends de dificuldade alta possuem menor material linguístico (blends tipo clip-clip ou CC) e a relação entre as partes constituintes desafiam a ordem canônica (blends do tipo modificador-núcleo ou MN), os blends de dificuldade média possuem uma mescla estrutural e numa ordem que favorece a ordem canônica (blends do tipo clip-palavra ou CP e núcleo-modificador ou NM), os blends de dificuldade baixa possuem mais material linguístico transparente e menos sobreposto numa ordem que favorecem totalmente a ordem canônica da Língua Portuguesa (blends do tipo palavra-palavra ou PP e núcleo-núcleo), o que facilita o reconhecimento lexical. Em suma, quanto maior material linguístico disposto em ordem canônica, mais rápido é a ativação no léxico mental e, por isso, os voluntários acertaram mais blends de baixa dificuldade, seguido da média e baixa dificuldade.

O gráfico 9 mostra a acurácia das respostas considerando a condição congruência:

Figure 14. Gráfico 9: Acurácia quanto à congruência (congruente, incongruente e neutro).

Observou-se também que os participantes, tanto do GE quanto do GC, acertaram mais blends quando estes eram apresentados na posição congruente em comparação quando aos blends apresentados na posição neutra da tela do computador. Além disso, não houve diferença significativa de acertos na comparação entre a condição neutra e a incongruente. Estes resultados indicam que o que favorece a acurácia, em termos de congruência, é o que pressupõe menor esforço cognitivo, por isto a condição Incongruente teve mais erros.

A seção seguinte compila os achados e discussões da presente pesquisa e pressupõe apontamentos futuros.

4. Considerções finais

Nosso estudo buscou investigar se os blends são processados mais rapidamente que palavras morfologicamente complexas entre os grupos experimental (GE - com TDAH) e controle (GC - sem TDAH). Este trabalho procurou verificar a influência do controle executivo no acesso lexical de palavras complexas e dos blends, além de comparar o desempenho entre o GE e o GC para analisar se as distinções cognitivas repercutem no acesso lexical e constatar os tipos de palavras que facilitam e os que dificultam o processamento. Buscou-se fornecer dados que contribuíssem para a compreensão sobre o processamento de blends em dois grupos distintos e, diante dos resultados preliminares, considerou-se que: o grupo com TDAH revelou-se ser mais lento que o Grupo Controle. Diante de uma leitura acerca de um fenômeno linguístico usado com menos frequência no nosso cotidiano, como é o caso dos blends, pressupôs-se que os sujeitos com TDAH teriam mais dificuldades para reconhecer os blends e, consequentemente, dificultaria a compreensão leitora destes indivíduos. Embora a condição Neutra tenha gerado um tempo de reação menor dos participantes com TDAH e os que não possuem este transtorno, a condição Congruente foi a que gerou mais acertos.

Devido ao fato dos resultados serem preliminares e diante da necessidade de ampliação do entendimento acerca do acesso lexical dos blends em estudantes universitários com TDAH e sem TDAH, pretende-se fazer um novo experimento com uma amostra maior de voluntários do grupo controle e do grupo experimental, se possível, e mediante a equiparação amostral dos grupos analisados, averiguar se as tendências dos efeitos principais e dos efeitos de interação permanecem ou se modificam.

Futuras pesquisas podem explorar ainda mais as nuances do blending em diferentes línguas e contextos linguísticos, bem como investigar suas relações com outros aspectos da psicolinguística, a saber, em interface com a saúde, a fim de aprofundar nosso conhecimento sobre este fenômeno tão fascinante e complexo.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os participantes voluntários desta pesquisa do grupo experimental (estudantes universitários com TDAH) e do grupo controle (estudantes universitários sem sintomas associados ao TDAH), bem como a Douglas Medeiros por ter nos ajudado gentilmente na elaboração do experimento on-line deste estudo.

Informações Complementares

Conflito de Interesse

Os autores declaram não ter interesses conflitantes.

Declaração de Disponibilidade de Dados

Os dados, códigos e materiais que apoiam as conclusões deste estudo estão disponíveis abertamente em Open Science Framework - OSF em https://osf.io/d27pn

Consentimento e ética

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (CEP/CCS/UFPB), conforme a Resolução n.510/2016 do CNS/MS, emitida em 26 de março de 2020.

Fonte de Financiamento

Este estudo foi financiado pelas Agências de Fomento: CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e FAPESQ-PB (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba).

Referências

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Avaliação

DOI: https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.V5.N2.ID767.R

Decisão Editorial

EDITOR: Elena Ortiz Preuss

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8149-7738

FILIAÇÃO: Universidade Federal de Goiás, Goiás, Brasil.

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CARTA DE DECISÃO: O artigo "Acesso lexical em universitários com TDAH: investigando o impacto do Controle Executivo e dos blends no processamento linguístico" de Priscilla de Albuquerque Almeida, Nathália Leite de Sousa Soares, Karla Araújo Pinheiro e José Ferrari Neto oferece uma contribuição significativa para a área da neuropsicologia e linguística aplicada, ao explorar a interseção entre o processamento lexical de palavras blends e as dificuldades executivas características do TDAH. Este estudo inovador combina dois tópicos pouco investigados em português brasileiro: a formação e processamento de palavras blends, como "namorido", e o impacto do déficit de controle executivo em indivíduos com TDAH. Embora de caráter exploratório, os resultados preliminares fornecem evidências robustas de que universitários com TDAH apresentam maior lentidão e maior taxa de erros no reconhecimento e acesso lexical de blends, especialmente em condições de alta demanda executiva, como as incongruentes. Este achado ressalta a influência significativa do controle executivo no processamento linguístico, oferecendo novas perspectivas para a formulação de modelos de processamento lexical que considerem as particularidades cognitivas de indivíduos com TDAH. Além disso, a intenção de expandir a amostra sugere um compromisso contínuo com a validação e aprofundamento das descobertas, o que poderá enriquecer ainda mais o campo de estudo.

Rodadas de Avaliação

AVALIADOR 1: Marije Soto

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4232-265X

FILIAÇÃO: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

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AVALIADOR 2: Angela Inês Klein

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6230-7938

FILIAÇÃO: Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.

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RODADA 1

AVALIADOR 1

2024-04-19 | 03:57 PM

Este estudo investiga o efeito do controle executivo sobre o processamento das palavras do tipo blend (ex. namorido) em universitários com TDAH. A hipótese é que o processamento desse tipo de palavra requer um esforço de controle executivo (CE) maior comparado a palavras formadas por outros processos derivacionais. Esse esforço adicional geraria um impacto maior em participantes com TDAH, visto que a deficiência no CE é uma das características principais do quadro de TDAH. O estudo investiga essa hipótese isso por meio de uma metodologia interessante: um experimento com a Tarefa de Decisão Lexical com Simon, que mistura aspectos de demanda de CE com a apresentação de palavras experimentais, comparando o desempenho do grupo experimental com grupo controle (sem TDAH). Os resultados confirmam a hipótese, mostrando ainda uma dificuldade gradual entre os tipos diferentes de blends, com impacto da manipulação de congruência na tarefa Simon, com peso maior para o o grupo de participantes de TDAH. Este estudo traz ao mesmo tempo dados empíricos de duas áreas pouco investigadas em PB: o processamento de palavras do tipo blend e o processamento de pessoas com TDAH. Portanto, o estudo, embora talvez ainda no estágio preliminar, consegue trazer achados importantes para a área de psicolinguística.

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AVALIADOR 2

2024-04-22 | 04:25 PM

O presente artigo científico objetivou investigar se os blends são processados mais rapidamente que palavras morfologicamente complexas ou pseudopalavras. Para tanto, foi criada uma Tarefa de Decisão Lexical com Simon, composta por 60 blends distribuídos em três níveis de dificuldade (alta, média e baixa), 60 palavras complexas e 120 pseudopalavras nas condições congruente, incongruente e neutra. Participaram da pesquisa 18 estudantes universitários com diagnóstico de TDAH e 8 sem sintomas associados ao TDAH, de acordo com dois testes psicométricos. A metodologia apresenta informações relevantes sobre os participantes bem como sobre o design experimental, mas permanecem algumas incertezas sobre o material utilizado e os procedimentos. Nos resultados e discussão são apresentados 9 gráficos e 2 tabelas com informações esclarecedoras, comparando grupo, tipo de palavra e condição. De forma geral, os dados mostraram que o grupo com TDAH revelou-se ser mais lento que o grupo sem o transtorno. No entanto, uma discussão mais aprofundada, em que outras pesquisas são citadas, seria bem vinda. Nas considerações finais, embora seja apresentado o resultado geral que contemple o objetivo principal, seria interessante uma retomada dos objetivos específicos e de como os resultados desta pesquisa podem ajudar pessoas com TDAH.

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RODADA 2

AVALIADOR 2

2024-06-20 | 01:47 PM

Acabei de ler os comentários dos autores no novo manuscrito. Todas as minhas sugestões foram consideradas. Acho que o texto pode ser publicado agora.

Como Citar

ALMEIDA, P. de A.; LEITE DE SOUSA SOARES, N.; PINHEIRO, K. A.; NETO, J. F. Acesso lexical em universitários com TDAH: investigando o impacto do controle executivo e dos blends no processamento linguístico. Cadernos de Linguística, [S. l.], v. 5, n. 2, p. e767, 2024. DOI: 10.25189/2675-4916.2024.v5.n2.id767. Disponível em: https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/767. Acesso em: 18 out. 2024.

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